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domingo, 3 de maio de 2020

O Código Perdido – Kevin Emerson – Resenha


Por Eric Silva
29 de março de 2020

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Um amor jovem nascido durante um acampamento para adolescentes, localizado naquele que era um dos últimos refúgios da humanidade. Um mundo colapsado por mudanças climáticas que comprometeram a sobrevivência no planeta. Conspirações, mentiras, mutações e uma profecia milenar. Esses são alguns dos ingredientes que compõe a trama teen de O Código Perdido, primeiro volume da trilogia Os Atlantes.

Sinopse do enredo

Um livro que mistura questões ambientais sobre mudanças climáticas e fantasia mitológica num mundo distópico, O Código Perdido, narra a história de como Owen Parker, um menino de condições financeiras muito baixas e que vivia numa das regiões mais insalubres do mundo, foi parar em um estranho acampamento para adolescentes, em um dos últimos lugares da Terra ainda protegido e em condições mais ou menos favoráveis a vida.

No mundo em que a série de Kevin Emerson se ambienta, as mudanças climáticas e o aquecimento global provocaram o colapso do planeta e pouquíssimas áreas não se tornaram completamente desérticas e inabitáveis, caso da maior parte da América do Norte. Além disso, o degelo rápido das calotas polares decorrente do aumento das temperaturas mundiais fez com que os níveis dos oceanos se elevassem e devorassem as regiões costeiras e com elas as antigas tecnópolis de Nova York, Xangai e Dubai.

Grande parte da população mundial não sobreviveu aos deslocamentos em massa, às guerras e ao caos que se seguiram ao cataclismo. Daqueles que restaram, a maioria passou a viver nas estreitas faixas de terra das Zonas Habitáveis, em lugares completamente insalubres, escondendo-se em abrigos subterrâneos onde ainda lhes restavam alguns recursos tecnológicos vindos da pujante era pré-Ascenção.

Somente alguns poucos privilegiados – que ponderam pagar por isso – passaram a viver nos cinco domos Éden, grandes estruturas controladas pela poderosa Corporação Éden capazes de abrigar em seus interiores pequenos bosques, lagos e cidades, e nos quais as pessoas podiam continuar vivendo como tinham vivido no passado.

Porém, mesmo os domos já demonstravam desgaste e era uma questão de tempo até que se tornassem insustentáveis e também colapsassem. A corporação sabe disso, ainda que tente esconder, e corre contra o tempo e usa dos meios mais sórdidos para encontrar uma solução que garanta sua própria sobrevivência.

É em um desses domos que funciona todos os anos o aparentemente inofensivo Acampamento Éden, onde Owen descobrirá, após se afogar por quase dez minutos, que não é uma pessoa normal. Desse dia em diante, o garoto se verá no difícil desafio de desvendar os mistérios que cercam sua descendência extremamente peculiar e que está modificando seu corpo e sua natureza, mas que é a chave para evitar o fim da raça humana. Para isso, ele precisará escapar das garras da Corporação Éden que aparenta um perverso interesse nos conhecimentos ancestrais que o menino descobre possuir (o código perdido). E para esta aventura ele conta com a ajuda de Lily, uma garota encantadora e misteriosa.

Resenha

Li O Código Perdido ano passado durante as férias e logo me esqueci dele.

Quem leu a sinopse do enredo provavelmente deve estar pensando agora que se trata de mais uma narrativa teen de ficção-científica envolvendo conspirações e um mundo pós-cataclismo que será salvo por um grupo de adolescentes cheios de adrenalina, espertos e exalando feromônio[1]. Bem, tem bastante disso, mas não se trata só disso.

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O que posso dizer é que o livro de Kevin é uma salada de frutas que mistura distopia, ficção-científica, mutação genética, conscientização para questões ambientais sérias, romance e dramas jovens e – o mais inusitado – fantasia mitológica atlante. Todo esse conjunto vem em um único pacote, no máximo, bem costurado e com alguns insights inteligentes e criativos, porém com uma narrativa bastante clichê e cheia de lugares comuns.

O que acabei de escrever pode soar bastante contraditório – o que não foge muito da minha natureza pessoal –, mas a verdade é que minha relação com esse livro foi também bastante contraditória. Ele não é suficientemente ruim para que eu diga que é perda total, nem suficientemente bom e instigante para que eu o considere como um dos meus favoritos dentro de seu gênero.

Seus personagens não me cativaram e sua narrativa não é nem marcadamente criativa, nem desprovida de originalidade. A escrita é boa e o desencadeamento lógico das coisas é até certo ponto bastante verossímil. Ainda assim, ele não me apetece. Tanto que não lerei os próximos livros da série – apesar que ler apenas o primeiro volume de uma série já tenha se tornado um hobby meu.

Diria eu que os elementos menos originais do livro são, em primeiro lugar, o fato de ser um livro distópico, cujo mundo foi virado de cabeça para baixo por questões ambientais, provocando sérios problemas para a continuação da humanidade. Parece-me que esse é um tema que está bastante em voga no gênero, aparecendo em livros como O Conto da Aia, Feios, Divergente, Maze Runner, etc. por isso está ficando desgastado.

Em segundo lugar, há muitos elementos clichês que destoam com o clima de desespero mundial que acontece fora do domo. Os principais deles são: um acampamento de verão para adolescentes, os dramas adolescentes, que parecem se tornar universais na literatura, e os amores de verão embalados pelo eterno clima de férias.

Para quem não tem paciência de vencer a maior parte da narrativa aquele acampamento parece algo inverossímil e destoante com a proposta do próprio livro, que se pretende ser uma distopia de um mundo em colapso. Obviamente que o clima de férias criado pelo acampamento foi cunhado propositadamente pelo autor, que inclusive já foi monitor de acampamentos antes de se dedicar à literatura.

A clara intenção de Kevin era mostrar mais explicitamente as contradições entre o estilo de vida daqueles que viviam dentro do domo Éden, protegidos da radiação solar e dos intemperes do novo clima, e a forma como viviam os desafortunados habitantes do exterior.

Owen, por exemplo, como personagem principal da história e um dos poucos garotos vindos de fora do domo, serve à narrativa como um contraponto entre como pensa as pessoas de dentro e de fora dos domos. Esse deveria ser, na verdade, o seu principal papel nos primeiros 2/3 da narrativa. Contudo, em muitos momentos, ele está mais preocupado com seus próprios problemas juvenis e corriqueiros, só mudando sua postura de forma mais marcante quando os problemas dentro do domo se mostrem cada vez mais explícitos.

Mas já que citei o protagonista, falemos dele e de outros personagens.

Owen é um daqueles adolescentes apagados, sem muita personalidade, ingênuo, deslocado e desprezado pelo rebanho, além de ser cheios das neuras e dos hormônios comuns a idade dele.

Ele vive com seu pai em uma região inóspita, onde as pessoas são obrigadas a viver nos subterrâneos, uma vida de muitos desafios, mas que na minha modesta opinião, infelizmente, não imprimiu tanto relevo quanto era possível a personalidade do jovem. Digo isso, porque minha impressão dele é que na maior parte da primeira metade da história ele está mais preocupado em parecer interessante para a garota mais cobiçada do acampamento e também se manter fora do caminho do valentão da história, o Sanguessuga.

Owen é para mim mais um adolescente qualquer do século XXI, mas que parece ter sido jogado em outra época sem que houvesse o perfeito encaixe entre a personalidade e o período histórico – ainda que Kevin tenha feito enormes esforços para isso. Ele é crítico e curioso, elemento que acaba por equilibrar um pouco o personagem, mas isso não foi o suficiente para que ele se tornasse cativante. A única coisa que achei interessante nele foi o seu senso de humor que geram algumas autorreflexões, além, é claro, da forma como ele passa a conversar com seu próprio corpo como se por dentro de si houvesse uma equipe de pequenos operadores responsáveis pelo funcionamento da “máquina Owen”.

Outros personagens da narrativa também merecem meu destaque.

O primeiro é o grupo dos jovens mais descolados do acampamento: Lilly, Aliah, Evan e Marco.

Eles formam uma espécie de grupo de elite, os Conselheiros em Treinamento (CET). Mais velhos do que os demais campistas eles são responsáveis por guiar os mais novos em várias das atividades realizadas no acampamento. O problema é que eles também são bastante clichês não tendo conseguido superar os estereótipos comuns aos jovens atléticos ditos “populares” das escolas estadunidenses, e que, lamentavelmente, servem de modelos a algumas centenas de livros, filmes e séries produzidos naquele país. Lilly, talvez é a única no grupo que parece se transformar na história.

Lilly, como uma das protagonistas da narrativa, é narrada como uma jovem bonita e atraente – apenas – mas no decorrer da narrativa ganha algum relevo ao se mostrar bastante humana, ética, forte, determinada e inteligente. Diria que de todos é o melhor personagem. Infelizmente os demais parceiros de seu grupo não apresentam grandes evoluções.

Quanto a ala vilã da história, Sanguessuga e seu pequeno bando de valentões seguem a mesma linha dos CETs e são clichês ao ponto de não merecerem grandes destaques. O mesmo se aplica ao dúbio e nenhum pouco confiável, Paul, o estranho e enigmático diretor do acampamento.

Apesar do tamanho (352 páginas), a leitura desse livro é fácil e rápida, e se você está preocupado só com o entretenimento e não com a profundidade dos personagens ou com a originalidade da narrativa, bem, ele é uma boa opção para se ler no final de semana, mas não vá com muitas expectativas.

Enfim, digo que O Código Perdido é um livro que me distraiu durante os dias monótonos das férias, mas não é um livro que eu leria de novo ou que tenha me motivado a continuar a leitura da saga. Claro que nas minhas críticas pesa também a minha particular antipatia pela maioria das histórias teens. E aí você pergunta: porque você leu então? E eu respondo simplesmente: não julgue o livro sem ter lido. ;)

A edição lida é da Editora Fantasy Casa da Palavra, do ano de 2015 e possui 352 páginas.

Sobre o autor

Estadunidense, Kevin Emerson cresceu em Connecticut e agora vive em Seattle com sua esposa e seus dois filhos. Antes de se dedicar a literatura, foi banqueiro, monitor de acampamento e professor de escola primária. Hoje, além de escritor é também músico e faz parte do The Board of Education, uma banda que apresenta músicas educacionais para crianças. Kevin também é voluntário no 826 Seattle, um braço do 826 National, uma instituição sem fins lucrativos que ensina jovens de 6 a 18 anos, fundada pelo escritor Dave Eggers.

Preview do Google Books

Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.




[1] Substâncias químicas produzidas para fora do corpo que, ao serem disseminadas, promovem determinadas reações dentre outros indivíduos de uma mesma espécie (Wikipédia)

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

7ª Arte: Kimi no na wa (Your Name) – Resenha


Por Eric Silva


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Quem foi que disse que um tema desgastado não produz um bom filme? Com uma qualidade gráfica surpreendente e um roteiro inteligente, Your name (no original, Kimi no na wa) mostra que mesmo um tema batido como a troca de corpos entre duas pessoas pode gerar um filme belo, poético e delicado e com alguma profundidade.

Confira o segundo 7ª Arte da III Campanha Anual de Literatura que comemora o ano do Japão no Conhecer Tudo.

Sinopse

“Mitsuha Miyamizu é uma colegial do interior do Japão que entediada com a monotonia e pequenez de sua cidade deseja um dia poder viver numa cidade grande como a capital japonesa, Tóquio. Enquanto isso, Taki Tachibana, é um garoto citadino que trabalha em meio período num restaurante italiano em Tóquio, desenhista talentoso que sonha um dia se tornar arquiteto. Os dois vivem realidades diferentes em lugares distintos e não se conhecem, mas estão misteriosamente conectados por um fenômeno sobrenatural que decidirá a vida de ambos.


Resenha
Um enredo delicado

Your Name ("Seu Nome"), ou no original, Kimi no Na wa (君の名は。) é um drama romântico jovem com uma boa dosagem de humor, realizado e escrito pelo japonês Makoto Shinkai (O Jardim das Palavras) e lançado em 2016. Baseado em um romance homônimo escrito por Makoto, o roteiro da película é muito dinâmico e conta a história de dois adolescentes, Mitsuha e Taki, que misteriosamente mudam de corpo após adormecerem, vivendo um a vida do outro ao longo de todo o dia.

Mitsuha Miyamizu (宮水 三葉) é uma garota de 17 anos que mora na pequena cidade de Itomori localizada no interior montanhoso do Japão. Filha do prefeito da pequena prefeitura, ela vive uma vida pacata ao lado da irmã menor, Yotsuha (四葉), e da avó, Hitoha (一葉). As três cuidam juntas do antigo templo xintoísta da família e que havia sido rejeitado e abandonado pelo pai, Toshiki Miyamizu (宮水 俊樹), após a morte da mãe das meninas. Por conta disso, Mitsuha e sua avó possuem uma difícil relação com Toshiki. Só em seus poucos momentos livre a garota fica ao lado de seus dois melhores amigos, Sayaka Natori (名取 早耶香)

Por sua vez, Taki Tachibana (立花 ) vive muito distante da cidade de Mitsuha, na capital japonesa, Tóquio. Taki é ainda um colegial e um garoto comum, que faz trabalhos de meio período como garçom para ter seu próprio dinheiro e é apaixonado por sua colega de trabalho e senpai[1], Miki Okudera (奥寺 ミキ). Ele vive sozinho com o pai em um pequeno apartamento de um conjunto habitacional e divide parte do seu tempo livre com os amigos de escola, Shinta Takagi (高木 真太) e Tsukasa Fujii (藤井 ).

A chegada de um cometa que se aproxima da Terra é o gatilho para desencadear o misterioso fenômeno sobrenatural que os obrigam a trocarem de corpo todas as vezes que adormecem. Daquele dia em diante, e sem controle algum do fenômeno, os dois passam a viver e enfrentar os desafios um do outro, enquanto trocam mensagens para manter o mínimo de controle sobre suas próprias vidas e evitar problemas posteriores por conta das ações um do outro durante as trocas. Eles, pouco a pouco, vão aprendendo a conviverem com suas diferenças e com o mundo novo que cada um experimenta a partir daquela experiência única.

Your Name parece à primeira vista ter uma trama simples, pouco estimulante e original, contudo a história conhece reviravoltas profundas no decorrer do desenvolvimento e, no fim, se torna uma corrida contra o tempo para evitar um enorme desastre que influiria na vida de todos, mas principalmente dos dois colegiais, tendo repercussão mesmo depois de adultos.

O filme de Shinkai possui uma trama instigante e inventiva que se transforma ao longo do desenvolvimento da narrativa, surpreendendo o espectador ao apresentar uma história mais complexa por trás da trama de troca de corpos. Isso, aliado a um trabalho que reuniu talentos extraordinários para o desenho de personagens e de cenários realistas, me fez fica interessado pelo filme até o último segundo quando o nome da película é novamente apresentado e sobe a lista do casting.

Os diálogos são limpos e não confundem o expectador que vai compreendendo junto com os personagens a origem do fenômeno que acometeu a vida de Taki e Mitsuha.


Com um enredo que trata de temas leves, Your Name faz uma reflexão sobre a vida e sobre a ligação das pessoas com o tempo. A relatividade do tempo é algo subjacente na trama que tem uma profunda pegada mística dando significados profundos, por exemplo, aos trançados confeccionados pelas três mulheres da família Miyamizu. Nessa pegada, o filme fala da flexibilidade do tempo, de como ele é nossos inimigo e aliado, mas principalmente da ligação imaterial e profunda entre as pessoas que estão predestinadas a algo maior que elas.

Mesmo trabalhando com temas com uma certa curva religiosa-mitológica o filme mantêm-se crível e não perde verossimilhança mesmo quando a trama se torna mais complexa. Outros temas ligados a juventude são tratados muito à tangente e há algumas brincadeiras relacionadas ao sexo demonstrando a curiosidade e o constrangimento de conhecer o corpo do sexo oposto.

Crítica

Your Name tem um tema batido (troca de corpos), mas seu roteiro é inteligente e poético. O humor se equilibra em boas dosagens com o romance e o dramático, alternando-se entre si enquanto estes dois últimos são construídos e desenvolvidos dentro da história. Esse é daqueles filmes que mudam de ritmo no meio da narrativa, mas sem perder o equilíbrio ou tornar a enredo ilógico ou forçado.

O filme é fluido e estável e atrama se desenvolve de forma equilibrada sem ser apressada demais nem demasiadamente lenta. Apesar de a trama ter tudo para se tornar confusa conseguimos entendê-la com muita facilidade, porque em momento nenhum a história perde verossimilhança.

Os personagens são bastante criveis e reais, o que é surpreendente se tratando de uma animação de romance com toques sobrenaturais. Normalmente os romances são bastante estereotipados, mas no caso de Your Name os personagens parecem bastante naturais, sobretudo Taki, que além de rebelde a sua medida, criativo e trabalhador é um tanto pervertido (sim ele não resiste em tocar seios!!), mostrando-se um adolescente comum. A vida de Mitsuha não é propriamente comum (“sacerdotisa” e filha de prefeito), mas em todo o resto é uma moça com sonhos e todos os desejos, neuras e gostos de uma adolescente qualquer.

Os principais personagens da trama são cativantes e o expectador se identifica com os protagonistas de imediato, sobretudo à medida que eles vão ficando desesperados tentando concertar suas vidas e ao mesmo tempo apoiar um ao outro em seus problemas mais emergenciais. É um filme que diverte e emociona os mais românticos que veem no lirismo de uma animação caprichada com um roteiro curioso que fala de família, juventude e tradições numa mistura interessante e até certa medida tocante.

A dublagem brasileira soa um pouco estranha e por isso preferi assistir ao filme em versão legendada. Em parte, minha preferência é porque estou muito acostumado a assistir animação japonesa em sua língua materna (legendado, obviamente), o que me faz apreciar mais a dublagem dos personagens animados em japonês. Todavia, achei estranha a dublagem brasileira que me pareceu um pouco mecânica e pouco natural. Algo completamente normal, quando imaginamos as diferenças entre ambas as línguas, suas estruturas fonéticas e silábicas.


Mas, sem dúvidas, a cenografia é o principal destaque deste que está entre uma das mais bem desenhadas animações japonesas que assisti. Tudo em Your Name foi desenhado para ser absurdamente belo e poético e para enfatizar a beleza das paisagens urbanas e campestres do Japão. Não obstante, esse belo e poético é idealizado de uma forma equilibrada para que as cenas fossem compostas de forma complementar aos cenários sem que esses roubassem completamente a atenção do expectador.

Os cenários e paisagens com seus traçados perfeitos se destacam em uma animação fluída com movimentos delicados e bem-feitos. Impressiona a riqueza de detalhes e a paleta de cores variada que explora com quase perfeição cores claras que tentam imitar a luminosidade dos ambientes. Se fosse um filme live-action, Your Name se destacaria por explorar lindamente as luzes de suas locações de filmagem.

No cenário só o que destoa um pouco é o desenho dos personagens, um pouco mais simplificado quando comparado aos planos de fundo riquíssimos e detalhistas.

Os planos e enquadramentos da câmera também são elementos significativos na animação. A câmera ora sai dos personagens para coisas diminutas como os detalhes de um trançado artesanal ou uma porta de correr sendo aberta até panorâmicas espetaculares que cobrem detalhados cenários urbanos e campestres. O resultado é de uma beleza e delicadeza que encanta o espectador.


Outro ponto a se destacar em relação a cenografia é a sua profunda ligação com uma narrativa que fala de dois diferentes estilos de vida. De um lado temos Tóquio, uma grande metrópole sedutora, moderna, barulhenta e diversa, mas que contrasta com a pequenez da bastante pacata e enfadonha Itomori, uma povoação ainda muito tradicional e às margens de um tranquilo lago. O contraste de cenários (cidade-campo) que se alternam torna ainda mais lindo um filme que não explora unicamente uma boa narrativa, mas a preciosidade do talento da equipe de desenho.

Por sua vez, a trilha sonora é muito variada. Indo de ritmos mais tranquilos com um pouco de jazz e música clássica instrumental, aos mais banais, delicados ou agitados, a trilha sonora confere ritmo a narrativa ou se liga a intensidade dos acontecimentos, mas na maior parte do tempo os sons são formados pela cacofonia típica de grandes metrópoles e pelas soadas comuns às pequenas cidades. Grilos, cigarras, pássaros e o trânsito são elementos sonoros comuns, mas as composições da banda Radwimps com seu estilo J-rock (Japanese rock, 日本のロック, nihon no rokku) são o principal destaque dentro de uma trilha sonora muito bem equilibrada e consonante com toda a trama romântica e jovem da narrativa.

Conclusão

Enfim, Your Name é um filme belo, tanto pelos cenários estonteantes muito bem desenhados, como pelo enquadramento da câmera ou pelo roteiro que surpreende ao longo do seu desenvolvimento se revelando muito poético e com certa profundidade.


O desfecho não decepciona e não é menos interessante do que o restante da trama. Além de emocionante e tocante, o final do filme reúne em si toda a delicadeza da obra de Makoto Shinkai, mostrando que mesmo com um tema batido é possível fazer um filme belo, sensível e cheio de significados.

Sucesso de bilheteria no Japão, Yor Name entrou em cartaz no Brasil em outubro de 2016 e logo foi anunciado a publicação do mangá pela Editora JBC.

No exterior, foi indicado para diversos prêmios, mas venceu apenas em solo japonês. Em 2016, foi vencedor do Japan Record Special Award de Melhor Música e, no ano seguinte, foi premiado com o Japan Academy Prize em três categorias diferentes: desempenho excecional da música, melhor argumento e popularidade[2].

Recomendo o filme para os românticos, os fanáticos por shojo e principalmente para quem gosta de uma animação muito bem-feita e com uma qualidade gráfica superior.
A película é uma produção dos estúdios CoMix Wave Films e entrou em cartaz no ano de 2016. Tem duração de 106 minutos. Abaixo você pode conferir o trailer do filme:

Trailer


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Cinema







[1] Palavra japonesa usada para se referir a uma pessoa mais velha ou mais experiente e pelo qual se tem respeito.
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Kimi_no_Na_wa.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O Conto da Deusa – Natsuo Kirino – Resenha


Por Eric Silva

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2018 é o #AnoDoJapão no Conhecer Tudo e a III Campanha Anual de Literatura começa sua homenagem à literatura nipônica com um livro que faz grandes referências à mitologia japonesa e às tradições de povos antigos que os antecederam. Em O Conto da Deusa, o primeiro livro do nosso itinerário pela literatura do Japão, Natsuo Kirino conta a história da criação do Japão mesclando mitologia e uma narrativa ficcional de amor e traição que fala também de tradições terríveis e da marginalização da mulher. Um livro em alguns momentos bastante morno, mas que se apresenta como uma fonte enorme de informação sobre a cultura japonesa antiga.

Confira a resenha do primeiro livro da III Campanha Anual de Literatura do Conhecer Tudo que neste ano homenageia a literatura japonesa.

Resenha

Não conheço muito da literatura japonesa, porque meus interesses quanto ao Japão estão bem mais ligados à indústria dos animes e a dimensão histórico-cultural do país. Por isso muitos dos livros da campanha foram escolhidos meio que de forma aleatória.

Quando escolhi começar com O Conto da Deusa não sabia que Natsuo Kirino era escritora de livros policiais – um dos meus gêneros prediletos e que, infelizmente, venho lendo pouco nos últimos tempos – e por isso acabei escolhendo esse livro pelo mesmo abordar um pouco da mitologia local. No geral gostei do livro, mas faltou um pouco de tempero que diminuísse a monotonia de sua narrativa. Nesta resenha busquei apontar os temas principais que identifiquei na obra e no final um pouco do que achei do livro.

O Enredo

Izanaki e Izanami durante a criação da terra.
Pintura de Kobayashi Eitaku, 1885.
Imagem do Wikimedia Commons.
Uma releitura do mito japonês da criação do mundo, O Conto da Deusa se divide basicamente em 5 grandes partes durante os quais Namima, a protagonista e narradora da trama, relata toda a trajetória de sua vida terrena e os acontecimentos posteriores a sua morte. Mas na narrativa ainda é relatada a história dos Deuses Izanami (伊弉冉尊) – a quem Namima serve no mundo dos mortos - e Izanaki (いざなぎ), seu esposo.

Inicialmente os dois relatos são feitos de forma separada e desconexas entre si, até que os destinos dos deuses acabam por se entrelaçar com os de Namima e sua descendência, encaminhando o enredo para o seu desfecho. Contudo, para não deixar mais extensa a resenha contarei o mito de Izanami e Izanaki em uma postagem especial dedicada só a isso, e focarei apenas na história mais central: o passado de Namima.

A História de Namima

Namima começa seu relato apresentando-se como uma miko (sacerdotisa) que havia nascido numa ilha muito distante, mas que após sua morte prematura passou a servir a deusa Izanami em um reino de escuridão onde habitavam junto aos mortos. É ao longo de toda a primeira parte do livro que a moça relata como foi sua vida “pequena e estranha”.

Namima nasceu em uma pequena ilha de pescadores muito pobres. A ilha chamada por seus habitantes de Umihebi, uma homenagem às muitas cobras marinhas que ali viviam e que se tornavam uma das fontes de renda dos ilhéus.

A vida em Umihebi era regida por um código tradicional e religioso muito severo e que era respeitado por todos para evitar atrair desequilíbrios na ordem natural das coisas. Por conta da localização muito ao leste – próximo de onde nascia o sol – os moradores de Umihebi acreditavam que a pequena ilha fora o primeiro lugar em que os deuses haviam pisado. Por isso, o acesso a algumas áreas da ilha era bastante restrito, a exemplo do Kyoido (Fonte Pura) que só podia ser acessado pela sacerdotisa maior da ilha, Mikura-sama, avô de Namima, e o Amiido (Fonte de Escuridão), onde eram depositados os mortos.

Na ilha, Namima era a filha mais nova da família Umihebi, o Clã da Cobra Marinha, que “tinha o privilégio de gerar o Oráculo”, ou seja, a sacerdotisa maior da ilha, escolhida entre os membros femininos dos Umihebi, ou então da família Umigame, caso a miko anterior morresse de forma prematura e sem deixar alguém na linha de sucessão. Porém, conta a narradora, que os Umigame se encontravam em desgraça e impedidos de buscar seu sustento na pesca, devido a incapacidade da mãe em gerar filhas mulheres que pudessem servir de “sacerdotisas substitutas”. Por conta disso, todos os ilhéus eram proibidos de falar com os Umigame, e mesmo o filho mais velho, Mahito, sendo forte e apto à pesca, era proibido de participar dos grupos de pescadores. Por isso, os Umigame viviam de forma miserável e quase passavam fome.

Namima conta que quando criança não compreendia as tradições da ilha e sua mãe não lhe explicava muito bem a razão de ser daqueles costumes incompreensíveis e nebulosos. Essa incompreensão se torna ainda maior quando a menina é separada e proibida de manter contato com sua única irmã, Kamikuu.

Na época, ainda muito jovem, Kamikuu fora escolhida para ser a sacerdotisa sucessora da avó e passa a viver com esta longe de sua família, em uma cabana isolada. É nesse dia que Namima descobre que enquanto sua irmã se tornaria a pessoa mais importante e preciosa da ilha, ela seria vista como seu oposto, a “impura”.  Era o princípio da dualidade, no qual a existência de um lado luminoso, de um Yang (Kamikku), implicaria necessariamente a existência de seu oposto e, portanto, sombrio (o yin, no caso Namima). Por isso se Kamikuu seria a sacerdotisa maior da ilha e por isso era representante da luz e da vida (sacerdotisa da luz), sua irmã mais nova seria a representante das trevas e da morte. Contudo só mais à frente, por ocasião da morte de sua avó, que a garota descobriria o destino nefasto que sua condição de irmã de Kamikuu lhe reservava.

Por ter de viver enclausurada com a avô aprendendo as tradições e rituais mágicos, todos os dias os Umihebi deveriam preparar um banquete para a sacerdotisa aprendiz. Um banquete cuja fartura era incoerente com a miséria local vivida pelas famílias da ilha e pelos próprios Umihebi e cujos restos deveriam ser descartados no mar e jamais consumidos por outra pessoa.

Apesar de não poder ter contato ou dirigir a palavra a irmã que tanto amava, à Namima foi incumbida a tarefa de levara a comida de Kamikuu e descartar os restos do dia anterior. Uma tarefa que deveria ser cumprida sem falhas todos os dias, mesmo sob as tempestades mais severas.

É numa dessas caminhadas que Namima encontra-se pela primeira vez com Mahito que lhe implora os restos da comida para alimentar a mãe faminta e que esperava mais uma criança. Mesmo sabendo o perigo que corria, Namima passa a dar a Mahito os restos do banquete de Kamikuu.

Mahito era apaixonado por Kamikuu e apesar de saber da paixão impossível que o rapaz amaldiçoado nutria pela sua irmã, a Namima se envolve com ele e engravida. Contudo, essa não é a única turbulência que acontece em sua vida e de uma hora para outra à Namima é imposto um novo fardo nefasto e insuportável, ocupando o lugar de sacerdotisa das trevas, aquela que vivia entre os mortos.

O lado perverso da tradição e o papel da mulher na sociedade

O papel da mulher na sociedade é um dos temas da obra de Kirino.
Mulheres de quimono em Koton, no Japão.
Imagem: Wikimedia Commons.
Quando analisamos o livro de Natsuo observamos que o objetivo da autora com O Conto da Deusa foi falar de muitos temas que na cultura japonesa se encontram intrinsecamente ligados entre si, ainda que muitas pessoas não o percebam em seu cotidiano. Por isso ela escreve uma história em que várias dimensões complementares se entrecruzam: a mitologia e a religião que por muitos de seus traços fomentou por séculos, dentro da sociedade, práticas e ideias machistas que legitimavam a submissão e marginalização da mulher, além de alicerçar uma infinidade de tradições injustas impostas por gerações.

Assim, ao meu ver, através do mito dos deuses Izanami e Izanaki, e da história de Namima e sua irmã, a autora quis demonstrar, por um lado, como crenças religiosas respaldadas em ideias machistas costumam promover a marginalização da mulher dentro da sociedade, e, de outro, como certas tradições perpetuadas pelo medo podem ser perversas e opressoras.

De um lado, o machismo e a marginalização da mulher aparecem em dois pontos cruciais do mito de Izanami e Izanaki, e do outro, o peso das tradições aparece nas tarefas impostas a Namima, Mahito e Kamikuu.

No que diz respeito ao mito e a marginalização da mulher, o primeiro ponto que observei está ligado ao nascimento dos dois primeiros filhos do casal de deuses e o outro ao destino de Izanami quando abandonada pelo marido no mundo dos Mortos.

Por ter falado antes de seu marido durante o ritual de seu casamento, Izanami foi punida com duas gravidezes na quais foram geradas crianças defeituosas que precisaram ser descartadas. A Deusa só pôde dar à luz a uma criatura perfeita depois que o ritual foi refeito e a “ordem correta” reestabelecida.

Algum tempo depois, mesmo tendo dado origem a terra e a muitos dos deuses que nela habitavam, Izanami morre dando à luz ao Deus do fogo e é condenada a habitar em um mundo solitário e de trevas. Assim, Izanami passa a viver apartada de todas as coisas vivas que criara e também de seu marido, e este, após ver o corpo pútrido[1] de sua esposa a repudia e a enclausura na escuridão do submundo.

Nesses dois pontos tão bem destacados pela autora é possível ver como por tanto tempo a mulher foi vista como uma criatura secundária, que deveria vir depois do homem mesmo sendo ela a geradora da vida. Além disso, ela deveria ser sempre bela e aprazível ao olhar de seu marido ou corria o risco de ser rejeitada. Depois de repudiada o que lhe restava dentro da sociedade era uma posição humilhante e ainda mais apartada do convívio social.

Mesmo hoje, muitos resquícios dessa visão machista ainda são visíveis e palpáveis não apenas dentro da cultura japonesa, a que Natsuo faz referência, mas em muitas outras de povos tanto orientais quanto ocidentais.

No que diz respeito a história da ilha Umihebi, Natsuo destaca o peso de tradições injustas que ligaram os três protagonistas da trama a destinos horríveis e até certo ponto desumanos. Mahito e sua família são condenados ao isolamento e a privação; Kamikuu é separada da família e obrigada a cumprir um papel que não escolheu para si; enquanto que à Namima foi destinado o pior e o mais perverso dos destinos, tanto em vida como depois da morte.

Os três eram apenas crianças quando suas vidas foram decididas pela superstição de seu povo. Destinos tanto cruéis como inescapáveis os quais cada um deles buscam enfrentar à sua maneira e sem o apoio ou amparo de quem quer que fosse. Tradições como estas povoam a história cultural de centenas de povos ao longo de muitos séculos e por isso O Conto da Deusa se torna um livro de temática universal, porque em seu cerne não ilustra apenas as culturas orientais como todo um conjunto de culturas que também possuem ou possuíram tradições injustas.

Para finalizar...

Apesar de falar de temas como mitologia e tradições O conto da Deusa não é um texto de difícil compreensão. A autora economiza no estilismo e não usa de uma linguagem muito rebuscada. Toda a filosofia de vida que está embutido na narrativa é fácil de ser captada porque gira mais entorno das tradições cruéis da ilha e de temas como o ressentimento e o medo da morte.

A preocupação maior da autora é em desenvolver as personagens e a narrativa que gira em torno delas. Certamente, essa é uma influência do gênero em que está costumada a escrever, o policial, que normalmente economizar no rebuscamento e na estilística para focar na tensão e no desenvolvimento da história e de seus personagens. Porém as semelhanças param por aí.

Natsuo explora só um pouco a curiosidade do seu leitor escondendo as motivações da morte de Namima, mas como esse também não era o foco o do livro, logo o mistério é desfeito e a narrativa amorna bastante. No final, o que temos é realmente um “conto” (lê-se romance), que, a depender da percepção do leitor, possui um de desenvolvimento bastante arrastado sobre ressentimentos, traição, tradições opressivas e sobre as coisas que nos separam e nos aproximam das divindades, estas últimas tão falhas e ressentidas quanto a nós mesmos.

Ilha de Kudaka ou Kudakajima que inspirou a criação do cenário d'O Conto da Deusa.
Imagem: www.oki-islandguide.com
Como geógrafo uma coisa que logo atiçou minha curiosidade foi a localização de Umihebi para saber se tratava-se de um lugar real ou ficcional. De início minhas buscas foram infrutíferas até que me dei conta de uma seção do livro intitulada “Fontes” que contem a bibliografia pesquisada pela autora. Analisando essa secção notei que muitas delas faziam referências a uma ilha do arquipélago Ryukyu pertencente à prefeitura de Okinawa (沖縄県), a mais ao sul do Japão. Essa ilha é Kudakajima ou Kudaka (久高).

Contudo não achei quase nada sobre essa ilha, ainda pior em português. Até que me deparei com um artigo do site Tadaima Japan[2] que faz referências a muitos dos elementos naturais descritos no livro por Natsuo. Foi aí que tive certeza que Umihebi é, na verdade, Kudakajima, uma ilha de 7,75 km de extensão em meio ao Pacifico e a 5 km de Chinen (知念村), distrito da parte sul da prefeitura de Okinawa.

Outra coisa curiosa que vejo na escrita desse livro é o duplo comportamento de seu narrador. Em quase toda a narrativa, Nanima se comporta como narrador personagem, contando apenas os fatos de sua vida por ela presenciados, e sem a capacidade saber o que se passava no íntimo dos demais personagens. Mesmo depois de se tornar um espírito sua capacidade narrativa não é alterada e ela ignorava tudo o que acontecia no mundo dos vivos. Contudo, nas partes do livro que são dedicados a contar a vida terrena do deus Izanaki, o narrador muda de foco e se torna onisciente, narrando fatos e pensamentos. Apesar disso, o estilo de narração não muda e a sensação é que Nanima continua narrando a história, porém sob outra perspectiva.

Por fim, o que mais gostei nesse livro foi conhecer um pouco mais da mitologia japonesa, área da cultura nipônica que conheço muito pouco, porém acho que faltou tempero para tornar a história mais excitante.

O Conto da Deusa é uma obra interessante para quem gosta de cultura nipônica como eu, porque ela espelha um pouco a forma arraigada como, no passado, os japoneses costumavam se agarrar às tradições e cumprir resignadamente seus deveres perante elas. Por outro lado, para quem não tem esse tipo de interesse o livro se torna mediano e com um desfecho fraco ainda que bastante inesperado.

Acredito que, a depender da percepção de cada leitor, a história pode parecer arrastada e os personagens pouco atrativos. Mas mais legal do livro é conhecer a forma como eles vivem e as tradições impostas a eles pela sociedade daquele lugar.

As injustiças cometidas contra a protagonista realmente são tocantes e o destino que ela encontra em seu caminho nos faz questionar se de fato existe justiça no mundo e no além-túmulo. Será que realmente estamos presos a um destino inescapável? E o que nos espera depois da morte é de fato condizente com os nossos atos em vida? Essas são questões que me assaltaram após a leitura deste livro.

No Japão, Natsuo é considerada uma autora muito popular, todavia, não acho que O Conto da Deusa seja um de seus livros mais notórios, entretanto, como esta é minha primeira experiência com a autora, não posso compará-lo com outra de suas obras.

Em sentido prático, no que diz respeito ao entretenimento, o que há de mais interessante é o destino de Nanima, Mahito, a filha desses dois primeiros e a irmã da protagonista, Kamikuu. Mesmo assim esse núcleo da história é cheio de momentos mornos. Então não espere um livro muito agitado, mas algumas reviravoltas interessantes acontecem ao longo da trama.

A edição lida é a versão digital publicado pela Editora Rocco e traduzida por Alexandre D’Elia. Do ano de 2014 e com 288 páginas.

Sobre a autora

Natsuo Kirino é o pseudônimo da escritora japonesa Mariko Hashioka.

Kirino nasceu em 7 de outubro de 1951, em Kanazawa (金沢市), cidade localizada na província de Ishikawa, mas desde os 14 anos vive em Tóquio, a capital japonesa.

Formou-se em direito na Universidade de Seikei (成蹊大学) e trabalhou em diferentes áreas antes de se tornar escritora profissional em 1981.

Seus primeiros trabalhos foram com contos e como escritora de mangá. Só posteriormente se dedicou ao romance policial, gênero em que se destacou no Japão.

Escreveu 13 romances e três livros de contos entre os quais o mais conhecido é Out (no Brasil traduzido como Do outro lado), publicado em 1997. Com esse livro venceu o Grande Prêmio Japonês de Melhor Romance Policial e ficou entre as finalistas do Edgar Allan Poe de 2004, na categoria Melhor Romance, tornando-se a primeira escritora japonesa indicada a este prêmio literário.

No Brasil, três de suas obras foram traduzidas pela editora Rocco: O Conto da Deusa (The Goddess Chronicle), Grotescas (Grotesque) e Do outro lado (Out).

Confira quem são os outros autores participantes da Campanha deste ano no link: http://bit.ly/2n5OK6U.

Conheça os pontos do nosso itinerário no mapa do link: http://bit.ly/2G9Mkwx.

Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.


Prévia do Google Books








[1] Que já se decompôs; podre, apodrecido, putrefato (Houaiss, 2001)
[2] http://tadaimajp.com/2015/05/okinawa-kudakajima/

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