terça-feira, 24 de outubro de 2017

[Cinema] Comentários sobre o filme O Lobo Atrás da Porta

Por Eric Silva

Cartaz do filme
Esse é mais um filme que não entrará para o 7ª Arte por não ter uma trama que, na minha opinião, daria um bom livro. Mas, por ter alguns elementos interessantes ganhará uma postagem com comentários sobre sua narrativa.

Filme dirigido e escrito por Fernando Coimbra, O Lobo Atrás da Porta me chamou a atenção por ser amplamente inspirado em A Fera da Penha, um famoso caso policial antigo que teve muita repercussão na mídia da época. Ocorrido em 2 de março de 1937, esse foi o caso de sequestro seguido de assassinato de uma criança de 4 anos (Taninha), cometido pela amante de seu pai, Neyde Maria Maia Lopes, uma mulher que ele (Antônio Couto Araújo) havia conhecido em um trem e com a qual se relacionou secretamente por seis meses.

O crime da Fera da Penha causou grande comoção na população brasileira, a exemplo de outros mais recentes envolvendo assassinatos brutais de crianças. Porém, a grande repercussão se deveu não apenas pela grande cobertura que foi feita do caso, mas particularmente pelo trabalho premeditado da assassina (seis meses de preparação) e a atitude fria e calculista demonstrada por ela ao negar sua participação evidente no crime. Conta-se que Neyde só confessou os detalhes de seu caso com Antônio e de seu crime durante uma entrevista ao jornalista Saulo Gomes. Não contarei detalhes do crime porque seria quase a mesma coisa de narrar o filme, mas para os curiosos de plantão sugiro a descrição minuciosa realizada pela página do site MegaCurioso.

Conhecer a trama real do caso da Fera da Penha poderia ser um fator desestimulador, mas, na verdade, assisti ao filme justamente por se inspirar no caso real. Contudo o filme não é apenas uma compilação do caso apresentando ao longo da trama alguns aspectos fictícios que deram à protagonista novos motivos para seu crime de vingança. Além disso, a narrativa foi transposta para a nossa época e os nomes dos personagens foram alterados. No filme, Neyde é Rosa, interpretada por Leandra Leal, e os pais da menina são Bernardo (Milhem Cortaz) e Sylvia (Fabiula Nascimento).

A história contada pelo filme começa pelo final, quando Sylvia a mãe da menina chega a escola para buscar sua filha e descobre que alguém se passando por sua vizinha havia levado a criança. A partir daí começa a investigação do desaparecimento da garotinha e ao longo dos interrogatórios conduzidos pelo delegado (Juliano Cazarré) vamos sabendo dos casos de infidelidade de ambos os cônjuges. De imediato as suspeitas recaem sobre a amante de Bernardo, Rosa que é detida para averiguação. Rosa nega participação no crime, mas depois de ser reconhecida pela professora que lhe entregou a menina, resolve contar o que aconteceu. Contudo sua história é cheia de lacunas e só depois de horas de investigação resolve contar a sua história desde o dia em que conhecera Bernardo.

No geral a história do filme é interessante pela forma como Rosa trata a questão, dando pistas falsas ao delegado e planejando cuidadosamente sua aproximação da família de Bernardo, mas também pelos elementos fictícios inseridos pelo diretor para enriquecer a trama original do crime de 1937 (citado inclusive pelo delegado para intimidar Rosa) e que tornaram mais complexa a história do filme. Por outro lado, tudo é contado de forma muito arrastada, com muitas cenas dos encontros dos amantes Bernardo e Rosa, com tomadas enormes que dão close no rosto da protagonista em cenas mais melancólicas, e também pelas cenas de sexo desnecessariamente longas.

Um ponto positivo do filme é a forma seca como toda a história é contada. Apesar de girar entorno de um acontecimento trágico, a película não apela para o dramalhão nem para cenas que levem o drama ao extremo. Pelo contrário, a naturalidade com que os personagens agem, os diálogos curtos e outros elementos dão um tom seco a narrativa, como bem destaca Pedro Vieira[1], do Ccine 10. Contudo não concordo com o autor quando ele afirma que “as coisas simplesmente acontecem, geralmente de forma rápida”. Na realidade, acho que o filme desperdiça um grande tempo com as cenas do casal de amantes e quase perde seu espectador que julga já saber o desfecho e todos os elementos essenciais da história, o que não é bem verdade.

Leandra Leal no papel de Rosa
Quanto a interpretação dos artistas, Leandra Leal no papel de antagonista conseguiu transparecer toda a dubiedade de uma personagem calculista, ao mesmo tempo que capaz de tudo para ter o homem que queria.

Rosa tem uma aura de uma mulher calculista, falsa, em alguns momentos louca sem perder a frieza ou a naturalidade de seu comportamento. A todo momento temos certeza de que ela, pelo seu jeito de agir e pelos seus diálogos, é plenamente capaz de cometer um crime. Contudo, as atitudes de Bernardo, algumas bastante extremadas e explosivas, e a forma como ele resolve lidar com os excessos de sua amante contribuem para mudar um pouco a visão que o expectador tem da protagonista tornando-a não só o algoz, mas também um pouco a vítima, despertando, por definitivo, os seus piores instintos.

Como disse o caso policial que inspirou o filme junto com os elementos originais inseridos pelo diretor Fernando Coimbra tornam até interessante a narrativa, mas não jugo o suficiente para ser um bom livro. Para ser franco, se quisermos preservar o suspense e o clima de horror, só haveria história suficiente para um conto bem construído. Só por isso O Lobo Atrás da Porta não entrará para o 7ª Arte, ainda assim, é um bom filme para matar o tédio do fim de semana.

A película é uma produção dos estúdios Gullane com coprodução da TC Filmes, CaBra Filmes e Pela Madrugada. Entrou em cartaz no ano de 2014. Tem duração de 101 minutos. Abaixo você pode conferir o trailer do filme:

Trailer









[1] http://www.ccine10.com.br/o-lobo-atras-da-porta-critica/

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