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quarta-feira, 31 de maio de 2017

Deuses Esquecidos – Eduardo Kasse – Resenha

Por Eric Silva

Nota: todos os termos com números entre colchetes [1] possuem uma nota de rodapé sempre no final da postagem, logo após as mídias, prévias, banners ou postagens relacionadas.
Diga-nos o que achou da resenha nos comentários.

Sexto livro da campanha do #AnoDoBrasil, Deuses Esquecidos dá continuidade a série Tempos de Sangue, de autoria do escritor brasileiro, Eduardo Kasse. Uma história de vampiros que se passa em plena era de domínio da igreja católica na Europa medieval. Independente do primeiro livro da série Deuses Esquecidos narra as aventuras de um camponês italiano que se torna vampiro e tem sua vida virada do avesso. Dividido entre sua fé e a nova condição que lhe é imposta, Alessio segue em sua jornada por entender quem ele é agora e qual o seu lugar no plano divino. Deuses Esquecidos é a continuação de uma série que esbanja crítica e erotismo, mesclando o cotidiano, a violência e o fanatismo de uma era com o que há de melhor na literatura clássica sobre vampiros, sem perder a originalidade, é claro.

Confira a resenha do sexto livro da campanha anual de literatura e que nesse ano homenageia a literatura do Brasil.

Sinopse

Alessio é um camponês humilde e até um pouco simplório, que do mundo só conhecia o que a fé e sua vida pacata de lavrador permitiam. Desde muito novo começou a trabalhar nos parreirais da abadia de Nicola, e com uma certa idade casou-se e teve um único filho, Lino.

Muito religioso, vivia de forma simples, mas se julgava feliz pelas dádivas que Deus lhe concedia. Apesar disso, tudo muda quando Alessio é vítima do ataque de um homem misterioso e se transforma em um vampiro, uma raça cuja existência ele ignorava.  Atormentado e acreditando sofrer de algum mal terrível, Alessio abandona tudo e parte em busca de respostas para sua nova condição e para as sombras e dúvidas que esta lança sobre seu coração. Nesta busca, o camponês passa a vagar pela Itália medieval com destino a Roma e, na companhia de Lúcio, um monge glutão que lhe dá apoio em sua jornada, descobre as vantagens e os dissabores de ser um imortal.

Resenha                                                                                              

No ano passado li O Andarilho das Sombras, primeiro livro da série Tempos de Sangue, de autoria do brasileiro Eduardo Kasse, e que narra a história e as aventuras do vampiro Harold Stonecross antes e depois de seu renascimento. Um livro fantástico que me incentivou a procurar outras obras dessa nova geração de escritores nacionais que se dedicam ao gênero fantasia.

De lá para cá, venho tentando dar continuidade a série que foi concluída ano passado com a publicação de seu quinto volume, Ruínas na Alvorada. Entretanto, minha agenda em 2016 esteve tão cheia que o projeto de ler Deuses Esquecidos ficou para 2017, o #AnoDoBrasil. De certa forma esse atraso foi bom, porque depois de tanto tempo e com a possibilidade de aproveitar o tema da nossa campanha literária anual, nada mais justo que, pelo menos, um livro da série fizesse parte do nosso itinerário pela literatura brasileira.

Ao contrário do que se pode pensar, o segundo volume de Tempos de Sangue não dá continuidade a história do protagonista do livro anterior, Harold. Inclusive, Stonecross é apenas citado no livro, já no fim da narrativa de Deuses Esquecidos. Em lugar de ser uma continuidade, Kasse preferiu apresentar aos seus leitores um personagem novo, Alessio, que, acredito eu, ainda terá uma participação importante no transcorrer da série.

Ainda que Deuses Esquecidos preserve alguns elementos que são marcantes na narrativa de O Andarilho das Sombras, como a forte crítica religiosa e o erotismo da narração, por outro lado, as duas obras se distinguem em muitos outros aspectos, o que torna Deuses Esquecidos um livro um tanto distinto do primeiro.

A primeira mudança está no tempo da narrativa que não recorre a flashbacks e centra-se apenas no presente de seus personagens. A segunda é a alternância de focos narrativos onde o autor recorre a primeira pessoa para dar voz aos pensamentos e sentimentos de Alessio, e lança mão de um narrador onisciente para relatar os fatos que se passam com os demais personagens da narrativa.

Contudo a mudança mais importante está na proposta para o protagonista. Em O Andarilho das Sombras somos apresentados a um vampiro experiente, sarcástico e soberbo cuja existência já atravessara muitos séculos. Em contrapartida, Alessio, além de temeroso e de fé arraigada, é um mero iniciante. O mais interessante dessa mudança está na oportunidade de conhecermos os conflitos vividos e as descobertas realizadas pelo recém-criado, vemos como ele conserva ainda muito de sua humanidade e como esta vai dando lugar a uma outra forma de ver o mundo. É interessante também ver como Alessio busca adequar a sua nova condição às suas crenças, buscando lacunas nas interpretações da fé cristã para sentir-se parte do plano divino, quando, porém, suas ações parecem se distanciar disso e sua própria fé por vezes se demonstra vacilante.

Dentre os personagens que figuram os mais importantes da narrativa, os que mais me chamaram a atenção foram a vampira Tita e o monge Ugo, o carnefice[1]. Eles dois ocupam os lugares, respectivamente, do personagem mais curioso e do mais sádico.

Nascida ainda no período de domínio do Império Romano, Tita é uma garota vampira poderosa e travessa, um personagem difícil de caracterizar de tão especial e singular. Logo de início, Tita, ou raposa, como gosta de ser chamada, nos faz lembrar de uma ninfa, uma entidade do campo vivendo isolada na beirada de penhascos, mas logo o seu jeito travesso deixa tudo mais complexo.

A personagem tem um jeito de criança indócil, que se mescla com lampejos de sabedoria madura, um jeito ora relaxado e sem temor ou pudor que por vezes se torna enigmático. Um personagem que se coaduna[2] com duas realidades nem sempre harmônicas: o universo campesino europeu e aquele criado pelas histórias mais comuns do vampirismo.


"– Desculpe a minha falta de educação – disse estendendo a mão para me cumprimentar. – É que faz muito tempo que não recebo visitas. Sou Tita Domitius Lentiginius, sua criada. Mas pode me chamar de Raposa.
– Sou Alessio di Ettore – falei hesitante. – E pode me chamar de... Alessio – corei. – Não queria ter invadido a sua casa. É que...
– Eu sei, eu sei – respondeu com um sorriso. – Quando o Sol nasce é um Deus nos acuda, não é? – piscou.
Olhei para ela com as sobrancelhas franzidas.
– Não precisa desconfiar, meu amigo, somos da mesma laia.
– Não estou entendendo nada.
– Somos o mesmo tipo de criatura. Nem homem, ou mulher. Nem demônio, nem anjo... – disse com o olhar divertido. – Somos caçadores da noite.
– Eu não sei o que sou...
– Hum... Então as minhas esperanças em descobrir algo foram por água abaixo – gargalhou.
Até que a menina é bonita. Pensei.
– Eu estou tão confuso...
– Com certeza é por causa da sede – foi até o corredor. – Venha, vamos beber algo.
Segui-a ainda ressabiado.
Deveria ter corrido, sumido penhasco abaixo. Mas, sinceramente, não sentia medo. Não via qualquer ameaça naquela garota franzina e de pele tão clara que parecia ser feita de cal salpicado com barro vermelho.
Saímos da gruta e o ar fresco da noite me fez bem. Uma lufada úmida e revigorante. Estiquei a coluna e escalei a parede de pedra atrás da garota. Ela subia com uma agilidade impressionante, tal qual um gato escala um tronco de uma árvore.
Às vezes, ela parecia flutuar.
– Graciosa ela – sorri."


Por sua vez, Ugo é um monge que trabalha como uma espécie de inquisidor e que tem por missão caçar Alessio mesmo que deixe um rastro de mortes e crimes pelo caminho. Um ex-combatente que encontrou na histeria religiosa o canal perfeito para dar vazão a sua brutalidade. O típico sínico e sádico que usa a Igreja para justificar sua selvajaria e a autoflagelação como punição para crimes imperdoáveis e pecados que jamais um membro do clero deveria fazer.

Deuses Esquecidos possui vários outros personagens que figuram diversas facetas da realidade medieval e, dentre eles, os órfãos da floresta são para mim os mais nostálgicos, porque me fizeram recordar as travessuras e aventuras de Harold e Edred quando ainda eram crianças. Dois espíritos verdadeiramente livres.

A edição está perfeita. Acho inclusive que a arte dos livros da série são dos mais bonitos da Editora Draco. Com arte de Ericksama, as capas dos livros de Kasse rivalizam apenas com a arte da série de Império de Diamante, de J. M. Beraldo, e do Baronato de Shoah, de José Roberto Vieira.

Por fim, só tenho uma crítica ao livro. Não sei nem se estou certo em dizer isso, porque é só uma impressão da minha experiência com as narrativas do primeiro e do segundo livro. Mas, comparando com O Andarilho das Sombras senti que a narrativa de Deuses Esquecidos foi mais apressada.

A história de Harold foi construída de forma bem mais detalhada e com vários acontecimentos que descreveram seu passado e seu presente, delineando cada faceta do personagem e muitas de suas andanças. Um livro incrível, apaixonante mesmo. Porém, em Deuses Esquecidos faltou um pouco mais de profundidade. Ainda que seja uma boa história me deixou a impressão de que poderia ter mais da vida de Alessio antes do renascimento (não que seu passado não tenha sido relatado). Senti falta também de uma abordagem maior em relação a vida e o passado de Lúcio e dos monges da abadia de Nicola.

O autor
Sou muito curioso sobre o passado dos personagens dos livros que leio e, por isso, não me incomodo com histórias longas e detalhadas, de muitos capítulos. Por exemplo, meu livro predileto é Os Miseráveis, mas algo que me irrita na narrativa de Victor Hugo é o pouco que sabemos da vida de Jean Valjean antes dele ser preso nas galés. Em compensação, acompanhamos o restante de sua vida.

Kasse alimentou essa minha curiosidade com seu primeiro livro. Por isso senti falta de conhecer mais de Alessio, de Lúcio, de Nicola, histórias e aventuras do passado. Minha identificação com Harold veio justamente de conhecê-lo intimamente. Acredito que quando conhecemos o passado de alguém nos tornamos mais próximos dele.

Alessio é uma proposta de personagem interessante por partir da perspectiva de um vampiro recém-criado que ainda carrega consigo as crenças de sua outra vida. Isso o tornou mais humano, mas eu gostaria de tê-lo acompanhado por mais tempo, antes e depois do renascimento.

Entendo, porém, que o foco era justamente o contrário. O foco está na transição sofrida pelo personagem, no começo da vida como imortal, nas descobertas e no mundo novo que se abre com todo os seus dilemas. Ainda assim a sensação de “pressa” no desenvolvimento dos personagens e da própria narrativa não se desfez, ainda mais quando penso no desenvolvimento de Lino e dos órfãos da floresta. Na minha modesta opinião, Harold foi gestado com mais calma e riqueza que Alessio e a maioria do séquito de personagens de Deuses Esquecidos. Contudo é só a impressão que tive.

De toda forma, estou ansioso por Guerras Eternas que, segundo a sinopse, será o encontro dos principais filhos da noite da série. Será o reencontro com Harold e tudo indica que a narrativa será épica!

A edição lida é da Editora Draco, do ano de 2013 e possui 214 páginas. Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.

Quer saber mais sobre o autor? Confira nossa postagem sobre os autores que estamos lendo na campanha (Clique Aqui).

Prévia do Google Books





[1] Italiano, originário do tatim carnifex: carrasco, torturador, perseguidor, assassino brutal. Carrasco (Wiktionary, 2017).
[2] Pôr(-se) em harmonia, conformar(-se), combinar(-se) (Houaiss, 2001).

sexta-feira, 13 de maio de 2016

O Andarilho das Sombras - Eduardo Kasse - Resenha

Por Eric Silva, em parceria com a Editora Draco que nos cedeu o livro.


“Eu era apenas mais um vulto nas sombras, imperceptível, silencioso e isso proporcionava um sabor a mais no teatro do medo”. 

Guerras, fé e corrupção marcaram a Europa em um período onde glória e decadência caminhavam lado a lado, como os dois fios de uma mesma espada. A “Idade das Trevas” europeia foi a era da ignorância e do medo do inferno, do domínio de nobres e da Igreja e de um dos maiores flagelos da história da humanidade: a peste negra. Contudo, era oculto nas sombras que espreitava silencioso o maior de todos os perigos, aquele que outrora foi homem e que agora imortal caminharia pela Terra, deixando para trás um rastro de perdição e morte.
Capa da edição lida

O Andarilho das Sombras, livro do escritor brasileiro Eduardo Kasse, é o primeiro da série Tempos de Sangue, e narra os primeiros passos da instigante história de Harold Stonecross, cujas “teias do destino” a muito trançadas fizeram dele um eterno e solitário viajante, um errante amaldiçoado, um vampiro.

Harold nasceu filho de um importante Earl – que seria um título de nobreza anglo-saxão – da região de Dunholm, um recanto perdido da Inglaterra medieval. Porém sendo desprezado pela família, e principalmente pelo seu pai, fugiu de casa ainda menino para viver uma aventura que não só mudaria completamente os rumos da sua vida, como o transformaria em um homem carismático e sedutor, mas igualmente marcado pelo sofrimento e pela desventura. 

Viajando pelas estradas perigosas e pelas cidades imundas da Inglaterra, o destino do menino cruzaria ainda com várias pessoas que lhe estenderiam a mão e seriam decisivas para seu crescimento como pessoa, mas que seriam igualmente passageiras em sua vida.

Caminhando sempre sem destino, primeiro sozinho e depois ao lado do amigo Edred, Harold passaria muitas dificuldades e testemunharia muitos dos males e glórias que o seu mundo possuía e lhe podia ofertar. Contudo, chegaria o momento funesto em que seu caminho como homem íntegro, valoroso, corajoso, mas, sobretudo, sensato, se encerraria, para que começasse uma nova caminhada, agora como uma criatura amaldiçoada, sedenta por sangue e destruição, igualmente errante, mas que levaria a morte e o sofrimento a todo lugar por onde passasse.

Eduardo Kasse compôs em O Andarilho das Sombras o que eu chamaria de um dos livros nacionais mais bem narrados que já li. E por que digo isso? Porque ainda não havia visto entre os livros brasileiros que já li um trabalho de pesquisa tão impecável. É certo que a princípio estranhei a forma com que o autor escreve logo no início da narrativa, usando preferencialmente períodos curtos – frases constituídas de uma ou mais orações –, mas o motivo do meu estranhamento se deve a minha própria incapacidade de optar por eles – quase sempre escrevo com períodos longos. Contudo, deixando estas questões a parte, logo que envolvido pela narrativa me esqueci dos períodos e a leitura se tornou tranquila e fluida. Foi aí que comecei a notar o conhecimento aprofundado do autor acerca da vida cotidiana na Idade Média e que ele se utiliza na composição dos cenários e personagens de sua história.
A Idade Média representada em o Andarilho das Sombras não é aquela
romantizada pelos livros de cavalaria, príncipes e reis como o rei Arthur.

Kasse conseguiu neste livro descrever o mundo medieval tal como ele era: de muito trabalho e perigos, festejo, sofrido, violento, religioso, corrupto, desigual, supersticioso, mas fascinante e tragante. A realidade da narrativa, sobretudo no comportamento de muitos dos personagens masculinos, as vezes assusta, mas acredito que foi necessário para descrever a devassidão escondida por sob a encardida manta de hipocrisias que recobria e encobria a verdade daqueles tempos. Uma licenciosidade que era recriminada numa “terra cheia de falsos pudores”, citando as palavras do próprio Harold. Distante da idade média romantizada a qual estamos acostumados encontrar em livros de príncipes, senhores feudais e cavaleiros, Kasse opta por uma idade média mais realista e próxima ao que ela foi de fato.
Eduardo Kasse busca em seu livro representar a Idade Média em seu
cotidiano, a vida das pessoas simples e a influência da
Igreja e das superstições sobre elas.

Mas além de contemplar a realidade cotidiana da época, Kasse ainda faz um resgate da mitologia nórdica e dá aos vampiros de sua narrativa não só o aspecto de seres das sombras sedentos por sangue, mas também de criaturas míticas, resultado de poderes de deuses antigos que deixaram de ser cultuados com a chegada da fé cristã.

A sensação que tive ao ler é que na narrativa, mais do que monstro, o autor transforma o vampiro em uma destas entidades antigas, um ser de um conjunto de seres fantásticos, antigos, mitológicos, a muito tempo desacreditados, como deuses a muito esquecidos. Além deste aspecto, o autor ainda consegue demonstrar como um pouco da cultura e das crenças dos povos pagãos ainda se encontravam vivas – ainda que meio adormecidas – e fundidas à cultura cristã, em um todo ambivalente e contraditório.

Outro aspecto sobre os vampiros de Kasse que quero destacar é a humanidade que estes seres ainda conservam não se diluindo completamente na fúria de sua selvageria. Harold, por exemplo, mesmo muitas vezes se demonstrando um caçador implacável e inclemente, também em muitos momentos deixa emergir vislumbres da generosidade, da cordialidade e da ternura que tinha quando em vida, como quando conversou com um menino que era caçoado por outros garotos maiores:

– Qual é o seu nome? – perguntei ao garotinho que tinha lágrimas nos olhos.
– Edgar, filho de Edgar, senhor... – respondeu com a voz magoada.
– Você é um fricote, Edgar, filho de Edgar? É um maricas? – indaguei com escárnio.
– Não senhor – respondeu o garoto fracamente.
– Você é tolo, Edgar?
– Já sei contar as moedas e preparar a lã das ovelhas tosquiadas na primavera, senhor – respondeu com um pouco de orgulho.
– Está com medo de mim, Edgar? – inquiri incisivamente.
– Por que deveria senhor? – respondeu com os olhos curiosos.
– Então, Edgar, nunca deixe que zombem de você! Seja o mais rápido, o mais forte e o mais esperto – falei em tom áspero, olhando para os outros garotos espantados – Dance e cague sobre as tripas dos seus inimigos! Ignore o medo e tenha sempre belas mulheres para aquecer a sua cama! – disse enquanto segurava o garoto no colo e dançava rodopiando com ele – Lembre-se sempre disso Edgar!
– Farei isso senhor – respondeu com uma risada marota.
– Agora vão para casa! – falei sério – Rápido.Os quatro garotos correram sem olhar para trás, escorregando nas ruas cobertas pelo barro úmido devido ao dia chuvoso.

Contudo, generoso ou não, Harold era um vampiro e em seguida, para se alimentar, mataria um dos garotos que caçoavam do pequeno Edgar.

Harold é um personagem que chama bastante a atenção. O autor teceu para sua narrativa um personagem bastante crítico e sincero que, como um espectador do mundo que lhe é contemporâneo, fala de certos aspectos da época com sarcasmo e repugnância. Harold tem horror à corrupção instalada no seio da Igreja e à ignorância dos camponeses que se deixam levar pelo medo que o clero lhes incutia. Assim, o personagem é, no livro, o maior crítico da fé professada na época. Além disso, ele não carrega consigo nem um pouco de hipocrisia e reconhece o “demônio” que existia nele mesmo.
O autor

Por fim, para concluir, não poderia deixar de mencionar as passagens de tempo existentes na narrativa.

A história de Harold não é contada de forma linear, ao contrário, vivemos dois momentos distintos na narração. Uma alternância entre o passado quando Harold ainda era humano e o momento presente. A todo instante somos levados a continuação da história do jovem Harold, como se fosse a transição entre o dia e a noite. Eu diria que o livro é dividido em dois e assim como o tempo se alterna entre períodos de luz e de escuridão nos alternamos entre o humano e o vampiro. O dia seria do Harold garoto, o jovem aventureiro e andarilho, e a noite, do vampiro sanguinário, mas ainda assim bastante humano.

O Andarilho das Sombras foi publicado pela Editora Draco. A edição é de 2012 e conta com 384 páginas. O livro seguinte da série chama-se Deuses Esquecidos e também foi publicado pela Editora Draco.

Desde já, estou ansioso para continuar a leitura da série, e assim que conseguir fazê-lo venho correndo contar minhas impressões a vocês.

Obrigado pela atenção.

Eric Silva

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