terça-feira, 11 de julho de 2017

#2 Lirismos: Meninos Carvoeiros – Manuel Bandeira

Postagem: Eric Silva
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
- Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.

Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)

- Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles...
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!

-Eh, carvoero!

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.



Sobre o autor


Manuel Bandeira foi poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Nasceu em 19 de abril de 1886, na capital pernambucana e faleceu em 13 de outubro de 1968, na cidade do Rio de Janeiro. É considerado um dos principais poetas do modernismo e seu poema os sapos inaugurou a semana de 22 (semana da arte moderna de 1922). Poeta de escrita direta e simples, possui uma obra extensa e foi escolhido para ocupar a cadeira nº 24 da Academia Brasileira de Letras em 1940.







Poema extraído do livro O Ritmo Dissoluto, publicado em 2014, pela editora Global.
(Encontre o livro no link do título)






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