Por Eric Silva
28 de março de 2020
“Para todo problema, existe uma
solução mais simples.”
(Agatha Christie)
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Descrição de uma sociedade marcada pelo abuso de drogas,
8ª Confissão transita por dois universos muito distintos: o da alta sociedade
de São Francisco e o dos seus moradores de rua. Contudo um acontecimento em
comum aproxima esses dois universos tão opostos: crimes complicados, sem
motivação explicita e, à primeira vista, insolucionáveis.
Sinopse
do enredo
Livro do gênero policial, 8ª Confissão, narra a história de dois
crimes aparentemente muito difíceis de serem solucionados, contudo por razões
muito diferentes. O primeiro pela sua natureza peculiar e extremamente limpa e,
o segundo pelo descaso policial e pela escassa informação acerca da identidade
da própria vítima.
Após assistirem à
apresentação de Don Giovanni, na ópera de São Francisco, o jovem casal de
milionários, Isa e Ethan Bailey são assassinados em quanto dormiam alcoolizados
em sua mansão, no que poderia ser chamado de o crime perfeito. Sem deixar nenhum rastro e nenhuma arma do crime,
ou melhor, nenhuma evidência de qual seria a arma do crime, o assassino executa
uma terrível vingança e deixa a polícia atordoada sem compreender se os
cadáveres perfeitamente intactos e ainda quentes dos Baileys teriam sido produzidos
por um homicídio, um mal súbito ou um suicídio coletivo.
Encarregada de investigar as
mortes de Isa e Ethan, a tenente Lindsay Boxer também ainda se vê no impasse de
também investigar com seu parceiro, Richard Conklin, e sua amiga jornalista,
Cindy Thomas, outro crime aparentemente sem suspeito: a morte violenta de
Bagman Jesus, um respeitado morador de rua que foi brutalmente executado. Ao
conhecer mais profundamente a história daquele homem conhecido nas ruas por
ajudar muitas pessoas em condições semelhantes à dele, Cindy percebe que tem um
furo de reportagem e se empenha não só para levar o caso a público como levar o
assassino a justiça. Contudo, suas investigações a levam a uma conexão com uma
rede criminosa.
Dois crimes misteriosos e de
difícil solução que se somam aos problemas amorosos do trio de investigadores,
cuja amizade é abalada quando Lindsay nota que Conklin e Cindy estão cada vez
mais próximos e o ciúme estremece a relação dos três.
Resenha
Oitavo livro da série Clube
das Mulheres Contra o Crime, escrita pelo estadunidense James Patterson,
dessa vez em parceria com a também estadunidense Maxine Paetro, 8ª Confissão é um livro pequeno (187 páginas), mas com muitos
capítulos (110, mais um prólogo e um epílogo).
No meu ponto de vista, não se trata de um thriller e também não chega a ser nem o melhor nem o mais
misterioso livro policial que já li. Não pela qualidade da narrativa, que achei
ótima, com uma linguagem objetiva e
simples e com personagens até um certo ponto interessantes, ainda que clichês.
O que me desagrada no livro de Patterson e Paetro é a obviedade de quem era o
assassino dos Baileys e de quais as
razões dos crimes por ele cometido.
Os autores não fizeram questão de omitir a identidade do
assassino (só seu nome) e deixaram muito claro suas motivações ao introduzi-lo
na narrativa. Seguindo a linha contrária da maioria dos romances policiais, nos
quais a identidade do assassino é guardada até os últimos capítulos, Patterson
e Paetro preferiram apostar no mistério de como o assassino matava suas
vítimas. Um método inusitado e bastante engenhoso que realmente confundiria
qualquer investigador por mais experiente que ele fosse.
Contudo, a aposta dos autores, apesar de dar certo, tira muito
da graça que um fã do gênero gosta de encontrar em um bom mistério policial.
Livros policiais não costumam ter enredos muito criativos no que consistem a
motivação, mas é requisito mínimo que os crimes sejam engenhosos e que a
identidade do assassino seja completa e totalmente desconhecida.
É esse mistério que motiva o leitor a ir até as últimas páginas
num trabalho de Sherlock Holmes, juntando peças, falas e pequenos fragmentos
que revelem a mínima pista da identidade do assassino e de suas motivações. No
meu ponto de vista essa é a graça de se ler esse tipo de literatura – como
sempre, mera opinião particular de um leitor muito chato como eu.
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Acredito que o caso Bagman figura nesse livro apenas por três
razões. A primeira para compensar o fato de o assassino principal da narrativa
ser revelado ainda nos primeiros capítulos. Sem isso 8ª Confissão seria um livro completamente frio e monótono. O que
evita o livro de ser monótono é o foco da narrativa mudar muito, indo da vida
íntima dos personagens principais – e também de alguns personagens secundários
– até o desenrolar de cada caso. Inclusive o desfecho do caso Bagman é surpreendente,
inesperado mesmo, e é o que mais vale a pena na história.
A segunda razão seria a extensão do romance. Como já disse, 8ª Confissão é um livro sucinto com linguagem simples e sem
floreios. Além disso ele contém histórias
secundárias fracas: os ciúmes de Lindsay em relação a Conklin e Cindy, e um
terceiro caso (esse em julgamento), que é acompanhado por outro personagem da
história, a promotora de justiça, Yuki Castellano. Sem o caso adicional de
Bagman Jesus a narrativa seria ainda menor e dificilmente chegaria as cem
páginas.
A terceira razão, e a mais importante, é que os dois casos
tratados juntos se contrapõem, fazendo com que o livro dos dois estadunidenses
seja uma crítica ao comum descaso das chefias policiais quanto a casos de
homicídios de indigentes, drogados e mendicantes.
Pela posição social elevada do casal assassinado na sociedade
são-francisquense, pela projeção midiática que o caso passa a ter e pelo
parentesco próximo com o prefeito da cidade, o caso dos Baileys é tratado pela chefia policial local como
prioridade total e com total mobilização de todos os recursos policiais
disponíveis. Isso acaba por diminuir as possibilidades de Lindsay e Conklin de
investigarem outros casos em aberto e considerados por seus chefes naquele momento
como de menor importância. Além disso, casos de pessoas em situação de rua,
como era o caso de Bagman Jesus, em geral eram arquivados por falta de dados
até mesmo da identidade das vítimas e pela pouca relevância que era dada a
essas pessoas. Esses fatores dificultam o trabalho dos dois policiais em
investigarem o caso do morador de rua assassinado, e se não fossem os esforços
de Cindy, esse acabaria como mais um caso sem solução arquivado pela polícia.
O que se vê através da narrativa do livro é que os autores
quiseram fazer uma crítica social de
como a desigualdade social tem sua expressão até mesmo no âmbito policial. Não
é novidade, pelo menos não no Brasil, que, a depender da posição social da
vítima, os casos dos mais ricos quase sempre são considerados como mais
prioritários pelas forças policiais e são investigados mais minuciosamente do
que no caso de vítimas mais pobres, envolvidas com drogas, ou indigentes, como
é o caso de Bagman.
Para além destas questões, 8ª
Confissão também faz uma descrição bastante realista sobre o problema das
drogas nas grandes metrópoles dos Estados Unidos. Não só seu uso por parte dos
membros da alta sociedade e celebridades, mas principalmente da realidade das
ruas.
Através das suas investigações Cindy desvenda para o leitor a
situação das jovens viciadas em meth
(metanfetamina), que vivem nas ruas e chegam a se prostituir em troca de
drogas. Também dá evidências das graves consequências do uso dessa substância
psicotrópica e ainda mostra o cenário de horror e destruição provocado pela
ação dos traficantes entre a população moradora das ruas. A sensação que tenho
depois da leitura é que o livro faz uma descrição muito próxima de uma
realidade familiar a muitos brasileiros: a Cracolândia paulista.
Quanto aos
personagens? Bem, eles não são nem muito complexos, nem muito cativantes,
como em geral acontece em narrativas mais focadas em um elemento específico da
história.
Os personagens de 8ª
Confissão possuem personalidades bem demarcadas, algo que se torna natural
depois de oito narrativas envolvendo um mesmo grupo, mas em muitos aspectos são bastante clichês, como é o caso do inspetor
Conklin, que cumpre o papel de policial bonitão e cheio de sex appeal, e também de Cindy, que é a típica repórter enxerida,
espaçosa e sem limites.
Quanto a Lindsay? Bem, não estou acostumado a ver romances
policiais com investigadores o sexo feminino e muito menos sendo líder da
dupla, esse é o primeiro livro policial que eu leio que cria uma protagonista
nesses moldes e digo que gostei da ideia.
Apontaria como
algo muito positivo de 8ª Confissão o
empoderamento que ele dá aos seus personagens femininos.
A edição lida é da Editora
Arqueiro, do ano de 2013 e possui 187 páginas.
Sobre
o autor
James Patterson é um dos autores mais vendidos no mundo inteiro.
Trabalhou muitos anos na área de Publicidade e foi presidente da J. Walter
Thompson por quase seis anos. Ganhou o Edgar Award de melhor romance policial
com seu livro de estreia, The Thomas Berrynan
Number, que só chegou a ser publicado em 1976, depois de ter sido recusado
por mais de 20 editores. Após essa dificuldade o autor iniciou uma série de
best-sellers. Vive atualmente em Palm Beach, Flórida, com a mulher e o filho.
Maxine Paetro é romancista e jornalista. Mora com o marido em
Nova York.
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