quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

[Especial Zafón] O Jogo do Anjo – Carlos Ruiz Zafón – Resenha


Por Eric Silva

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“Só aceitamos como verdadeiro aquilo que pode ser narrado”.
(O Jogo do Anjo, Carlos Ruiz Zafón)

Ano passado lancei no Conhecer Tudo um especial sobre o escritor barcelonês Carlos Ruiz Zafón, onde pretendo ler e resenhar todos os livros publicados pelo autor. Alguns meses após ter relido A Sombra do Vento volto a série do Cementerio de los libros olvidados (Cemitério dos Livros Esquecidos) com a leitura de seu segundo volume, O Jogo do Anjo.

Um livro de forte atmosfera gótica e carregado de mistérios, O Jogo do Anjo explora com mais intensidade o talento de Zafón para escrever sobre o sobrenatural sem deixar de lado o misterioso e temas como a loucura e a solidão. Um livro muito bem escrito no mais autêntico estilo do escritor espanhol.

Confiram a resenha do segundo livro do Especial Zafón.

Sinopse

Em O Jogo do Anjo, voltamos à Barcelona, nos anos de 1920, para conhecer David Martín, um jovem e talentoso escritor perseguido por desgraças desde a infância. Com uma doença terminal e vendendo barato o seu talento para editores oportunistas, David vive o seu pior momento e nenhuma perspectiva de futuro. É nesse momento que surge Andreas Corelli, um misterioso editor estrangeiro que trazia consigo uma proposta irrecusável: o restabelecimento da saúde de David e uma pequena fortuna em troca de escrever um livro que influenciaria milhões de pessoas. Contudo, a medida com que prossegue o trabalho com Corelli, David descobre-se enredado a segredos perturbadores e a um rastro de sangue e mortes que vai surgindo em seu caminho..

Resenha

O enredo

Barcelona, les Rambles 1920.
Narrado em primeira pessoa, O Jogo do Anjo introduz um novo personagem ao universo de escritores malditos do Cemitério dos Livros Esquecidos, e recua no tempo até a década de 20 para contar a história de David Martín, um jornalista barcelonês que sob o pseudônimo de Ignatius B. Samson se torna um conhecido escritor de histórias policiais.

David, assim como a maioria dos personagens de Zafón, teve uma infância solitária e conturbada. Seu pai era um ex-combatente que retornou da guerra miserável e desiludido, e que logo depois foi abandonado pela esposa que nunca mais quis saber nem dele nem do único filho. Um homem truculento e envergonhado com sua condição analfabeta, que nunca conseguiu reconhecer as potencialidades do filho e não se contentava com o seu interesse pelos livros, atividade que considerava uma perda de tempo. O pouco afeto que o pequeno David encontraria seria a do livreiro Sempere (avô de Daniel de A Sombra do Vento). O velho Sempere sempre lhe presenteava com um novo livro e anos mais tarde o levaria para conhecer a colossal e secreta biblioteca de livros esquecidos.

Sozinho no mundo após a morte repentina do pai, David encontra apoio e incentivo na caridade de Pedro Vidal, milionário excêntrico e escritor boêmio que o ajuda na fase mais difícil de sua vida. Através de Vidal David conseguiria um trabalho no jornal La Voz de La Industria e conheceria Cristina, a filha do motorista de seu benfeitor.

No La Voz o rapaz se torna jornalista e depois escritor de novelas policiais que publicava ali mesmo no periódico. Após conseguir alguma fama com as histórias que escrevia para o jornal e novamente com a ajuda de Vidal, David consegue dois editores, Barrido e Escobillas, para quem passa a publicar com exclusividade.

O jovem escritor abandona o trabalho no La Voz e com o dinheiro do acordo editorial aluga um antigo casarão com fama de assombrado, onde passa a viver enclausurado em seu escritório, dedicando-se a cumprir os prazos ridículos previstos em seu contrato.

A rotina incessante de trabalho, o desejo de escrever uma obra que levasse seu nome e o pouco cuidado com a própria saúde levam o escritor a uma situação desesperadora. Mas é quando tudo a sua volta parecia ruir que David recebe uma tentadora proposta que mudaria o seu destino.

Em troca de uma pequena fortuna, Andreas Corelli, um misterioso e sombrio editor francês, propõe a David escrever um livro que mudaria o mundo. Mesmo relutante David aceita aquilo que parecia uma tarefa impossível, mas que na verdade o enreda em uma ciranda de acontecimentos, na qual estaria sempre a ponto de resvalar em um poço negro e sem fundo.

Ao longo da narrativa os mistérios entrono de Andreas Corelli se tornam cada vez mais intrincados e sombrios. Desconfiado dos reais intensões de Corelli David decide investigar a nebulosa vida do editor, enquanto um rastro de sangue vai sendo deixado pelo caminho.

Personagens importantes
Universidade de Barcelona. 1920-1930.
Muitos personagens aparecem na trama de O Jogo do Anjo e ocupam cada qual em seu momento um papel de destaque. Sendo impossível falar de todos, destacarei só os principais, que marcadamente se diferem dos encontrados no primeiro volume da série, principalmente, quando analisamos o seu narrador.
O desesperançado David é bem mais velho e maduro do que Daniel, protagonista de A Sombra do Vento, e por isso, com ele, a narrativa perde o ar de juventude que Daniel imprime no primeiro livro. Os dissabores de sua vida difícil tornaram David irônico e sarcástico, além de sínico, e essas características se tornam a armadura de defesa do personagem. Também desapaixonado e desiludido com o mundo, o protagonista só consegue se demonstrar afetuoso com os Sempere e com Cristina, sua paixão mal resolvida. Em muitos momentos da narrativa temos dúvidas sobre a sanidade do personagem e de até onde os fatos contados por ele são de fato reais ou produto de uma mente convalescente.
Em contraste a David, temos a determinada, solícita e igualmente irônica Isabella a personagem mais jovem da trama que se torna assistente do protagonista e futuramente a mãe de Daniel Sempere. De tordo os personagens ela é a mais viva e vibrante e por isso a identificação com ela é imediata. O que contrasta bastante também com altivez e inconstância de Cristina e com a timidez e continência de Sempere Filho. Em relação a este último, o futuro pai de Daniel, possui na trama presença bem mais apagada na narrativa do que no primeiro livro. O Jogo do Anjo nos mostra um Sempere mais novo, mas desde já trabalhador, cauteloso, sério e até melancólico.
A grande surpresa é o avô de Daniel, denominado apenas como Sr. Sempere. Este, ao contrário do filho, é muito mais espontâneo e vivo. Um homem bonachão e muito afável e que preenche a carência paterna e afetiva de David, defendendo-o até o fim.
Mas de todos os personagens o mais inquietante é Corelli. Figurando como um personagem central da narrativa e o principal elo que liga todos os fatos ocorridos com David, o editor francês é um homem muito bem-vestido que traz na lapela de seu paletó a figura de um anjo. Sinistro e de presença sombria, Corelli parece na trama alguém revestido de sobrenaturalidade e é, dos personagens, o mais bem construído, com vida e existência quase própria.  Sarcástico e crítico, Corelli ainda possui uma visão muito fria e clínica da vida, do homem e da humanidade o que revela nele também uma personalidade que beira a racionalidade fria e calculista dos psicopatas.
 Mais gótico e focado no sobrenatural
O Jogo do Anjo é sem dúvidas um bom livro e uma obra genuína ao estilo já consagrado do escritor espanhol, mas dentro do conjunto da série Cemitério dos Livros Esquecidos ele se difere em vários aspectos em relação A Sombra do Vento, livro que abre a coleção.
A história de O Jogo do Anjo se passa 30 anos antes dos acontecimentos narrados em A Sombra do Vento, numa Barcelona diferente daquela vivida por Daniel e anos antes de estourar a Guerra Civil Espanhola que culminaria com a instauração do regime franquista. Por conta disso, a Barcelona descrita por Zafón em O Jogo do Anjo dista bastante em relação ao primeiro livro.
O Jogo do Anjo é essencialmente mais gótico do que A Sombra do Vento e flerta muito mais com o sobrenatural. A loucura e o desalento são bem mais fortes na vida de seus personagens e por isso contrasta com a melancolia e o sentimento de perda que é bem mais forte no séquito que povoa o primeiro livro. Por essas características que eu diria que O Jogo do Anjo seria um livro mais “noturno”, mais sombrio. Acho que devido a isso que, nesse livro, Barcelona se reveste de uma áurea bem mais soturna e pesada do que no primeiro.
Se, em A Sombra do Vento, Barcelona é ao mesmo tempo misteriosa e bela, em O Jogo do Anjo ela se carrega com o peso de sua existência secular e demonstra-se ainda mais hostil e sombria, gótica e antiga, uma cidade cheia de seus segredos e de dramas silenciosos.

Parque Güell em imagem de 1900-1910, autor desconhecido. Esse é um dos principais cenários de O Jogo do Anjo.Era próximo ao parque criado pelo arquiteto catalão Antonio Gaudí que se situava um dos principais pontos de encontro entre David e Corelli.

Outra distinção está na organização da obra. Muito diferente de A Sombra do Vento, onde o livro era dividido em anos que acompanham o crescimento de Daniel e o desenvolvimento desse personagem, em O Jogo do Anjo, Zafón divide a trama em três grandes atos como se assistíssemos a uma tragédia gótica.

No primeiro deles, A Cidade dos Malditos, conhecemos a fundo a história e a personalidade do narrador enquanto ele nos conta sua infância conturbada ao lado de um pai violento e intransigente, sua vida regrada e sem brilho de jornalista de pouco sucesso, a ascensão de sua carreira como escritor de histórias policiais, sua paixão desencontrada por Cristina e nos apresenta aos principais personagens que o orbitarão ao longo de toda a narrativa. Mas é nesse ato também que o mais tenebroso dos personagens do livro tem suas primeiras aparições e acompanhamos como gradualmente a vida e a saúde de David vão se deteriorando.

A partir do segundo ato, Lux Aeterna, também o mais longo, a trama vai ganhando corpo e se complexifica. Novos personagens emergem e a existência de uma teia de mistérios que envolvem Corelli e seu último escritor vão se tornando mais evidentes, porém cada vez mais sombrios e difíceis de deduzir.

Ainda assim, de todos os atos, o último e que leva o mesmo nome da obra, é de longe o mais intenso. Nele O Jogo do Anjo ganha gradativamente mais ritmo e, até alcançar os últimos capítulos, o desenvolvimento da trama ganha celeridade.

Zafón preserva nesse livro o que há de melhor em sua escrita: o magnetismo e a originalidade que marcadamente brinca com as palavras e faz construções de grande beleza estética.

A escrita de Zafón é o que acho de mais precioso no conjunto de sua obra. Ela é muito bem estruturada e flui muito bem sem nunca ser cansativa. Por vezes ela parece se aproximar do poético sem deixar de ser gótica, mas sempre segue um fluxo contínuo e compassado que me embala e me faz esquecer do que acontece no meu entorno. Mesmo quando o narrador é irônico e desapaixonado como David, ela se sobressai como algo intrínseco e muito próprio do escritor. Ainda que se mescle com a personalidade individual de cada narrador, em cada livro, a marca do autor é evidente, porque Zafón domina a arte de escrever bem.

Em conclusão

Foto: Eric Silva. Fevereiro de 2018.
O livro não produziu em mim o mesmo fascínio e arrebatamento que A Sombra do Vento porque achei que houve uma inversão na proposta inicial do primeiro tomo da série. Enquanto A Sombra do Vento é um livro realista com um enredo que flerta com o sobrenatural, O Jogo do Anjo é um livro a respeito do sobrenatural, mas com ares de realista quando nos faz duvidar muitas vezes da sanidade do narrador e logo também da pretensa natureza supra-humana de Corelli.

A solidão, a descrença, a ironia e a quase insanidade de David influencia o tom da obra, são os reflexos de sua personalidade e os principais sentimentos presentes na obra. Se A Sombra do Vento é povoado pelo sentimento da solidão e da perda, O Jogo do Anjo tem muito disso e mais a acidez da ironia de David tornando ainda mais rica a escrita originalíssima de Zafón.

Não gostei mais de O Jogo do Anjo porque havia lido A Sombra do Vento antes. Os estilos, como já disse, diferem um pouco e me deixaram confuso em relação ao que esperar dos próximos volumes: O prisioneiro do Céu e O Labirinto do Espíritos. Mas algo que me chamou a atenção é como os personagens de O Jogo do Anjo, sobretudo Corelli, parecem tão vivos, tão reais e quase palpáveis. Nunca havia ficado ansioso e desconfortável com um personagem como fiquei a cada nova aparição do editor francês. Isso mostra como a escrita do barcelonês evoluiu de um livro para o outro. Por isso fico imaginando se encontrarei um Zafón ainda mais maduro nos dois livros que se seguirão.

Contudo, mesmo os bons livros possuem pontos fracos. Em O Jogo do Anjo, o principal deles é a desproporção de velocidade entre a maior parte da narrativa e o seu desfecho. Em todo o Primeiro e Segundo Ato encontramos um desenvolvimento despreocupado com o tempo e dedicado a contar com calma e riqueza de detalhes os lances da narrativa. Porém, na segunda metade do Terceiro Ato a história ganha uma velocidade muito grande que se apodera do leitor. Por vezes somos induzidos a ler cada vez mais rápido como se quiséssemos acompanhar a celeridade do desenvolvimento do desfecho. A trama só vai retomar seu ritmo normal nas últimas páginas quando são descritos os destinos de cada personagem e o grande mistério da trama é por fim (e acredito eu, parcialmente) revelado.

Enfim, o autor repete a fórmula de uma história completa, ou seja, de enredo com desfecho fechado, o que aumenta as expectativas em relação ao volume seguinte da série, mas de um jeito diferente. A expectativa não é com o que acontecerá em seguir, mas como a história dos dois primeiros livros vão se ligar aos demais. Estou ansioso para saber como tudo se dará, mas, sinceramente, estou mais ansioso é por reencontrar Daniel e Firmino.

A edição lida é da Editora Suma de Letras, do ano de 2008 e possui 410 páginas. Abaixo você pode conferir uma prévia da última edição do livro disponível no Google Books.

Preview do Google Books



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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

[Lista] 7 livros adaptados para o cinema em 2018


Por Eric Silva

Todos os anos dezenas de livros são adaptados para o cinema tornando em som e imagem o que o universo das letras transforma em emoção e paixão. No ano de 2018 não será diferente e muitos livros conhecidos do grande público (outros nem tanto) serão adaptados ou já estão em cartaz nos cinemas. Separamos uma lista de 7 daqueles que estão ainda para entrar em cartaz nas salas brasileiras e de todo o mundo.

Aniquilação – Jeff Vandermeer

Obra do estadunidense Jeff Vandermeer, Aniquilação é o primeiro livro da série Comando Sul e narra os acontecimentos de uma expedição formada apenas por mulheres para uma área misteriosa protegida pelo governo. Nesse lugar denominado apenas como Área X se desenvolveu uma natureza endêmica e ainda desconhecia, mas que foi também a causa da morte de diversos expedicionários enviados para lá anteriormente.

É um livro do gênero Weird Fiction (ficção do estranho) e que, seguindo fielmente a proposta literária do seu gênero, causa estranhamento. No livro fica clara a intensão de criar um enredo sobre o desconhecido, o estranho e o inominado, contudo não gostei muito do livro e expus minhas razoes em resenha publicada no começo de fevereiro. Ainda assim, o filme parece prometer grandes emoções e suas imagens psicodélicas são um convite a estar numa sala de cinema na semana de estreia.

A adaptação com o título homônimo ao livro terá sua estreia em 22 de fevereiro.


Sinopse oficial do livro: “A Área X está isolada do restante do mundo há décadas, e a natureza tomou para si os últimos vestígios da presença humana. Uma primeira expedição de reconhecimento voltou de lá relatando uma terra intocada, um paraíso edênico; a segunda terminou em suicídio em massa; a terceira, em um tiroteio dentro do próprio grupo. Até que os membros da décima primeira expedição retornaram como meras sombras do que eram antes e, após algumas semanas, morreram de câncer. Em Aniquilação, primeiro volume da trilogia Comando Sul, o leitor se junta à décima segunda expedição.

O novo grupo é formado por quatro mulheres: uma antropóloga, uma topógrafa, uma psicóloga – líder da missão – e uma bióloga, a narradora do livro. Seus objetivos são mapear o terreno, identificar todas as mudanças ambientais, monitorar as relações entre elas próprias e, acima de tudo, não se contaminarem. As mulheres atravessam a fronteira esperando o inesperado... e é exatamente isso o que encontram. ”


Roleta russa – Jason Matthews

Obra do ex-integrante da Diretoria de Operações da CIA Jason Matthews, Roleta Russa é um livro sobre espionagem e conta a história de uma mossa russa que é forçada a se tornar uma agente secreta que utiliza de táticas de sedução para alcançar seus alvos e obter informações: o pardal (Sparrow).

O filme além de muito sensual parece prometer muita intriga, grandes reviravoltas, mortes e mistérios como é bastante comum ao gênero.
A adaptação com o título no Brasil de “Operação Red Sparrow” terá sua estreia em 1 de março.


Sinopse oficial do livro: “Desde pequena, o sonho de Dominika Egorova era fazer parte do Bolshoi, o balé mais importante da Rússia. Após ser vítima de uma sabotagem, porém, ela vê sua promissora carreira se encerrar de forma abrupta. Logo em seguida, mais um golpe: a morte inesperada do pai, seu melhor amigo.

Desnorteada, Dominika cede à pressão do tio, vice-diretor do serviço secreto da Rússia, o SVR, e entra para a organização. Pouco tempo depois, é mandada à Escola de Pardais, um instituto onde homens e mulheres aprendem técnicas de sedução para fins de espionagem.
Em seus primeiros meses como pardal, ela recebe uma importante missão: conquistar o americano Nathaniel Nash, um jovem agente da CIA, responsável por um dos mais influentes informantes russos que a agência já teve. O objetivo é fazê-lo revelar a identidade do traidor, que pertence ao alto escalão do SVR.

Logo Dominika e Nate entram num duelo de inteligência e táticas operacionais, apimentado pela atração irresistível que sentem um pelo outro. ”




Todo Dia – David Levithan

A História de Todo dia, obra do estadunidense David Levithan, fala de um romance bastante inusitado e surreal.

A é uma pessoa “incorpórea” e a cada dia desperta no corpo de uma pessoa diferente. Certo dia A conhece Rhiannon por quem se apaixona, passando a viver um romance quase impossível enquanto tenta se reencontrar com a moça a cada novo dia no corpo de uma nova pessoa.

A proposta do enredo é incrível e o filme parece querer explorar ao máximo essa trama criativa e original. Não sou particularmente fã de romances, mas esse aqui parece valer muito a pena, porque te deixa curioso sobre como tudo isso vai acabar.

A adaptação com o título homônimo ao livro terá sua estreia em 23 de fevereiro nos Estados Unidos e ainda não tem data definida para o Brasil.


Sinopse oficial do livro: “Neste novo romance, David Levithan leva a criatividade a outro patamar. Seu protagonista, A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Depois de 16 anos vivendo assim, A já aprendeu a seguir as próprias regras: nunca interferir, nem se envolver. Até que uma manhã acorda no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrar a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor. ”




Simon vs. a agenda Homo Sapiens – Becky Albertalli

Obra da psicóloga estadunidense Becky Albertalli, Simon vs. a agenda Homo Sapiens é um livro que fala sobre o preconceito, a aceitação e o dilema de assumir-se homossexual, sobretudo, na adolescência. Desafios que são enfrentados todos os dias pelas pessoas do grupo LGBTQ.

A adaptação com o título no Brasil de “Com Amor, Simon” terá sua estreia em 12 de abril.


Sinopse oficial do livro: “Simon tem dezesseis anos e é gay, mas ninguém sabe. Sair ou não do armário é um drama que ele prefere deixar para depois. Ele só não contava que Martin, o bobão da escola, iria chantageá-lo ao descobrir sua troca de e-mails com Blue, pseudônimo de um garoto misterioso que a cada dia faz o coração de Simon bater mais forte.
Uma história que trata com naturalidade e bom humor de questões delicadas, explorando a difícil tarefa que é amadurecer e as mudanças e os dilemas pelos quais todos nós, adolescentes ou não, precisamos enfrentar para nos encontrarmos”.



Jogador Nº1 – Ernest Cline

Obra do estadunidense Ernest Cline, Jogador Nº1 é um livro de ficção-cientifica que mistura distopia e o conceito de realidade virtual dos jogos de videogame 3D.

Numa Terra onde todos foram levados a viver uma vida subumana e tomada pela apatia, Oasis, um grande jogo virtual online, parece a única válvula de escape possível para uma humanidade em declínio.

O filme é dirigido pelo consagrado cineasta Steven Spielberg o que já é garantia de efeitos especiais fabulosos. Para quem gosta de game, de ação e de histórias futuristas, com o talento de Spielberg que dirigiu meu querido AI Inteligência Artificial dentre tantos outros clássicos da cultura POP, Jogador Nº1 parece uma boa pedida.

A adaptação com o título homônimo ao livro terá sua estreia em 29 de março.


Sinopse oficial do livro: “Um mundo em jogo, a busca pelo grande prêmio. Você está preparado?
O ano é 2044 e a Terra não é mais a mesma. Fome, guerras e desemprego empurraram a humanidade para um estado de apatia nunca antes visto. Wade Watts é mais um dos que escapa da desanimadora realidade passando horas e horas conectado ao OASIS – uma utopia virtual global que permite aos usuários ser o que quiserem; um lugar onde se pode viver e se apaixonar em qualquer um dos mundos inspirados nos filmes, videogames e cultura pop dos anos 1980. Mas a possibilidade de existir em outra realidade não é o único atrativo do OASIS; o falecido James Halliday, bilionário e criador do jogo, escondeu em algum lugar desse imenso playground uma série de Easter Eggs, e premiará com sua enorme fortuna – e poder – aquele que conseguir desvendá-los. E Wade acabou de encontrar o primeiro deles. ”





12 heróis – Doug Stanton

Inspirado na Guerra do Afeganistão, conflito deflagrado depois do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, 12 heróis de Doug Stanton conta a história da luta de um pequeno grupo de soldados das Forças Especiais norte-americanas contra um grupo muito maior de membros do grupo armado afegão, Talibã.

O filme parece repleto de muita ação, bem ao gosto hollywoodiano, cheio de efeitos especiais e batalhas memoráveis.

No brasil o livro ainda se encontra em pré-venda e foi publicado pela Editora Record.

A adaptação tem sua estreia no Brasil prevista para 29 de março.


Sinopse oficial do livro: “[...] a dramática história de um pequeno grupo de soldados das Forças Especiais norte-americanas que entrou secretamente no Afeganistão, depois do 11 de Setembro, e avançou para a guerra contra o Talibã. Depois do sucesso inicial em capturar a estratégica cidade de Mazar-i-Shariff, os soldados enfrentariam um revés: uma emboscada por mais de seiscentos soldados talibãs que poderia colocar todas as conquistas da campanha em xeque. Uma leitura comovente e eletrizante sobre uma vitória militar histórica. ”




A garota na teia de aranha – David Lagercrantz

Quarto livro da série Millennium iniciada pelo sueco Stieg Larsson, A garota na teia de aranha foi escrito pelo também sueco David Lagercrantz, autor responsável por dar continuidade a série inacabada de Larsson. Em A garota na teia de aranha Lagercrantz conta mais uma aventura da hacker e investigadora, Lisbeth Salander, e do jornalista e co-fundador da revista Millenium, Mikael Blomkvist, que dessa vez se envolvem com uma perigosa conspiração internacional.

A adaptação tem data de estreia prevista para 5 de outubro.


Sinopse oficial do livro: “Uma muralha virtual impenetrável: é assim que se pode definir a rede da NSA, a temida agência de segurança americana. Quando a mensagem “Você foi invadido” piscou na tela de Ed Needham, responsável pelos computadores que guardam alguns dos maiores segredos do mundo, ele custou a acreditar. A tentativa de localizar o criminoso também não trazia frutos, as pistas não levavam a lugar nenhum, cada indício terminava num beco sem saída. Que hacker seria capaz de algo assim?

Para o leitor que acompanha a série Millennium, criada por Stieg Larsson, só há uma resposta possível: a genial e atormentada justiceira Lisbeth Salander está de volta. Mas por que Lisbeth, uma hacker fria e calculista que nunca dá um passo sem pesar as consequências, teria cometido um crime gravíssimo e ainda provocado de forma quase infantil um dos maiores especialistas em segurança dos Estados Unidos? Depois de finalmente se livrar da polícia sueca e de todas as acusações que pesavam sobre si, que motivo ela teria para se atirar em outro lamaceiro político?

É o que se pergunta Mikael Blomkvist, principal repórter da explosiva revista Millennium, além de amigo e eventual amante de Lisbeth. Mas Blomkvist precisa lidar com seus próprios demônios: afundada numa crise sem precedentes, a revista foi comprada por um grupo que pretende modernizá-la. Nada mais repulsivo ao jornalista que prefere apurar e pesquisar suas histórias a ceder às demandas e ao ruído das redes sociais. Ainda assim, há tempos o repórter não emplaca um de seus furos, e por isso não hesita em sair no meio da madrugada para atender a um chamado que promete ser a grande história de sua carreira.

Presos a uma teia de aranha mortífera, Lisbeth e Blomkvist terão mais uma vez que unir forças, agora contra uma perigosa conspiração internacional. Uma volta em grande estilo da dupla que mudou para sempre os romances de mistério e aventura. ”


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

#10 Lirismos: Cinzento – Florbela Espanca


Postagem: Eric Silva
Poeiras de crepúsculos cinzentos,
Lindas rendas velhinhas, em pedaços,
Prendem-se aos meus cabelos, aos meus braços
Como brancos fantasmas, sonolentos...

Monges soturnos deslizando lentos,
Devagarinho, em misteriosos passos...
Perde-se a luz em lânguidos cansaços...
Ergue-se a minha cruz dos desalentos!

Poeiras de crepúsculos tristonhos,
Lembram-me o fumo leve dos meus sonhos,
A névoa das saudades que deixaste!

Hora em que o teu olhar me deslumbrou...
Hora em que a tua boca me beijou...
Hora em que fumo e névoa te tornaste...


Sobre o autor

Florbela Espanca ou Florbela d'Alma da Conceição Espanca é o pseudônimo da poetisa portuguesa Flor Bela Lobo. Nasceu em Vila Viçosa, Portugal, no dia 8 de dezembro de 1894 e faleceu em Matosinhos, no dia de seu aniversário de trinta e seis anos (8 de dezembro de 1930) por conta de uma overdose de barbitúricos – sua terceira tentativa de suicídio. Em vida, buscou transformar sua experiência pessoal tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos em poesia de alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.


Poema extraído da obra Livro de Soror Saudade, publicado em 2013, pelo Projeto Adamastor que disponibiliza obras literárias em portuguesas em domínio público.













quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Aniquilação – Jeff Vandermeer – Resenha


Por Eric Silva

Nota: todos os termos com números entre colchetes [1] possuem uma nota de rodapé sempre no final da postagem, logo após as mídias, prévias, banners ou postagens relacionadas.
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Está sem tempo para ler? Ouça a nossa resenha, basta clicar no play.



“A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido”.
H.P. Lovecraft

Uma leitura estranha de um lugar exótico e ameaçador e de uma expedição com objetivos duvidosos. Uma narrativa atravessada por momentos de incompreensão, dúvida, estranhamento e monotonia. Essa é a minha visão de Aniquilação, primeiro livro da trilogia Comando Sul escrita pelo americano Jeff Vandermeer, adaptado para o cinema por Alex Garland e que entra em cartaz em fevereiro.

Confira nossa opinião sobre o livro.

Sinopse estendida

Na intrincada e surrealista narrativa de Aniquilação, Vandermeer conta a história da décima segunda expedição à Área X, uma enigmática região, onde se desenvolveu misteriosamente uma natureza endêmica e de características bastante singulares.

Por muitos anos a área foi mantida isolada do restante do mundo e sua administração e segurança encaminhada para o Comando Sul, uma agência governamental clandestina que era responsável exclusivamente por ela e por todas as expedições de reconhecimento que para lá eram periodicamente enviadas. Contudo, por motivos ainda desconhecidos, todas as 11 expedições se demonstraram verdadeiros fracassos e, em sua maioria, terminaram de forma trágica, com a morte de todos os seus integrantes. Os insucessos das expedições, no entanto, não impediram o prosseguimento da investigação empreendida pelo Comando Sul.

Na 12ª expedição, acompanhamos quatro mulheres nomeadas apenas por suas profissões: a antropóloga, a topógrafa, a psicóloga (líder da missão) e a bióloga, cujo diário narra todo o enredo do livro. O objetivo do grupo era não apenas mapear o terreno, como identificar mudanças ambientais e monitorar através de diários as relações empreendidas pelo grupo. Contudo, após atravessarem a fronteira da Área X e alcançarem o acampamento instalado pelas expedições anteriores, o grupo encontra um misterioso túnel – insistentemente chamado de torre pela Bióloga – inexistente nos mapas registrados da região.

Intrigadas com o surgimento daquilo que não aprecia ter sido construído por mãos humanas, o grupo decide investigá-lo. Ali elas encontram uma misteriosa forma de vida que escrevia frases enigmáticas compostas por organismos bioluminescentes[1]nas paredes da construção. Dali em diante, a missão, assim como as demais, demonstra seus primeiros sinais de fracasso e um a um vai perdendo os seus integrantes, vítimas da natureza estranha daquele lugar, mas sobretudo das mentiras e segredos ocultados pela organização responsável por ele.

Resenha

Já fazia um tempo que eu havia ouvido falar sobre este livro e suas sequências, mas na época não dei muita atenção, nem a sinopse do livro havia me provocado um ímpeto de lê-lo. Esse ímpeto só veio surgir em outubro de 2017 quando, por acaso, vi no Youtube o trailer da adaptação cinematográfica que será lançada ainda em fevereiro.

As imagens psicodélicas e surreais presentes no primeiro trailer do filme (assista no final da postagem) junto com o clima de mistério e suspense me chamaram a atenção e provocou em mim um desejo irresistível de ler o livro. Como a obra é bem condensada (208 páginas), logo vi que não atrapalharia a minha lista de leitura para o fim do ano e comecei a lê-lo. Conclusão pessoal: decepção.

O autor: Jeff Vandermeer. Nasceu nos Estados Unidos e
foi ganhador do prêmio Nebula em varias categorias.
Aniquilação é o primeiro livro da trilogia Comando Sul, de autoria do estadunidense Jeff Vandermeer, e faz parte de um subgênero da ficção especulativa[2] que se chama Weird Fiction, em tradução livre, “ficção do estranho” ou “ficção do bizarro”[3].

Até então, eu desconhecia a total existência desses subgênero que, contrariando todas as minhas expectativas, é bastante antiga e tem sua origem ainda no final do século XIX e início do século XX.

A principal característica do Weird Fiction é comprimir em um só enredo uma mistura radical de sobrenatural, de mítico e até mesmo de científico, para gerar uma narrativa que não é nem propriamente horror, nem fantasia. Uma mistura que o livro de Vandermeer parece respeitar e seguir em toda a sua profundidade. Contudo, a obra do estadunidense comete muitos pecados, não com o gênero, é necessário enfatizar, mas com a capacidade de manter seu leitor interessado até o fim. É um livro de enredo estranho – o que faz jus ao Weird Fiction –, mas que também é mal explicado e de uma introspectividade maçante, o que me fez gostar muito pouco de sua narrativa.

Para começo de conversa, por si só a composição do grupo da 12ª expedição, que anteriormente também contava com uma linguista, é inusitado pela disparidade de suas especialidades. A primeira coisa que me questionei foi o que uma antropóloga, uma psicóloga e uma linguista teriam a descobrir em um ambiente natural e supostamente sem a presença de humanos. Isso, felizmente, vai ficando mais claro ao longo da narrativa, uma resposta bem original, diga-se de passagem.

No entanto, não espere muitas respostas a outras perguntas como: De onde veio a Área X? Quando e como ela surgiu? Onde está localizada? Qual a sua real natureza? O que de fato é o Comando Sul? Quem está no comando? Qual o seu real propósito e também das expedições?

Quase nada é revelado nesse primeiro livro, porque ao contrário de condensar toda a narrativa em um volume, o autor preferiu dispersá-la ao longo de uma trilogia. E o que contraditoriamente deveria me instigar a ler a continuação, foi, ao contrário, me desestimulando. A gente começa a narrativa em um tal grau de cegueira e conclui a leitura sabendo ainda tão pouco, que isso me frustrou bastante. Até agora tento entender o porquê, pois o misterioso é algo que sempre me instigou bastante, mas acho que até o final desta resenha conseguirei expressar como me sinto em relação à Aniquilação.

Foco narrativo e introspecção

Aniquilação é narrado em primeira pessoa, em forma de um diário de bordo, sob o ponto de vista da Bióloga, que como os demais personagens da trama não tem seu nome revelado. Dentro da trama a Bióloga é o único personagem que tem reveladas as suas motivações para participar da expedição.

Esposa de um dos expedicionários da missão anterior, ela foi testemunha da ruína de seu marido logo após retornar transformado da Área X. Muito tempo sem ter quaisquer notícias sobre ele, um dia o marido da Bióloga ressurge em casa, sem nem ao menos se recordar de como chegou ali. Ela tenta de todas as formas recebê-lo bem e deixá-lo confortável, mas aquele não era nada mais do que a sombra do homem que ela conhecera. De alguma forma, ele havia sido tocado pela Área X e ela havia o transformado de uma forma incompreensível. Se isso já não bastasse, assim como todos os expedicionários da 11ª expedição, ele faleceu de um câncer súbito.

É dessa perda inexplicável, súbita e sem propósito que a Bióloga tira o desejo incoercível[4] de tentar compreender o que se passou com o marido naqueles dias em que ele ficou vagando pela Área X. E é justamente essa busca que torna o livro bastante introspectivo.

Em vários trechos o livro dá espaço a longas e entediantes passagens em que a Bióloga analisa profunda e demoradamente sua vida pessoal. Essas passagens de introspecção dão à trama vários momentos de monotonia e não contribuem para interessar o leitor, ainda que nos ajude a compreender a forma como a Bióloga percebe e se atrai pela Área X.

Acho que minha reserva em relação a esse espaço muito grande dado a introspecção do personagem reside no fato de que aquilo não tenha contribuído em nada para o crescimento do personagem ou de seu leitor. Só a acho necessário um foco muito grande na introspecção quando esta combina com o gênero, ou seja, quando é a marca principal deste. Ou ainda, quando vem imbuída em si o propósito de provocar ou elucidar um ensinamento filosófico ou ponderação que colabore para a própria reflexão do leitor, para provocá-lo de algum modo.

A introspecção também pode contribuir para ligar o leitor fortemente ao personagem, criando um laço de identificação do leitor com o personagem e atribuindo ao último uma identidade mais profunda e verossímil. Acho que a intensão do autor tenha sido esse último: criar uma identidade mais profunda e verossímil para o personagem.

De fato, a introspecção da Bióloga deixou clara o porquê da sua forte ligação com o lugar onde ela se encontrava e acaba ocupando um papel muito importante na trama, mas, no outro extremo, não funcionou comigo porque não criou o laço de identificação, solidariedade ou de qualquer outro tipo de sentimento. Não funcionou porque achei que mesmo não destoando do gênero a qual pertence, a história da personagem, no geral, não me mobilizou em nada. Muitos não concordarão comigo, sei, mas essa foi a forma como o livro e sua narrativa se refletiram em mim. E eles nem chegaram a arranhar a superfície na tentativa de me alcançar.

Você leitor pode pensar, e eu vou concordar, que sou exigente demais com o que leio. Talvez essa seja uma explicação possível, mas livros para mim não são só entretenimento. A Literatura não deve servir nem ao extremo do academicismo literário nem ao do entretenimento vazio de sentido.

A protagonista é também do tipo que tem uma grande dificuldade de interagir com as pessoas, mas sempre se sentiu atraída pela natureza e pelo desconhecido. Por conseguinte, ela tem uma percepção diferente da Área X, se sente atraída por sua natureza, quer desvendá-la a qualquer preço e se integra a ela de forma absurda, sendo quase que absorvida para tornar-se parte integrante de sua complexidade. É certo que o fim trágico de seu marido é impulsionador de todas essas coisas, mas a Área X revela se algo bem maior para ela.

É justamente por essa atração irresistível que tudo na Área X provoca na Bióloga, somado ao fato de que conhecemos todas as situações e elementos daquele lugar dentro dos limites da compreensão e visão da mesma, que não nos é permitindo saber a veracidade do que ela relata ou se tudo não passa de um delírio de sua parte. Mais uma incógnita para o livro seguinte.

O desconhecido, o estanho e o inominado

Mapa da Área X
A natureza da Área X é misteriosa e desconhecida, assim como sua origem, sua extensão e o porquê de todas as expedições enviadas para lá se demostrarem desastrosas e nocivas aos expedicionários. Uma natureza que superficialmente pode parecer comum, ainda que contradiga algumas lógicas naturais, mas que, no seu âmago, se mostra bizarra, perigosa e traiçoeira, mescla do estranho e do grotesco, e infunde[5] o horror na beleza de um ambiente ainda por desbravar. Assim como os personagens conhecem e entendem a Área X, também o livro pouco revela, pouco esclarece sobre a natureza e surgimento daquele lugar, e esse é o principal motivo da minha frustração.

É certo que muitas coisas sobre as expedições são reveladas, mas o universo criado por Vandermeer é tão surreal e complexo que foi difícil gostar da narrativa. A área X é tão absurdamente fora da realidade conhecida que beira o irracional e o incompreensível, e a escolha do autor em revelar o mínimo contribuiu para que isso não mudasse para o leitor. Ao mesmo tempo, o mistério e as mentiras entorno do Comando Sul só aumentam as dúvidas. Ainda assim, avancei muito rápido na leitura porque meu cérebro ansiava compreender, localizar as peças da trama, buscar explicações, ver onde tudo aquilo levaria. Você devora o livro porque quer dar ordem aos acontecimentos, revelar o que está por baixo do véu de um enredo que aspira ser transcendental[6].

Seguindo fielmente a proposta literária do seu gênero, Aniquilação é uma obra que causa estranhamento. A proposição é criar um enredo sobre o desconhecido, o estranho e o inominado, e, em parte, por isso, nomes se tornam irrelevantes. Por exemplo, para o comando Sul não importam os nomes dos expedicionários, mas as suas especialidades e o que estes sujeitos com seus conhecimentos são capazes de descobrir. Nesse intento, como animais de sacrifício, os personagens não são nomeados e apenas designados por suas profissões, pois – e o livro no faz supor isso – se esses falhariam miseravelmente em sobreviver à Área X, por que nomes seriam relevantes?

Tem-se aí um processo completo de desumanização dos participantes, utilizados como peças de algo maior que não conseguimos antever na trama. Uma impessoalidade que é marcante em todos os aspectos do livro. Por outro lado, muito do que há naquele lugar é desconhecido e até inominado – a própria Área X tem uma designação genérica – o que faz compreensível a razão dos nomes serem descartáveis. Mas tanta generalidade me incomodou quando, aliada a isso, vem a falta de respostas sobre o surgimento e a natureza da área em questão.

Em conclusão, Aniquilação é um livro que não começa bem a sua trilogia. Ele não te dá a segurança ou, pelo menos, uma pista se, no todo, a série conterá uma história verdadeiramente boa, algo que valha a pena o investimento de seu tempo. Se não bastasse, o livro procura ser metafórico sem ser, na verdade, profundo, o que me incomodou bastante. Por fim, o desfecho é confuso e aberto, bastante frustrante por sinal, deixando para o segundo volume da série mais algumas questões a serem reveladas. Questões que não sei sinceramente se terei interesse em desvendar.

A edição lida é da Editora Intrínseca, do ano de 2014 e possui 208 páginas. Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.

Trailer do filme




Preview do Google Books







[1] Organismos vivos que produzem e emitem luz.
[2] https://en.wikipedia.org/wiki/Weird_fiction

[3] https://blogdaboitempo.com.br/2014/11/21/weird-fiction-essa-forca-estranha-parte-i/

[4]Que não se pode dominar, refrear, impedir; irreprimível (Houaiss, 2001).

[5]Introduzir-se, penetrar (Houaiss, 2001).
[6]Que eleva-se sobre ou vai além dos limites de; situa-se para lá de (Houaiss, 2001).

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