domingo, 24 de fevereiro de 2019

Norwegian Wood – Haruki Murakami – Resenha


Por Eric Silva
24 de fevereiro de 2019, ano da Itália

“I once had a girl
Or should I say
She once had me”
 (Norwegian Wood, The Beatles)

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Um tanto melancólico e reflexivo, Norwegian Wood fala de temas como o suicídio e a transição para a vida adulta, tendo em si um enredo com uma veia cômica e uma artéria trágica. Livro do escritor japonês Haruki Murakami esse é um romance de personagens singulares e únicos e com profundas referências à música e a literatura. Confira a resenha desse que foi o livro responsável por catapultar a carreira internacional de seu escritor.

Sinopse do enredo

Toru Watanabe é um jovem universitário que está começando sua vida em uma república masculina. Recém-chegado a Tóquio, Toru ainda não conhece praticamente ninguém na cidade e vive uma vida solitária dedicada aos deveres da faculdade e a analisar as peculiaridades das pessoas com quem passa a conviver.  A única pessoa conhecida na cidade é Naoko, a antiga namorada de seu amigo de adolescência Kizuki antes deste inesperadamente cometer suicídio.

Anos antes do tempo cronológico da narrativa, a morte de Kisuki foi um divisor de águas na vida de Naoko que nunca conseguiu superar a perda do namorado e se tornou uma garota introspectiva, psicologicamente frágil e confusa, mas também foi responsável por aproximá-la de Toru que era sensível a sua dor e não tardou a se apaixonar por ela.  Toru tenta ajudá-la a sair de seu estado de morbidez e eterno luto, mas, na maior parte do tempo, seus diálogos com a moça são cheios de divagações e coisas incompreensíveis enquanto ambos caminham horas a fio e sem destino certo pelas ruas de Tóquio. Até que um dia, por conta de seus traumas, que o desenvolvimento da história mostrará serem bastante profundos, Naoko se interna em uma clínica especializada, abandonando a faculdade e a capital japonesa.

Ainda mais solitário, Toru se envolve com novas pessoas e numa espécie de fuga passa a viver uma vida de bares e sexo sem compromisso, enquanto se corresponde por cartas com Naoko e ocasionalmente a visita na clínica. Ele também conhece Midori, uma garota extremamente animada e excêntrica, o total oposto de Naoko e os dois começam uma amizade que gradativamente vai se estreitando. É entorno da relação de Toru com Naoko e com os outros personagens de personalidades bem marcantes e distintas que o livro de Murakami é construído e, por fim, acaba se revelando um retrato da nossa modernidade e da forma como as pessoas lidam com as perdas e com seus vazios existenciais.

Resenha

Há muito tempo que ouço falar do estrondoso sucesso de Haruki Murakami não só no Japão como no mundo todo e até no Brasil, mas nunca havia lido nada do autor japonês nascido em Quioto, em 1949.  A minha primeira tentativa foi ano passado com a leitura de Caçando Carneiros, mas que abandonei quando estava lá pelos 20% do livro.

Foto: Eric Silva, 2019.
Norwegian Wood foi a minha segunda tentativa de imergir na escrita de Murakami e tentar, com uma cajadada só, entender o seu sucesso e incluí-lo na III Campanha Anual de Literatura que ano passado homenageou a literatura japonesa. Infelizmente não deu tempo de fazer essa inclusão, porque imergir na literatura de Murakami foi custoso e ler Norwegian Wood sem constantes interrupções e abandonos, quase impossível. No final, não deu tempo de incluí-lo no projeto e a resenha de seu livro saí agora quando já vivemos a IV Campanha Anual de Literatura, homenageando dessa vez a literatura italiana.

Norwegian Wood é um livro realista apesar de ficcional, mas que tem muito pouco da tradição contemplativa da literatura japonesa, ainda que traga uma mensagem profunda nas entrelinhas (falarei mais disso) e seja uma trama com um narrador profundamente observador. Todas suas personagens são profundas e muito bem construídas. Posso dizer que elas são bastante excêntricas e distintas entre si, e até certo ponto diferem da imagem típica que costumamos ter dos japoneses.  Por isso, elas não são cansativas apesar da história em si não ter me cativado.

O título faz referência à música homônima dos Beatles lançada em 1965, no álbum Rubber Soul. Além de ser trilha sonora favorita de Naoko nas noites em que vivia na residência que ocupava com uma colega de quarto na clínica onde se internou, Norwegian Wood tem um conteúdo que se assemelha bastante ao livro de Murakami. Ambas falam de um relacionamento breve com momentos descontraídos entre dois jovens, mas que termina abruptamente e sem nenhuma palavra de despedida. Na canção, a moça mostra ao rapaz seu quarto e ali, sentados no chão, eles conversam até as duas da manhã enquanto bebem vinho. Depois ele vai dormir no banheiro e no dia seguinte ela desapareceu, deixando-o só. Cenas como estas são comuns no livro de Murakami que torna sua obra quase um retrato em prosa da música dos cantores ingleses. Contudo, os Beatles não são as únicas referências dessa que é uma obra repleta de menções a canções e obras literárias de artistas do mundo todo, e reúne duas grandes paixões de Murakami: a música e a literatura.

A escrita de Murakami nesse livro é prosaica, limpa e objetiva dispensado quase totalmente o uso de metáforas e outros recursos estilísticos que costumam encher de floreios a escrita de autores mais poéticos, mas, ao mesmo tempo, é um livro cheio de descrições e reflexões de seu narrador quanto as coisas que ele vivia e as cenas que presenciava no teatro de sua vida.

Em termo de conteúdo, do meu ponto de vista, Norwegian Wood é um livro que fala de perdas e das dificuldades que muitas pessoas têm de enfrentar o sofrimento. Assim cada personagem dessa história teve suas próprias situações traumáticas, mas responde a elas de formas completamente distintas. É também um livro que mostra bastante o lado terrível do suicídio: as marcas que ele deixa nas pessoas que conviviam com o suicida.

Norwegian Wood mostra como as vezes não conseguimos perceber os sinais deixados pela pessoa antes que ela tire sua própria vida. Fala como até mesmo pessoas que parecem perfeitas ou que vivem vidas maravilhosas podem estar sujeitas a crises e vazios existenciais, a não suportarem perdas repentinas ou a perderem a esperança. O livro de Murakami revela a fragilidade do ser humano, mas, sobretudo, a fragilidade da mente humana. Ao mesmo tempo, o autor faz uma denúncia da realidade moderna na qual as pessoas vêm perdendo a esperança ou deixando enxergar sentido na vida, onde tudo parece estar fora de lugar e sem saberem qual caminho tomar, as pessoas se refugiam no sexo, em relações vaporosas, em passatempos vazios de sentido, ou se entregam a morbidez de rotinas entediantes como Toru, ou até mesmo perdem os parafusos e não conseguem mais se reconectar às pessoas e ao mundo como ocorre com Naoko. Enfim, Norwegian Wood é um livro que possui um exército de personagens que de alguma forma esperam em vão por um deus ex machina saído de alguma tragédia de Eurípedes que irromperá os céus no último ato e então porá em seu devido lugar cada engrenagem solta para que a vida siga de novo seu fluxo inexorável.

Ao retratar o curso torto desse rio que seguimos e que se chama modernidade, Murakami escreve um livro que é também um retrato do Japão moderno que enfrenta todos os anos o problema de centenas de suicidas que engordam as estatísticas nacionais.

Para nos falar de todas essas coisas Murakami escolhe como narrador o jovem e apático Toru Watanabe, que segue uma vida de estudante universitário sem sabor, frequentando as aulas que não lhes dizem nada por não ter nada mais interessante ou especial na sociedade que o mobilizasse a largar tudo e abandonar a faculdade.

Watanabe se declara antissocial, calado e introspectivo, é realmente um personagem ensimesmado, mas que convive e dialoga com muitas pessoas. Algumas dessas pessoas são muito singulares e distintas entre si, como seu amigo Nagasawa, que vive uma vida de prazeres fúteis e sem significados, ou seu colega de quarto, o Nazista, que é fanático por limpeza e tem uma vida sem grandes propósitos, ou ainda Midori, que não esconde nenhum de seus pensamentos pervertidos e é bastante descontraída. Além disso, Toru está apaixonado pela doce e complicada Naoko, namorada de seu melhor amigo que cometeu suicídio alguns anos antes e que jamais superou essa perda. Como a situação com Naoko é extremamente complicada, Watanabe transa com muitas mulheres sem se envolver com nenhuma, enquanto espera que Naoko se resolva e supere seus problemas. Enfim, o protagonista é o típico jovem que vive por osmose preso a uma rotina enfadonha e que se encontra cercado por pessoas excêntricas as quais ele observa e até se sente atraído e por isso permite com que elas entrem em sua vida facilmente. 

O suicídio do amigo e a morbidez e sofrimento vivido por Naoko são importantes elementos que impactaram a vida desse personagem que de certa forma vive uma vida medíocre porque não vê grandes sentidos e significados na vida em si. As pessoas que ele conhece são o verdadeiro substrato de sua existência que sem elas é taciturna e povoada de domingos mortos onde tudo que lhe resta é lavar e passar a própria roupa. Nesse ensejo, a relação de Toru com Naoko e sua relação com Midori o dividem bastante e ao mesmo tempo passam a serem vetores que determinam e preenchem a sua vida, mas como era de se esperar os constantes vão e vêm e autos e baixos com Naoko acabam por interferir também na relação com Midori.

Por seu turno, como dois extremos de um mesmo planeta, Naoko e Midori retratam diferentes formas como as pessoas enfrentam o sofrimento. Ambas vivem situações traumáticas e a dor da perda, mas suas reações são completamente opostas. Enquanto Naoko se torna taciturna, psicologicamente frágil e confusa em relação aos seus pensamentos e desejos e pouco ao pouco se torna ausente e alheia a vida, Midori reage de forma adversa com espontaneidade e bom humor, buscando viver intensamente e de forma despreocupada e divertida. O resultado final obtido por Murakami é um leque riquíssimo de personagens e que não se limitam aos que citei até agora.

Mas suicídios e conflitos existenciais não são os únicos conteúdos desse que foi o livro a catapultar internacionalmente a carreira de Murakami. Ele também regista de uma forma bem adulta o fim da adolescência de Toru e as banalidades do seu dia a dia sem perder uma certa veia cômica. Por isso Norwegian Wood apesar de ser um drama, não é excessivamente triste e pesado, mas uma abordagem realista da vida e do significado da morte, além de retratar a difícil passagem para a vida adulta.

Comparado a Caçando Carneiros esse é um livro que fez muito mais sentido para mim. Abandonei minha primeira tentativa de ler Murakami, porque com tantos elementos fantásticos, Caçando Carneiros se tornou um livro muito pouco compreensivo. Ele se assemelha a Norwegian Wood por retratar a rotina vazia e melancólica de seu protagonista, mas as várias lacunas em seu enredo o tronaram incompreensível. A sensação é que aquele é um livro incompleto ou que nasceu como continuação de outra obra – suspeita e divagação minha que depois descobri ser verdade. Ao contrário, Norwegian Wood é coeso e realista, tem começo, meio e fim. Além disso, seus personagens são muito bem estruturados e a narrativa é linear e independente.

Não obstante, Norwegian Wood não foi um livro que me fez imergir, não me cativou ou me impressionou. Não há grandes problemas na escrita ou na forma de narrar de Murakami, mas não me identifiquei com seu estilo. Em nosso jogo de sedução, Murakami não me conquistou.

[ALERTA DE SPOILER]. Por fim, quanto ao desfecho, ainda que eu não tenha me identificado com o livro, achei que o autor estragou tudo ao finalizar sua trama com o envolvimento entre dois personagens que cumpriam um papel muito específico na trama. Achei totalmente desnecessário e até fora de sentido o envolvimento de Toru e Reiko, personagem quarentona, amiga íntima de Naoko, interna da clínica e que na trama é um importante elo entre Naoko e Toru.

[ALERTA DE SPOILER]. Reiko é um personagem divertido e especial na trama. É ela quem apoia Naoko durante todo o seu tratamento e ao longo da trama sua importância cresce enormemente. Mas, no final, após uma série de acontecimentos, ela e Toru acabam transando quando isso não seria necessariamente uma consequência natural dos acontecimentos. Simplesmente Murakami acha que Reiko deveria ser mais uma no harém de Toru, ainda que por uma única noite, e isso, na minha opinião destrói completamente a atmosfera de cumplicidade, respeito e admiração mútua que existia ali e que fora construída ao longo do livro.

Enfim, Norwegian Wood não me conquistou, mas não decepciona porque é um livro de qualidade. Recomendo porque vai agradar leitores cults, principalmente, mas a mim que tenho um gosto para lá de excêntrico e pouco definido, ele não agradou.

A edição lida é da Editora Companhia das Letras, do ano de 2008 e possui 360 páginas.

Sobre o autor

Haruki Murakami (村上春樹) é um escritor e tradutor japonês considerado um dos autores mais importantes da atual literatura japonesa. Murakami nasceu em Kyoto, no Japão, em janeiro de 1949, mas cresceu em Kobe. Se graduou na Universidade Waseda, em Tóquio e viveu por quatro anos nos Estados Unidos, onde deu aulas em Princeton, regressando ao Japão em 1995.

Recebeu importantes prêmios, como o Yomiuri e o Franz Kafka Prize e seus livros são sucessos de vendas no Japão e internacionalmente, já tendo sido traduzidos para mais de 50 idiomas.

Preview do Google Books

Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.


domingo, 17 de fevereiro de 2019

[Novos Escritores] Cerberus – a ascensão da trindade – Jefferson Lessa – Resenha

Por Eric Silva
17 de fevereiro de 2019, ano da Itália

“Pois não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não existe nada de oculto que não venha a ser conhecido".
(Lucas 8:17)

Nota: todos os termos com números entre colchetes [1] possuem uma nota de rodapé sempre no final da postagem, logo após as mídias, prévias, banners ou postagens relacionadas.

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Nos últimos tempos, navegando pelas redes sociais, tenho conhecido muitos autores novos, com poucos anos de carreira, estreantes, além de autores independentes que lutam pelo seu espaço no tão competitivo e fechado mercado editorial. Esses encontros casuais acabaram por me lembrar de muito outros que possuo na estante e que nunca cheguei a ler. No final, isso me deu a ideia de uma nova tag: o “Novos Escritores”. A resenha de hoje é sobre uma dessas produções independentes muito bem-acabadas e de alta qualidade narrativa.

O mundo está ameaçado e tudo o que conhecemos pode deixar de existir abrindo espaço para o caos completo e indescritível. É nesse momento que emerge duas forças antagônicas que como o dia e a noite brigarão para decidir o futuro da humanidade. Com muita ação e num caldeirão de referências Cerberus – a ascensão da trindade, primeiro livro do escritor brasileiro Jefferson Lessa, traz uma corrida alucinante para salvar o mundo de forças desconhecidas e ocultas que nunca deveriam ter sido incomodadas.

Confira a resenha.

Sinopse do enredo

Enzo Geovanni é um grande ocultista conhecido no submundo das sociedades secretas tanto por suas proezas e poder como por seu caráter prepotente e oportunista. Há muito tempo ele havia abandonado os idealismos e as grandes paixões da juventude e se tornado uma pessoa orgulhosa que se utilizava de todos os artifícios e organizações para aumentar seu próprio poder. Contudo, uma explosão nuclear sobre o Castelo Houska, na República Checa, abre as portas para uma grande tragédia que ameaça o mundo humano e todos os cinco planos que formam o multiverso. Mais do que isso, com o caos provocado pela explosão emerge também uma misteriosa organização que subjuga todas outras sociedades secretas: o Punho de Ferro.

Ciente da grande ameaça que o rompimento do tecido da realidade representa para a humanidade e também para seus interesses, Enzo resolve agir e reunir um pequeno grupo que o ajude a combater o Punho de Ferro e restabelecer o frágil equilíbrio que mantém separados os vários planos.

O mundo mergulha no caos sendo invadido por demônios e outras criaturas vindas dos cinco planos, e em uma corrida alucinada pelo mundo e contra o tempo, o velho ocultista atravessa o mundo e segue em direção à Inglaterra, onde, reúne duas figuras singulares que com ele lutariam para levar a acabo o plano de restaurar o tecido da realidade: o demonologista tatuado Atila, que aprisiona demônios em sua própria pele, e a ciborgue Elise, que detentora de uma avançada tecnologia alienígena se predispõe a salvar o mundo com a ajuda técnica de seu inteligente cachorro de estimação, Luddy.

Elise, Atila e Enzo então formam a Cerberus que enfrenta a difícil tarefa de concertar o equilíbrio universal nos cinco cantos do planeta enquanto luta contra a poderosa Punho de Ferro e o mundo que conhecemos começa a ruir.

Sobre o autor

Jefferson Lessa nasceu em Londrina e desde cedo é apaixonado por comics, animes, livros de fantasia, RPG, videogames, card games e rock 'n' roll.

Cresceu colecionando em sua cabeça tudo o que pôde sobre mundos fantásticos que não obedecem às regras de nossa boa e velha Terra, sistemas para conjuração de magia, batalhas épicas capazes de decidir o futuro de todos, artefatos detentores de poderes incomensuráveis e dragões deitados sobre pilhas de tesouros deixadas por aventureiros abatidos.

Resenha

Cerberusa ascensão da trindade é o primeiro volume de uma série independente idealizada pelo escritor brasileiro Jefferson Lessa. Um romance fantástico e de aventura que trabalha o tema do ocultismo com criatividade e bastante originalidade, ainda que em alguns momentos apresente problemas.

É bastante curioso como Lessa brinca com a literatura de terror lovecraftiana, com referências a lugares tidos como mal-assombrados como Castelo Houska e Amityville, e com a história de várias sociedades secretas e ocultistas conhecidas, para contar uma história moderna e cheia de aventuras, cenas de ação e luta contra entidades sobrenaturais.

Esse mix torna Cerberus um livro ambicioso. As palavras que melhor definem o trabalho de Lessa são ambição, originalidade e criatividade. Não há muitos lugares comuns nessa narrativa que possui personagens bem singulares e uma proposta, em meu ponto de vista, ainda pouco explorada na literatura brasileira.

Cerberus é uma fusão de muitas referências, assim os principais diálogos que posso estabelecer com outras obras são da esfera da literatura estrangeira, do cinema e principalmente com a literatura ocultista.

Lessa pega emprestado a ideia de planos astrais separados por um "tecido da realidade" para a construção de sua trama, um conceito recorrentemente debatido por diversas seitas e que foi amplamente explorado também na obra de Eduardo Spohr, As Batalhas do Apocalipse. Trabalha também com ideias ufológicas e com a cultura dos exorcismos de demônios, e da união dessas ideias tece uma história de aventura.

As principais referências diretas são ao cinema que imortalizou o caso real da casa de Amityville e à literatura de Lovecraft. Mas as principais fontes de inspiração de Lessa são sem dúvidas as histórias das muitas seitas ocultistas que existem a séculos espalhadas pelo mundo e que até os dias de hoje alimentam centenas de teorias de conspiração. Organizações como o Illuminati, Skull and Bones e a Mão Negra são citadas no livro ou são base para a construção de sua narrativa.

Enfim, Lessa nos pega pela mão e nos conduz por uma viagem ao coração do ocultismo, das teorias de conspiração e de tudo que é sobrenatural e que já foi debatido ou especulado por muitos ao longo de anos.

Com uma pesquisa cuidadosa, ele faz a construção do enredo e dos elementos presentes na trama buscando informar e ao mesmo tempo construir sua verossimilhança. No entanto, em algumas passagens esse cuidado levou a algumas descrições excessivas que visavam explicar coisas pouco relevantes como a autoria de uma música clássica ou a composição de um dos coquetéis mais caros do mundo, o Magie Noir. São descrições que poderiam ter sido colocadas em notas de rodapé ou deixadas à curiosidade de quem lê, evitando sobrecarregar a narrativa com elementos secundários. Porém, a medida que o enredo segue sentimos a evolução da escrita e o texto vai se tornando menos denso e mais dinâmico.

Não obstante, começar a leitura de Cerberus pode ser um desafio para quem lê e, a depender do grau de exigência do leitor, o livro pode ser abandonado prematuramente. Vou explicar o porquê, mas adianto que aqui exponho apenas a minha opinião, meu ponto de vista, e não necessariamente todos concordarão comigo, ainda mais que leitores são diferentes, com gostos e manias peculiares e distintas.

Em toda a primeira parte do livro Lessa é apressado na construção e apresentação da problemática principal da história. O enredo já começa correndo e, por isso, não tem um desenvolvimento instigante.

De imediato somos apresentados a problemática de que o tecido da realidade foi danificado pela explosão de uma bomba nuclear lançada sobre a capital checa, Praga, e nosso principal protagonista rapidamente percebe tudo o que está acontecendo e, em poucos minutos conversando com um antigo aliado, consegue até mesmo precisar prováveis culpados do incidente. Isso tudo se dá no primeiro capítulo que conta com pouco menos de 10 páginas!

Depois de dois capítulos curtos que nos dão uma melhor dimensão de quem é Enzo Giovanni e nos dá amplas demonstrações da riqueza que o mesmo ostenta, além de sua personalidade autoritária e irritante, a tríade de personagens entorno do qual girará todos os acontecimentos (que até então não se conheciam) se reúne de uma forma inusitada (em um fast food às moscas, gerenciado por um demônio e aberto às três horas da madrugada enquanto Londres vive um caos com pessoas fugindo em debandada). Ali, tudo se arranja facilmente, com direito a uma pequena demonstração de força dos novos integrantes que dão cabo de um demônio que possuía o corpo de um homem incrivelmente obeso.

Resumindo a ópera: achei que o começo é rápido demais e não há um preâmbulo, um desenvolvimento inicial dos personagens antes que as coisas se compliquem. Há uma certa pressa em iniciar a trama principal, o que me incomodou.

Mas até então só havia lido 11% do livro e não desisto de obra nenhuma antes dos 50%, porque podemos sempre ser surpreendidos por uma evolução inesperada da história. Isso acontece nesse livro que em alguns momentos têm o desenvolvimento acelerado e em outros toma uma cadência mais natural e bem desenvolvida. Mas confesso que, nesse ponto inicial da obra, fiquei com uma certa dúvida se esse livro realmente seria bom, porque a forma como o trio de ocultistas se encontram e se organizam para dar solução ao problema central não teve uma boa construção e pareceu um tanto cômico demais e improvisado. Entretanto, Cerberus gradativamente vai evoluindo e a escrita e o desenvolvimento se tornando mais refinada. Com um pouco de paciência você se identifica com os personagens e com a trama e logo se sente envolvido.

Como disse essa é a mainha opinião, não necessariamente os leitores acharão o mesmo. Há pessoas que gostam de livros mais dinâmicos e que vão direto ao ponto, ou melhor, direto à ação. A questão é que prefiro narrativas com desenvolvimento mais equilibrado (nem tão rápido nem lento demais).

Um contraponto que posso citar é Os Miseráveis, de Victor Hugo, clássico da literatura francesa que eu adoro. Os Miseráveis têm um começo com desenvolvimento muito arrastado e irritante, isso, porém, não tirou a qualidade do conjunto e o mesmo se dá com Cerberus, cujo autor está buscando firmar e afinar o seu estilo. Nesse sentido, nota-se, por exemplo, que aos poucos, ao longo do livro, o autor também vai refinando o seu humor. Isso é um sinal de que o talento e o estilo de Lessa vão maturando e ainda possui muitos potenciais a serem explorados.

A tríade e o desfecho

O título do livro faz referência ao Cérbero (em grego antigo: Κέρβερος), entidade da mitologia grega que possuía a forma de um monstruoso cão de três cabeças e guardava a entrada do mundo inferior, o reino subterrâneo dos mortos[1]. Contudo, na obra de Lessa, o Cerberus é também a organização improvisada por Enzo e composto por ele, Atila e Elise. Dessa forma, cada um dos membros representaria uma das cabeças do cachorro feroz que guarda a entrada do reino de Hades.

Enzo Giovanni é o personagem mais velho (105 anos!) e principal protagonista da obra. Ele é um homem ranzinza, orgulhoso, arrogante e autoritário, mas com profundos conhecimentos místicos. Trata-se de um personagem de temperamento forte e difícil.

Inicialmente foi difícil para mim me afeiçoar a Enzo e em muitos momentos ele passa consideravelmente dos limites com seu ego narcisista e despótico. Contudo, a aventura que ele vive ao lado dos dois outros protagonistas se revela ao longo da trama como uma forma de redenção dos seus pecados e, no final, vemos um Enzo um tanto mudado.

Atila representa um meio termo entre uma pessoa equilibrada e um perigo eminente. Ele é capaz de exorcizar demônios poderosos prendendo-os em sua própria pele como se fossem tatuagens. Contudo essa habilidade exige dele uma ininterrupta luta para manter as perigosas bestas sob o controle, mas é justamente quando tudo dá errado que o personagem ganha maior destaque no romance. Ele é caracterizado como um homem com uma aparência bastante alternativa, um mix de viking moderno com punk:

Aproximou-se do balcão e, para sua infelicidade, só havia um jovem debruçado sobre o móvel. Era coberto de tatuagens, tinha o cabelo bagunçado cobrindo os olhos castanhos e uma barba negra que se dividia em duas tranças; além disso, era possível contar quatro brincos em cada uma de suas orelhas. Não era robusto, mas, ainda assim, parecia ser forte, pois, mesmo relaxado, não havia espaço para flacidez nos músculos de seus braços.

Elise, por sua vez é a otimista do grupo. Até certo ponto ingênua, Elise é uma ciborgue com tecnologia alienígena que substituiu grande parte do seu corpo por poderosas próteses mecânicas. Em muitos momentos seu comportamento soa infantil o que contrasta bastante com seu corpo atlético e robótico, mas mais do que um ciborgue rápido e poderoso ela é uma garota sincera, amorosa e que tem um código moral muito forte, se recusando a tirar a vida de seus inimigos.

Elise é bastante curiosa e procura ver as coisas de um ponto de vista mais leve, por isso o personagem é também o ponto de equilíbrio da narrativa, colocando-se entre dois protagonistas masculinos de personalidades fortes e, até certo ponto, agressivas.

Enfim, o que temos aí é uma tríade (trindade, como sugere o subtítulo) muito atípica e, por isso, bastante original. Em certos momentos, principalmente no começo do livro, tive certa relutância de aceitá-los, mas gradativamente eles crescem na história e vão se tornando mais criveis e realistas.

Por fim, Cerberus – a ascensão da trindade é um livro que exige um pouco de boa vontade no começo por parte do leitor, mas no final não tem uma leitura cansativa, ainda mais que a obra está dividida em 49 pequenos capítulos muito dinâmicos e cheio de aventuras e cenários diferentes. É um livro original e criativo, com uma pesquisa excepcional que foi feita para a montagem do enredo. Esses elementos positivos amenizam seus problemas que, no entanto, não são nem um pouco incomuns em uma obra independente e de estreia.

O desfecho agrada e fica em aberto, porém toda a história é contada (começo meio e fim) sugerindo que o livro de continuação terá uma trama completamente nova e até, quem sabe, independente do primeiro livro. Esperemos para saber quais aventuras aguardam a Cerberus no futuro.




[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9rbero

domingo, 3 de fevereiro de 2019

As Cidades Invisíveis – Italo Calvino – Resenha


Por Eric Silva
03 de fevereiro de 2019

“Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver em liberdade e não a destrói, espera para ser destruído por ela”.
(Maquiavel)

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Fabulosas, oníricas e metafísicas As Cidades Invisíveis de Italo Calvino compõem um livro único e difícil de descrever pela sua singularidade, originalidade e poética.

Sinopse do enredo

Século XIII. Após muitos anos de viagem pelas longínquas terras do oriente, o mercador e explorador veneziano Marco Polo chega ao império de Kublai Khan, o quinto soberano do Império Mongol[1]. Ali Marco Polo viveria por 17 anos como diplomata na corte de Khan e viajaria pelos extensos domínios do imperador dos tártaros, contando depois em seus escritos as aventuras e as belezas que encontrou por aquelas paragens.

Influenciado pelo realismo mágico que ganhava força na literatura sul-americana e inspirado pelas aventuras do aventureiro veneziano, Ítalo Calvino imagina um diálogo fantástico entre Kublai Khan e Marco Polo, no qual este descreve ao imperador mais de cinquenta cidades extraordinárias que mais parecem existir nos sonhos e na imaginação do navegador italiano.

Misturando sonho, fantasia, um pouco de poesia e diálogos filosóficos, Calvino vai narrando nesse pequeno livro cada uma daquelas cidades tão fantásticas quanto impossíveis, mas que são retratos figurativos e alegóricos da própria existência humana.

Resenha

Marco Polo em retrato póstumo feito em cerca de 1600.  
 Imagem: Wikimedia Commons.
Durante meados do século XII até o início do século XIV viveu na Europa e em tantos outros lugares, o mercador, embaixador e explorador veneziano Marco Polo.

Marco começou suas viagens como explorador pelo Oriente quando ainda tinha 17 anos e embarcou em uma viagem para a Ásia com seu pai e tio, Niccolò e Maffeo Polo, só retornando a Veneza, sua cidade natal, em 1295, 24 anos após partir[2]. Durante a longa viagem pelas terras asiáticas o veneziano conheceria o maior império em área contígua da história[3], o Império Mogol.

Posteriormente e já de volta a Europa, Marco relataria suas aventuras e os anos durante os quais serviu como embaixador de Kublai Khan, em seu livro, Il Milione (O milhão) mais conhecido como As viagens de Marco Polo[4]. Inspirado nesse livro de relatos de viagem, o escritor italiano Ítalo Calvino imagina em As Cidades Invisíveis (Le città invisibili) como seriam os diálogos entre Marco e o Khan enquanto este relatava as maravilhas de dezenas de cidades que o explorador conhecera ao longo das suas muitas viagens pelo Oriente.

As Cidades Invisíveis é um livro de beleza muito peculiar e rara. Não é uma obra que chama a atenção por sua trama, porque quase não há história. O que domina a peça são as descrições das dezenas de cidades fabulosas que tão só poderiam existir na mente fértil de um excelente escritor como Ítalo Calvino.

As cidades narradas por Marco Polo ao Khan são singulares, extravagantes e oníricas e por isso parecem invisíveis, pertencendo ao campo dos sonhos e da imaginação. Cada uma recebe o nome de uma mulher e são cidades que desafiam as leis da natureza, da lógica e da razão. Nelas Calvino traz uma atmosfera ilógica, trabalhando a questão do inverossímil, e ao mesmo tempo através delas transfigura alegoricamente muitos dos sentimentos, contradições e desejos humanos.

Ao fazer as descrições das cidades, Marco fala sobre seus aspectos físicos, culturais, comportamentais, metafóricas e também metafísicos, como bem observa Carmem Lúcia, do blog O que Vi do Mundo, mas, ao mesmo tempo, tece nas entre linhas reflexões do mundo em forma de metáforas e alegorias. Algumas das cidades são surrealistas e parecem saídas de uma pintura de Salvador Dalí ou de René Magritte. O resultado são textos preciosos de alto valor descritivo que tornam o livro complexo e ao mesmo tempo belo e intraduzível.

Cada cidade contém sua própria singularidade e magia, mas em alguns momentos ela se parecem, porque são divididas em categorias que se repetem como “as cidades e a memória e as cidades e o desejo”.

Kublai Khan. Retrato feito por Anige do Nepal, astrônomo, 
engenheiro, pintor e confidente de Kublai Khan
Imagem: Wikimedia Commons.
Zora, por exemplo, me parece um palácio mental, uma técnica de memória no qual você associa tarefas e outras coisas que deseja lembrar a objeto dispostos nos cômodos imaginários de uma casa ou de outro espaço. Já Sofrônia me surpreendeu porque é formada de duas metades, uma delas é uma grande cidade (de concreto, fixa), enquanto a outra é descrita como se toda ela fosse um grande parque de diversões (provisória, removível). No entanto, todos os anos uma dessas meias cidades é desmontada e remontada, mas a meia Sofrônia que é desmontada e levada embora não é a meia cidade que parece um parque, mas aquela feita de concreto com sua falsa fixes.

Ainda quero citar as cidades delgadas, que são, por sua vez, as mais improváveis e impossíveis como as pinturas surrealistas de que falei. É o caso de Otávia, cidade construída acima de um desfiladeiro entre duas montanhas sustentadas por fios que as que servem de sustentáculo e passagem.

“Se quiserem acreditar, ótimo. Agora contarei como é feita Otávia, cidade-teia-de-aranha. Existe um precipício no meio de duas montanhas escarpadas: a cidade fica no vazio, ligada aos dois cumes por fios e correntes e passarelas. Caminha-se em trilhos de madeira, atentando para não enfiar o pé nos intervalos, ou agarra-se aos fios de cânhamo. Abaixo não há nada por centenas e centenas de metros: passam algumas nuvens; mais abaixo, entrevê-se o fundo do desfiladeiro.
“Essa é a base da cidade: uma rede que serve de passagem e sustentáculo. Todo o resto, em vez de se elevar, está pendurado para baixo: escadas de corda, redes, casas em forma de saco, varais, terraços com a forma de navetas, odres de água, bicos de gás, assadeiras, cestos pendurados com barbantes, monta-cargas, chuveiros, trapézios e anéis para jogos, teleféricos, lampadários, vasos com plantas de folhagem pendente.
“Suspensa sobre o abismo, a vida dos habitantes de Otávia é menos incerta que a de outras cidades. Sabem que a rede não resistirá mais que isso”.

Essa foi uma das cidades que mais me chamou a atenção. Como se vê o texto é puramente descritivo, como, porque assim como os escritos originais de Marco Polo As Cidades Invisíveis funciona como um relato de viagem cheia de descrições e com pouco enredo. Só nas últimas cidades Ítalo insere o diálogo, elemento que inexistia na dinâmica inicial dominada pela descrição, e o narrador também passa a se colocar mais no texto. Até então o diálogo só existia nas passagens onde o veneziano e o Khan conversavam.

Por ter um estilo de diário de viagem, As Cidades Invisíveis não segue a lógica e a estrutura da narração que normalmente é composto de problemática, clímax e desfecho, o que compõe o enredo. Ainda assim, é uma obra cuja divisão dos seus capítulos se torna uma característica única do próprio livro.

O livro é dividido em 9 capítulos que funcionam como blocos onde temos – intercalado a história de Marco Polo e Kublai Khan – a descrição das chamadas cidades invisíveis em subcapítulos pequenos e independentes. Esses subcapítulos falam cada um de uma nova cidade e cada título carrega algum aspecto que de alguma forma se relaciona as principais características dessa cidade mais um número de 1 a 5 que representa quantas vezes aquele aspecto já foi referido.

Os diálogos de Marco Polo e Kublai Khan também são sempre cheios de filosofia e aforismos. Impossibilitado de conhecer a vastidão de seus domínios, o imperador ouve Marco Polo com curiosidade e a través de seus relatos Kublai consegue conhecer as várias partes que compõem o caleidoscópio do seu império e “discernir, através das muralhas e das torres destinadas a desmoronar, a filigrana de um desenho tão fino a ponto de evitar as mordidas dos cupins”.

Por diversas vezes o imperador expões seus pensamentos e angústias, e também faz questionamentos sobre a veracidade do que lhe narra o embaixador estrangeiro, mas, ainda assim, se mantém interessado e envolvido pelos relatos fabulosos e oníricos de Marco. Apesar disso, os diálogos se dão por gestos e sem o uso da palavra, uma vez que Marco desconhece a linguagem dos tártaros. Só muito depois Marco Polo passa a verbalizar seus relatos, mas, ainda assim, a linguagem gestual e figurativa continua viva e predominante nos seus diálogos com o Khan.

A escrita de Ítalo é um pouco desafiante para aqueles que leem pouco. Por vezes, metafórica ela é também cheia de palavras singulares e distantes do nosso cotidiano. Poética, é uma escrita cheia de construções imaginativas complexas e até mesmo surrealistas o que me fez alguns momentos ficar um pouco perdido na leitura, mas ainda assim não usa uma linguagem demasiadamente erudita.

O livro não parece ter pontos fracos, porque é extremamente singular e único, mas nem por isso agrada a todos. O que mais gostei foi a escrita poética de Calvino e de sua imaginação surpreendente e liberta, que tornou o livro original, instigante e criativo.

O desfecho do livro, assim como todo ele, é cheio de aforismos e faz uma profunda reflexão sobre a vida. Ele não encerra de fato a narrativa, mas encerra o ciclo de narrações que poderemos acompanhar. Por isso, em vez de um final fechado, Ítalo nos dá uma reflexão encantadora e filosófica como final:

“O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço”.

Enfim, As Cidades Invisíveis é um livro onírico, de sonhos, de construções imaginativas requintadas e delicadas. Uma obra inteligente e singular, única e até certo ponto indefinível e indescritível. Vale a pena ler.

A edição lida é da Editora Companhia das Letras, do ano de 1990 e possui 152 páginas.

Sobre o autor

Ítalo Calvino nasceu em Santiago de Las Vegas, Cuba, em 15 de outubro de 1923, e foi para a Itália logo após o nascimento. Formou-se em Letras e participou na resistência ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, tendo atuado muitos anos como militante e membro do Partido Comunista Italiano, até que se desfilou-se em 1957.

Foi um dos mais importantes escritores italianos do século XX e sua primeira obra foi Il sentiero dei nidi di ragno (A trilha dos ninhos de aranha), publicada em 1947. Uma de suas obras mais conhecidas é Le città invisibili (As cidades invisíveis), de 1972.

Morreu em Siena, em 19 de setembro de 1985.






Preview do Google Books

Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.


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[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Kublai_Khan
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_Polo#Primeiros_anos_e_viagem_para_a_%C3%81sia
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Mongol
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Viagens_de_Marco_Polo

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