Por Eric Silva
Nota: todos os termos com números entre colchetes [1] possuem uma nota de rodapé sempre no final da postagem, logo após as mídias, prévias, banners ou postagens relacionadas.
Yo!! Genki desu ka?
O Japão ou Nippon (日本) – seu nome em
japonês – é um dos países mais fantásticos que conheço, principalmente pela
forma como seu povo e sua cultura milenar resistiram por muito tempo a toda e
qualquer influência estrangeira, mas, hoje, demonstram uma enorme capacidade de
abraçar e caminhar em direção ao novo. Um país onde coexiste o tradicional, o
exótico e o ultramoderno.
Como muitos ainda não sabem, em 2018, a III Campanha Anual
de Literatura daqui do Conhecer Tudo homenageará o #AnoDoJapão. E todos os anos
penso em fazer uma postagem especial falando sobre o país homenageado, mas, na
verdade, nunca chego a fazer, erro que corrigirei em breve. E para quebrar esse
tabu essa primeira Postagem Especial da campanha fará um panorama do Japão,
apresentando um pouco de suas características naturais, culturais, sociais,
econômicas e políticas.
Espero que gostem.
***
A
terra do sol nascente: um pouco da geografia japonesa
Mapa do Japão |
Situado sobre o encontro de
três placas tectônicas e também do Círculo de Fogo do Pacífico, o país é
repleto de altas montanhas e cerca de oitenta vulcões ativos[2],
além de ser diariamente atingido por terremotos de diferentes magnitudes. Em
sua maioria os terremotos que atingem o Japão são imperceptíveis ou muito
leves, porém alguns deles trouxeram sérios danos ao país. Um exemplo devastador
destes abalos sísmicos aconteceu em 1995 e ficou conhecido como Sismo de Kobe
ou Hanshin-Awaji Daishinsai (阪神・淡路大震災,
Grande Sismo de Hanshin-Awaji). Neste abalo que alcançou a magnitude 6,9 na
escala de magnitude de momento (MMS), 6434 pessoas morreram, em sua maioria
moradores da cidade Kobe, a mais próxima do epicentro do sismo e a mais
seriamente atingida pelos tremores.
Sakuras em flor no palácio Imperial de Tóquio. Imagem Wikimedia Commons. |
Porém a geografia física do
Japão traz a sua população outros inconvenientes, um deles é a pequena
quantidade de terras aráveis, consequência de seu território extremamente
pequeno e acidentado.
As terras cultiváveis soma
algo entorno de 16% do território, dificultando não só a atividade agrária e
pecuarista como a construção civil. 50% dos grãos consumidos no país são
importados e uma das poucas culturas em que o Japão é autossuficiente é o
arroz, principal alimento da população.
Terraços de arroz de Ueyama em Ojiro no Verão. Imagem Wikimedia Commons |
Por sua vez, no que tange à
habitação, a carência de terrenos planos nas cidades maiores somada a
superlotação e a especulação mobiliária faz com que o metro quadrado chegue a
preços altíssimos em cidades como Tóquio, a grande e populosa capital japonesa.
Por conta disso, muitos japoneses de Tóquio vivem em casas e apartamentos
pequenos para o padrão brasileiro ou em residências com dois andares para
compensar o tamanho reduzido do terreno. Contudo, em cidades menores as casas e
apartamentos costumam variar bastante de tamanho.
Já que falamos em
agricultura, outra atividade econômica de grande importância no Japão é a
pesca. A criação de gado no Japão é limitada e a pouca oferta de terras
agricultáveis levou os japoneses a buscar no mar a sua principal fonte de
alimento[6].
O país além de ser o segundo maior produtor de pescado do mundo sua produção
pesqueira responde por quase 15% da pesca mundial[7].
É por conta dessa enorme produção de pescado e da grande variedade de frutos do
mar disponíveis que na sua culinária encontramos centenas de pratos cujos
principais ingredientes vêm do mar. Entretanto, a alimentação japonesa ainda
conta com outros importantes ingredientes básicos como o arroz, as algas
marinhas, a soja e seus derivados, além de vegetais e legumes[8].
O
povo japonês
Japoneses durante a celebrações do festival Hanami embaixo das árvores sakura (cerejeiras) no parque Ueno, em Tóquio |
Eles são, em sua
maioria, de fato tímidos e reservados e costumam se expressarem mais por gestos
e atitudes[9].
Certos hábitos comuns no Brasil não são corriqueiros no país e podem causar
desconforto e constrangimento a exemplo de abraços e beijos em público. Além
disso, eles costumam tratar as pessoas com diferentes e crescentes graus de
formalidade e que variam da situação cotidiana à posição social ou hierárquica,
passando também pelo quanto se é íntimo e se a pessoa abordada permite a você
um maior grau de intimidade.
Acho bem visível essa
formalidade, que é uma das principais marcas da educação japonesa, na forma
como as pessoas chamam umas às outras. Dificilmente um japonês chamará uma
pessoa pelo primeiro nome a menos que essa tenha pedido que o fizesse. É
preciso ser bastante íntimo ou parente próximo para chamar um japonês por seu
primeiro nome. O corriqueiro é referir-se a pessoa por seu sobrenome acrescido
de um dos muitos títulos honoríficos como –san (o mais comum), –senpai (usado
para colegas mais velhos em escolas, empresas e clubes esportivos) e –sama
(usado para pessoas em posições elevadas de uma certa hierarquia)[10].
Mas outros títulos que denotam maior aproximação também são usados, porém o seu
emprego correto é essencial para evitar situações constrangedoras.
Contudo, em grande parte a
atitude de reserva do japonês está ligada ao profundo respeito que eles têm em
relação ao espaço e a privacidade do outro. Não gostam de ser inoportunos e
também por isso atitudes extremadas de intimidade com pessoas estranhas
costumam ser evitadas. Mesmo entre pessoas conhecidas há um costume de se
evitar uma intimidade que a outra possa julgar excessiva ou incômoda.
Intrometer-se na vida alheia é outra questão que os nipônicos costumam evitar. E
no sentido oposto evitam também que seus problemas afetem outras pessoas. É daí
que parte o senso de independência pelo qual são mundialmente conhecidos.
Contudo, se a individualidade
é algo importante, o trabalho em equipe também é bastante valorizado e é uma
marca cultural muito forte. Os japoneses possuem um espírito de coletividade
que falta em muitos países ocidentais. No trabalho em grupo a harmonia do
conjunto é lago importante que precisa ser preservado[11].
Outra característica
interessante da sociedade nipônica que é destacada por Silvia Kawanami[12]
do Japão em Foco, é a sua paciência e resiliência. Segundo a autora os
japoneses são bastante pacientes nas situações de seu cotidiano como a espera
em uma fila. Afirma a autora que é muito incomum um japonês se exaltar quando
ocorre, por exemplo, uma demora no atendimento.
Silvia destaca também a
grande capacidade da sociedade japonesa de lidar com seus problemas, vencendo
os obstáculos impostos, e não cedendo à pressão. Além disso, afirma que eles
possuem outra importante característica: a de buscarem dar o melhor de si e
oferecer todo o seu potencial, ou seja, ter comprometimento com o que fazem.
Na verdade, são muitas as
características que ainda poderia enumerar em relação ao povo japonês, que
culturalmente é bastante singular e fascinante. Contudo para não em estender
demais a postagem, passeemos ao último tópico.
O
antigo e o novo: monarquia, tradições e modernidade
O Imperador japonês, Akihito. Ascendeu ao trono em 1989 dando inicio a era Heisei. Imagem Wikimedia Commons. |
Com Akihito deu-se no país o
começo de uma nova era, o Heisei (平成), marcado principalmente pela atitude pacifica e
conciliador do atual tennō (天皇, imperador) em relação aos antigos rivais do Japão, a
exemplo da Rússia e da China[13].
A monarquia no Japão começou
ainda nos primórdios de sua história quando povos oriundos da Sibéria se
fixaram no arquipélago no século III d.C.[14]
O império, porém, perduraria só até o século XII, quando fora instaurada uma
ditadura militar que ficaria conhecida como xogunato (幕府).
O xogunato duraria por sete
séculos e durante dois deles o país se manteria fechado para as nações
estrangeiras. O poder imperial seria restabelecido apenas em 1868.
Hoje, o Japão é não só
politicamente muito diferente da época dos samurais
(侍), daimiôs (大名)[15]
e shōguns (将軍)[16],
mas social, cultural e economicamente distinto e busca um caminho para aliar
tradição e modernidade.
Castelo de Himeji, também conhecido como Hakurojō ou Shirasagijō. Localizado na cidade de Himeji, Província de Hyogo, no Japão. Imagem Wikimedia Commons. |
Há entorno de 100 anos,
quando a Europa já era um continente altamente industrializado, o Japão ainda
era essencialmente agrário. Suas únicas “indústrias” possuíam um processo de
produção altamente artesanal e manual, modelo de produção que em geografia
chamamos de manufatura. Hoje o Japão é a terceira maior economia do mundo com
um PIB de 4.938,64 bilhões de dólares
(2016)[19].
É também um dos países mais industrializados e modernos. Socialmente o Japão
ainda possui um elevado padrão de vida com IDH de 0,884 (2010, 11ª posição do
ranking)[20] e a maior expectativa de
vida do planeta (83,6 anos, 2014)[21].
O trem de alta velocidade (trem bala). Na imagem temos um dos trens da linha Tokaido Shinkansen, com o Monte Fuji ao fundo. Imagem: Wikimedia Commons. |
Há ainda no setor tecnológico
outro seguimento que vem ganhando destaque: a robótica. Na vanguarda do setor,
a tecnologia de robótica japonesa pode ser considerada a mais avançada, além de
ser o país que mais investe na aplicação desta tecnologia no setor industrial.
Protótipos de robôs para a indústria e até mesmo para uso doméstico são criados
todos os anos e muitos já são empregados em atividades anteriormente realizados
pelo trabalho humano.
Quando se soma tantos avanços tecnológicos com a
crescente aproximação com a cultura ocidental sobretudo europeia e
estadunidense os aspectos culturais tradicionais cultivados por qualquer povo
sofre estremecimentos.
A cultura e o modo de pensar
ocidental tem encontrado boa recepção e adeptos no Japão não apenas no mundo
dos negócios, onde vem deixando os ambientes cada vez mais competitivos, mas principalmente
entre os mais jovens que são ávidos consumidores de cultura ocidental.
Como vem acontecendo com todos os povos do mundo,
sobretudo após o forte processo de globalização da economia, algumas tradições
japonesas estão morrendo, outras tantas estão sendo reinventadas ou
substituídas pela influência estrangeira. Todavia, ainda são muitos os
japoneses que tentam manter vivos alguns dos principais elementos de sua
cultura milenar e que atrai milhões de turistas todos os anos.
Enfim, O Japão é um país singular e muito interessante e
não cabe inteiramente nessa postagem relativamente superficial. Ao longo de
2018, o #AnoDoJapão, conheceremos melhor esse país e seu povo através da
leitura dos livros que farão parte do itinerário da III Campanha Anual de
Literatura do Conhecer Tudo. Venha conosco nessa viagem pela terra do sol
nascente.
Arigatou e ittekimasu!
Abaixo você confere o vídeo Japan: Where
tradition meets the future que faz um lindo panorama do país.
Postagens Relacionadas
Nosso Itinerário: livros resenhados
Listas e Postagens Especiais
Cinema
[1]
Almanaque Abril 2006.
[2]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jap%C3%A3o#Geografia
[3]
Enciclopédia Conhecer.
[4]Idem.
[5] http://www.japaoemfoco.com/os-mais-belos-terracos-de-plantacoes-arroz-do-japao/
[6]
Enciclopédia Conhecer.
[7]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jap%C3%A3o#Economia
[8]
http://www.japaoemfoco.com/alimentacao-e-dieta-japonesa/
[9]
https://skdesu.com/como-sao-os-namoros-japoneses-relacionamento-no-japao/
[10]
https://skdesu.com/titulos-honorificos-japoneses-san-chan/
[11]
http://www.japaoemfoco.com/por-que-o-japao-e-um-exemplo-para-outros-paises/
[12]
Idem.
[13]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Akihito
[14]
Enciclopédia Conhecer
[15]
Senhor de terras no Japão pré-moderno.
[16]
Título e distinção militar usado antigamente no Japão durante o período dos
xogunatos.
[18]
Bolinho feito de arroz glutinoso moído em pasta e depois moldado.
[19]
http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/indicadores/47-estatisticas/94-as-15-maiores-economias-do-mundo-em-pib-e-pib-ppp
[20]
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/japao-1.htm
[21]https://www.terra.com.br/noticias/mundo/noruega-lidera-idh-japao-tem-maior-expectativa-de-vida,15f63d52cb567410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html
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