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domingo, 24 de maio de 2020

Contos Fantásticos de Avós Extraordinários – Ana Lúcia Merege – Resenha


Por Eric Silva
24 de abril de 2020

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Realização com pareceria do Instituto Pegaí Leitura Grátis, a coletânea Contos Fantásticos de Avós Extraordinários é mais uma das obras delicadas, singelas e muito bem escritas da escritora fluminense Ana Lúcia Merege que neste livro dá destaque à sabedoria, afetividade e experiências de personagens da terceira idade, pertencentes aos universos ficcionais criados pela autora.

Confira a resenha.

Sinopse do enredo

Contos Fantásticos de Avós Extraordinários é uma pequena coletânea de contos publicados com apoio do Instituto Pegaí e que, segundo prefácio da autora, faz parte de um projeto mais amplo denominado Heróis de prata. Nesse projeto a autora escreve uma série de contos de fantasia e ficção científica que daria destaque, nas palavras da própria Merege, a “protagonistas idosos ou, pelo menos, bem maduros, cuja experiência e amplitude de visão são determinantes para a resolução da trama”. Nesse primeiro livro há um destaque para a relação entre esses personagens e seus netos, com os quais contracenam.

Nos dois primeiros contos temos narrativas inspiradas no universo ficcional de fantasia medieval de Athelgard, principal cenário das obras da autora, enquanto os demais situam-se em outros dois universos criados por ela, o último deles compartilhado com o escritor Luiz Felipe Vasques.

Intitulado O espetáculo não pode parar, o primeiro conto é narrado em primeira pessoa e conta algumas das memórias de Zemel, um saltimbanco que se recorda de seu avô com quem aprendeu o ofício, além de relatar os desafios enfrentados por sua família para ganhar o sustento após seu avô sofrer um acidente. Em suas memórias de infância, Zemel conta como o acidente de seu avô, ocorrido durante um dos pequenos espetáculos que os dois faziam juntos, o deixou traumatizado e de como com sapiência o velho saltimbanco não permitiu que o amor do neto pela arte circense morresse.




O segundo conto, O eterno retorno, traz de volta a menina Anna e sua avó, a elfa Kyara, dois importantes personagens de outro livro infantojuvenil de Merege, Anna e a Trilha Secreta, publicado em 2015. Neste conto, Anna tem apenas nove anos e vive feliz com a avó que está ensinando-a a caçar. Contudo a menina, que possui mais sangue humano do que élfico, está cada vez mais curiosa sobre seu povo e pressiona para saber mais sobre o passado da avó, uma história dolorosa que Kyara receia revisitar.

Em De amor e eternidade, Merege revisita a série Contos da Clepsidra, ambientada na cidade de Cartago, no século III, e que em como protagonista o capitão fenício Balthazar de Tiro. Nesta narrativa, Balthazar, já envelhecido, vive com a família de um dos seus ex-tripulantes, família que o capitão adotou como sua e cujo futuro o preocupa bastante. Como de costume ele brinca com suas netas e lhes conta suas aventuras mágicas de viagens no tempo ao lado de outro dos tripulantes do seu navio, Lísias, o que faz emergir lembranças boas e tristes e preocupações relacionadas ao futuro.

Por fim, A era de Leonte, é um conto no estilo space opera[1] baseado no universo ficcional de Medistelara, “no qual as civilizações do antigo Mediterrâneo são transportadas para o espaço”, com destaque neste conto para os fenícios espaciais, os ken’amis, e sua Liga Mercantil, e para os heládicos[2], que na narrativa são donos de uma corporação de mineração chamada Caríbdes, que iniciou uma exploração de um valioso mineral no planeta Carsis.

Nesta narrativa, Merege conta uma história da personagem Elyssa de Quartag e seu neto adolescente, Hanno, um aprendiz de piloto. Elyssa vai ao distante planeta Carsis representando a poderosa Liga Mercantil para firmar um acordo de compensação financeira e comercial com os heládicos após estes começarem a exploração de minério no planeta. Ali, avó e neto percebem uma situação de exploração da mão de obra barata local, e a história encontra uma reviravolta inesperada por conta de uma especial movimentação de astros.

Resenha

Ana Lúcia é uma autora brasileira que venho acompanhando desde 2016, quando fiz a resenha de seu livro O Castelo das Águias. De 2016 para cá, já resenhei outras três obras da autora e um quarto livro no qual foi organizadora ao lado de Eduardo Kasse, autor da série Tempos de Sangue.

No início de 2019, ela me enviou Contos Fantásticos de Avós Extraordinários para que eu conhecesse seu último trabalho. Contudo, aquele ano foi tão difícil e conturbado para mim que acabei abandonando todas as atividades do blog e também a maioria das minhas leituras. Aquele também foi o ano que menos li.

Com o período de quarentena devido ao Covid-19, retomei minhas leituras, o blog e me recordei desse livro e, por isso, resolvi resenhá-lo, antes que minha rotina voltasse a ficar insana.

Contos Fantásticos de Avós Extraordinários é uma coletânea pequena, contando com apenas quatro contos que giram entorno de uma mesma temática: narrativas de aventuras (contos 2 e 4) ou de momentos cotidianos (contos 1 e 3) vividos por avós e netos e que levam esses últimos a beberem das experiências e sapiência de seus avós.

É uma obra infantojuvenil, mas sensível e madura, e que pode agradar outras faixas etárias pela qualidade da escrita da autora e de algumas narrativas que não são particularmente tão infantis.

Como é de seu costume, Merege utiliza novamente suas narrativas para trazer aos leitores mirins algumas lições de vida e, dessa vez, inova por dar destaque a um grupo etário que na sociedade moderna tem enfrentado um visível declínio de importância atribuída.

Serei mais claro.

Nesta sociedade de tantos avanços tecnológicos, de imediatismo exacerbado e de pragmatismo proeminente, a terceira idade vem sendo constantemente tratada como um estorvo para suas famílias, e visivelmente perdem importância no papel de matriarcas e patriarcas, de chefes de família, para os mais jovens. Em grande parte, esse grupo etário passa a ser visto, preconceituosamente, como ultrapassado e incapaz de ser útil numa sociedade tecnológica muito diferente da realidade vivida outrora pelos mesmos. Por conta desse fator, a importância que no passado era atribuída aos mesmos entra em declínio. Por outro lado, em relação a importância adquirida pelos mesmos em termo de vivências e experiências, essa não pode ser diminuída.

Com este pequeno livro, Merege vem com o claro objetivo de mostrar a importância desses personagens mais velhos e falar dos impactos que a relação que se estabelece entre netos e avós tem para a formação do caráter das novas gerações. Sendo ele um livro voltado para crianças de 10 a 12 anos, Merege busca estimular um novo olhar nos pequenos para as gerações que os antecederam. Um olhar de respeito e de admiração.

O livro é escrito por Merege com sua linguagem costumeira que busca um meio termo entre um vocabulário culto e uma linguagem simplificada, e como sempre, a autora mostra que ainda é uma grande contadora de histórias. Esse seu estilo fica bastante proeminente no primeiro conto da série, no qual a autora nos traz um narrador jovem, mas maduro e sensível, de olhar observador e inteligente, e com ele escreve um texto com uma escrita imersiva e gostosa de ler.

Já disse em outras oportunidades que o ponto que me conquistou nas obras de Merege foi a sua escrita impecável, tecida com esmero e, por que não, com amor. Mesmo quando se trata de uma narrativa que eu goste menos, sou tão fascinado pela forma como ela escreve que me esqueço do resto. Além disso, a temática medieval me agrada bastante, sobretudo quando a autora foca no cotidiano medievo, como é o caso do conto O espetáculo não pode parar e do meu livro preferido de Merege, O Caçador.

Como um bibliomaníaco nerd e otaku ligado em História, em vida cotidiana e em cultura nacional e internacional, sou fã de narrativas ambientadas em cenários medievais, de slice-of-life (histórias centradas no dia a dia de pessoas comuns) e de obras artísticas que mostrem a riqueza cultural de uma época ou lugar. O espetáculo não pode parar me conquistou por esses elementos ao apresentar um personagem criança no limiar de adquirir a maturidade adulta, pertencente a um universo medievo, e cujo espírito, ainda jovem, foi forjado nas dificuldades de uma vida nômade e paupérrima. Trata-se do conto mais adulto da obra e que me lembrou da força do livro O Caçador.

Zemel, protagonista do conto, é ainda menino e junto com sua família vive migrando de cidade em cidade, o pai e o tio oferecendo seus serviços de ferreiro e de paneleiro, respectivamente, e o avó e o neto, fazendo pequenos espetáculos de saltimbancos para entreter camponeses e vilões[3] das povoações por onde passavam.

Contudo, a narrativa se dá quando o avô de Zemel sofre um acidente durante uma dessas apresentações e as coisas ficam mais difíceis para a família. Se não bastasse, o menino fica traumatizado com o ocorrido e tenta abandonar as artes circenses, em um momento crítico, no qual seu trabalho também é importante para a sobrevivência de todos. Nesse cenário, Thiers de Pwilrie, o avô da criança, tem que usar de inteligência, paciência e força de vontade para demover o neto e ao mesmo tempo garantir o pão. É um texto que traz uma lição de vida importante e que agrega muito do que gosto nesse tipo de literatura: drama, personagens realistas e vida cotidiana e cultural medieval.

Numa linha similar, ainda que fale de elfos, O eterno retorno foi também um conto que me agradou, um pouco menos do que o primeiro, mas que me fez recordar de narrativas anteriores envolvendo os mesmos personagens.

Uma das narrativas ambientadas na Floresta dos Teixos
Nas histórias envolvendo as tribos élficas da Floresta dos Teixos, Merege costuma nos mergulhar em cenários muito bonitos de florestas e bosques, e desde pequeno tenho particular fascínio por florestas, o que se consolidou com minha formação em Geografia. Por seu turno, esses contos e novelas sobre a infância da protagonista de O Castelo das Águias nos proporciona o contato com esses cenários. Além disso, Merege dá a estas narrativas povoadas por espíritos guardiões e xamãs uma pegada um tanto indígena que faz do seu trabalho bastante original ao somar fantasia e crenças similares às dos indígenas norte-americanos.

O tema de O eterno retorno é também bastante maduro. Na verdade, todo o livro se encontra nesse limiar entre uma obra para crianças e um tom de histórias mais sérias, e acredito que esse tom emana do peso da maturidade de seus protagonistas adultos. Neste conto em particular, Merege falam de dores do passado, e de forma meio velada remota às histórias de amores familiares marcados pela tragédia. Contudo, a autora não entra em todos os detalhes do que ocorreu no passado da protagonista Kyara, porque se trata de uma narrativa retirada de uma história maior que compõe os livros da série Athelgard.

Mesmo para quem não acompanha a obra da autora, o conto ainda assim fará sentido, porque Merege dá todos os elementos necessários para que ele seja lido de forma independente, mas tudo ali faz alusão a uma história mais ampla do qual nos foi permitido ver só uma parte. Isso me lembra, inclusive, que tenho que ler as duas obras de continuação de O Castelo das Águias.

Os contos seguintes foram os que menos me agradaram, ainda que eles tenham muita qualidade e, por isso, não me demorarei neles.

O terceiro conto, De amor e eternidade, traz um personagem de Merege com o qual eu ainda não tinha tido contato, o capitão fenício Balthazar. O conto é baseado em memórias do capitão que ele narra para duas de suas netas a fim de entretê-las.

Por conta dessa sua natureza de narrativa de memórias, é o conto, que na minha opinião, ficou mais deslocado, porque faz muitas referências às outras histórias escritas ou imaginadas pela autora. Merege novamente toma cuidado para fazer todas essas referências compreensíveis ao leitor e não prejudicar a leitura de quem não leu as aventuras da mocidade de Balthazar. Não obstante, o conto tem todo os elementos de um spin-off[4] e por conta disso, a sensação que o conto me deu foi de um leve deslocamento.  Acho que não tive essa mesma sensação com o segundo conto da coletânea tanto pelos motivos já citados, como também porque acompanho a trajetória da personagem Anna desde 2016.

Por sua vez, o último conto da série é um space-opera que se passa em um planeta ainda pouco conhecido e que possui um povo espiritualizado, singular e exótico em um contexto que me fez lembrar um pouco do filme Avatar e um pouco do livro A Chegada a Darkover, da autora estadunidense, Marion Zimmer Bradley.

A era de Leonte me lembra o livro de Bradley por se tratar de uma narrativa sobre viagens intergalácticas com a busca e a descobertas de novos planetas, no caso de Bradley, sobretudo para colonização, e no caso de Merege, para atividades mercantis. E me faz recordar de Avatar, porque além de ser uma narrativa sobre viagens intergalácticas, o conto trata da invasão humana em busca de recursos minerais e possui um povo espiritualizado e intimamente ligado aos fenômenos naturais de seu lugar de vivência.

Contudo, tenho uma crítica a como este conto foi desenvolvido. Acho que a história de Merege tinha potencial para ser mais do que um conto, e, pela escolha da autora em fazer uma narrativa mais breve, fez com que o desenvolvimento da história fosse apressado e a narrativa ficasse um tanto inverossímil em seu desfecho e clímax. O fato é que não gostei do desenvolvimento, e sobretudo do desfecho.

Se Merege explorasse mais as características desse povo tão peculiar e intrigante, de seu planeta e do minério que ali existia, descrevesse a chegada dos heládicos, os primeiros contatos, colocasse alguns conflitos, desenvolvesse mais profundamente os personagens, escrevesse paralelamente a história de Elyssa e Hanno, e chegasse ao desfecho no qual chegou só que de forma mais desenvolvida e detalhada, A era de Leonte daria, não um romance, mas uma novela interessante ao estilo de Bradley, de Arthur C. Clarke, de Frank Herbert ou de seu filho Brian Herbert.

Até mesmo o título, A era de Leonte, é bom para um livro independente. Contudo, na forma compacta em que foi concebida ele não me agradou muito. Por outro lado, o objetivo da autora com seu livro é claro e ela deseja alcançar um público mais jovem. O livro que eu enxergo em minha mente seria algo bem diferente e distante da proposta inicial.

Enfim, para encerrar, no todo, Contos Fantásticos de Avós Extraordinários é um livro simples, mas sensível e original.

A edição lida é da Editora Draco, do ano de 2018 e possui 64 páginas.

Sobre o autor

Ana Lúcia Merege. Imagem: Acervo da Biblioteca Nacional.
Nascida em 1969, na cidade do Rio de Janeiro, Ana Lúcia Merege é romancista e bibliotecária. Possui mestrado em Ciência da Informação, pelo IBICT/UFRJ-ECO, tendo defendido, em 1999, sua dissertação intitulada O livro impresso: trajetória e contemporaneidade. É também formada em Biblioteconomia pela UNIRIO e, desde 1996, trabalha no Setor de Manuscritos da Biblioteca Nacional, onde atua no trabalho com material original, fontes primárias, identificação de documentos e organização de exposições.
Seu primeiro romance publicado, O Caçador (2009), foi também o primeiro do gênero fantasia escrito pela autora que desde então vem se dedicando a organização de diversas coletâneas do gênero, além de contos e romances. Suas principais obras estão ligadas ao universo de Athelgard, criado pela escritora para ambientar sua trilogia que se inicia com o romance O Castelo das Águias e ganha sequência com os livros A Ilha dos Ossos e A Fonte Âmbar, todos publicados pela editora paulista Draco. Pertence também ao universo de Athelgard o livro Anna e a Trilha Secreta, que faz um regresso à infância da principal personagem de O Castelo das Águias, além de Orlando e o Escudo da Coragem, outro infantojuvenil publicado pela autora em 2018.
Com vasta experiência com manuscritos e forte interesse pela história do período medieval, Merege foi responsável ainda, na mesma editora, pela organização das coletâneas Excalibur: histórias de reis, magos e távolas redondas e Medieval: Contos de uma era fantástica, este último em parceria com o escritor brasileiro Eduardo Kasse.




[1]Subgênero da ficção científica que enfatiza a aventura melodramática, as batalhas interplanetárias, o romance cavalheiresco e a tomada de riscos. Definido principalmente ou inteiramente no espaço sideral. (Wikipédia)
[2]Civilização heládica é um termo moderno usado para identificar uma sequência de períodos que caracterizaram a cultura do continente grego durante a idade do bronze. (Wikipédia)
[3]Vilão era, na Idade Média, uma pessoa que não pertencia à nobreza feudal, e que habitava urbanamente em vilas. (Wikipédia)
[4]Nos meios de comunicação, obra derivada, história derivada ou derivagem (em inglês: spin-off) é um programa de rádio, programa de televisão, videojogo, grupo musical ou qualquer obra narrativa criada por derivação, isto é, derivada de uma ou mais obras já existentes. Sua diferença com uma obra original é que a primeira se concentra, em particular, mais detalhadamente em apenas um aspecto (por exemplo, um tema especifico, personagem ou evento) ou modificando um pouco a história e seus aspectos originais.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Absolutos – Sinfonia da Destruição – Rodolfo Salles – Resenha


Por Eric Silva

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Com um título inspirado, Absolutos: Sinfonia da Destruição é o último lançamento do selo editorial do blog A Taverna. Um space opera dinâmico e criativo e que dá início a série escrita pelo brasileiro Rodolfo Salles, com milhares de leitores na plataforma Wattpad.

Sinopse estendida

Em um futuro muito distante os seres humanos já não vivem isolados no planeta Terra. Viagens interestelares, bem como o contato com espécies alienígenas já são uma realidade, e devido a esses contatos muitas guerras e batalhas foram travadas até que as diferentes raças descobrissem uma maneira de coexistirem.

Érico é um jovem hacker que vive na pequena lua de Miesac, com seus irmãos adotivos Vexel, uma corredora profissional, e Miro, uma versão futurista de youtuber. Quando ainda era muito pequeno, o rapaz havia sido enviado àquela lua em uma cápsula de fuga por sua irmã biológica, Daina, para que escapasse do ataque alienígena que destruiria seu planeta natal. Resgatado pelos dois irmãos, Érico cresce em Miesac com o sonho de se tornar um caçador de relíquias, uma espécie de aventureiro intergaláctico que, em grupos, esquadrinha o Espaço em busca de artefatos antigos, raros e de grande valor. Porém alguns mistérios perturbam a mente do rapaz, cujo passado é praticamente desconhecido. O principal deles é o significado de um conjunto de tatuagens que ele possui por todo o corpo desde quando se lembrava.

É buscando respostas sobre seu passado e sobre as misteriosas tatuagens que Érico se aproxima de uma conhecida e poderosa irmandade hacker que lhe coloca em contato com uma entidade cibernética chamada Decifradora. Somente a Decifradora poderia ter respostas sobre o significado das tatuagens e com a ajuda da irmandade e de seus dois irmãos, Érico localiza a entidade que lhe faz revelações ainda mais perturbadoras.

O rapaz descobre que na verdade é um ser temido pelas mais poderosas organizações do Universo e que de tempos em tempos é responsável por trazer caos e destruição. Ele é um absoluto, único ser capaz de controlar uma poderosa e elementar forma de energia universal: o Campus.

De tão temível, a história dos Absolutos precedentes é censurada e sistematicamente apagada dos bancos de dados digitais de todo o universo. A existência de um absoluto é uma ameaça para o universo e deve ser extirpada, e se o poder de Érico despertasse ele também traria caos e destruição. Diante da previsão de um destino nefasto, Érico deseja ver-se livre daquele poder, mas para isso ele deveria encontrar um Desbravador, um tipo de hacker que tivera sua consciência digitalizada e “elevada” para o mundo virtual, permitindo-lhe acumular uma grande gama de conhecimentos. Apenas um Desbravador pode mudar o destino gravado naquelas tatuagens, mas encontrá-lo é um imenso desafio e Érico precisa se aventurar pela galáxia e ao mesmo tempo fugir de uma poderosa organização que deseja a sua destruição.

Resenha

Absolutos: uma space opera nacional

Primeiro volume da trilogia Absolutos, de Rodolfo Salles, Sinfonia da destruição é um space opera nacional que carrega todas as principais características de seu gênero e não faz feio quando se trata de criatividade, diversidade e poder imaginativo.

Ainda que sobre-existam alguns pequenos problemas em seu texto, publicado pela primeira vez em fevereiro de 2016, de forma independente, através da plataforma Wattpad, esse é um livro de qualidade evidente, não é à toa que na plataforma de textos ele possua mais de 28 mil leituras e tenha ficado em décimo lugar no ranking de livros de Ficção Científica do Wattpad em junho de 2017[1].

Atualmente, dentro do universo literário, tenho observado que o space opera, com suas viagens intergalácticas, planetas e formas de vidas exóticos, tem perdido espaço para as histórias de distopias tecnológicas geralmente situadas numa Terra destruída ou em colapso social ou ambiental, como muitas das histórias do gênero cyberpunk, que vem fazendo sucesso no mercado editorial internacional. Rodolfo, porém, aposta no retorno de um subgênero que contagiou muitas gerações e que presenteou o mundo geek com obras memoráveis como a série Fundação, de Isaac Asimov, na literatura, e, no cinema, com franquias como Star Trek (Jornada nas Estrelas), de Gene Roddenberry, e Star Wars (Guerra nas Estrelas), de George Lucas.

A proposta do livro é recheada de ideias criativas e originais. Ela, obviamente, se inspira no universo space opera do qual se origina, como a ideia de uma criatura titânica em forma de verme subterrâneo que me fez lembrar do universo de Duna, criado por Frank Herbert. Contudo, as respostas para a tecnologia, a proposta de um universo anárquico e o conjunto de espécies criadas pelo autor são originalíssimas. Além disso, a proposta sobre a qual foi criada a imagem do que é ser um Absoluto é muito instigante.

Achei divertida a forma como a trama brinca com a natureza e importância dos Absolutos. Eles certamente são tiranos sanguinários, mas seriam realmente obscuros os seus propósitos? Além disso, eles são cercados de mistérios. Do outro lado, temos Érico, que parece ser uma contradição no conjunto de Absolutos. Mas ele continuará sendo a ovelha negra da família? Ou cederá a sua herança histórica, tornando-se mais um temível tirano e o vilão de sua própria trama? Ou ainda, dominará seus dons, usando-os para um propósito maior? Muitas dúvidas permeiam a história de Érico e seu futuro. Ademais, a narrativa de Sinfonia da Destruição possui muitos outros mistérios e pontos obscuros que instigam a leitura completa da série.

Muitas espécies e personagens

Como não podia ser diferente, Rodolfo reserva um grande espaço em sua narrativa para a descrição não apenas do universo que ele cria para abrigar sua trama, como das muitas sociedades e espécies de seres vivos que nele habitam. Humanos, ánimas, tharinos, nobas, léstaris e muitos outros, cada qual com suas características e peculiaridades específica, povoam uma galáxia regimentada por uma forma de anarquia universal. Mas de todas as espécies, certamente, a que mais chama atenção são os tharinos, espécie bípede que só se diferenciava dos humanos pela “sua pele extremamente branca, lisa e seus olhos amarelos como girassóis”, além, é claro, da sua capacidade de abrir e selar portais que levavam a qualquer ponto do universo.

Personagens principais. da esquerda para direita: Érico, Darwin, Camilo e Alopex

Semelhante ao que o escritor Felipe Castilho faz em seu livro a Ordem Vermelha: filhos da degradação, Rodolfo cria um núcleo de personagens centrais com representantes de cada uma das espécies mais importantes, mas coloca um humano como seu protagonista.

Érico é antes de mais nada um sonhador, alguém sedento por ação e aventura e, por isso, na maior parte do tempo ele se demonstra muito empolgado, mesmo quando o seu destino se mostra um fardo preocupante. Muito jovem, a imagem que se pode ter de Érico é de alguém ainda imaturo e demasiadamente otimista. Porém, ele é também uma pessoa de ação, apegado à família, fiel e também corajoso, ainda que, por vezes, se demonstre bastante egoísta, sobretudo quando quer embarcar as pessoas em suas aventuras, mesmo quando estas claramente não estão dispostas a fazê-lo. Ele é assim com Camilo, um veterano de guerra que atormentado pelas muitas mortes que provocara em seu passado e, por isso, decidiu abandonar o trabalho de piloto de naves espaciais.

Camilo vivia isolado em um planeta inóspito onde montava espaçonaves com sucata vinda do espaço para depois revendê-las. Érico entra em sua vida de forma súbita e acaba arrastando-o contra vontade para sua aventura pelo espaço. O mesmo se dá com a ánima Alopex que por muito tempo se encontrou confinada em um laboratório abandonado e também é arrastada por Érico. Alopex como qualquer ánima tem um aspecto muito animalesco e até primitivo que não chega a se desenvolver “muito intelectualmente, passando a maior parte de sua vida agindo por instintos e inseridos em rotinas escolhidas por eles”. Apesar de agressiva, briguenta e irritadiça, a ánima se demonstra uma amiga zelosa e protetora.

Há ainda a tharina Darwin, uma criminosa irônica e de personalidade muito forte que salva a vida do rapaz em troca de sua própria liberdade e o impressiona com suas capacidades incríveis de teletransporte através de portais.

Muitos outros personagens importantes compõem a história, como o Tenente Hathor e os irmãos Vexel e Miro, além de outros que vão emergindo na trama ao longo de seu desenvolvendo e vão ocupando papéis estratégicos na mesma.

Edificando mundos: estética, narração e temáticas

Narrado em terceira pessoa, Sinfonia da Destruição possui alguns contrastes entre narração e diálogo que me chamaram a atenção logo nas primeiras páginas. Quando se analisa o narrador onisciente logo se nota que a forma como os mundos, as raças, a tecnologia e as ações dos personagens são descritos difere bastante da linguagem adotada por vários de seus personagens.

Sobretudo Érico e Miro, por serem personagens muito jovens, possuem uma linguagem muito despojada e coloquial comum aos adolescentes e que contrasta profundamente com a linguagem bem mais rebuscada de seu narrador. Contudo, os dois não são os únicos a terem uma linguagem contrastante. Outros personagens também apresentam linguagens pouco desenvolvidas ou coloquiais como Alopex, por ser uma ánima, e também Eurália, uma evox (ser com inteligência artificial) que devido a um defeito em seu sistema operacional tinha dificuldades de aprendizagem. O resultado final obtido pelo autor é uma mescla de estilos linguísticos que se tornam próprios dos personagens caracterizando-os e que, ao mesmo tempo, diverge do tom mais rebuscado da narração.

Entretanto, quando digo que a narração é mais rebuscada, não quero dizer com isso que Sinfonia da Destruição seja um livro difícil de ler. Pelo contrário, sua linguagem é leve e não chega a ser erudita, como nos clássicos. Uso o termo rebuscado em oposição a uma linguagem cotidiana, gramaticalmente incorreta e de vocabulário pobre, aspectos marcantes na forma de falar de Alopex e Eurália. Rodolfo escreve muito bem e seu texto flui com facilidade não sendo cansativa a leitura. Mesmo nas passagens mais descritivas (essenciais na ficção científica) o texto não se torna enfadonho ou desestimulante.

Não vejo grandes problemas na escrita deste primeiro livro da série, mas algo que me chamou a atenção foi, no entanto, muito pontual, e está relacionado a uma única cena um pouco mais romântica entre Darwin e Érico, já no meio da narrativa.

Nessa passagem, inicialmente de ação, os dois personagens passam muito abruptamente de uma situação de tensão, risco e espanto, para um momento mais relaxado e nostálgico, e de novo para uma situação de perigo e ameaça. O que me incomodou na cena foi sua transição emocional um tanto repentina que, no momento da leitura, me causou certo estranhamento.

Senti o esforço de Rodolfo para tornar natural a transição da primeira situação para a segunda, porém a mudança de “humores” dos dois personagens não soou muito bem integrados. Faltou um pouco mais de “gradatividade” (neologismos!!) que fariam com que o humor de ambos não mudasse de forma súbita ou inesperada. O cenário criado é espetacular e a forma como essa passagem acaba é quase um épico, mas a transição da ação para o nostálgico romântico precisava de mais suavidade, descrevendo também como a tharina foi passando da tensão de uma situação inesperada e ilógica, para um momento mais contemplativo e de recordação do passado. A transição de Érico foi bem descrita, mas há um apagão em relação a Darwin e desse ponto emergiu meu estranhamento.

Por sua vez, quanto a temática, o livro fala de liberdade e destino. Seriamos nós mesmos os responsáveis pelo caminho que trilhamos, ou ele já foi traçado como nos desenhos de uma tatuagem e seriam como os desenhos: permanentes e inalteráveis?

Pode até não ter sido a intenção do autor, mas as tatuagens de Érico é também uma metáfora sobre o destino e o que fazemos de nosso futuro. Somos ou não donos de nossos destinos? Essa é a grande questão que permeia toda a história de Sinfonia da Destruição e tira o sono de seu protagonista que teme a si e a seu futuro, mais do que qualquer adversidade que se entreponha em seu caminho.

Contudo, se destino é o tema principal, Absolutos surpreende pela gama de subtemas que enriquecem um universo que já foi idealizado para ser amplo e diverso. Não se trata apenas de uma narrativa de viagens intergalácticas, planetas exóticos e seres além da imaginação. Censura, tecnologia, Inteligência Artificial (I.A.) e “emancipação tecno-robótica”, realidade virtual, ciberpirataria e irmandades hackers, política, conspirações, ditaduras, anarquismo e corrupção são alguns dos muitos subtemas que permeiam e atravessam a trama de aventuras, tornando-a mais eclética e rica. Essa diversidade é, para mim, o maior ponto do livro.

Mas se de um lado gosto de tramas complexas e que desafiam o seu leitor, de outro concordo que o elemento fundamental para uma história de fantasia ou de ficção científica é, na verdade, o quão criativo o escritor é ao idealizar mundos e realidades capazes de fazer o leitor imaginar lugares exóticos sem, no entanto, perder verossimilhança.

Galáxia Eidola, o cenário da trama da série.
Para mim, o mais fantástico nos livros de ficção científica é a criação de um mundo em toda a sua complexidade. Ali o escritor se torna um deus que edifica a realidade como numa sinfonia da criação (desculpem-me o trocadilho) e convida o leitor a sonhar com universos para além da imaginação. Rodolfo parece compreender isso muito bem e concebe um universo de maravilhas, criando em seu livro construções sofisticadas e originais para compor tecnologias e mundos.

Para mim – e isso é uma nota puramente pessoal – a história de Érico não é tão importante quanto contemplar o universo grandioso criado para abrigá-la. Digo isso, porque não é na trama que reside a beleza da ficção científica, mas na criatividade empregada para criar um universo fantástico e verossímil que desafie a mente humana e faça-a sonhar. Ficção científica é antes de tudo um sonho, uma utopia (ou distopia) cheia de maravilhas.

Rodolfo é certamente um talento criativo que com o tempo se tornará ainda mais afiado e o primeiro volume de Absolutos é um prenúncio disso. Os poucos pontos fracos da narrativa estão ainda na pouca experiência que qualquer escritor em começo de carreira deixa transparecer nos seus primeiros escritos. Pequenos deslizes gramaticais e alguns pontos e diálogos com desenvolvimento apressado são algumas dessas fraquezas, mas que só muito raramente sobrepujam o conjunto. Todavia é o exercício da pena que faz o escritor.

O desfecho – como era de se esperar em uma trilogia – deixa várias perguntas em aberto e faz revelações extremamente importantes para a continuação da trama. Apenas a leitura do segundo volume permitirá descobrir os caminhos que serão trilhados e se Érico poderá de fato decidir o seu destino.

A segunda edição também promete a ascensão de um arqui-inimigo para Érico, mas fica obscuro se este de fato representaria as forças do bem. De qualquer forma, o desfecho de Sinfonia da Destruição é um convite para continuar a leitura e descobrir novos rincões da galáxia de Eidola e o destino de sua maior ameaça(?): o absoluto Érico, “o horror dos céus”.

A edição lida é digital, do selo editorial Histórias d’A Taverna, do ano de 2018, e possui 447 páginas.

Sobre o autor

Rodolfo Salles é escritor de ficção fantástica e colaborador do blog A Taverna. Designer especialista em produção de vídeos, nasceu e mora em São Paulo. Escreve desde criança, período onde começou a criar mundos fantásticos e lúdicos. Com o surgimento do Wattpad, o que era apenas um hobby se tornou parte fundamental de sua vida. Devido ao sucesso de sua obra na plataforma, decidiu relançá-la em versão profissional como autor independente.

Após ganhar o prêmio Wattys na plataforma, em 2017, com o conto Último Dia — concorrendo em uma seleção com mais de 280 mil participantes — decidiu explorar novos horizontes profissionais. O conto foi republicado pela revista Trasgo n° 17, enquanto o autor decidiu relançar Absolutos como autor independente pela Amazon, apoiado pelo selo d’A Taverna.





[1]https://www.wattpad.com/story/52180236-absolutos-i-a-sinfonia-da-destrui%C3%A7%C3%A3o

sexta-feira, 4 de julho de 2014

A Chegada em Darkover - Marion Zimmer Bradley - Resenha

Por Eric Silva

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Resenha

Um acidente acontece e uma das naves terráqueas que se dirigia para mais uma das colônias humanas espalhadas pelos rincões do universo, cai em um planeta completamente desconhecido pela humanidade, um planeta inexplorado que reserva vários segredos a serem revelados. Uma série de pessoas morreram no acidente e tantas outras morrerão até que os sobreviventes conheçam e aprendam a sobreviver num mundo completamente novo.

A chegada em Darkover de Marion Zimmer Bradley é mais uma das incontáveis histórias de ficção científica que povoam a literatura mundial. Fazendo parte da famosa e imensa saga do planeta Darkover criada pela autora de As Brumas de Avalon. A chegada em Darkover não foi o primeiro livro escrito para a série, mas aquele que conta como se deu início a saga humana naquele mundo aparentemente hostil. Darkover é um planeta regido por quatro luas e um grande sol vermelho, com seres completamente desconhecidos e com um clima bastante adverso e que carrega com sigo fenômenos bastante inquietantes como é o caso do "Vento Fantasma" que com suas propriedades psico-neurológicas é capaz de levar a insanidade temporária um número expressivo de pessoas fazendo com que estas percam toda a capacidade de agir racionalidade e se entreguem aos desejos e sentimentos mais inconfessáveis.

Nos deparamos neste livro com uma humanidade intensamente cientifizada que buscará, alguns com mais relutâncias, outros com mais naturalidade, se adaptar a um mundo novo onde eles deverão construir uma nova sociedade a partir das possibilidades que o estranho planeta oferece. Fugindo um tanto dos moldes hollywoodianos de ficção cientifica, onde os grandes efeitos especiais e os instrumentos técnicos extremamente avançados roubam acena e não nos deixam a tentar para a pobreza literária da trama de fundo, A chegada em Darkover aposta no caminho contrário permitindo com que questões existenciais, filosóficas, emocionais, religiosas e culturais tomem conta da trama em muitos momentos. Assim a narrativa pode não agradar aqueles leitores acostumados a ficção cientifica cheia de robôs, carros voadores, exploradores do universo, seres alienígenas destruidores de civilizações. Mas certamente agradará a outros leitores por ser algo que aponta mais para a natureza humana, sem deixar, no entanto, de contar com os velhos mistérios do que é desconhecido e, logo, assustador, mesmo que não tenha razão de o ser.

O livro apresenta uma leitura fluída, e em alguns momentos muito rápida, exigindo do leitor atenção para não sair de uma cena e entrar em outra sem nem se aperceber da transição da narrativa. Particularmente me surpreendi com a rapidez com que terminei de ler, talvez por se tratar de apenas 111 páginas (eu li uma versão digital que rola na internet, mas algumas edições cadastradas no Skoob alcançam maior número de páginas: Editora Y (2004) - 238 pg. Editora Imago (1989) - 172 pg. Editora Círculo do Livro (1972) - 147 pg.). 111 páginas para alguém como eu que lê dezenas de artigos científicos todos os meses é pouco. Ler uma centena de uma narrativa bem construída é relativamente fácil e rápido, mesmo que o tempo para ler também seja escasso.

Não indico para crianças, mas para alguns adolescentes de cabeça mais aberta (como meus alunos) e realmente apreciadores da prática da leitura. Aos adultos, é plenamente indicável. Minha avaliação pessoal: bom.

A nave semidestruída após pouco forçado. Ilustração de Ron Walotsky.

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