quinta-feira, 21 de abril de 2016

O Príncipe - Nicolau Maquiavel - Resenha

Obs.: Este texto não tem caráter acadêmico e não visa se aprofundar em questões técnicas sobre o autor e sua obra.

Nicolau Maquiavel é considerado um dos maiores escritores do renascimento cultural europeu. Mas, sem dúvida, o que tornou notável este escritor e diplomata florentino do século XV foi a sua obra prima: O Príncipe, o livro que estaria na cabeceira dos mais notáveis e terríveis estadistas da história como Napoleão e Elizabeth I.

O Príncipe pode ser considerado um dos guias políticos mais lidos da história. Escrito para Lourenço de Médicis, soberano da República Florentina, Maquiavel ali reuniu todo o seu conhecimento como diplomata para fazer um verdadeiro compêndio de como manter o poder a qualquer custo.  Durante a vida de seu autor, o livro seria esquecido, mas depois entraria para os anais da História como um livro polêmico, cultuado por alguns e odiado por outros, no entanto, lido mundialmente.

Maquiavel irá escrever em um período em que a Itália possuía uma configuração fragmentada e marcada pelas heranças de uma ordem medieval e de seu sistema político-social que conhecia a ruína com o florescer da Era Moderna. 

A Itália era naquela época uma série de principados, cidades-estados e possessões eclesiásticas rivais entre si que faziam e desfaziam alianças a todo momento, constantemente em conflitos ou sitiados pelos interesses de conquista de outras potências (nações) estrangeiras. Um cenário marcado por guerras políticas, batalhas, conspirações e luta pela conquista e manutenção do poder. Será nesse período que nascerá O Príncipe, no qual Maquiavel faz um resumo de algumas posturas e ações que todo príncipe (regente) devia ou acabava tomando para conservar o poder. Por isso, eu dividiria o livro, a grosso modo, em três partes:

A primeira compreenderia os capítulos I a XIV, nos quais o autor se demora em caracterizar os tipos de formas de governos existentes em sua época e a política daquele período sobretudo na Itália. Apesar de seu maior valor ser histórico também traz elementos que podem ser associados as formas de governos ainda existentes, sobretudo quando se refere às guerras.

A segunda parte compreende os capítulos XV a XXIII em que Maquiavel aponta as características “psicológico-morais” de um príncipe modelo. Essa é a parte mais interessante e possui uma atualidade muito grande.

A terceira e última compreende os três capítulos finais da obra em que o autor se debruça sobre as suas convicções acerca da política italiana da época e suas esperanças de que surja um príncipe que conduza a Itália a sua libertação (unificação) – Maquiavel sugere que Lourenço de Médicis seja este regente. 

Resumo e resenha 

O diplomata florentino inicia sua obra citando e descrevendo os diversos reinos existentes em sua época, explicando suas gêneses, características marcantes e falando da facilidade ou da dificuldade de conquista-los e manter o poder após subjugados. Ao longo de sua apresentação, recorre a exemplos antigos e recentes para sua época, afim de corroborar e exemplificar suas constatações, o que, inclusive, ele fará ao longo de todo o seu livro tomando como referência, sobretudo, César Bórgia, um ambicioso condottiero e filho do papa Alexandre VI, com quem Maquiavel manteve contato entre os anos de 1502 e 1503.
 "Retrato de um Cavalheiro" (Cesare Borgia), por Altobello Melone.
Fonte: Wkimedia Commons

Porém, Maquiavel não se limita a descrever os reinos e assinalar suas limitações. Ele se volta também a apontar os problemas encontrados pelos príncipes e erros comuns cometidos por estes, mas que podem lhes custar a perda do poder. Nesse intento, se dedica a explicar ao leitor coisas como: o modo como o príncipe deveria proceder para administrar cidades ou principados que, antes de conquistados, tinham suas próprias leis; como avaliar a força dos demais principados; os tipos e os perigos do uso de milícias em guerra e de como se deveria proceder em relação a elas, dentre tantas outras coisas.

Mas o que queremos destacar são alguns dos capítulos em que o autor se debruça sobre questões que ainda são muito atuais.

No capítulo XV, Maquiavel se dedica a falar sobre as coisas pelas quais os governantes podem ser alvo de louvor ou de injúrias. Neste capítulo está uma das frases mais interessantes do livro:

“Muitos foram os que conceberam repúblicas e principados que jamais foram vistos ou reconhecidos como tais. Há, porém, uma grande distância entre o modo como se vive e o modo como se deveria viver, que aqueles em detrimento do que se faz privilegia o que se deveria fazer mais aprende a cair em desgraça que a preservar a sua própria pessoa”. 

Nesta passagem, Maquiavel tenta elucidar a Lourenço de Médicis que seu intento é escrever conforme a realidade das coisas, e jamais atendo-se a uma visão romantizada, idealista de como a política deveria ser, mas de como ela de fato é. Nesse ínterim, ele aproveita para apontar que aquele príncipe que se agarra em demasia aos valores de uma determinada moral pode encontrar a ruina, ou seja, em muitos momentos não devemos viver ou agir como é esperado de nós pela moral, mas que sejamos práticos e aprendamos a saber quando não usar da bondade:

“Assim, é necessário a um príncipe que deseja manter-se príncipe aprender a não usar [apenas] a bondade, praticando-a ou não de acordo com as injunções”.

Essa passagem é com certeza um murro no estômago para nós que acreditamos que as pessoas boas e justas devem governar o nosso país. Eu, de minha parte, acredito na convicção de que com justiça, competência, honestidade e visando a igualdade é o modo como o poder deve ser gestado.
Estátua de Maquiavel na Galleria degli Uffizi, 
Florença. Fonte: Wikimedia Commons

Mas por outro lado também concordo que há momentos em que não é possível ser bom agora sem ser ruim mais tarde, não em consequência da nossa própria bondade, mas em consequência do sistema social em que vivemos, que é naturalmente injusto. Para que me entendam melhor um exemplo: gastar o dinheiro público de forma irresponsável em obras, ainda que necessárias, sem se preocupar se o rombo nos cofres públicos não resultarão em um aumento demasiado dos impostos, o que prejudicaria, principalmente, os mais pobres, uma vez que em nosso sistema a maioria dos impostos não são proporcionais a renda.

Outras ideias que queremos destacar deste livro complexo e desafiador estão sobretudo no capitulo XVIII e também no XIX, os que na minha opinião descrevem melhor o tipo de política a que estamos acostumados em nosso país.

Nessas passagens, Maquiavel explica como os príncipes (governantes) devem honrar a sua palavra – e aqui chegamos a questão das promessas eleitorais. Neste capítulo Maquiavel explica ao seu leitor que o príncipe deve aprender a ludibriar e a não cumprir as suas promessas quando isso não lhe é favorável. Afirma o autor:

O quão louvável é um príncipe que honre a sua palavra de uma forma íntegra, cada qual o compreenderá. Todavia, a experiência nos faz ver, nestes nossos tempos, os príncipes que mais se destacam pouco se preocupam em honrar as suas promessas; que além disso, eles souberam, com astúcia, ludibriar a opinião pública; e, que por fim, ainda lograram vantagens sobre aqueles que basearam a sua conduta na lealdade.

Fica claro que a opinião de Maquiavel é a de que os políticos devem dissimular, mentir e não cumprir suas promessas quando isso lhes convêm, ainda que ele no início da passagem louve os que fazem o contrário. Porém constata que os que mentem possuem mais chance de êxito.

Essa passagem deixa evidente a forma como a política é feita hoje por muitos políticos: a partir de mentiras, falsas promessas, de demonstrar um caráter e um compromisso enganoso. E porque não cumprem as suas promessas? Porque, no jogo das alianças políticas, aquelas promessas que prejudicam tais alianças, que desagradem os aliados mais poderosos, não podem ser cumpridas, a custo de que cumpri-las as consequências podem se voltar negativamente contra o político que as cumpriu. Mais que isso, Maquiavel sugere que também os favorecidos pelo cumprimento da promessa tão pouco se lembrariam do bem feito a eles. Por isso, em uma visão muito pessimista em relação ao caráter humano, Maquiavel afirma:

(...) não pode nem deve um soberano prudente cumprir as suas promessas quando um tal cumprimento ameaça voltar-se contra ele. Se os homens fossem todos bons, bom não seria esse preceito; mas, visto que eles são pérfidos e que, em teu favor, tampouco honraria a sua palavra, etiam [sic.] tu não tens de sentir-te no dever de, em seu favor, honrar a tua”.

Deste modo, valeria mais apenas – e Maquiavel afirmará isso mais a frente – de que o príncipe cultivasse uma imagem positiva, de integridade, de pessoa religiosa, misericordiosa, humanitária e sincera, ainda que não fosse, mantendo um discurso meticulosamente calculado e dissimulado para fazer transparecer uma imagem que se pretende e se deseja, e não correspondente a verdade.

Muitos outros pontos poderiam ser destacados, mas a resenha ficaria ainda maior do que já está. Então vamos as ideias de conclusão.

Conclusão

O peso dos ensinamentos e da filosofia política defendida por Maquiavel nesse pequeno livro – a maioria dos capítulos possuem, em geral, de cinco ou seis páginas –, além da repercussão dos mesmos ao longo de séculos, é tamanho que o nome de seu autor chegou a se tornar adjetivo. Maquiavélico não é apenas aquele que segue a doutrina política maquiavelista, mas também aquele que se destaca pela sua astúcia, duplicidade e má-fé; que é ardiloso e velhaco (HOUAISS, 2001). Seria exagero afirma-lo? É uma pergunta difícil. Há quem afirme, e isso foi afiançado em artigo de Mauro Santayana, que o próprio Maquiavel nunca foi ele mesmo maquiavélico, sendo O Príncipe uma obra de encomenda que não corresponderia as exatamente às ideias de seu criador.

Eu diria, da minha parte, que Maquiavel falou sobre muitos dos aspectos do jogo político exercido pelos dirigentes não apenas dos países mais corruptos do mundo como também pelos governantes das mais ricas e imperialistas nações do mundo. 

O Príncipe traz em seu bojo uma série de ensinamentos que, hoje, não estão para serem seguidos por quem o lê, mas que sirvam para que o seu leitor possa se defender de quem os aplicam ao pé da letra. 

Mas, ainda assim, como um livro histórico, clássico, ele deve ser pensado em seu contexto.
Alguns pesquisadores afirmam que Maquiavel inventou a política moderna, não tenho conhecimento para corroborar esta opinião, mas uma coisa é certa, a leitura do príncipe nos fala muito da política de agora, e, por isso, esse livro ainda é atual em muitas de suas partes.

Sobre a edição lida

A edição lida é antiga, de 2001, da Editora L&PM, mas por ser pocket tem a grande vantagem de poder ser levada para qualquer lugar.

A edição possui 202 páginas. O texto de O Príncipe, em si, é pequeno, mas a edição conta também com uma série de comentários, sem os quais o entendimento da obra seria muito difícil. Conta também com uma cronologia que nos ajuda a saber os principais fatos ocorridos na Itália e na vida de Maquiavel ao longo do período entre 1496 e 1532, o que nos permite contextualizar as afirmações do autor e entender em uma ordem linear (cronológica) muitos dos fatos contemporâneos a Nicolau Maquiavel e que por ele são citados na obra. 

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Conhecendo Barcelona pelos passos de A Sombra do Vento - Postagem Especial

Por Eric Silva

Capital da comunidade autônoma da Catalunha, Barcelona é uma cidade fantástica e cosmopolita, onde o moderno, o antigo e as mais diferentes expressões de arte se misturam em uma composição única. Voltada para o Mediterrâneo, a cidade já foi dominada por cartagineses, romanos, visigodos, passou quase um séculos sobre domínio mulçumano e posteriormente ainda foi ocupada pelos carolíngios. 


A partir do século XIV, a cidade passa por um longo período de decadência, mas a partir do fim do século XVIII recupera-se economicamente com o início de um processo de industrialização. No século XIX, as antigas muralhas que envolviam a cidade são derrubadas permitindo o crescimento urbano e a conurbação com cidades próximas. Por fim, no final de 1939, a cidade é ocupada pelas tropas franquistas já na última fase da guerra civil espanhola. Após o fim do regime franquista a cidade conhece um novo desenvolvimento cultural e urbanístico que a coloca em uma posição de metrópole desenvolvida.

Hoje, suas catedrais centenárias, casarios, vielas e ramblas contam histórias destas épocas distintas e distantes que se sobrepõem, mas que também guardam os segredos de seus habitantes. Carlos Ruiz Zafón soube explorar muito bem essa multiplicidade de tempos sobrepostos, as ruas estreitas e os casarios antigos que por si só já se fazem fascinantes e envoltos em uma atmosfera de mistério, o que muito contrasta com as largas e movimentadas ramblas. Destes contrastes Zafón compôs o perfil dessa cidade milenar e deslumbrante, tecendo uma história recheada de mistérios em um dos momentos mais soturnos para Barcelona: a era franquista.

Em A Sombra do Vento, Zafón faz muitas referências as ruas e bairros da cidade barcelonesa que vai sendo despida e descoberta pelos passos de Daniel. O rapaz, por sua vez, corria as ruas de Barcelona em busca dos rastros deixados pelo misterioso passado de Julián Carax. Tão famoso se tornou o livro que hoje algumas companhias de turismo da Espanha oferecem pacotes com tour pelos lugares citados na obra de Zafón. E nós da Conhecer Tudo não vamos ficar de fora dessa. Faremos também um tour digital por essa cidade deslumbrante seguindo os passos de Daniel Sempere. Embarque nessa conosco e conheça alguns dos lugares onde se desenrola essa incrível narrativa espanhola.

PS.: A edição que lemos é portuguesa, da Editora Dom Quixote, então não estranhem qualquer coisa nas citações do livro feitas aqui. E caso as imagens do 360 cities não carreguem cliquem sobre o titulo que fica na margem esquerda superior da imagem, ela levará direto ao site, depois retorne à nossa página clicando na setinha de retorno do seu navegador.

A Rua Santa Ana

Nosso passeio por Barcelona começa pela rua Santa Ana onde Daniel Sempere e seu pai moravam em um “pequeno andar (...) junto da praça da igreja”. 

Esse foi um dos pontos mais difíceis de encontrar, porque, na versão espanhola, Zafón se refere a rua de Daniel como la calle Santa Ana, no entanto, o único endereço que encontrei em Barcelona se referia a Carrer de Santa Anna, uma rua pequena e estreita e que liga a Avenida Portal de l'Àngel com a Les Rambles, ambas citadas no livro. Mas o que me deu certeza de que se tratava do lugar certo foi a existência da igreja mencionada por Daniel, na verdade, a igreja de Santa Anna, e que se encontra bem escondida no centro do quarteirão.


Visão vertical da Carrer de Santa Anna (centro), da Les Rambles (esquerda) e da Portal de l'Àngel (direita). Imagem do Google Earth

Santa Anna é uma rua bem escondida, mas predominantemente comercial, dominada por pequenas lojas instaladas no primeiro pavimento do casario antigo, bem como é descrita a livraria da família Sempere. 


Carrer de Danta Anna. Imagem do Google Earth

Santa Anna é uma rua bem escondida, mas predominantemente comercial, dominada por pequenas lojas instaladas no primeiro pavimento do casario antigo, bem como é descrita a livraria da família Sempere.

A imagem interativa a seguir clique nas setas para avançar ou retroceder e caminhar pela rua de Daniel. Clique na bussola do canto inferior direito para girar a imagem e ver em volta ou segure e arraste com o mouse.


Imagem do Google Maps

Para mim foi uma surpresa, porque imaginei a rua de Daniel como um lugar mais amplo, como uma avenida de grande circulação. Ao contrário, olhando-a pelo Google Earth ela me pareceu bem mais modesta. Porém, a igreja de Santa Anna é realmente um lugar muito bonito, apesar de bastante escondido e engolido pelo casario de seu entorno.



Fachada da Igreja de Santa Anna. Imagem de Manuel Rodríguez. Fonte: http://www.panoramio.com/

A igreja de Santa Anna, construída ainda no século XII, já foi um mosteiro pertencente a Ordem do Santo Sepulcro e sua arquitetura mescla os estilos românico e gótico. Em 1936, em decorrência da Guerra Civil Espanhola, a cúpula da igreja foi destruída por um incêndio, sendo mais tarde reconstruída com tijolos.

A imagem abaixo é interativa e você pode, com o mouse, olhar a igreja em 360 graus apenas segurando e arrastando. Porém as setas levarão a outros lugares que não fazem parte do nosso tour.



Imagem do Google Maps
[Autor: Jesus Arbues]

A rua Arco del Teatro

A estreita rua Arco del Teatro é citada no livro pela primeira vez quando o pai de Daniel o levou, também pela primeira vez, ao misterioso palacete onde se escondia o Cemitério dos Livros Esquecidos:

Ao chegar à Rua Arco del Teatro aventurámo-nos rumo ao Raval sob a arcada que prometia uma abóbada de bruma azul. Segui o meu pai através daquele caminho estreito, mais cicatriz que rua, até que o relume das Ramblas se perdeu atrás de nós. A claridade do amanhecer filtrava-se das varandas e cornijas em sopros de luz enviesada que não chegavam a roçar o solo. Finalmente, o meu pai deteve-se defronte de um portão de madeira trabalhada enegrecido pelo tempo e pela humidade. Diante de nós erguia-se o que me pareceu o cadáver abandonado de um palácio, ou um museu de ecos e sombras.


Imagens da rua Arco del Teatro. Foto de Elizabet Gómez (direita) e Wkimeria Commons (esquerda).

 Como bem descrita por Daniel, Arco del Teatro é uma nesga, “mais cicatriz que rua”. O seu nome se deve aos arcos existentes em sua entrada e que decoram também o famoso Teatro Principal adjacente a este estreito caminho. Seria depois de trilhar esta estreita rua sob a coberta da noite que Daniel conheceria A Sombra do Vento, o livro que mudaria completamente a sua vida.

Na imagem interativa abaixo você pode ver o Teatro Principal e aderido a sua fachada a entrada do Arco del Teatro e na segunda imagem, você pode ver a rua por dentro.




Imagem do Google Maps




Imagem do Google Maps


Café Els Quatre Gats

O Els Quatre Gats é um charmoso restaurante inaugurado ainda em 12 de junho de 1897 em mais uma das ruas estreitas de Barcelona, a Rua Montsió, e que já foi visitado por muitas pessoas ilustres como o artista espanhol Pablo Picasso. O local chegou a ser a sede de uma sociedade artística local chamada Círculo Artístico de São Lucas (Cercle Artístic de Sant Lluc) até o ano de 1936, quando estrou a guerra civil. Posteriormente, na década de 70, foi reaberto por três empresários do setor de gastronomia tornando-se o restaurante como é conhecido hoje.

Em A Sombra do Vento este é o recinto onde “Barceló e os seus compinchas mantinham uma tertúlia bibliófila sobre poetas malditos, línguas mortas e obras-primas abandonadas à mercê da traça”. É também o primeiro lugar onde Daniel vai com o pai em busca das primeiras informações sobre o misterioso escritor de a Sombra do Vento, Julián Carax.

O Els Quatre Gats parece um lugar bastante aconchegante, mas ao mesmo tempo saído de algum livro medieval. O prédio que o abriga, com sua elegante fachada de tijolos e ricamente decorada, é uma construção idealizada pelo arquiteto Puig. Mas é em seu interior que percebemos como o tradicional e clássico se mescla ao requintado e moderno.


Fachada do restaurante Els Quatre Gats. Foto de Selegna. Fonte:http://www.panoramio.com

Na imagem interativa a seguir clique nas setas para avançar ou retroceder e conhecer o interior do Els Quatre Gats. Clique na bussola do canto inferior direito para girar a imagem e ver em volta ou segure e arraste com o mouse.



Imagem do Google Maps

O ateneu

A nossa parada seguinte é no Ateneo Barcelonés. Localizado na rua Canuda, é no Ateneu que Daniel conhece Clara Barceló, o primeiro amor e os primeiros rumores sobre Julián Carax.

O Ateneo Barcelonés é uma associação civil fundada em Barcelona ainda no ano de 1860 e que, ao longo do século XX, tornou-se um importante centro cultural barcelonês. Hoje, a instituição abriga uma rica biblioteca e ocupa o suntuoso Palácio Savassona, uma mansão construída em 1796 e adquirida pelo Ateneu em 1906.

Durante o período da Guerra Civil Espanhola, época em que se instala a ditadura franquista durante o qual se desenrola a história de Zafón, a biblioteca estava sob o controle da Dirección del Servicio de Bibliotecas Populares e tornou-se uma biblioteca pública. 



Saguão de entrada do Palacio Savassona. Imagem de Yeagov. Fonte: http://www.panoramio.com


Interior da Biblioteca do Ateneo. Imagem de Jordi Peralta. Fonte: http://www.panoramio.com


A suntuosa biblioteca é decorada com figuras mitológicas de Francesc Pla. Imagem de Gabriel Guillen. Fonte: http://www.panoramio.com/


Castelo de Montjuïc

Montjuïc é uma antiga fortaleza militar situada em uma montanha com o mesmo nome. A primeira instalação construída em Montjuïc é datada ainda de 1640, mas em 1694 foi transformado em um castelo. Em 1751, por ordem do engenheiro militar Juan Martin Cermeño a fortaleza original foi derrubada e reconstruída como um conjunto de edifícios.

O local foi ponto estratégico de defesa e palco de muitas prisões e torturas ao longo de diversos conflitos ocorridos em Barcelona. No período do regime franquista foi uma instalação do Exército Espanhol e o local de execução de mais de 4.000 republicanos e prisioneiros catalães.

Em a Sombra do Vento, este foi o local em que, durante a Guerra Civil, Fermín foi torturado pelo inspetor Fumero para que entregasse o paradeiro de seus superiores.

Na imagem interativa abaixo algumas das setas levam a outros pontos de Montjuïc.




Imagens do Google Maps

Plaza de San Felipe Neri

Essa praça é considerada um lugar único em Barcelona, cercada por um casario de aspecto austero em estilo renascentista. Construída sobre um antigo cemitério medieval, no Bairro Gótico de Barcelona, a praça recebeu o nome da igreja nela situada e é um dos mais importantes testemunhos da violência da Guerra Civil Espanhola. Na praça ainda se pode ver os restos de estilhaços de uma bomba lançada no local durante a guerra, e que causou a morte de quarenta e duas pessoas, em sua maioria crianças.

É nessa praça que Daniel avistaria pela primeira vez, sentada a ler, a bela Nuria Monfort, uma misteriosa e triste mulher que também mexeria bastante com a cabeça do rapaz:

A Praça de San Felipe Neri é apenas um respiradouro no labirinto de ruas que tecem o bairro gótico, oculta atrás das antigas muralhas romanas. Os impactos do fogo de metralhadora nos dias da guerra salpicam os muros da igreja. Naquela manhã, um grupo de miúdos brincava aos soldados, alheio à memória das pedras.
Uma mulher jovem, com o cabelo sulcado de madeixas prateadas, contemplava-os sentada num banco, com um livro entreaberto nas mãos e um sorriso ausente. De acordo com as indicações, Nuria morava num edifício no umbral da praça. Podia ainda ler-se a data de construção no arco de pedra enegrecida que coroava a porta da rua, 1801.




Imagem do Google Maps

Universidade de Barcelona

Fundada em 3 de novembro de 1450 por decreto real de Afonso V de Aragão, é na Universidade de Barcelona que Daniel repara pela primeira vez a beleza de Bea, irmã de seu melhor amigo e por quem Daniel manteve por muito tempo antipatia e medo. É porém no “claustro da universidade” que estes sentimentos irão se transformar de forma definitiva. 



Visão da fachada da Universidade de Barcelona. Foto de Ceci. Fonte: http://www.panoramio.com



Visão lateral do campanário da Universidade. Foto de Marta Roig. Fonte: http://www.panoramio.com

Porto de Barcelona

O Porto de Barcelona é um misto de porto marítimo, industrial, comercial e pesqueiro voltado para o Mar Mediterrâneo. Nasceu junto com a cidade e foi um dos responsáveis pelo seu crescimento.

[SPOILER] Destacamos o porto, porque foi ali, aos pés do monumento a Cristóvão Colombo que Daniel encontra pela primeira vez o sinistro incendiário, uma estranha figura deformada:

Extraiu então uma caixa de fósforos do bolso. Pegou num e acendeu-o. A chama iluminou pela primeira vez o seu semblante. Gelou-se-me a alma.
Aquela personagem não tinha nariz, nem lábios, nem pálpebras. O seu rosto era apenas uma máscara de pele negra e cicatrizada, devorada pelo fogo. Aquela era a tez morta que tinha roçado por Clara.
Abaixo a imagem interativa mostra o porto a partir do monumento a Cristóvão Colombo


Imagem do Google Maps
[Autor: Joel Beltrán Díaz]

Las Ramblas

As Ramblas são avenidas muito largas que, como grandes calçadões, têm um fluxo muito grande de pedestres, sobretudo turistas, circulando. Também podemos encontrar nestes calçadões uma série de pequenas lojas e cafés e também artistas de rua que entretém os transeuntes com música, apresentações e estatuas vivas. Por fim, nas margens dos calçadões ficam as pistas de circulação de carros.

A mais conhecida de todas, e muito citada em A Sombra do Vento, é a rambla que liga a Praça da Catalunha ao Porto Velho, chamada simplesmente Las Ramblas, La Rambla ou ainda, em catalão, de Les Rambles.




Imagem do Google Maps

Avenida del Tibidabo

Tibidabo é o pico mais alto de Barcelona e começou a ser urbanizada no final do século XX. Ali se instalou uma parte da elite barcelonesa, responsável por erguer no local um conjunto luxuoso de casario em estilo modernista construído pelos melhores arquitetos da época. Devido a inclinação do terreno, no ano de 1901 foi instalado um plano inclinado elétrico, o Tranvía Azul, que facilitava a subida pela avenida del Tibidabo.

A avenida del Tibidabo e o seu famoso “eléctrico azul” são citados pela primeira vez em A Sombra do vento quando Daniel procurava pistas sobre o passado de Carax. Seria também nesta avenida que ele encontraria “O Anjo de Bruma”, o tenebroso palacete onde vivera Ricardo Aldaya e sua família:

O hálito gelado da tempestade arrastava um manto cinzento que mascarava o contorno espectral de palacetes e casarões enterrados na névoa. Entre eles erguia-se o torreão escuro e solitário do Palacete Aldaya, varado no meio do arvoredo ondulante. Afastei o cabelo ensopado que me aía para os olhos e desatei a correr para lá, percorrendo a avenida deserta.A portinhola do gradeamento abanava ao vento. Mais além abria-se um carreiro ondulante que subia até ao casarão. Introduzi-me pela portinhola e internei-me no prédio. No meio das ervas daninhas adivinhavam-se pedestais de estátuas arrasadas sem piedade. Ao avançar direito ao casarão, reparei que uma das estátuas, a efígie de um anjo purificador, tinha sido abandonada no interior de uma fonte que coroava o jardim. A silhueta de mármore enegrecido brilhava como um espectro sob a lâmina de água que transbordava do lago. A mão do anjo ígneo emergia das águas: um dedo acusador, aguçado como uma baioneta, apontava para a porta principal da casa. O portão de carvalho trabalhado adivinhava-se entreaberto. Empurrei a porta e aventurei-me uns passos até um vestíbulo cavernoso, cujas paredes flutuavam sob a carícia de uma vela.
Abaixo deixamos para vocês um passeio por esta avenida de palacetes, onde se situara a enigmática casa dos Aldayas e cujas paredes guardavam segredos medonhos.



Imagem do Google Maps


Bem, o nosso tour por alguns pontos de Barcelona através do livro A Sombra do Vento termina aqui. Mas para que vocês não fiquem com o gostinho de quero mais, abaixo deixamos mais dois bonitos pontos turísticos de Barcelona, a Igreja de Santa Maria do Mar e o Templo Expiatório da Sagrada Família.

Espero que tenham gostado. Logo teremos também a resenha do livro para aqueles que ainda não leram esse fantástico livro de Zafón e que nos presenteou com uma visão muito particular da legendária cidade de Barcelona.

Extra:

Igreja de Santa Maria do Mar

Construída em estilo gótico, ainda no século XIV, a igreja de Santa Maria do Mar fica situada no bairro da Ribera, junto à praça de Fossar de les Moreres. Ela é citada em A Sombra do Vento algumas vezes, porém a única vez que a sua presença é relevante na história faz parte do final do livro e não queremos dar spoilers.



Imagem do Google Maps
[Autor: Gabriel Guillén]



Imagem do Google Maps
[Autor: Campbell Kraemer]

Templo Expiatório da Sagrada Família

Mais conhecida como Sagrada Família, este é um dos mais impressionantes cartões postais de Barcelona. O templo ainda inacabado é considerada a obra prima do arquiteto modernista Antoni Gaudí. Em estilo neogótico, a construção da Sagrada família foi suspensa em 1936 em ocasião do começo da Guerra Civil Espanhola. Hoje, acredita-se que não ficará pronta antes de 2026.



Imagem do Google
[Autor: Belal Kamal]



Imagem do Google
[Autor: Kenny Tao]

Referências

https://es.wikipedia.org/wiki/Monasterio_de_Santa_Ana_(Barcelona)
https://es.wikipedia.org/wiki/Ateneo_Barcelon%C3%A9s
http://www.barcelonacityblog.com/2015/01/26/la-calle-arc-del-teatre/
https://es.wikipedia.org/wiki/Castillo_de_Montjuic
http://www.4gats.com/
https://es.wikipedia.org/wiki/Plaza_de_San_Felipe_Neri
https://es.wikipedia.org/wiki/Universidad_de_Barcelona
https://pt.wikipedia.org/wiki/La_Rambla_(Barcelona)
https://es.wikipedia.org/wiki/Tranv%C3%ADa_Azul
https://pt.wikipedia.org/wiki/Barcelona
https://es.wikipedia.org/wiki/Tibidabo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_Santa_Maria_do_Mar

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