Por Eric Silva para Kayo Araújo

Sou professor e sempre incentivo meus alunos a lerem seja lá o que for,
até mesmo embalagem de biscoito, mas que busquem criar o hábito da leitura,
seja para fins educacionais, mas principalmente para o engrandecimento humano
de cada um deles. Em minha cidade é
grande o número de jovens que conheço que não gostam de ler, sobretudo aqueles
das classes sociais menos favorecidas. Mas é justificável, nossa educação vai
de mal a pior, não há muito incentivo em várias famílias, livros são ainda caros
e pouco acessíveis e se não fosse a filarmônica da nossa cidade – mesmo com
todas as limitações – não teríamos uma biblioteca decente. Nossas livrarias na
verdade são papelarias, digo isso porque nelas você encontrará de tudo, menos
livros. E ter acesso a livros se torna difícil. Ainda assim tento incentiva-los
a ler, a minerar em suas escolas as esquecidas e empoeiradas bibliotecas e quando
estiverem fora da cidade procurar uma livraria ou sebo que venda barato, ou que
peça emprestado aos amigos, mas que leiam. Alguns seguem esse conselho e outros não, mas
paciência.
Kayo é um dos que venho incentivando a ler, é uma garoto muito esforçado
e de futuro, mas que precisa urgentemente pôr mais leitura em sua vida. Mas
dessa vez foi ele que se lembrando de mim e de como sou devorador de livros –
um verdadeiro bibliomaníaco para ser honesto – resolveu me dar um livro. E me
presenteou com A última grande lição, de
Mitch Albom, um presente que me trouxe muitas lições de vida e que, tenham
certeza, não vai sair mais da minha cabeceira, vocês vão entender porquê.
Mitch Albom é jornalista e dedica grande parte de seu tempo a seu
trabalho, na verdade fica tão mergulhado em seu trabalho que se esquece de
coisas que são verdadeiramente importantes como a família e os amigos. Seu
irmão, por exemplo se isolou na Europa sem querer contato nenhum com a família
após descobrir que sofria de câncer no pâncreas e há muito tempo Mitch não o
via. Mitch estava imerso nas armadilhas da nossa cultura onde o financeiro e a
realização profissional está na frente até mesmo do sentimento e do estar com o
outro viver para e com o outro. Quem trabalha compulsivamente entende o que
Mitch passava. Mas uma notícia inesperada tira nosso protagonista de sua zona
de conforto e por um programa de televisão, juntamente com milhões de outras
pessoas, ele fica sabendo que Morrie Schwartz estava morrendo de uma forma
terrível.
Quem era Morrie Schwartz? Que importância ele teria para o mundo? Você
se perguntaria. Ele poderia não interessar a ninguém (o que eu considero muito
difícil), mas para Mitch aquela noticia era, na palavra mais eufemística, estremecedora.
Morrie era um antigo professor seu, dos tempos da universidade, sociólogo e uma
pessoa viva, alegre, extremamente inteligente e contagiante, por quem Mitch
nutria um grande afeto, mas com quem não falava há anos apenas por estar imergido tempo de mais em seu trabalho. Morrie, que tinha tantos amigos, uma
família que se amava, alunos queridos, se despedia do mundo de uma forma terrível:
Esclerose lateral amiotrófica (ELA), a mesma doença do astrofísico inglês Stephen
Hawkins. Esta doença simplesmente vai tirando todos os movimentos do enfermo,
enquanto enrijece e atrofia seus músculos, até que quando já próxima do fim ela,
se não tratada, tira a capacidade de falar, engolir e pode matar por
incapacidade de respirar.
A notícia chocou o rapaz que pegando o primeiro avião foi ao encontro do
professor que o recebeu de forma calorosa e alegre. Apesar de sua condição nada
havia abalado Morrie Schwartz que se concentrava em a aproveitar seus últimos
momentos e já havia se conformado com a morte, uma pessoa de um equilíbrio, serenidade
e sensibilidade estupendas, mas ainda mais: como um bom professor, ainda
disposto a ensinar, e a última grande tese que ele irá compor, todas as terças
feiras, ao lado de seu aluno, será o sentido
da vida, uma tese onde caberá reflexões sobre vários temas que preocupam a
nossa sociedade doente: remorso, família, emoção, autocomiseração, envelhecer,
dinheiro, permanência do amor, casamento, cultura, perdão, dia perfeito e
morte. Páginas em que a grande inteligência e singela forma de falar de Morrie
nos ensinará verdades que não sabemos ou fingimos não perceber.
É um livro que indico a todos e que curiosamente, Kayo tenha sabido ou
não, foi de aluno para professor e de
professor para aluno. Muito obrigado, Kayo.
Abaixo deixo um trecho. A edição lida é da Sextante, de 2010, com 123 p.
“Eu gostava do jeito com
que Morrie se iluminava quando eu entrava na sala. Sei que fazia isso para
muitas pessoas, mas ele tinha um talento especial para fazer cada visitante
sentir que o sorriso era só para ele.
“Ah, é o meu amigão”,
dizia, ao me ver, com voz sumida. E não ficava nisso. Quando Morrie estava com alguém,
entregava-se por inteiro. Olhava a pessoa nos olhos e a escutava como se ela
fosse a única no mundo. Como seria melhor se o primeiro encontro do dia fosse
assim, e não com o resmungo de uma garçonete, de um motorista de ônibus ou de
um chefe”. (A Última Grande Lição, Mitch Albom).
Leia textos de outros blogs: http://uparticular.blogspot.com.br/2013/09/resenha-ultima-grande-licao-mitch-albom.html
Lei também as resenhas no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/resenhas/1030/edicao:1372