Por Eric Silva
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Quem foi que disse que um tema desgastado não produz um
bom filme? Com uma qualidade gráfica surpreendente e um roteiro inteligente, Your name (no original, Kimi no na wa) mostra que mesmo um tema
batido como a troca de corpos entre duas pessoas pode gerar um filme belo,
poético e delicado e com alguma profundidade.
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Literatura que comemora o ano do Japão no Conhecer Tudo.
Sinopse
“Mitsuha Miyamizu é uma colegial
do interior do Japão que entediada com a monotonia e pequenez de sua cidade deseja
um dia poder viver numa cidade grande como a capital japonesa, Tóquio. Enquanto
isso, Taki Tachibana, é um garoto citadino que trabalha em meio período num
restaurante italiano em Tóquio, desenhista talentoso que sonha um dia se tornar
arquiteto. Os dois vivem realidades diferentes em lugares distintos e não se
conhecem, mas estão misteriosamente conectados por um fenômeno sobrenatural que
decidirá a vida de ambos.
Resenha
Um enredo
delicado
Your Name ("Seu Nome"), ou no original, Kimi no Na wa (君の名は。) é um drama romântico jovem com uma boa dosagem de
humor, realizado e escrito pelo japonês Makoto Shinkai (O Jardim das Palavras)
e lançado em 2016. Baseado em um romance homônimo escrito por Makoto, o roteiro
da película é muito dinâmico e conta a história de dois adolescentes, Mitsuha e
Taki, que misteriosamente mudam de corpo após adormecerem, vivendo um a vida do
outro ao longo de todo o dia.
Mitsuha Miyamizu (宮水 三葉) é uma garota de 17 anos
que mora na pequena cidade de Itomori localizada no interior montanhoso do
Japão. Filha do prefeito da pequena prefeitura, ela vive uma vida pacata ao
lado da irmã menor, Yotsuha (四葉), e da avó, Hitoha (一葉). As três cuidam juntas do antigo templo xintoísta da
família e que havia sido rejeitado e abandonado pelo pai, Toshiki Miyamizu (宮水 俊樹), após a morte da mãe das
meninas. Por conta disso, Mitsuha e sua avó possuem uma difícil relação com Toshiki.
Só em seus poucos momentos livre a garota fica ao lado de seus dois melhores
amigos, Sayaka Natori (名取 早耶香)
Por sua vez, Taki Tachibana (立花 瀧) vive muito distante da
cidade de Mitsuha, na capital japonesa, Tóquio. Taki é ainda um colegial e um
garoto comum, que faz trabalhos de meio período como garçom para ter seu
próprio dinheiro e é apaixonado por sua colega de trabalho e senpai[1],
Miki Okudera (奥寺 ミキ). Ele vive sozinho com o
pai em um pequeno apartamento de um conjunto habitacional e divide parte do seu
tempo livre com os amigos de escola, Shinta Takagi (高木 真太) e Tsukasa Fujii (藤井 司).
A chegada de um cometa que se
aproxima da Terra é o gatilho para desencadear o misterioso fenômeno
sobrenatural que os obrigam a trocarem de corpo todas as vezes que adormecem.
Daquele dia em diante, e sem controle algum do fenômeno, os dois passam a viver
e enfrentar os desafios um do outro, enquanto trocam mensagens para manter o
mínimo de controle sobre suas próprias vidas e evitar problemas posteriores por
conta das ações um do outro durante as trocas. Eles, pouco a pouco, vão
aprendendo a conviverem com suas diferenças e com o mundo novo que cada um
experimenta a partir daquela experiência única.
Your Name parece à
primeira vista ter uma trama simples, pouco estimulante e original, contudo a
história conhece reviravoltas profundas no decorrer do desenvolvimento e, no
fim, se torna uma corrida contra o tempo para evitar um enorme desastre que
influiria na vida de todos, mas principalmente dos dois colegiais, tendo repercussão
mesmo depois de adultos.
O filme de Shinkai possui uma
trama instigante e inventiva que se transforma ao longo do desenvolvimento da
narrativa, surpreendendo o espectador ao apresentar uma história mais complexa
por trás da trama de troca de corpos. Isso, aliado a um trabalho que reuniu
talentos extraordinários para o desenho de personagens e de cenários realistas,
me fez fica interessado pelo filme até o último segundo quando o nome da
película é novamente apresentado e sobe a lista do casting.
Os diálogos são limpos e não
confundem o expectador que vai compreendendo junto com os personagens a origem
do fenômeno que acometeu a vida de Taki e Mitsuha.
Com um enredo que trata de temas leves, Your Name faz uma reflexão sobre a vida e sobre a ligação das pessoas com o tempo. A relatividade do tempo é algo subjacente na trama que tem uma profunda pegada mística dando significados profundos, por exemplo, aos trançados confeccionados pelas três mulheres da família Miyamizu. Nessa pegada, o filme fala da flexibilidade do tempo, de como ele é nossos inimigo e aliado, mas principalmente da ligação imaterial e profunda entre as pessoas que estão predestinadas a algo maior que elas.
Mesmo trabalhando com temas
com uma certa curva religiosa-mitológica o filme mantêm-se crível e não perde
verossimilhança mesmo quando a trama se torna mais complexa. Outros temas
ligados a juventude são tratados muito à tangente e há algumas brincadeiras
relacionadas ao sexo demonstrando a curiosidade e o constrangimento de conhecer
o corpo do sexo oposto.
Crítica
Your Name tem um tema
batido (troca de corpos), mas seu roteiro é inteligente e poético. O humor se
equilibra em boas dosagens com o romance e o dramático, alternando-se entre si
enquanto estes dois últimos são construídos e desenvolvidos dentro da história.
Esse é daqueles filmes que mudam de ritmo no meio da narrativa, mas sem perder
o equilíbrio ou tornar a enredo ilógico ou forçado.
O filme é fluido e estável e
atrama se desenvolve de forma equilibrada sem ser apressada demais nem
demasiadamente lenta. Apesar de a trama ter tudo para se tornar confusa
conseguimos entendê-la com muita facilidade, porque em momento nenhum a
história perde verossimilhança.
Os personagens são bastante criveis e reais, o que é surpreendente se
tratando de uma animação de romance com toques sobrenaturais. Normalmente os
romances são bastante estereotipados, mas no caso de Your Name os personagens parecem bastante naturais, sobretudo Taki,
que além de rebelde a sua medida, criativo e trabalhador é um tanto pervertido
(sim ele não resiste em tocar seios!!), mostrando-se um adolescente comum. A
vida de Mitsuha não é propriamente comum (“sacerdotisa” e filha de prefeito),
mas em todo o resto é uma moça com sonhos e todos os desejos, neuras e gostos
de uma adolescente qualquer.
Os principais personagens da
trama são cativantes e o expectador se identifica com os protagonistas de
imediato, sobretudo à medida que eles vão ficando desesperados tentando
concertar suas vidas e ao mesmo tempo apoiar um ao outro em seus problemas mais
emergenciais. É um filme que diverte e emociona os mais românticos que veem no
lirismo de uma animação caprichada com um roteiro curioso que fala de família,
juventude e tradições numa mistura interessante e até certa medida tocante.
A dublagem brasileira soa um pouco estranha e por isso preferi
assistir ao filme em versão legendada. Em parte, minha preferência é porque
estou muito acostumado a assistir animação japonesa em sua língua materna
(legendado, obviamente), o que me faz apreciar mais a dublagem dos personagens
animados em japonês. Todavia, achei estranha a dublagem brasileira que me
pareceu um pouco mecânica e pouco natural. Algo completamente normal, quando
imaginamos as diferenças entre ambas as línguas, suas estruturas fonéticas e
silábicas.
Mas, sem dúvidas, a cenografia é o principal destaque deste que está entre uma das mais bem desenhadas animações japonesas que assisti. Tudo em Your Name foi desenhado para ser absurdamente belo e poético e para enfatizar a beleza das paisagens urbanas e campestres do Japão. Não obstante, esse belo e poético é idealizado de uma forma equilibrada para que as cenas fossem compostas de forma complementar aos cenários sem que esses roubassem completamente a atenção do expectador.
Os cenários e paisagens com seus traçados perfeitos se destacam em uma
animação fluída com movimentos delicados e bem-feitos. Impressiona a riqueza de
detalhes e a paleta de cores variada que explora com quase perfeição cores
claras que tentam imitar a luminosidade dos ambientes. Se fosse um filme live-action, Your Name se destacaria por explorar lindamente as luzes
de suas locações de filmagem.
No cenário só o que destoa um
pouco é o desenho dos personagens, um pouco mais simplificado quando comparado
aos planos de fundo riquíssimos e detalhistas.
Os planos e enquadramentos
da câmera também são elementos significativos na animação. A câmera ora sai dos
personagens para coisas diminutas como os detalhes de um trançado artesanal ou
uma porta de correr sendo aberta até panorâmicas espetaculares que cobrem
detalhados cenários urbanos e campestres. O resultado é de uma beleza e
delicadeza que encanta o espectador.
Outro ponto a se destacar em relação a cenografia é a sua profunda ligação com uma narrativa que fala de dois diferentes estilos de vida. De um lado temos Tóquio, uma grande metrópole sedutora, moderna, barulhenta e diversa, mas que contrasta com a pequenez da bastante pacata e enfadonha Itomori, uma povoação ainda muito tradicional e às margens de um tranquilo lago. O contraste de cenários (cidade-campo) que se alternam torna ainda mais lindo um filme que não explora unicamente uma boa narrativa, mas a preciosidade do talento da equipe de desenho.
Por sua vez, a trilha sonora é muito variada. Indo de
ritmos mais tranquilos com um pouco de jazz e música clássica instrumental, aos
mais banais, delicados ou agitados, a trilha sonora confere ritmo a narrativa
ou se liga a intensidade dos acontecimentos, mas na maior parte do tempo os
sons são formados pela cacofonia típica de grandes metrópoles e pelas soadas
comuns às pequenas cidades. Grilos, cigarras, pássaros e o trânsito são
elementos sonoros comuns, mas as composições da banda Radwimps com seu estilo
J-rock (Japanese rock, 日本のロック, nihon no rokku)
são o principal destaque dentro de uma trilha sonora muito bem equilibrada e
consonante com toda a trama romântica e jovem da narrativa.
Conclusão
Enfim, Your Name é um filme belo, tanto pelos cenários estonteantes muito
bem desenhados, como pelo enquadramento
da câmera ou pelo roteiro que surpreende ao longo do seu desenvolvimento se
revelando muito poético e com certa profundidade.
O desfecho não decepciona e não é menos interessante do que o restante da trama. Além de emocionante e tocante, o final do filme reúne em si toda a delicadeza da obra de Makoto Shinkai, mostrando que mesmo com um tema batido é possível fazer um filme belo, sensível e cheio de significados.
Sucesso de bilheteria no
Japão, Yor Name entrou em cartaz no
Brasil em outubro de 2016 e logo foi anunciado a publicação do mangá pela Editora JBC.
No exterior, foi indicado
para diversos prêmios, mas venceu apenas em solo japonês. Em 2016, foi vencedor
do Japan Record Special Award de Melhor Música e, no ano seguinte, foi premiado
com o Japan Academy Prize em três categorias diferentes: desempenho excecional
da música, melhor argumento e popularidade[2].
Recomendo o filme para os românticos, os fanáticos por shojo e principalmente para quem gosta
de uma animação muito bem-feita e com uma qualidade gráfica superior.
A película é uma produção dos
estúdios CoMix Wave Films e entrou em cartaz no ano de 2016. Tem duração de 106
minutos. Abaixo você pode conferir o trailer do filme:
Trailer
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[1]
Palavra japonesa usada para se referir a uma pessoa mais velha ou mais
experiente e pelo qual se tem respeito.
[2]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Kimi_no_Na_wa.
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