Por Eric Silva
Cartaz do filme |
Filme dirigido e escrito por
Fernando Coimbra, O Lobo Atrás da Porta
me chamou a atenção por ser amplamente inspirado em A Fera da Penha, um famoso caso policial antigo que teve muita
repercussão na mídia da época. Ocorrido em 2 de março de 1937, esse foi o caso
de sequestro seguido de assassinato de uma criança de 4 anos (Taninha),
cometido pela amante de seu pai, Neyde Maria Maia Lopes, uma mulher que ele
(Antônio Couto Araújo) havia conhecido em um trem e com a qual se relacionou
secretamente por seis meses.
O crime da Fera da Penha
causou grande comoção na população brasileira, a exemplo de outros mais
recentes envolvendo assassinatos brutais de crianças. Porém, a grande
repercussão se deveu não apenas pela grande cobertura que foi feita do caso,
mas particularmente pelo trabalho premeditado da assassina (seis meses de
preparação) e a atitude fria e calculista demonstrada por ela ao negar sua
participação evidente no crime. Conta-se que Neyde só confessou os detalhes de
seu caso com Antônio e de seu crime durante uma entrevista ao jornalista Saulo
Gomes. Não contarei detalhes do crime porque seria quase a mesma coisa de
narrar o filme, mas para os curiosos de plantão sugiro a descrição minuciosa
realizada pela página do site MegaCurioso.
Conhecer a trama real do caso
da Fera da Penha poderia ser um fator
desestimulador, mas, na verdade, assisti ao filme justamente por se inspirar no
caso real. Contudo o filme não é apenas uma compilação do caso apresentando ao
longo da trama alguns aspectos fictícios que deram à protagonista novos motivos
para seu crime de vingança. Além disso, a narrativa foi transposta para a nossa
época e os nomes dos personagens foram alterados. No filme, Neyde é Rosa, interpretada
por Leandra Leal, e os pais da menina são Bernardo (Milhem Cortaz) e Sylvia
(Fabiula Nascimento).
A história contada pelo filme
começa pelo final, quando Sylvia a mãe da menina chega a escola para buscar sua
filha e descobre que alguém se passando por sua vizinha havia levado a criança.
A partir daí começa a investigação do desaparecimento da garotinha e ao longo
dos interrogatórios conduzidos pelo delegado (Juliano Cazarré) vamos sabendo
dos casos de infidelidade de ambos os cônjuges. De imediato as suspeitas recaem
sobre a amante de Bernardo, Rosa que é detida para averiguação. Rosa nega
participação no crime, mas depois de ser reconhecida pela professora que lhe
entregou a menina, resolve contar o que aconteceu. Contudo sua história é cheia
de lacunas e só depois de horas de investigação resolve contar a sua história
desde o dia em que conhecera Bernardo.
No geral a história do filme
é interessante pela forma como Rosa trata a questão, dando pistas falsas ao
delegado e planejando cuidadosamente sua aproximação da família de Bernardo,
mas também pelos elementos fictícios inseridos pelo diretor para enriquecer a
trama original do crime de 1937 (citado inclusive pelo delegado para intimidar
Rosa) e que tornaram mais complexa a história do filme. Por outro lado, tudo é
contado de forma muito arrastada, com muitas cenas dos encontros dos amantes
Bernardo e Rosa, com tomadas enormes que dão close no rosto da protagonista em cenas mais melancólicas, e também
pelas cenas de sexo desnecessariamente longas.
Um ponto positivo do filme é
a forma seca como toda a história é contada. Apesar de girar entorno de um
acontecimento trágico, a película não apela para o dramalhão nem para cenas que
levem o drama ao extremo. Pelo contrário, a naturalidade com que os personagens
agem, os diálogos curtos e outros elementos dão um tom seco a narrativa, como
bem destaca Pedro Vieira[1], do Ccine 10. Contudo não
concordo com o autor quando ele afirma que “as coisas simplesmente acontecem,
geralmente de forma rápida”. Na realidade, acho que o filme desperdiça um
grande tempo com as cenas do casal de amantes e quase perde seu espectador que
julga já saber o desfecho e todos os elementos essenciais da história, o que
não é bem verdade.
Leandra Leal no papel de Rosa |
Rosa tem uma aura de uma
mulher calculista, falsa, em alguns momentos louca sem perder a frieza ou a
naturalidade de seu comportamento. A todo momento temos certeza de que ela,
pelo seu jeito de agir e pelos seus diálogos, é plenamente capaz de cometer um
crime. Contudo, as atitudes de Bernardo, algumas bastante extremadas e
explosivas, e a forma como ele resolve lidar com os excessos de sua amante
contribuem para mudar um pouco a visão que o expectador tem da protagonista
tornando-a não só o algoz, mas também um pouco a vítima, despertando, por
definitivo, os seus piores instintos.
Como disse o caso policial
que inspirou o filme junto com os elementos originais inseridos pelo diretor
Fernando Coimbra tornam até interessante a narrativa, mas não jugo o suficiente
para ser um bom livro. Para ser franco, se quisermos preservar o suspense e o
clima de horror, só haveria história suficiente para um conto bem construído.
Só por isso O Lobo Atrás da Porta não
entrará para o 7ª Arte, ainda
assim, é um bom filme para matar o tédio do fim de semana.
A película é uma produção dos
estúdios Gullane com coprodução da TC Filmes, CaBra Filmes e Pela Madrugada.
Entrou em cartaz no ano de 2014. Tem duração de 101 minutos. Abaixo você pode
conferir o trailer do filme:
Trailer
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