Capa da edição lida |
Aparência ou essência? Perdido ou sozinho? Autopiedade ou
coragem para prosseguir? Quando a aparência parece ser mais importante do que
somos por dentro? Quando nos deixamos levar pela embalagem e nos esquecemos do
que temos por dentro, do nosso conteúdo? E quando tudo parece perdido e a
beleza vai embora, o que nos resta? Essas são algumas perguntas que Amy Harmon
tenta responder aos seus leitores ao longo das páginas de Beleza Perdida,
publicado no Brasil pela Verus Editora.
Ambrose Young era considerado um dos garotos mais
atraentes da escola da pequena cidade de Hannah Lake. Principal atleta do time
de luta livre da escola, o Hércules, como era chamado, já tinha seu futuro acadêmico
garantido pelo esporte. A sua competência como lutador não só lhe fizera
principal orgulho dos moradores da cidade, como lhe garantira também uma bolsa
de estudos na Universidade da Pensilvânia. Ele era tudo o que muitos outros jovens ansiavam
ser.
Logo ali ao lado, Fern Taylor, a filha do pastor Joshua Taylor,
nutria uma paixão inconfessável por Ambrose, mas ela se considerava feia demais
para um dia ser notada pelo rapaz que poderia ter qualquer garota que quisesse.
Por isso a garota dos cabelos que lembravam “uma coroa de fogo desenfreado” se
contentava em sonhar acordada e entregar-se aos romances que lia e escrevia.
Mas o verdadeiro consolo de Fern estava na amizade quase maternal que mantinha com
o primo, o irreverente Bailey, portador de distrofia muscular de Duchenne, filho
do treinador de Ambrose e mascote do time.
Porém tudo fica mais difícil para Fern quando ela
descobriu que sua amiga mais próxima, Rita, também estava apaixonada por
Ambrose e para ajudá-la acaba escrevendo cartas de amor para o rapaz no lugar
de Rita. Porém aquela também seria uma possibilidade de conhecer melhor o objeto
de seu amor.
A vida seguia seu curso normal até a chegada do dia 11 de
Setembro de 2001. Após testemunhar com seus colegas de classe o trágico
incidente com as Torres Gêmeas, Ambrose já não era mais o mesmo. Seu espírito e
seu coração foram tomados pelos mesmos sentimentos de vazio e de dor e pelo
desejo de justiça que recaíram sobre todos os americanos enlutados. Ambrose
tomaria a mais importante e decisiva decisão de sua vida: lutaria ao lado de
seus melhores amigos na guerra no Oriente Médio. Entretanto o custo de sua
decisão seria mais elevado do que ele poderia supor. Isso iria custar inclusive
a sua beleza e suas certezas.
Beleza Perdida é um livro que fala de perdas e de
superação, de autopiedade e da necessidade de supera-la. A princípio o clima
criado pela paixão platônica da garota feia pelo rapaz mais popular da escola
me fez pensar que Beleza Perdida fosse só mais um romance Sessão da Tarde que
enjoamos logo nos primeiros capítulos e que deduzimos o final com a mesma
facilidade e segurança com que afirmamos que o céu fica azul em dias de sol. Mas
confesso que foi surpreendido, fiquei emocionado em alguns dos capítulos que
antecederam o seu desfecho e tirei dessa leitura alguns ensinamentos que
levarei para a vida. Vamos a nossa resenha falando um pouquinho dos três
personagens principais.
Capa da edição em inglês |
O que mais me comoveu na personagem não foi nem tanto seu
sentimento por Ambrose, mas o seu amor beirando o materno pelo primo doente a
quem ela tinha o prazer e a voluntariedade de servir. Arrisco a dizer que
Bailey, e não Ambrose, fosse a outra metade da alma da ruiva, porém em um
sentimento puramente fraterno. Eram
cúmplices, confidentes, inseparáveis. Os dois compunha um soneto ao mesmo tempo
cômico, comovente e bonito.
Ambrose, por sua vez, é uma das veias trágicas da
história. O rapaz além de introspectivo vive interiormente atormentado pelas
consequências dramáticas de suas escolhas e se culpa por elas, o que faz com
que o rapaz esteja sempre em conflito consigo mesmo e procure distanciar os
demais de si. As reviravoltas que sua vida dá o distanciando bastante daquele
garoto atraente da escola, porém, não diminuem o amor e o desejo que Fern
sentia por ele. Contudo, consumido pelas suas amarguras, arrependimentos e pela
autopiedade, o rapaz se torna por um certo tempo incapaz de acreditar nos sentimentos
de Fern, ao mesmo tempo que duvida que o interesse da garota seria duradouro.
Por fim, termos Bailey, meu personagem preferido. Como
portador de distrofia muscular de Duchenne Bailey sempre soube que sua vida
seria muito curta e que logo estaria condenado a viver em uma cadeira de rodas,
com seus movimentos reduzidos a quase nada e completamente dependente de que as
pessoas fizessem tudo por ele. Ter chegado aos vinte e um anos foi para ele um
milagre que só foi possível graças a incansável dedicação de seus pais e da
prima Fern. É muito comovente quando se desabafando e ao mesmo tempo dando um
sermão em Ambrose o rapaz fala de como teve que abandonar por completo qualquer
sentimento de orgulho para continuar vivendo.
Porém, ao contrário do que se pode imaginar, Bailey é um
rapaz alto-astral, cheio de sonhos, grato pelo o que tem, decidido e,
principalmente, sem nenhum temor da morte. Ao contrário, ele é daquelas pessoas
que faz piada de sua própria desgraça e se agarra a vida procurando aproveitar
cada minuto e nunca perder um minuto que seja com autopiedade. Logo, ele é o polo
oposto de Ambrose, ainda que admirasse bastante o lutador.
O tema centra do livro é com certeza a beleza, mas não
apenas a beleza estética, a casca, mas a capacidade de ser belo por dentro, o
que pressupõe possuir, cultivar e transmitir qualidades como gentileza,
amizade, humildade, determinação, perseverança, voluntariedade e amorosidade.
Os laços que unem os três personagens centrais da história são feitos destes
sentimentos, o que torna a narrativa bonita e tocante. Ambrose precisa de ajuda
para vencer seus demônios, e por amor Fern está pronta para fazer de tudo para
que ele volte a ter confiança em si e seja capaz de superar seus problemas. Por
sua vez, Bailey está também disposto a ajudá-los.
O livro também fala de perdas e da necessidade de que não
cultivemos a autopiedade, que não nos deixemos consumir por nossa impotência
diante da adversidade, mas que busquemos seguir em frente, conviver com o que
somos, o que vemos no espelho, aproveitando o que de melhor a vida pode nos
dar, junto de quem amamos.
Gostei muito do livro, e como já disse fui surpreendido
pelos seus personagens e pelos acontecimentos que antecedem o desfecho. Mesmo
não sendo meu gênero literário preferido fiquei emocionado em vários capítulos.
Achei interessante também por ele nos dá uma noção do
sentimento vivido pelos americanos diante do terror do 11 de setembro. Mesmo em
que em uma pequena dose, conhecemos através de Ambrose o vazio que aquele
acontecimento trágico deixou no coração do povo estadunidense. Ao mesmo tempo
ele nos dá uma pequena prova do horror vivido pelos jovens em campo inimigo.
Pena que a discussão não foi aprofundada e a geopolítica envolvida na “Guerra
contra o Terror” de Bush não é explorada. Mas fica claro que este não era o
foco da narrativa. A autora pretendia mostrar a coisa pelo olhar dos jovens
americanos, dos que lutaram pela sua nação.
Me chamou a atenção também como o começo da narrativa se
assemelha a história de A Marca de uma Lágrima de Pedro Bandeira, outro livro já resenhado aqui no blog. A ideia é
bem semelhante: uma garota que se acha feia, apaixonada por um garoto muito
bonito que está envolvido com sua melhor amiga e ela se faz passar pela amiga
escrevendo cartas de amor inundadas em poesia. Mas no prosseguir dos fatos as
narrativas tomam caminho completamente distintos, sendo apenas uma breve
semelhança.
Enquanto escrevia esse texto, estava ouvindo Photographde Ed Sheeran e pensando como valeu a pena ler esse livro, unicamente por causa
dos laços poderosos e comoventes criados entre esses personagens. Esses laços
foram o suficiente para que eu decidisse resenhar o livro, isso o diferenciou
de um simples romance tipo Sessão da Tarde. Há momentos cansativos, mas que
valem a pena. Na verdade Photograph é muito semelhante a proposta de Amy Harmon:
Loving can heal (Amar pode curar)
Loving can mend your soul (Amar pode remendar
sua alma)
And it's the only thing that I know (E é a
única coisa que eu sei)
Por fim, só uma dica a quem for ler o livro: prestem
bastante atenção aos títulos dos capítulos! :>
A edição lida é de 2015, digital e publicado pela Verus Editora.
Confira também a postagem especial:
Confira também a postagem especial:
Olá!
ResponderExcluirJá tinha escutado falar desse livro, inclusive uma amiga me recomendou recentemente.
Adorei sua resenha, super completa. Fiquei apaixonada pelo blog e já estou seguindo <3
Beijão
Leitora Cretina
Ficamos muito feliz que tenha gostado. Realmente é um livro muito interessante e vale a pena ler. Volte sempre, estaremos a sua espera.
Excluir