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domingo, 19 de janeiro de 2025

Nós – Evgeni Zamiátin – Resenha

 Por Eric Silva

18 de janeiro de 2025, ano do 13º aniversário do Blog

– E que última revolução é essa que você quer? Não há última, as revoluções são infinitas. Último é para as crianças: o infinito as assusta, e é imprescindível que as crianças durmam tranquilamente à noite...

(I-330, Nós, Evgeni Zamiátin).

Nota: todos os termos com números entre colchetes [1] possuem uma nota de rodapé sempre no final da postagem, logo após as mídias, prévias, banners ou postagens relacionadas. Diga-nos o que achou da resenha nos comentários.

Marco inaugural de um gênero literário, um universo ficcional originalíssimo e fonte de inspiração para a obra de autores famosos como Huxley, mas uma completa decepção para mim. Este é Nós, livro do escritor russo Evgeni Zamiátin.

Sinopse do enredo

Após a Guerra dos Duzentos Anos, o Estado Único saiu vitorioso e edificou uma nova sociedade, rigidamente controlada e matematicamente ordenada. As pessoas deixaram de constituir famílias, e os conceitos de pai e mãe foram completamente abolidos. As identidades e individualidades foram suprimidas, e os cidadãos passaram a ser “nomeados” de forma alfanumérica: uma letra seguida de três algarismos, como se fossem números de série. Na realidade, eles não se identificam mais como “pessoas”, mas como “números”, unidades menores e insignificantes de um “poderoso e único organismo” que vive de forma padronizada, executando suas atividades predefinidas de maneira sincronizada, conforme horários estabelecidos pela autoridade estatal.

Vivendo em uma redoma de vidro fosco chamada Muro Verde, esses números desconhecem o mundo para além de seus limites, pois a “vida nômade” foi completamente extinta. Habitando construções inteiramente feitas de vidro, desconhecem igualmente o conceito de privacidade. A atividade sexual é rigidamente regulamentada através dos chamados talões rosas, nos quais parceiros são pré-definidos e encontros são agendados com tempo limitado. Apenas nesses momentos o uso de cortinas é permitido, já que algum vestígio de pudor foi preservado pela nova ideologia.

O grandioso Estado Único é absoluto, e seu líder, o Grande Benfeitor, é venerado como uma figura divina. Ele é exaltado como um Deus terrível, cuja crueldade é apresentada como um ato de amor, pois lidera com firmeza a sociedade que, supostamente, descobriu a verdadeira felicidade e é sua missão preservá-la. Ordem, controle e padronização são as molas mestras do regime, diligentemente preservadas pelos milhares de olhos e ouvidos dos Guardiões.

O novo grande feito que o Estado Único está prestes a realizar é a conquista do espaço e de suas desconhecidas civilizações, que, segundo sua doutrina, necessitam ser iluminadas pela “felicidade matematicamente infalível” do Estado. Afinal, é dever do Estado Único “obrigá-los a serem felizes.” D-503 é o engenheiro responsável por construir a nave que cumprirá essa missão grandiosa: a Integral.

Entre as tarefas de D-503 está também a de registrar, na forma de um diário, relatos pessoais sobre como é viver na grandiosa sociedade comandada pelo Benfeitor. É através dessas anotações, repletas de exaltações matemáticas, filosóficas e até poéticas, que somos apresentados a todo esse universo. Contudo, é principalmente por meio delas que acompanhamos como D-503 começa a questionar suas convicções ao conhecer I-330, uma mulher estonteante e subversiva, que demonstra desprezo pelas regras do regime e ousa não apenas desafiá-lo, mas também cometer a ousadia de imaginar!

Sem perceber toda a trama que envolve essa mulher misteriosa e cheia de segredos, D-503 é arrastado por uma espiral de mudanças, questionamentos, dúvidas e rupturas que transformarão – talvez para sempre – a sua visão do único mundo que ele conhece e exalta.

Impressionante, não é? Ainda assim, este livro não conseguiu me cativar.

Resenha

Nosso encontro e minha queda: narração enfadonha, confusa e fragmentada

Há bastante tempo que eu queria ler Nós, principal obra do escritor russo Evgeni Zamiátin e grande marco na história de um dos gêneros literários mais queridos pelos leitores de ficção e espectadores de séries e filmes como Silo, O Conto da Aia, Snowpiercer e Admirável Mundo Novo: o gênero distópico. Mas esses não eram os motivos que me levavam a querer ler esta obra da literatura russa que, apesar de sua importância, ainda é pouco conhecida. Eu queria ler Nós porque o design gráfico da edição desenvolvida pela editora Aleph é tão absurdamente enigmático e sombrio em toda a sua simplicidade que aquele livro parecia me chamar para mergulhar nele e em seus mistérios, como um poço profundo e escuro que convida e quase traga quem ousa olhar para suas profundezas. A queda para mim, no entanto, foi fatal.

O que me impedia de ler esse livro era não tê-lo em mãos e nenhum tempo sobrando para manter minhas metas de leitura – a última vez que publiquei uma resenha foi em 2022 e escrever esta vem sendo um desafio enorme. No entanto, no ano passado me deparei com uma edição do PNLD Literário na biblioteca da escola onde trabalho e vi ali a oportunidade de cumprir a missão de ler este livro que tanto me chamava a atenção. Foram 93 dias de leitura entrecortada e, principalmente, enfadonha.

Nós é terrível de se ler! E não é por conta de ser um livro com um século de idade (1924), porque a tradução é bastante acessível em termos linguísticos e vocabulares. Nós é terrível porque sua narração é enfadonha, confusa e fragmentada.

O livro é narrado na forma de um diário, onde o protagonista relata os últimos acontecimentos vividos por ele enquanto dialoga com supostos seres alienígenas a quem destina seus escritos. Construtor da nave espacial Integral, que irá levar a ideologia do Estado Único para além das fronteiras planetárias, D-xxxx também é encarregado de escrever sobre si mesmo e sobre a maravilha que é o mundo matematicamente padronizado criado pelo Estado Único. Contudo, o narrador está completamente imerso na ideologia defendida pelas autoridades controladoras da sociedade em que vive. Ele não possui nenhuma referência do que significa viver sem ter suas atividades cotidianas padronizadas, predeterminadas e cronometradas de forma rígida e inalterável.

Ele não sabe o que é pensar por conta própria, imaginar alternativas à realidade existente ou sequer experimentar experiências banais como ser filho de alguém, ter uma fé religiosa, rebelar-se contra algo, desejar privacidade ou possuir individualidade. Nem mesmo a identidade conferida por um nome ele tem. D-503 é apenas uma sequência alfanumérica — toda a sua identidade como indivíduo. A ideologia do Estado Único é, antes de tudo, uma ideologia de despersonalização e desumanização em prol de um racionalismo exacerbado que vê na previsibilidade e na padronização matemática a única forma verdadeira de felicidade — aquela que reside no controle total dos sujeitos por meio do “privilégio da ignorância”, que nasce da ausência da necessidade de pensar por si mesmo.

Em nome dessa racionalização extremista, o Estado Único força todos os “números” a fazerem tarefas pré-definidas em horários pré-definidos, de forma coletiva, sincronizada, padronizada e mecânica, como engrenagens que sabem seu papel: girar em uma direção previamente definida, de forma sincrônica e harmoniosa, para que o todo funcione. O homem é transformado em máquina por uma ideologia mecanicista. E aqui está uma ironia de Zamiatin: o mecanicismo do século XVIII, que acreditava que o universo funcionava de forma mecânica e pré-definida, surgiu no auge do racionalismo histórico e científico.

Enfim, a despersonalização no universo ficcional de Nós é tão absurdamente profunda que os sujeitos não se veem como únicos, mas como a menor unidade de um coletivo, a tal ponto que se torna irracional utilizar o pronome pessoal “eu”; faz sentido apenas o uso do pronome “nós”, o que dá nome ao livro.

Crítica poderosa e um personagem desumanizado

Nessas questões que descrevi até então, Nós se torna uma obra filosófica poderosa, apresentando uma crítica política contundente e que que dialoga diretamente com os rumos tomados pela revolução na recém-criada URSS, onde o autor vivia e onde se sentia perseguido e censurado por determinados figurões da burocracia estatal. Contudo, as consequências para a narrativa são a morte do entretenimento e dificuldades para compreender o universo ficcional e os eventos que se desenrolam. Isso porque, se você tem um personagem despersonalizado e imerso em uma ideologia tão radicalmente “inatural” para o leitor, o resultado é um ponto de vista narrativo extremamente desafiador de assimilar e interpretar.

Enfim, Nós tem uma escrita muito diferente dos livros de ficção que costumo ler. Sua narração em primeira pessoa é bastante fragmentada, permeada por divagações filosófico-matemáticas e frases cheias de omissões e suspensões nunca havia visto tantas reticências em um único texto.

O narrador, o D-503, não busca ser objetivo na descrição dos fatos. Toda e qualquer situação que foge ao previsível e conhecido por ele recebe contornos tão nublados quanto essas mesmas situações são para ele: novas e até incompreensíveis. O narrador experimenta um turbilhão de sensações e sentimentos inéditos que lhe parecem tão estranhos e absurdos, que torna sua tentativa de pôr em palavras os fatos que vivencia um desafio hercúleo tanto para ele, “que escreve”, quanto para nós, leitores, que temos apenas sua narração como janela para antever o universo que ele descreve.

Por isso, tive dificuldade de engatar a leitura, de enxergar o que se escondia sob as muitas camadas de retórica, de compreender o que era a máquina do Benfeitor, a torre coletora ou mesmo que o governo do Estado Único se circunscrevia em um espaço territorial bastante limitado e hermeticamente fechado por muros de vidro fosco. Tudo em seu interior era igualmente feito de vidro, resistente como aço, porém transparente, garantindo a máxima vigilância sobre as ações e comportamentos de cada número. Câmeras não eram necessárias, pois as paredes de vidro permitiam que todos fossem vigiados e vigias ao mesmo tempo.

Por ser tão despersonalizado, D-503 só começa a se tornar uma pessoa à medida que interage com a rebelde e enigmática I-330, esta sim uma personagem dotada de ironia, humor negro, sensualidade e – como ela mesma diz – de imaginação. I-330 é rebelde por ser um sujeito dotado de personalidade e emoções, contradições e imprevisibilidade. Ela é um número irracional e imaginário, um √-1, infinito e não sequencial, um ser cíclico, nunca linear.

É ao se apaixonar por I-330 e se enredar em seus planos conspiratórios e subversivos que D-503 começa a se pintar de cores, revelando-se naturalmente egoísta, vacilante, possessivo, infantil, inconsequente e pouco confiável. D torna-se gente. E é ao se tornar gente que a narração passa a ser mais fluida, segura, coesa, clara e compreensível. O curioso é que o editor opta por mudar a fonte tipográfica nos capítulos onde essa mudança de fluidez estilística acontece, e retorna à fonte original quando ela é [ALERTA DE SPOILER] prematuramente abortada.

Por isso, meu amigo leitor, Nós só foi se tornar interessante para mim quando já estava acabando, o que explica, em parte, os 93 dias de leitura – o trabalho também me priva do tempo necessário para ler.

Conclusão

Enfim, uma obra importante, que inaugurou o gênero distópico, apresentando um cenário futurístico originalíssimo – depois que você começa a entendê-lo –, trazendo uma crítica política poderosa e marcante, que influenciou gerações de escritores, sendo a principal fonte de inspiração para Aldous Huxley ao escrever seu deslumbrante e icônico AdmirávelMundo Novo Huxley, de fato, incorpora diversas ideias centrais de Nós, adaptando-as para sua própria visão.

Foi, no entanto, para mim, uma trágica decepção. A narrativa desafiadora e a fragmentação estilística tornam a leitura cansativa, exigindo paciência e esforço para apreciar a genialidade que se esconde sob suas camadas densas de simbolismo e crítica. Ainda assim, recomendo veementemente a leitura, especialmente em uma época de crise da originalidade como a que vivemos no início deste novo milênio. E me desculpem a resenha superficial – estou enferrujado.

A edição lida é da Editora Aleph, com tradução de Gabriela Soares, do ano de 2021 e possui 344 páginas. Título original: Мы.

Sobre o autor

Ievguêni Zamiátin (1884–1937) foi um escritor, engenheiro naval e dramaturgo russo, amplamente reconhecido como o autor do romance distópico "Nós" (Мы), que é considerado uma das primeiras obras do gênero distópico moderno e uma influência direta em livros como 1984 de George Orwell e Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley.

Zamiátin morreu em 1937 em Paris, aos 53 anos, devido a problemas cardíacos. Seu exílio e morte em terras estrangeiras simbolizam a repressão enfrentada por muitos artistas e intelectuais que ousaram desafiar regimes autoritários.

Preview do Google Books

Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.

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domingo, 4 de outubro de 2020

[#MeusLivros] Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley – Resenha

Por Eric Silva

Dedicado à ex-professora de Inglês

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Está sem tempo para ler? Ouça a nossa resenha, basta clicar no play.

Edição de bolso que ganhei na aurora dos meus 18 anos de idade
 e que me acompanha até hoje.
Distópico e desolador, Admirável Mundo Novo foi o último livro a marcar minha adolescência deixando impressões que influenciaram meu pensamento político e social ainda no começo da minha vida adulta. Um romance sobre uma sociedade supertecnológica e consumista que aboliu a família, a religião e as relações duradoras em nome de uma felicidade programada e determinada pelo estado. Um livro cuja crítica social se torna cada vez mais atual apesar dos mais de setenta anos de escrito.

Confira a resenha.

Sinopse

Após uma guerra que revolucionaria a história da humanidade, a sociedade é inteiramente reorganizada entorno de um regime totalitário baseado em princípios científicos, com divisão social em castas e que prega a felicidade eterna. Nessa nova organização social de escala planetária, famílias e religiões forma abolidas tornando-se um mundo de pessoas biologicamente programadas em laboratório, e adestradas para cumprir um papel predeterminado na sociedade. Um mundo altamente tecnológico que proibiu a literatura e exalta o avanço da técnica e a uniformidade. Esse é o cenário de Admirável Mundo Novo, obra mais conhecida do escritor inglês Aldous Huxley publicado pela primeira vez em 1932.

Resenha

Eu e Admirável Mundo Novo

Ganhei esse livro de minha professora de Língua Inglesa já no final do último ano do Ensino Médio, como uma lembrança dos últimos três anos em que fui seu aluno. Ela, é claro, acertou em cheio em sua escolha, porque não há presente algum que me faça mais feliz do que ganhar um livro. É um tipo de presente que não me desfaço e que conservo com carinho. A prova disso é que os primeiros livros que ganhei na vida estão comigo há quase 22 anos.

Mas Admirável Mundo Novo significa muito mais do que uma lembrança carinhosa de alguém que admiro como ser humano e profissional docente, ele marcou um período de mudança para mim e se tornou uma importante referência no meu posicionamento crítico e político. Dentro da lista dos livros da Minha infância e adolescência, ele representa o último portal que atravessei antes de me tornar um leitor maduro.

Era dezembro de 2008, eu tinha 18 anos e o fim do ensino médio marcava para mim uma mudança profunda: o fim da vida escolar como eu a conhecia. Era o fim daquela rotina a qual estava acostumado desde os meus três anos de idade, e confesso que só não me sentia assustado com o que estaria por vir, porque sempre tive maturidade o suficiente para me manter equilibrado diante da mudança.

Sabia que o fim do período escolar marcava um momento em que se abriria para mim uma nova perspectiva: a vida adulta (que na verdade se iniciara um ano antes com o adoecimento de minha mãe) e também a vida acadêmica (que eu adiaria até meados do ano de 2010). De fato, um mundo novo de possibilidades e novas experiências me projetariam para além do universo e da rotina que eu conhecia até meus malformados 18 anos. O Eric CDF da escola daria lugar ao acadêmico, a um Eric mais crítico e fortemente ligado à ciência, à crítica social e à literatura como um todo. 

Como o protagonista do livro de Aldous Huxley, eu deixaria o mundo que conhecia para contemplar as maravilhas e os dissabores de outro, desconhecido. Por outro lado, também como ele, esse indivíduo que contemplaria e vivenciaria um mundo novo estaria de toda forma fortemente ligado e alicerçado no seu, no meu caso, o passado escolar, porque sou o que meus professores fizeram de mim, e eles são partes que compõem o meu todo.

Li Admirável Mundo Novo justamente nessa época, fazendo com que fosse o meu último livro desse período. Contudo sua influência vai além. A obra icônica de Huxley carrega em seu enredo uma crítica muito forte e contundente a uma sociedade que vive para o consumo e para a produção em massa. Uma sociedade alienada, baseada em um modo de vida alienante e de forte controle social, que é garantido mediante a inculcação de valores e ideias que reproduzem o status quo ao naturalizar a organização social hierarquizada e injusta, e que também reproduzia o conformismo e a submissão.

Admirável Mundo Novo é uma fabulosa crítica ao sistema capitalista bem como toda forma de autoritarismo seja ele de direita ou de esquerda, e, por isso, esse livro também se tornaria referência para mim em meus estudos acadêmicos.

Por conta destas coisas Admirável Mundo Novo é um livro que tem uma dupla importância para mim.

O Enredo e os Personagens Principais

No ano de 632 depois de Ford (2540 d.C.), muito séculos após A Guerra dos Nove Anos (141 d.F. – 2049 d.C.), o mundo e a sociedade como a conhecemos não existe mais. A sociedade humana alcançou o seu apogeu tornando-se ainda mais industrializada e voltada para o trabalho e o consumo, além de quase desprovida de humanidade.

Não existem mais pais ou filhos, maridos ou esposas, porque as crianças são produzidas, criadas e educadas em Centros de Incubação e Condicionamento como o de Londres Central, onde são também condicionadas e deformadas de acordo com sua posição social predefinida, duplicadas em grupo de dezenas de gêmeos para atender a demanda de mão de obra nas fábricas e condicionadas a não criarem vínculos afetivos duradouros. O amor e a paixão foram abolidos assim como as relações baseadas em compromisso.

Em nome de uma pretensa estabilidade a religião foi extinta, assim como as ciências humanas e a literatura, só os meios de comunicação de massa são permitidos e o acesso ao conhecimento é filtrado e restrito a uns poucos. A sociedade dividida em classes sociais foi substituída por uma comunidade organizada em castas (alfas, betas, gamas…), sem mobilidade social e definidas desde o nascimento. Da mesma forma é definida desde o nascimento a identidade individual e coletiva de cada indivíduo, condicionado a aceitar passivamente e alienadamente o seu lugar na sociedade.

Todos são sempre jovens e livres para ter tudo o que foram condicionados a desejar e, por isso, o isolamento, a castidade e a contemplação, mesmo que da natureza, são vistos como comportamentos estranhos e inadequados, atitudes antissociais e reprimíveis. Toda essa forma de pensar é inculcada e reproduzida constantemente através da repetição de uma ideologia que prega uma mentalidade e uma felicidade quase que infantil, que exalta o novo sobre o velho e a superficialidade das relações. A vida se resume a trabalhar e ser produtivo, consumir e descartar e, enfim, entregar-se aos prazeres proporcionado pelo sexo livre e sem compromisso, pelas drogas e pelas atividades de lazer em grupo, mas que envolvam algum tipo de consumo. E para àqueles que por algum erro no processo de “fabricação” ou de condicionamento não conseguem se encaixar nesse modelo de sociedade resta o exílio em alguma ilha isolada em algum lugar do globo.

Em resumo, essa é a sociedade distópica a que somos apresentados por Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo. Uma sociedade criada e organizada por um Estado Mundial que tem como lema: COMUNIDADE, IDENTIDADE, ESTABILIDADE. Estabilidade essa que é forjada a partir de um controle social rígido, legitimado e inescapável e do consumo regular do soma, uma droga psicodélica capaz de afastar os anseios e sentimentos negativos através de uma fuga da realidade.

Ao longo dos três capítulos que iniciam a obra somos apresentados a forma como esse novo mundo se apresenta e é organizado. Acompanhando uma visita técnica de estudantes alfas – a casta superior na hierarquia social, formada basicamente por cientistas e dirigentes ao Centros de Incubação e Condicionamento de Londres Central, o narrador de Aldous vai descortinando a tessitura[1] social sustentado pelo Estado Mundial bem como história que levou a sociedade humana desprezar toda a sua cultura e natureza biológica para criar outra sociedade, uma que fosse “feliz”.

Porém sob a capa da pretensa felicidade, comunhão e estabilidade entre os povos mundiais existem aqueles que não conseguem se encaixar completamente dentro da sociedade e se sentem sempre deslocados e incompletos. O enredo de Admirável Mundo Novo gira entorno principalmente de três destes deslocados: Bernard, Helmholtz e Jhon.

Psicólogo da casta dos alfas, Bernard é um dos poucos em Londres que tem consciência da futilidade e promiscuidade das relações, além disso ele se sente diferente dos demais de sua casta porque possui um físico acanhado e muito parecido com o comum entre os indivíduos das castas inferiores, o que o irrita e diminui seu sucesso com as mulheres. Por conta destas inadequações, o psicólogo evita bastante a interação social com seus colegas de trabalho e nutre uma certa paixão por Lenina, uma das funcionárias do Centro de Incubação. Por outro lado, as atitudes “antissociais” de Bernard fazem com que gradativamente ele vá sendo evitado, desprezado e considerado como estranho por seus pares.

Por sua vez, Helmholtz é o justo contrário de seu amigo Bernard. Porém, mesmo sendo socialmente muito requisitado e um competente e promissor “Engenheiro em Emoção”, Helmholtz se sentia tolhido em uma sociedade tão carregada de superficialidade e tão desprovida de conteúdo. Decepcionava-o a falta de significado em tudo o que fazia como engenheiro (escrever para rádios, compor cenários para filmes sensíveis e criar slogans e versinhos hipnopédicos) e ansiava por algo que não sabia descrever ao certo o que era.

Por fim, temos John, ou o Selvagem, como seria chamado posteriormente. John é o principal personagem da trama de Aldous – apesar de só aparecer a partir do capítulo 7 – e o mais deslocado dos três, por ser o único que não havia nascido e sido criado dentro da sociedade controlada pelo Estado mundial.

John era filho de Linda, uma beta que acidentalmente se perdeu em uma reserva indígena durante uma viagem de turismo. Lá ela deu à luz a uma criança do último homem com quem se relacionara antes de se perder, e, por conta da vergonha de ter se tornado mãe, é forçada a viver entre os índios. Contudo as reservas indígenas eram os únicos recantos do mundo onde ainda se era permitido viver como séculos atrás, e impedidos de se adequar as gritantes diferenças culturais entre Linda e os indígenas, mãe e filho foram durante muitos anos desprezados e excluídos socialmente pela tribo até que são resgatados por Bernard e Lenina e levados de volta para Londres.

Em Londres John passa a conhecer aquele mundo novo que só conhecia das histórias contadas pela mãe, e começa a sentir o forte choque cultural que essa aproximação lhe impõe, sobretudo quando se descobre apaixonado pela fútil e sedutora Lenina. Ele era muito ligado às tradições e aos costumes da reserva, e com a forte influência dos livros de Shakespeare, ele era incapaz de compreender a futilidade, a licenciosidade e a superficialidade daquele modo de viver. Era incapaz de entender que seu sentimento por Lenina jamais seria correspondido da mesma maneira, porque o amor sublime, por vezes platônico e capaz de sacrifícios inimagináveis, simplesmente não existia na realidade em que ela vivia, e da qual fazia parte. Ela não conhecia essas coisas e era incapaz de compreendê-lo, e ele, a ela.

Quando pesamos o quanto John e sua mãe eram considerados indesejáveis na Reserva e toda a sua relutância em aderir ao modo de viver e de pensar do Outro Lado, concluímos que ele não pertencia a nenhum dos dois mundos, nem ao da reserva, nem a da sociedade condicionada a qual pertencia Lenina, e por isso estava ainda mais deslocado e irremediavelmente perdido.

Outros personagens importantes na trama são: a própria Lenina Crowne, que como todas as moças de seu tempo era uma mulher superficial e pouco inclinada a compreender as excentricidades de Bernard e John; o rígido Diretor do Centro de Incubação de Londres, Thomas “Tomakin”, e o Administrador Mundial, Mustafá Mond, principal dirigente da sociedade londrina e inglesa e notadamente o homem mais culto da trama.

Controle total: totalitarismo como tema principal

Admirável mundo Novo é um livro de ficção científica, mas é também uma distopia moderna. O principal tema deste livro é o totalitarismo, um totalitarismo que passa a controlar não apenas a ideologia e o comportamento das pessoas, como também, através do condicionamento e do soma, o seu nascimento, suas preferências e seu lugar no mundo. Um controle total e quase inescapável, tanto onipresente (uma vez que todos dentro da sociedade se tornam vigilantes em relação aos comportamentos uns dos outros) como onipotente (já que o sistema direciona todos os aspectos da vida dos indivíduos). 

É muito claro na narrativa que o principal objetivo de Aldous é, ao mesmo tempo que critica o autoritarismo, demonstrar o destino para o qual a sociedade humana está caminhando: uma sociedade de supercontrole, consumista, superficial e da fugacidade.

Objetivando alcançar uma felicidade absoluta e incontestável a sociedade de Admirável Mundo Novo caminha para uma ditadura totalitária e de controle total. Para a filósofa política alemã Hannah Arendt, o totalitarismo tem de específico “a dominação permanente de todos os indivíduos em toda e qualquer esfera da vida[2], ou seja, exatamente o que é feito pela sociedade imaginada por Huxley.

As “medidas biopolíticas de administração da vida[3] existem e são aplicadas pelo Governo Mundial visando garantir o controle total sobre os indivíduos e seus corpos. A manipulação genética é utilizada para selecionar e agrupar os indivíduos, separando-os pelas potencialidades e cerceando por completo a liberdade de escolha; a propaganda ideológica serve à disseminação da obediência e da visão ideológica do sistema, naturalizando-as; a hipnopedia é empregada nas crianças para incutir a aceitação e o conformismo, ampliando as possibilidades de dominação absoluta na fase adulta – a mais complicada das fases; o soma existe como droga capaz de entorpecer os desejos e inconformismo, alienador químico, possibilidade de fuga controlada; a proibição da literatura para que ideias contrárias ao sistema e seus valores não sejam propagadas, bem como impedir o desenvolvimento da criticidade dos sujeitos para que eles não enxerguem como prisioneiros do sistema; e, por fim, o monitoramento constante dos comportamentos que desestimula a solidão e a exclusividade para que os próprios indivíduos se tornem vigilantes e vigiados, uma vigilância eterna, ininterrupta e sem rosto definido. Uma vigilância sem necessidade de câmeras.

Enfim, o que se vê em Admirável Mundo Novo é uma sociedade de controle total da vida, no qual cada aspecto do indivíduo (profissional, emocional, comportamental, amoroso, religioso e intelectual) é moldado a pensar e agir conforme a programação do regime.

Mas além de totalitária a sociedade de Admirável Mundo Novo é também utilitarista, forjada para o consumo e para uma vida emocionalmente fácil.

Tudo e cada coisa é medida e dado valor pela utilidade no tocante a torná-los felizes. Mesmo o corpo e o sexo deve ter essa utilidade, deixando de ser espaço individual e privado. Por outro lado, para sustentar o próprio sistema o consumo se torna essencial para que a economia esteja sempre em movimento. Consumista, a sociedade de Huxley se torna também do descarte, porque o que não é novo, o que não é tendência deve ser descartado eliminado, trocado, alimentando o consumismo irresponsável, despreocupado.

Se não bastasse, não há por que se preocupar com os laços por que eles não existem. Nesta sociedade vínculos familiares, de amizade e de amor inexistem. O primeiro é considerado uma aberração, um ato vergonhoso e quase criminoso. Os dois últimos são desestimulados para que se evite os excessos, os sentimentos de posse e de ciúmes. A felicidade pensada para essa sociedade é uma felicidade encontrada no descompromisso, caminho que, se pensarmos, já vem sendo seguido, sobretudo pelos mais jovens que buscam relações cada vez mais líquidas e descompromissadas. Contudo, a sociedade do livro de Huxley elimina completamente essas relações e as cercam de tabus.

Fico imaginando se não deveria ser solitário e vazio não se ter uma origem, não se ter pais ou família, viver com a certeza que será sempre só você e as pessoas que, transitoriamente, passarão por sua vida sem, no entanto, deixarem impressões profundas, sem que haja permanência e continuidade nessas relações tão somente marcadas pela realização dos desejos mais urgentes e efêmeros. Admirável Mundo Novo é, parafraseando Saramago, um ensaio sobre a efemeridade e a superficialidade. Ali tudo é efêmero ou superficial: a vida, os sentimentos, as relações, a utilidade das coisas. Acho que por isso mesmo houve a necessidade por aquela sociedade de adotar o consumo em massa de uma droga que fosse capaz de preencher as lacunas deixadas por essas coisas, por essas ausências, efemeridades e superficialidades que em nada combina com a natureza intensa e complexa do ser humano.

Contraditoriamente, a sociedade imaginada para o livro exalta a “comunidade”, o “fazer junto”, o “nunca estar só ou isolado” e o “compartilhar-se” literalmente. Todavia o resultado que essa exigência de comunidade produz no leitor é um sentimento de solidão inexpugnável, porque na verdade todos ali estão e sempre foram sós. Tudo no mundo daqueles personagens é vazio de conteúdo e profundidade, mas eles não são capazes de percebê-lo. O regime não o permitem ver.

Sátira da sociedade capitalista, consumista e utilitarista, em Admirável Mundo Novo Huxley faz sua crítica a sociedade capitalista moderna cada vez mais vazia de sentido em si. Tão acríticos quanto os personagens de sua trama, nós, a sociedade do consumismo e da liquidez, não vemos o vazio de nossas existências regidas pelo consumo do supérfluo e pelo desejo do que é inútil, vazio, entorpecente e alienante. A organização mundial da economia e a indústria cultural nos oferece o seu soma e como ovelhas lobotomizadas os seguimos sem refletir a essência das coisas. Nada é coletivo, mas é de massa. Os que por acaso se desviam deste caminho predefinido – semelhante ao que acontece no livro de Huxley – são acusados de desajustamento e sofrem preconceito, hostilidade ou são alvos de piadas.

Cheio de referências

Um dos livros mais importantes de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo (Brave New World) foi escrito em 1931, mas só foi publicado no ano seguinte pela Chatto & Windus. O título é inspirado em uma passagem do livro A Tempestade (Ato V), de William Shakespeare, mas funciona dentro da trama como um jogo de palavras, uma vez que para John o mundo moderno e ultratecnológico de Admirável Mundo Novo é uma realidade nova e desconhecida. Contudo, o livro é ainda cheio de outras referências à obra de Shakespeare, bem como de várias personalidades importantes que influenciaram profundamente a ciência e a história recente da humanidade. As principais dessas referências são a Henry Ford, Sigmund Freud e Thomas Malthus.

Em uma sociedade extremamente industrializada em que até a fecundação e o nascimento dos indivíduos se dá como em uma linha de produção fabril, Henry Ford, mundialmente conhecido pela criação da Linha de Montagem, acaba por se tornar uma figura messiânica[4] dentro do mundo controlado pelo Estado Mundial. Ele é mencionado e exaltado a todo momento pelos personagens da trama. Não apenas seu nome como também algumas de suas ideias são mencionadas e configurando-se quase como um Deus, a referência a Ford substitui na trama até a tão conhecida expressão inglesa “my God” por “our Ford”, e a cruz, símbolo máximo do cristianismo, pelo “T”, nome do primeiro modelo de carro confeccionado pela empresa de Ford.

No caso de Freud o destaque é bem menor e por vezes citado no lugar de Henry Ford. Por sua vez, quanto a Thomas Malthus, economista britânico que via o crescimento da população como a causa da pobreza no mundo, a referência é bem mais sutil e relacionada aos métodos contraceptivos adotados pelas mulheres que podem reproduzir. Por fim, Shakespeare é outra grande referência na obra que cita através das falas de John – um dos poucos a ter tido contato com alguma obra de literatura – grandes passagens de obras como Macbeth, A Tempestade, Romeu e Julieta, Hamlet, Rei Lear, Sonho de uma Noite de Verão, Medida por Medida e Otelo.

Sobre a estética literária

Admirável Mundo Novo é dividido em 18 capítulos sem títulos e sem que haja grandes ganchos entre eles. Não há suspense ou grandes reviravoltas em grande parte de sua narrativa, mas Huxley garante a atenção do seu leitor pelo deslumbramento causado por um mundo absurdo, onde certamente não conseguiríamos nos encaixar facilmente. E é por ser absurdo um mundo sem pais, filhos, amor ou religião que o livro de Huxley causa em seus leitores mais sensíveis um sentimento de desolação e desesperança.

Apesar de escrito há quase 89 anos atrás a escrita de Huxley nesse livro é muito fluida e de fácil compreensão o que e aliado a tradução de Lino Vallandro ajudou bastante para o entendimento de todo o universo distópico e muito singular imaginado pelo autor.

O narrador deste livro é onisciente[5] e bastante complexo, ora mostrando distanciamento da narrativa ora “deixando marcas das suas impressões” como atesta Nelson Samuel Porto Veratti. Na sua narração, muitas vezes crítica, irônica e até desdenhosa, como a caracteriza o autor supracitado, o narrador permite que os pensamentos dos personagens se misturem à sua fala indo no íntimo das convicções e dos pensamentos alheios, sem, no entanto, acatá-los, por isso, Veratti o classifica como um “entre aqueles que não se deixam iludir pelas aparências” daquele mundo novo.

O que mais gosto nessa narrativa é sua crítica social ao totalitarismo, à sociedade do consumo, à superficialidade e à banalidade das relações do mundo dito pós-moderno. É quase uma aula de Zygmunt Bauman. Porém, o livro tem também seus pontos fracos e o principal deles é a lentidão do seu desenvolvimento. Contudo, esse foi um mal necessário sem o qual não conheceríamos e compreenderíamos a fundo nem o mundo criado para o livro nem as pretensões do autor ao escrevê-lo.

Notas finais: a atualidade de um livro complexo e fascinante

Admirável Mundo Novo foi escrito numa época na qual grande parte de seus avanços tecnológicos ainda se encontravam no campo do vir a ser, do pode vir a ser. O capitalismo financeiro e industrial se encontrava instalado e passava primeira de suas mais profundas crises, a grande depressão. O tom da obra transmite o pessimismo daqueles dias sombrios, nos quais as nações capitalistas viviam anos de profunda recessão econômica e desemprego crescente, regimes totalitários emergiam na Europa e as circunstâncias preparavam o terreno para uma segunda guerra mundial que eclodiria em set de 1939.

O profundo pessimismo de Huxley que não oferece saída a seus personagens reflete a própria atmosfera de um período no qual o futuro era incerto e as circunstâncias adversas, por isso esse tom carregado de desalento domina o livro. Mas em grande parte, para a sociedade da década de 30, Admirável Mundo Novo não fez tanto sentido quanto ele faz nos dias atuais de um capitalismo globalizado, de grandes avanços científicos e tecnológicos de uma sociedade liquida e consumista e com uma população mundial de 7,5 bilhões de pessoas (na década de 30 éramos pouco mais de 2 bilhões).

Parecemo-nos muito mais com a sociedade de Admirável Mundo Novo do que há 89 anos, quando instituições como a família e religião eram sólidas e as relações, duradoras. O consumo se encontrava limitado pelas circunstâncias dos anos difíceis, mas em anos anteriores, sobretudo nos EUA, havia ocorrido um crescimento exponencial do consumo por conta da busca incessante dos estadunidenses por manter o American way of life[6] (o estilo americano de vida) e concretizar o tão sonhado American Dream[7] (o sonho americano).

Por se parecer tanto com nossa sociedade é que Admirável Mundo Novo pode ser considerado visionário e fazer mais sentido hoje do que na época em que foi escrito. Com uma clareza impressionante o pesquisador Nelson Samuel Porto Veratti expõe a atualidade do livro de Huxley quando afirma que:

 “A passividade e a cooptação que caracterizam as personagens huxleyanas também estão presentes na massa acrítica do mundo atual, muitas vezes sedada por tranquilizantes (Soma), distraída por superficialidades sensoriais (cinema sensível e música sintética), conduzida pelo aboio ideológico capitalista (consumismo desenfreado), seduzida pela busca da felicidade a qualquer preço (hedonismo e ecstasy), privada das instâncias libertadoras (escasso incentivo à leitura e à reflexão) e infantilizada pela intolerância à frustração (liberdade sem responsabilidade), entre outras coisas

Enfim, a ideia do livro de Huxley não é só criativa como avançadíssima para a época em que a obra fora escrita. O autor antevê avanços como a inseminação artificial e a clonagem que só se tornariam possíveis muitas décadas depois. Além disso, o consumismo retratado na narrativa é um tema cada vez mais atual e próximo da forma como se dá na trama: ilimitado, superestimulado e inconsciente. Em muitos aspectos, como expõem Veratti, nos encontramos perigosamente próximos de um mundo admiravelmente novo.

O desfecho é inusitado, bastante realista e pessimista, mas bastante condizente com o caráter desapaixonado de seu narrador e de toda a narrativa, bem como com a insanidade daquele mundo. [ALERTA DE SPOILER SOBRE O DESFECHO]. Não havia ali possibilidade de um final romântico ou ingênuo, mas só da realidade crua e bruta de quando somos incapazes de nos encaixar e possibilidades de solução nos faltam. Aos personagens que conseguem vislumbrar algo para além do que o controle social lhe permite resta apenas duas opções:  ou aceitar o que é posto e aderir a ele, ou ir para o extremo contrário e abandonar tudo, pois não é a eles permitido transformar a realidade ao sabor dos próprios desejos ou convicções. Uma realidade inescapável tão não só pela morte.

Enfim, um livro crítico, atual, possível e desapaixonadamente marcante.

A edição lida é da Editora Globo, do ano de 2003 e possui 318 páginas. Abaixo você pode conferir uma prévia do livro em outra edição que se encontra disponível no Google Books.

Sobre o autor

Escritor inglês, Aldous Leonard Huxley nasceu em Godalming, no dia 26 de julho de 1894. Estudou no Balliol College, em Oxford e graduou-se em inglês em 1916.

Huxley é mundialmente conhecido pelos seus romances e ensaios.

Seus primeiros poemas foram publicados em 1916. Quatro anos depois lançou mais duas obras. Só em 1921 chegou a publicar seu primeiro livro de crítica social, "Crome Yellow", ainda sem tradução no Brasil.

Atuou como crítico literário e teatral e escreveu artigos para várias revistas. Foi editor da revista Oxford Poetry e publicou contos, poesias, literatura de viagem e roteiros de filmes.

A partir da década de 50, tornou-se um entusiasta do uso responsável do LSD, fazendo ele mesmo uso do alucinógeno. Em 1960, Huxley foi diagnosticado com câncer de laringe e faleceu em Los Angeles no dia 22 de novembro de 1963.

Prévia do Google Books



[1]Modo como estão interligadas as partes de um todo; organização, contextura

[2]ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989

[3]Nelson Samuel Porto Veratti.

[4]https://pt.wikipedia.org/wiki/Admirável_Mundo_Novo

[5]Segundo Ana Paula de Araújo é quando o narrador “sabe de tudo. Há vários tipos de narrador onisciente, mas podemos dizer que são chamados assim porque conhecem todos os aspectos da história e de seus personagens. Pode por exemplo descrever sentimentos e pensamentos das personagens, assim como pode descrever coisas que acontecem em dois locais ao mesmo tempo”. (Infoescola).

[6]O Sonho Americano (em inglês: American Dream) é um ethos nacional dos Estados Unidos, uma variedade de ideais de liberdade inclui a chance para o sucesso e prosperidade, maior mobilidade social para as famílias e crianças, alcançada através de trabalho duro em uma sociedade sem obstáculos. (Wikipédia).

[7]O American way (em português, '‘jeito ou estilo americano’') ou American way of life ('estilo americano de vida’') é a expressão aplicada a um estilo de vida que funcionaria como referência de autoimagem para a maioria dos habitantes dos Estados Unidos da América. Seria uma modalidade comportamento dominante e expressão do ethos nacionalista desenvolvido a partir do século XVIII, cuja base é a crença nos direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade, como direitos inalienáveis de todos americanos, nos termos da Declaração de Independência. Pode-se relacionar o American way com o American Dream. (Wikipédia).


domingo, 24 de maio de 2020

Contos Fantásticos de Avós Extraordinários – Ana Lúcia Merege – Resenha


Por Eric Silva
24 de abril de 2020

Nota: todos os termos com números entre colchetes [1] possuem uma nota de rodapé sempre no final da postagem, logo após as mídias, prévias, banners ou postagens relacionadas.

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Realização com pareceria do Instituto Pegaí Leitura Grátis, a coletânea Contos Fantásticos de Avós Extraordinários é mais uma das obras delicadas, singelas e muito bem escritas da escritora fluminense Ana Lúcia Merege que neste livro dá destaque à sabedoria, afetividade e experiências de personagens da terceira idade, pertencentes aos universos ficcionais criados pela autora.

Confira a resenha.

Sinopse do enredo

Contos Fantásticos de Avós Extraordinários é uma pequena coletânea de contos publicados com apoio do Instituto Pegaí e que, segundo prefácio da autora, faz parte de um projeto mais amplo denominado Heróis de prata. Nesse projeto a autora escreve uma série de contos de fantasia e ficção científica que daria destaque, nas palavras da própria Merege, a “protagonistas idosos ou, pelo menos, bem maduros, cuja experiência e amplitude de visão são determinantes para a resolução da trama”. Nesse primeiro livro há um destaque para a relação entre esses personagens e seus netos, com os quais contracenam.

Nos dois primeiros contos temos narrativas inspiradas no universo ficcional de fantasia medieval de Athelgard, principal cenário das obras da autora, enquanto os demais situam-se em outros dois universos criados por ela, o último deles compartilhado com o escritor Luiz Felipe Vasques.

Intitulado O espetáculo não pode parar, o primeiro conto é narrado em primeira pessoa e conta algumas das memórias de Zemel, um saltimbanco que se recorda de seu avô com quem aprendeu o ofício, além de relatar os desafios enfrentados por sua família para ganhar o sustento após seu avô sofrer um acidente. Em suas memórias de infância, Zemel conta como o acidente de seu avô, ocorrido durante um dos pequenos espetáculos que os dois faziam juntos, o deixou traumatizado e de como com sapiência o velho saltimbanco não permitiu que o amor do neto pela arte circense morresse.




O segundo conto, O eterno retorno, traz de volta a menina Anna e sua avó, a elfa Kyara, dois importantes personagens de outro livro infantojuvenil de Merege, Anna e a Trilha Secreta, publicado em 2015. Neste conto, Anna tem apenas nove anos e vive feliz com a avó que está ensinando-a a caçar. Contudo a menina, que possui mais sangue humano do que élfico, está cada vez mais curiosa sobre seu povo e pressiona para saber mais sobre o passado da avó, uma história dolorosa que Kyara receia revisitar.

Em De amor e eternidade, Merege revisita a série Contos da Clepsidra, ambientada na cidade de Cartago, no século III, e que em como protagonista o capitão fenício Balthazar de Tiro. Nesta narrativa, Balthazar, já envelhecido, vive com a família de um dos seus ex-tripulantes, família que o capitão adotou como sua e cujo futuro o preocupa bastante. Como de costume ele brinca com suas netas e lhes conta suas aventuras mágicas de viagens no tempo ao lado de outro dos tripulantes do seu navio, Lísias, o que faz emergir lembranças boas e tristes e preocupações relacionadas ao futuro.

Por fim, A era de Leonte, é um conto no estilo space opera[1] baseado no universo ficcional de Medistelara, “no qual as civilizações do antigo Mediterrâneo são transportadas para o espaço”, com destaque neste conto para os fenícios espaciais, os ken’amis, e sua Liga Mercantil, e para os heládicos[2], que na narrativa são donos de uma corporação de mineração chamada Caríbdes, que iniciou uma exploração de um valioso mineral no planeta Carsis.

Nesta narrativa, Merege conta uma história da personagem Elyssa de Quartag e seu neto adolescente, Hanno, um aprendiz de piloto. Elyssa vai ao distante planeta Carsis representando a poderosa Liga Mercantil para firmar um acordo de compensação financeira e comercial com os heládicos após estes começarem a exploração de minério no planeta. Ali, avó e neto percebem uma situação de exploração da mão de obra barata local, e a história encontra uma reviravolta inesperada por conta de uma especial movimentação de astros.

Resenha

Ana Lúcia é uma autora brasileira que venho acompanhando desde 2016, quando fiz a resenha de seu livro O Castelo das Águias. De 2016 para cá, já resenhei outras três obras da autora e um quarto livro no qual foi organizadora ao lado de Eduardo Kasse, autor da série Tempos de Sangue.

No início de 2019, ela me enviou Contos Fantásticos de Avós Extraordinários para que eu conhecesse seu último trabalho. Contudo, aquele ano foi tão difícil e conturbado para mim que acabei abandonando todas as atividades do blog e também a maioria das minhas leituras. Aquele também foi o ano que menos li.

Com o período de quarentena devido ao Covid-19, retomei minhas leituras, o blog e me recordei desse livro e, por isso, resolvi resenhá-lo, antes que minha rotina voltasse a ficar insana.

Contos Fantásticos de Avós Extraordinários é uma coletânea pequena, contando com apenas quatro contos que giram entorno de uma mesma temática: narrativas de aventuras (contos 2 e 4) ou de momentos cotidianos (contos 1 e 3) vividos por avós e netos e que levam esses últimos a beberem das experiências e sapiência de seus avós.

É uma obra infantojuvenil, mas sensível e madura, e que pode agradar outras faixas etárias pela qualidade da escrita da autora e de algumas narrativas que não são particularmente tão infantis.

Como é de seu costume, Merege utiliza novamente suas narrativas para trazer aos leitores mirins algumas lições de vida e, dessa vez, inova por dar destaque a um grupo etário que na sociedade moderna tem enfrentado um visível declínio de importância atribuída.

Serei mais claro.

Nesta sociedade de tantos avanços tecnológicos, de imediatismo exacerbado e de pragmatismo proeminente, a terceira idade vem sendo constantemente tratada como um estorvo para suas famílias, e visivelmente perdem importância no papel de matriarcas e patriarcas, de chefes de família, para os mais jovens. Em grande parte, esse grupo etário passa a ser visto, preconceituosamente, como ultrapassado e incapaz de ser útil numa sociedade tecnológica muito diferente da realidade vivida outrora pelos mesmos. Por conta desse fator, a importância que no passado era atribuída aos mesmos entra em declínio. Por outro lado, em relação a importância adquirida pelos mesmos em termo de vivências e experiências, essa não pode ser diminuída.

Com este pequeno livro, Merege vem com o claro objetivo de mostrar a importância desses personagens mais velhos e falar dos impactos que a relação que se estabelece entre netos e avós tem para a formação do caráter das novas gerações. Sendo ele um livro voltado para crianças de 10 a 12 anos, Merege busca estimular um novo olhar nos pequenos para as gerações que os antecederam. Um olhar de respeito e de admiração.

O livro é escrito por Merege com sua linguagem costumeira que busca um meio termo entre um vocabulário culto e uma linguagem simplificada, e como sempre, a autora mostra que ainda é uma grande contadora de histórias. Esse seu estilo fica bastante proeminente no primeiro conto da série, no qual a autora nos traz um narrador jovem, mas maduro e sensível, de olhar observador e inteligente, e com ele escreve um texto com uma escrita imersiva e gostosa de ler.

Já disse em outras oportunidades que o ponto que me conquistou nas obras de Merege foi a sua escrita impecável, tecida com esmero e, por que não, com amor. Mesmo quando se trata de uma narrativa que eu goste menos, sou tão fascinado pela forma como ela escreve que me esqueço do resto. Além disso, a temática medieval me agrada bastante, sobretudo quando a autora foca no cotidiano medievo, como é o caso do conto O espetáculo não pode parar e do meu livro preferido de Merege, O Caçador.

Como um bibliomaníaco nerd e otaku ligado em História, em vida cotidiana e em cultura nacional e internacional, sou fã de narrativas ambientadas em cenários medievais, de slice-of-life (histórias centradas no dia a dia de pessoas comuns) e de obras artísticas que mostrem a riqueza cultural de uma época ou lugar. O espetáculo não pode parar me conquistou por esses elementos ao apresentar um personagem criança no limiar de adquirir a maturidade adulta, pertencente a um universo medievo, e cujo espírito, ainda jovem, foi forjado nas dificuldades de uma vida nômade e paupérrima. Trata-se do conto mais adulto da obra e que me lembrou da força do livro O Caçador.

Zemel, protagonista do conto, é ainda menino e junto com sua família vive migrando de cidade em cidade, o pai e o tio oferecendo seus serviços de ferreiro e de paneleiro, respectivamente, e o avó e o neto, fazendo pequenos espetáculos de saltimbancos para entreter camponeses e vilões[3] das povoações por onde passavam.

Contudo, a narrativa se dá quando o avô de Zemel sofre um acidente durante uma dessas apresentações e as coisas ficam mais difíceis para a família. Se não bastasse, o menino fica traumatizado com o ocorrido e tenta abandonar as artes circenses, em um momento crítico, no qual seu trabalho também é importante para a sobrevivência de todos. Nesse cenário, Thiers de Pwilrie, o avô da criança, tem que usar de inteligência, paciência e força de vontade para demover o neto e ao mesmo tempo garantir o pão. É um texto que traz uma lição de vida importante e que agrega muito do que gosto nesse tipo de literatura: drama, personagens realistas e vida cotidiana e cultural medieval.

Numa linha similar, ainda que fale de elfos, O eterno retorno foi também um conto que me agradou, um pouco menos do que o primeiro, mas que me fez recordar de narrativas anteriores envolvendo os mesmos personagens.

Uma das narrativas ambientadas na Floresta dos Teixos
Nas histórias envolvendo as tribos élficas da Floresta dos Teixos, Merege costuma nos mergulhar em cenários muito bonitos de florestas e bosques, e desde pequeno tenho particular fascínio por florestas, o que se consolidou com minha formação em Geografia. Por seu turno, esses contos e novelas sobre a infância da protagonista de O Castelo das Águias nos proporciona o contato com esses cenários. Além disso, Merege dá a estas narrativas povoadas por espíritos guardiões e xamãs uma pegada um tanto indígena que faz do seu trabalho bastante original ao somar fantasia e crenças similares às dos indígenas norte-americanos.

O tema de O eterno retorno é também bastante maduro. Na verdade, todo o livro se encontra nesse limiar entre uma obra para crianças e um tom de histórias mais sérias, e acredito que esse tom emana do peso da maturidade de seus protagonistas adultos. Neste conto em particular, Merege falam de dores do passado, e de forma meio velada remota às histórias de amores familiares marcados pela tragédia. Contudo, a autora não entra em todos os detalhes do que ocorreu no passado da protagonista Kyara, porque se trata de uma narrativa retirada de uma história maior que compõe os livros da série Athelgard.

Mesmo para quem não acompanha a obra da autora, o conto ainda assim fará sentido, porque Merege dá todos os elementos necessários para que ele seja lido de forma independente, mas tudo ali faz alusão a uma história mais ampla do qual nos foi permitido ver só uma parte. Isso me lembra, inclusive, que tenho que ler as duas obras de continuação de O Castelo das Águias.

Os contos seguintes foram os que menos me agradaram, ainda que eles tenham muita qualidade e, por isso, não me demorarei neles.

O terceiro conto, De amor e eternidade, traz um personagem de Merege com o qual eu ainda não tinha tido contato, o capitão fenício Balthazar. O conto é baseado em memórias do capitão que ele narra para duas de suas netas a fim de entretê-las.

Por conta dessa sua natureza de narrativa de memórias, é o conto, que na minha opinião, ficou mais deslocado, porque faz muitas referências às outras histórias escritas ou imaginadas pela autora. Merege novamente toma cuidado para fazer todas essas referências compreensíveis ao leitor e não prejudicar a leitura de quem não leu as aventuras da mocidade de Balthazar. Não obstante, o conto tem todo os elementos de um spin-off[4] e por conta disso, a sensação que o conto me deu foi de um leve deslocamento.  Acho que não tive essa mesma sensação com o segundo conto da coletânea tanto pelos motivos já citados, como também porque acompanho a trajetória da personagem Anna desde 2016.

Por sua vez, o último conto da série é um space-opera que se passa em um planeta ainda pouco conhecido e que possui um povo espiritualizado, singular e exótico em um contexto que me fez lembrar um pouco do filme Avatar e um pouco do livro A Chegada a Darkover, da autora estadunidense, Marion Zimmer Bradley.

A era de Leonte me lembra o livro de Bradley por se tratar de uma narrativa sobre viagens intergalácticas com a busca e a descobertas de novos planetas, no caso de Bradley, sobretudo para colonização, e no caso de Merege, para atividades mercantis. E me faz recordar de Avatar, porque além de ser uma narrativa sobre viagens intergalácticas, o conto trata da invasão humana em busca de recursos minerais e possui um povo espiritualizado e intimamente ligado aos fenômenos naturais de seu lugar de vivência.

Contudo, tenho uma crítica a como este conto foi desenvolvido. Acho que a história de Merege tinha potencial para ser mais do que um conto, e, pela escolha da autora em fazer uma narrativa mais breve, fez com que o desenvolvimento da história fosse apressado e a narrativa ficasse um tanto inverossímil em seu desfecho e clímax. O fato é que não gostei do desenvolvimento, e sobretudo do desfecho.

Se Merege explorasse mais as características desse povo tão peculiar e intrigante, de seu planeta e do minério que ali existia, descrevesse a chegada dos heládicos, os primeiros contatos, colocasse alguns conflitos, desenvolvesse mais profundamente os personagens, escrevesse paralelamente a história de Elyssa e Hanno, e chegasse ao desfecho no qual chegou só que de forma mais desenvolvida e detalhada, A era de Leonte daria, não um romance, mas uma novela interessante ao estilo de Bradley, de Arthur C. Clarke, de Frank Herbert ou de seu filho Brian Herbert.

Até mesmo o título, A era de Leonte, é bom para um livro independente. Contudo, na forma compacta em que foi concebida ele não me agradou muito. Por outro lado, o objetivo da autora com seu livro é claro e ela deseja alcançar um público mais jovem. O livro que eu enxergo em minha mente seria algo bem diferente e distante da proposta inicial.

Enfim, para encerrar, no todo, Contos Fantásticos de Avós Extraordinários é um livro simples, mas sensível e original.

A edição lida é da Editora Draco, do ano de 2018 e possui 64 páginas.

Sobre o autor

Ana Lúcia Merege. Imagem: Acervo da Biblioteca Nacional.
Nascida em 1969, na cidade do Rio de Janeiro, Ana Lúcia Merege é romancista e bibliotecária. Possui mestrado em Ciência da Informação, pelo IBICT/UFRJ-ECO, tendo defendido, em 1999, sua dissertação intitulada O livro impresso: trajetória e contemporaneidade. É também formada em Biblioteconomia pela UNIRIO e, desde 1996, trabalha no Setor de Manuscritos da Biblioteca Nacional, onde atua no trabalho com material original, fontes primárias, identificação de documentos e organização de exposições.
Seu primeiro romance publicado, O Caçador (2009), foi também o primeiro do gênero fantasia escrito pela autora que desde então vem se dedicando a organização de diversas coletâneas do gênero, além de contos e romances. Suas principais obras estão ligadas ao universo de Athelgard, criado pela escritora para ambientar sua trilogia que se inicia com o romance O Castelo das Águias e ganha sequência com os livros A Ilha dos Ossos e A Fonte Âmbar, todos publicados pela editora paulista Draco. Pertence também ao universo de Athelgard o livro Anna e a Trilha Secreta, que faz um regresso à infância da principal personagem de O Castelo das Águias, além de Orlando e o Escudo da Coragem, outro infantojuvenil publicado pela autora em 2018.
Com vasta experiência com manuscritos e forte interesse pela história do período medieval, Merege foi responsável ainda, na mesma editora, pela organização das coletâneas Excalibur: histórias de reis, magos e távolas redondas e Medieval: Contos de uma era fantástica, este último em parceria com o escritor brasileiro Eduardo Kasse.




[1]Subgênero da ficção científica que enfatiza a aventura melodramática, as batalhas interplanetárias, o romance cavalheiresco e a tomada de riscos. Definido principalmente ou inteiramente no espaço sideral. (Wikipédia)
[2]Civilização heládica é um termo moderno usado para identificar uma sequência de períodos que caracterizaram a cultura do continente grego durante a idade do bronze. (Wikipédia)
[3]Vilão era, na Idade Média, uma pessoa que não pertencia à nobreza feudal, e que habitava urbanamente em vilas. (Wikipédia)
[4]Nos meios de comunicação, obra derivada, história derivada ou derivagem (em inglês: spin-off) é um programa de rádio, programa de televisão, videojogo, grupo musical ou qualquer obra narrativa criada por derivação, isto é, derivada de uma ou mais obras já existentes. Sua diferença com uma obra original é que a primeira se concentra, em particular, mais detalhadamente em apenas um aspecto (por exemplo, um tema especifico, personagem ou evento) ou modificando um pouco a história e seus aspectos originais.

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