Postagem: Eric Silva
Mil bateias Vão rodando
sobre córregos escuros;
a terra vai sendo aberta
por intermináveis sulcos;
infinitas galerias
penetram morros profundos.
De seu calmo esconderijo,
O ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho..
É tão claro! - e turva tudo:
honra, amor e pensamento.
Borda flores nos vestidos,
sobe a opulentos altares,
traça palácios e pontes,
eleva os homens audazes,
e acende paixões que alastram
sinistras rivalidades.
Pelos córregos, definham
negros, a rodar bateias.
Morre-se de febre e fome
sobre a riqueza da terra:
uns querem metais luzentes,
outros, as redradas pedras.
Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos;
cada família disputa
privilégios mais antigos;
os impostos vão crescendo
e as cadeias vão subindo.
Por ódio, cobiça, inveja,
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos,
- mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.
Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranqüílo,
que a noite é um mundo de sustos.
Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro.
Cecília
Benevides de Carvalho Meireles foi uma jornalista, pintora, poetisa e
professora brasileira. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 7 de novembro de
1901 e ali faleceu em 9 de novembro de 1964. Lançou seu primeiro livro de
poemas, Espectros, em 1919, quando ainda tinha dezoito anos de idade. Participou
do grupo literário da Revista Festa, de caráter católico, conservador e
anti-modernista. Atuou como professora em várias universidade no Brasil e
no exterior, e, na Universidade do Distrito Federal, lecionou Literatura
Luso-Brasileira. Sua obra foi traduzida em vários países e é considerada a
primeira mulher de grande expressão na literatura brasileira.
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