A historiografia tradicional periodiza a trajetória humana sobre a Terra em duas grandes épocas: a pré-história e a História tendo como marco uma grande revolução cultural e social humana: a invenção da escrita, ou seja, do registro escrito da comunicação. A pré-história ficaria como sendo todo o período em que o homem desconheceu essa modalidade de comunicação. Porém esse termo, pré-história, é muito discutido e criticado pela historiografia moderna. Por qual razão? Tentemos explicar:
1º.
O termo é preconceituoso, numa clara
alusão á inferiorização dos povos ágrafos. A nossa História possui uma visão
bastante eurocêntrica, a própria Ciência Histórica surge na Europa (Grécia
Antiga) num período em que a escrita já era bastante difundida e já existiam
dela algumas variedades, e desde aquela época os historiadores como Heródoto
usam das inscrições, documentos deixados pelos povos para fazer suas pesquisas
históricas. Assim documentos escritos se tornaram as principais fontes
históricas para a pesquisa, negligenciando-se muitas outras fontes igualmente
importantes. A Ciência Histórica “procura entender como os seres humanos
viveram e se organizaram desde o passado mias remoto até os dias de hoje”
(COTRIN, 207, p. 12), porém durante muito tempo os povos ágrafos foram
considerados inferiores, menos desenvolvidos, o próprio nome Pré-história é
pejorativo por considerar os povos de sua época como homens não históricos. O
termo tem sido então primeiramente criticado “pois o ser humano, desde seu
aparecimento no planeta é um ser histórico, mesmo que não tenha utilizado a
escrita, em algum período” (idem, ibdem, p. 15).
2º.
“As sociedades humanas não obedeceram a
um padrão geral nas suas evoluções históricas” (PEDRO, LIMA, CARVALHO, 2005, p.
15). Ao contrário do que o ensino fragmentado e tradicional nos faz pensar,
nada na história do mundo ocorre ao mesmo tempo, em todos os lugares e da mesma
forma. Cada lugar, época e povo possuem suas singularidades e ali os fatos
históricos se deram e se dão em contextos, momentos e de modos também
singulares. É errôneo pensar que em todas as partes do mundo os homens se
desenvolveram, descobriram o fogo, a agricultura, os metais da mesma forma, nas
mesmas circunstâncias, ao mesmo tempo e os utilizavam da mesma forma, pelo
contrário houveram povos que nem fizeram essas descobertas. Culturas
diferentes, povos diferentes, contextos históricos igualmente diferentes.
Mas voltando a escrita...
A descoberta da escrita modifica a história de
ALGUNS povos. O uso da escrita pictográfica é passa a dar lugar a uma variação
mais complexa: a escrita Ideográfica. Segundo Ricardo Sérgio (2007)
Consiste num sistema de escrita
que se manifesta através de "ideogramas": símbolo gráfico ou desenho
(signos pictóricos) formando caracteres separados e representando objetos,
ideias ou palavras completas, associados aos sons com que tais objetos ou
ideias são nomeados no respectivo idioma. (SÉRGIO, 2007)
A escrita ideográfica utiliza-se de desenhos como
signos, ideogramas, que indicam cada um uma ideia que se quer expressar, assim
se você que dizer: O sol nasce depois do
vale, haverá um signo (desenho) ou conjunto deles para sol nascente, outro
para “depois” e um outro para vale. Em chinês tradicional essa frase seria
escrito dessa forma (GOOGLE TRADUTOR, 2013):
太陽升起後,從山谷
Onde 太陽升起 significa o Sol nasce. 後significa
depois, e finalmente 從山谷 significa do vale.
O nome vale sozinho significaria 谷.
Observe que se trata de um signo, símbolo, desenho que um dia deve ter sido
semelhante ao desenho de um vale, forma geográfica muito comum no Japão e na
China.
A primeira escrita ideográfica conhecida, porém foi a Cuneiforme
surgida na Mesopotâmia e criada pelo povo Sumério. O cuneiforme é um tipo de
escrita gravada em blocos de argila frescos através de um instrumento em forma
de cunha e que depois eram cozidos para endurecer. Ela surgiu a primeira vez em
um sitio arqueológico de uma antiga cidade mesopotâmica chamada Uruk. Ali os
arqueólogos encontraram uma pequena tabua contendo inscrições de pequenos
desenhos, signos que transmitiam uma mensagem. Logo se descobriu outras tabuas
com inscrições semelhantes por todo o Iraque, pais onde se situa a antiga
Mesopotâmia.
Figura 1- escrita cuneiforme em tabuleta de barro
O Cuneiforme era uma forma ideográfica de escrita onde os sumérios
criaram uma serie de símbolos que se assemelhavam aos objetos que queriam
representar, assim o desenho de um sol representaria o próprio astro
representado. Com o passar do tempo e com o uso, os símbolos foram sofrendo
modificações e se tornando cada vez mais abstratos e simplificados. Como a os
sumérios utilizavam a escrita principalmente para transações comerciais as
modificações podem sugerir a necessidade de que a escrita torna-se mais rápida
e prática. A figura a baixo mostra a evolução de dois ideogramas cuneiformes ao
longo do tempo.
Figura 2 - da escrita pictográfica à cuneiforme -
evolução da escrita
Mas além de
modificações na forma como era representada a ideia, começou a surgir uma forma
silábica da escrita onde símbolos eram agrupados para formar nomes próprios
devido ao som semelhantes a estes nomes. Assim dois ou mais símbolos que tinham
na pronúncia som semelhante ao nome de alguém poderiam ser agrupados para
representar a própria pessoa.
Outra modificação
surgiu na forma como eram feitas as gravações no barro.
Os
primeiros ideogramas eram gravados em tabuletas de argila, em sequências
verticais de escrita com um estilete feito de cana que gravava traços
verticais, horizontais e oblíquos. Até então duas novidades tornaram o processo
mais rápido e fácil: as pessoas começaram a escrever em sequências horizontais
(rotacionando os ideogramas no processo), e um novo estilete em cunha inclinada
passou a ser usado para empurrar o barro, enquanto produzia sinais em forma de
cunha. Ajustando a posição relativa da tabuleta ao estilete, o escritor poderia
usar uma única ferramenta para fazer uma grande variedade de signos.
(WIKIPÉDIA, 2013)
A pesa de ser uma
criação suméria a escrita cuneiforme foi também utilizada pelos povos “acadianos,
babilônicos, elamitas, hititas e assírios e adaptada para escrever em seus
próprios idiomas” (idem, 2013).
Além das escritas
Cuneiforme e Chinesa outras escritas surgiram e que também apresentam a
característica de serem ideográficas, entre eles os hieróglifos egípcios e as
escritas maia e asteca. Confira o quadro informativo baseado em dados da
enciclopédia italiana Conhecer.
Povo
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Escrita
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“Quando os espanhóis aportaram na
península de Yucatán, descobriram entre os maias inscrições que não
entenderam. (...) Seus sinais gráficos tendiam para um completo e perfeito
sistema alfabético ou silábico. Sua escrita era ideográfica (parecida com a
dos egípcios):os sinais reproduziam idéias completas, não apenas sons ou
sílabas. Contudo, junto aos ideogramas já começavam a surgir os
“determinativos” (incluídos no próprio ideograma)”. (ENCICLOPÉDIA CONHECER,
1972).
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Astecas
Figura 4 - escrita asteca
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Possuíam “uma escrita parcialmente
fonética, embora predominantemente ideográfica. Os astecas escreviam sobre
peles de cervo ou numa espécie de papel fabricado com fibras d agave; (...)
Com a vinda dos invasores espanhóis, porém, foi destruída a maior parte desse
precioso acervo”.
“Os documentos são difíceis de interpretar.
Geralmente contem desenhos de características próprias e inconfundíveis,
legendas e comentários escritos pelo sistema ideográfico, ideogramas que
podem ser lidos foneticamente. Além disso, as cores representam papel de
grande importância: um desenho reproduzindo um líquido escorrendo, em vermelho,
indica sangue, e em azul, indica água. Para a representação dos nomes
próprios, usavam o sistema fonético. O exame detalhado dos documentos
recolhidos (os quais são conhecidos por “códices”) revela as impressões de um
sistema que ensaiava os passos intermediários na direção de uma escrita
perfeita. A invasão espanhola frustrou a tentativa dos ameríndios nesse
sentido.” (ENCICLOPÉDIA CONHECER, 1972).
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Chineses
Figura 5 - escrita chinesa
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“enquanto nas línguas ocidentais o
alfabeto é formado por letras, com as quais se compõe palavras, o chinês possui
sinais gráficos chamados ideogramas. Ou seja, cada sinal exprime uma ideia ou
até uma frase inteira. Existem aproximadamente 60 mil ideograma comuns que
podem ser combinados de milhões de maneiras”. (ENCICLOPÉDIA CONHECER, 1972).
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Egípcios
Figura 6 - Hieróglifos egípcios
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“os sinais inspiravam-se na flora e na
fauna do país, bem como em instrumentos de trabalho. A princípio essa escrita
não passava de motivos gráficos desenhados artisticamente, reproduzindo o
real. Com o tempo, porém, o mesmo desenho adquiriu outros sentidos: simbólico
(designando abstrações: ações efetuadas pelo objeto ou ideias que evocava); fonético
(representando palavras de que o mesmo som participasse); silábico (usando-se
objetos expressos por palavras de uma sílaba para formar as polissilábicas);
e, por fim, e muito mais tarde – alfabético (vinte e quatro sinais passando a
representar letras)”.
(...)
“Os Hieróglifos (do grego, hieros = sagrado, e glyphein ou graphein = escrita) somente forma decifrados nos começos do
século XIX.”
(...)
“Os hieróglifos escreviam-se vertical
e horizontalmente; neste último caso, se os animais desenhados olhassem à
esquerda, a leitura deveria ser da direita para a esquerda e vice-versa. As palavras
não eram separadas; mas ao final de cada uma agregava-se um sinal
determinativo – como síntese do termo”.
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Quer
saber mais sobre escritas de povos diferentes? Consulte o site da FIOCRUZ.
Figura 7 - hieróglifos do templo de Karnac
Referências
CALENDÁRIOS dos mais e astecas. In: Enciclopédia Conhecer. Vol.
II, pg. 314. Editora Abril Cultural. São Paulo (1972).
CHINESES: 4 milênios de civilização. In: Enciclopédia Conhecer. Vol.
II, pg. 603. Editora Abril Cultural. São Paulo (1972).
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral.
8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 608.
DECIFRANDO Hieróglifos. In: Enciclopédia Conhecer. Vol.
III, pg. 542-3. Editora Abril Cultural. São Paulo (1972).
ESCRITA
cuneiforme. Wikipédia. Disponível
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escrita_cuneiforme. Acesso em: 15 fev. 2013.
GOOGLE
tradutor. Disponível em: http://translate.google.com.br/. Acesso em: 15 fev.
2013.
PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânia de Souza; CARVALHO, Yone
de. História da civilização ocidental.
2ª ed. São Paulo: FTD, 2005. P. 559.
SÉRGIO, Ricardo. Os Sistemas de Escritas.
Disponível em:http://www.recantodasletras.com.br/gramatica/370335. Acesso em:
11 fev. 2013.
Imagens
Escrita Chinesa. Disponível
em: http://www.invivo.fiocruz.br/media/chines.jpg. Acesso em: 15 fev. 2013.
Escrita cuneiforme em
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Da escrita pictográfica
à cuneiforme - evolução da escrita. Disponível em: http:/4.bp.blogspot.com/-RNI1BMk3Lmw/TnDcSJnFLyI/AAAAAAAABrI/7CYAsgFVLM0/s1600/3.jpg
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de Karnac. Disponível em: http:/4.bp.blogspot.com/_wf2ZhV4rG-Q/TEtHUt4AzRI/AAAAAAAAAQE/rm9qv9pvpsA/s1600/templo+de+karnac+hier%C3%B3glifos.jpg;.
Acesso em: 15 fev. 2013.