Por Eric Silva
Nota: todos os termos com números entre colchetes [1]
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O que é um retrato? Uma imagem estática que imprime um
momento que em seguida já pode ser considerado passado? Ou vai além, através da
narrativa e descrição de uma realidade, de uma época? Retratos de uma era, da
vida na distante Inglaterra Vitoriana, Retratos
Ingleses é uma pequena coleção de contos do romancista inglês Charles
Dickens, nos quais o escritor imprimiu um pouco do cotidiano e do comportamento
de seus contemporâneos, falando desde situações banais do cotidiano, até dramas
familiares e denúncia social.
Resenha
Há muito tempo que venho
tentando terminar a leitura deste livro e, enfim, fazer sua resenha, mas, a
despeito de seu tamanho muito reduzido, nunca tinha chegado a ler até o fim
todos os contos que compõe esta coletânea. Sempre deixava o projeto, retomava,
abandonava de novo. Enfim, esse é o momento.
Retratos Ingleses é
uma pequena coletânea de contos do mais famoso romancista da Inglaterra
Vitoriana, Charles Dickens. A edição que eu li é bem antiga, datando de duas
décadas atrás, e hoje só pode ser encontrada em livrarias especializadas em
livros usados. Nela foram reunidos seis contos retirados de outra edição ainda
mais antiga da Editora Ediouro, Os
Carrilhões e Outros Contos, publicada em 1988.
Para o pequeno livro de bolso
foram selecionados contos que se ligam apenas por retratar pequenos fatos do
cotidiano susceptíveis a qualquer inglês da época, a exemplo das ambições de
Miss Amélia Martin, do conto A Modista
Equivocada. Neste conto é contada a história de uma simples
chapeleira-modista, que tinha como principal clientela as serviçais das
cercanias de Euston Square, mas que, depois de uma festa de casamento, passa a
aspirar por uma carreira de cantora.
Edição original de onde foram extraídos os seis contos de Retratos Ingleses. |
Esses três primeiros contos,
sem dúvida, justificam o título do livro ao apresentar situações corriqueiras,
até pouco relevantes, mas que, não só em sua narrativa e descrição de
personagens e ambientes, mas em seu todo retratam alguns dos mais típicos
hábitos e estilos de vida da Inglaterra Vitoriana. Ademais, é curioso notar que
os pequenos acontecimentos ali narrados confluem, deveras, para surtir impacto
nas vidas destes mesmos personagens.
Todavia, se os três primeiros
contos pintam breves retratos do cotidiano de pessoas da pequena e grande
burguesia, os três contos que encerram a obra tomam um corpus diferenciado com situações atípicas que vieram perturbar ou
transformar os estilos de vida de seus personagens. São contos que de certo
modo também traçam retratos, um deles ainda numa esfera do cotidiano da pequena
burguesia, como é o caso de A História do
Viajante, mas que se diferenciam dos primeiros por um tom mais fantástico e
sobrenatural como no conto supracitado, ou mais macabro como em O Véu Negro. Neste último temos a
história de um médico que recebe, em uma noite chuvosa, a visita de uma
misteriosa mulher de véu negro que, sem revelar seu rosto encoberto, requisita
seus serviços para um paciente que já julgava perdido, mas que ela envolve em
uma aura de mistério que nos faz duvidar da sanidade mental da própria mulher.
Os dois contos
supramencionado são interessantes e contrastam com os primeiros, não tanto por
seus temas – ainda que em O Véu Negro
tenhamos uma leve conotação de crítica social em seu desfecho –, mas,
principalmente, pela atmosfera criada. Por isso, para mim, esta é a parte mais
interessante da obra.
Não obstante, neste livro de
pequenas histórias, ainda temos espaço para uma pequena amostra da conhecida
crítica político-social do autor que se destacou por ter contribuído
enormemente para a introdução da crítica social na literatura de ficção inglesa[1].
No alegórico enredo de A História de Ninguém, Dickens parece
tecer uma crítica profunda e entremeada de simbolismos e poética. A meu ver,
trata-se de uma denúncia às condições de penúria e esquecimento impostas aos
trabalhadores por sua elite política que, em vez de atender aos interesses e
reais necessidades de seu povo – e saúde e educação são bastante enfatizados –,
preocupa-se com as infrutíferas e acaloradas discussões e retóricas parlamentares,
que de nada servem para aplacar o sofrimento do povo quando estas não resultam
em decisão alguma.
O autor |
Dickens faz sua crítica de
forma bastante figurada, ainda que inteligível, através da descrição de um
personagem incógnito, em um lugar recôndito, mas que entrega a seus vizinhos
barulhentos, a família Bigwig, as decisões acerca de questões que ele mesmo não
podia resolver em decorrência do fatigante trabalho que sustentava a sua
família.
Eram questões de importante
natureza a exemplo da educação de seus filhos, que deveriam ser decididas pela
peculiar família, de costumes estranhos, que, a despeito de suas longuíssimas
discussões, jamais chegavam a uma decisão concreta que levasse a uma ação real.
Enquanto isso, a família do pobre trabalhador, totalmente ao sabor daquelas
decisões, prosseguia em um rápido processo de decadência. Diante desse poder de
decisão que os Bigwigs exerciam sobre a vida do trabalhador sem nome, não é de
surpreender que nesta alegoria Dickens tenha escolhido para a família o nome de
Bigwig, que no inglês faz referência a uma pessoa importante, um figurão,
“mandachuva”, ou, na minha interpretação, a classe dirigente na Inglaterra de
sua época.
De toda forma, nestes contos encontramos diferentes
vertentes exploradas pelo escritor que ficou mundialmente conhecido por ter
escrito David Copperfield e Oliver Twist. Encontramos desde temas
mais despreocupados e corriqueiros até histórias que parecem se preocupar com o
contexto social de sua época.
Retratos
Ingleses não é um livro do qual se tenha muita coisa para falar em
decorrência de seu tamanho, ainda mais, este é meu primeiro contato com a obra
do autor. Mesmo que já tenha assistido ao musical de Oliver Twist, isso não valeria pela obra escrita. Por isso esta
minha resenha, atipicamente, está sendo breve.
A edição lida é da Editora
Ediouro, do ano de 1996 e possui 112 páginas.
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