quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Para Sempre Alice – Lisa Gênova – Resenha


Por Eric Silva

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Uma doença devastadora contada de forma magistral, esse é o Para Sempre Alice, livro escrito por Lisa Genova e que se tornou filme em 2015. Neste livro a escritora estadunidense escreve um retrato fiel e comovente do mal de Alzheimer descrevendo através da história da fictícia pesquisadora Alice Howland, os meandros de uma doença que apesar de relativamente comum é ainda muito desconhecida do público geral.

Confira a nossa resenha do livro.

Sinopse

Na tocante narrativa de Para Sempre Alice, Lisa Genova narra a história de Alice Howland, professora e pesquisadora brilhante e bem-sucedida da universidade de Havard. Dona de uma memória prodigiosa, Alice jamais imaginaria que quando alcançasse os cinquenta anos começaria a esquecer. No início, coisas banais, pequenas tarefas até não conseguir lembrar o caminho de volta para casa.

Angustiada a professora procura ajuda médica e é surpreendida com um diagnóstico de mal de Alzheimer de instalação precoce, uma doença degenerativa incurável. Pouco a pouco sua vida vai mudando e ela vai perdendo a capacidade de manter suas atividades cotidianas e é obrigada, junto com sua família, a aprender a conviver com a doença e seus dilemas.

Resenha

Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ), o mal de alzheimer é uma enfermidade incurável, de caráter degenerativa e com evolução progressiva, e que por muito tempo foi confundida com “esclerose” ou “caduquice”.

Com maior ocorrência entre a população idosa, o alzheimer a provoca a perda de funções cognitivas como a memória, a capacidade de orientação, atenção e da linguagem, em decorrência da morte das células do cérebro (idem). Uma doença devastadora que pouco a pouco vai tirando a autônoma do paciente incapaz de reter, em sua memória recente, informações sobre fatos que ocorreram a pouco.

Enredo

Com um conhecimento profundo sobre a evolução e instalação da doença além de uma sensibilidade ímpar para narrar dramas familiares e pessoais, a autora estadunidense Lisa Genova conta em Para Sempre Alice os desafios enfrentados por Alice Howland, uma proeminente professora de psicologia da Universidade de Harvard, e por sua família, quando Alice é diagnosticada como portadora de mal de Alzheimer tendo apenas 50 anos de idade.

Dedicada cientista e professora universitária, assim como seu esposo John, Alice era realizada profissionalmente e muito respeitada em seu meio de atuação, uma referência dentro de seu campo de trabalho. Em Harvard, era reconhecida e admirada por alunos e colegas de trabalho pela sua competência e dedicação à docência bem como pelos estudos que conduzia na área de psicologia e linguística.

Por seu próprio exemplo e do marido, ela sempre desejou que seus três filhos, Anna, Tom e Lydia, seguissem caminhos parecidos e enveredassem por carreiras profissionais seguras e de sucesso. Conseguiu com os dois mais velhos, contudo seu desejo não se concretizou com a caçula que preferira o teatro a ingressar em uma boa faculdade como desejava sua mãe. Por conta disso, Alice e Lydia estavam sempre em atritos.

Entretanto, a vida de Alice conhece uma grande reviravolta quando pequenos lapsos de memória alcançam o ápice de deixá-la completamente perdida durante uma corrida matinal. Completamente incapaz de reconhecer os pontos de referência do lugar onde estava, Alice esquece momentaneamente qual era o caminho para a sua casa. Apreensiva com os problemas causados pelas falhas de memória crescentes, a professora decide procurar ajuda médica e é diagnosticada como portadora de mal de Alzheimer de instalação precoce.

Minha opinião

A autora. Lisa Genova é estadunidense e além de escritora é neurocientista.
Para Sempre Alice é seu livro de estréia, autopublicado
e posteriormente adquirido pela Simon & Schuster. 
Para Sempre Alice é um livro muito bem escrito que você lê rapidamente. Com sensibilidade e extrema habilidade, a autora tece toda a sua narrativa descrevendo minuciosamente as fases e o percurso de evolução da doença de Alice, evolução que se dá de forma natural e gradativa, bastante realista.

Vemos como gradualmente Alice vai perdendo suas funções, sua capacidade de reter informações novas até alcançar um ponto em que já não mais reconhece os membros de sua própria família. Como uma tecelã que vai tramando cada fio com cuidado e perícia, Lisa Genova constrói um retrato detalhado do cenário de quem só espera o momento em que a doença prevalecerá e tudo a sua volta já não terá significado.

Alice é inicialmente caracterizada como uma mulher forte e muito decidida, acostumada a uma rotina de trabalho estressante, mas que se encontrava em seu total controle. Contudo, com o progresso da doença sua rotina e prioridades vão sendo sensivelmente alteradas e a autora consegue dar ao seu personagem o estado de espírito de alguém que aos poucos vai se perdendo, afundando na angustia de ver que algo está errado consigo e deparando-se com a impotência de poder parar o processo.

Quando gradativamente Alice vai se dando conta de que está esquecendo coisas corriqueiras, banais e até importantes de sua vida, o estado em que vai se pondo é o daquele que tenta se agarrar às lembranças e resgatar o que havia esquecido, ao mesmo tempo em que luta para aproveitar os últimos momentos de lucidez que lhe resta. Para demarcar esse avanço da doença, Lisa acrescenta a trama um hábito adquirido por Alice de todas as manhãs responder algumas perguntas, cujas respostas a cada dia se tornavam mais incompletas e imprecisas demonstrando o grau de demência alcançado pela personagem.

No final, todo o processo de progresso da doença de Alice é descrito com maestria por Lisa, que ainda esboça um grande talento para unir e intercalar a descrição do fato e a exposição dos pensamentos dos personagens, sem, no entanto, fazer desse recurso o estilo único ou principal de sua narrativa. Por vezes a narrativa se mistura aos pensamentos de Alice e a conclusão é como se pudéssemos literalmente vivenciar o que sente, o que pensa, o que deseja e, principalmente, o que sofre uma pessoa diagnosticada com Alzheimer, sobretudo quando ainda se é tão jovem como a protagonista.

Por fim, a autora ainda se preocupa em descrever outra importante dimensão da doença: a família. Vemos como os cuidados com uma Alice cada vez mais dependente vai afetando os filhos e o marido, as dificuldades de John em aceitar que sua esposa era portadora da doença e também a forma como a família passa a decidir a vida de Alice por ela.

Por todas essas coisas esse livro é um quadro completo para o entendimento do mal de Alzheimer. Por ser tão informativo é uma leitura muito indicada para os portadores da doença e também para seus cuidadores por tratar de várias dimensões da doença: as causas, os sintomas, os dilemas de cuidar de um doente que nem mesmo reconhece seus familiares e se perde facilmente, os tratamentos, mas principalmente a dimensão humana e afetiva do doente e de seus familiares.

Em 2015, o livro foi adaptado para o cinema com Julianne Moore no papel de Alice, o que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz.

A edição lida é da Editora Nova Fronteira, do ano de 2009 e possui 283 páginas. Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.

Prévia do Google Books

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