Por Eric Silva
19 de abril de 2020
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A história fantástica de Dorian Gray, mesmo após de 130 anos, é uma ressalva sobre a corrupção nascida da vaidade e do ego ainda bastante atual, ainda que a intenção do autor não fosse originalmente dar nenhuma lição de moralidade. Complexo, dramático e absurdamente original em sua ideia básica de enredo, O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde causou polêmica em sua época por trazer temas reprováveis pela sociedade da época, e é o tipo do livro que ou você ou vai amar ou odiar (e há muitos motivos para ambos).
Sinopse
do enredo
O pintor Basil Hallward
encontra um novo ímpeto e inspiração para sua arte depois que conhece o jovem
Dorian Gray, um rapaz um tanto puro, ingênuo e imaturo, mas dono de uma beleza
juvenil espetacular e que vinha chamando a atenção da aristocrática sociedade
londrina. Movido por essa adoração quase romântica, Basil comenta com seu
amigo, o hedonista e cínico Lorde Henry Wotton, sobre o seu
achado. Exalta o caráter e beleza de Dorian e fala sobre o retrato estupendo do rapaz que com tanto afinco e arte
ele pintava, ainda que Dorian se sentisse entediado de posar por tanto tempo
para seu amigo pintor.
Curioso com a devoção
apaixonada de Basil pelo rapaz, Henry insiste em conhecer Dorian, e também se
encanta com o rapaz, logo se tornando amigos. Com a convivências com Henry,
Dorian pouco a pouco se desvia para uma vida de prazeres imediatos e de
superficialidades estéticas que o Lorde cultuava como o único tipo de vida que
valia a pena ser vivida e que tratou de incutir na mente do rapaz.
Quando finalmente a pintura
de Basil fica pronta, o pintor teme ter impresso na tela todo o seu íntimo e
assim ter exposto seus sentimentos mais recônditos pelo rapaz. Então, decide
presentear Dorian com o retrato pintado dele. Impressionado com a pintura, o rapaz
se dá conta, pela primeira vez, de sua enorme beleza e inveja a pintura, porque
ela nunca envelheceria, enquanto ele perderia o frescor da juventude com o
transcorrer dos anos.
Depois daquele episódio, a
medida com que o tempo passa, a beleza do rapaz aprece imutável e enquanto
todos envelhecem ele se mantém jovem. Ao mesmo tempo, uma revolução se dá no
caráter do rapaz, e Dorian vai se tornando ele também hedonista, egoísta e
narcisista, entregando-se a um estilo de vida que transforma radicalmente a ele
e ao retrato.
Resenha
Antes de começar, preciso fazer a seguinte observação: O Retrato de Dorian Gray possui duas
versões, a original de 1890, com treze capítulos, e outra, publicada no ano
seguinte, com vinte capítulos. Essa segunda versão ampliada e modificada foi
exigência dos editores de Oscar Wilde que desejavam que a narrativa original de
1890 fosse suavizada, provavelmente pela recepção do público e as controvérsias
entorno do livro.
A edição que eu li, é a versão original, bilíngue, contendo apenas
os 13 capítulos originais. Por conta disso, essa edição não pode ser comparada,
por exemplo, com o filme homônimo de Oliver Parker (2009), que possui
personagens existentes na versão ampliada, mas que inexistem na versão original
de 1890.
Como falei no lead desta resenha, O Retrato de Dorian Gray é uma obra complexa, dramática e
absurdamente original em sua ideia básica de enredo. Mas preciso, no entanto,
esclarecer cada um desses pontos.
Afirmo que o único romance escrito por Oscar Wilde é uma obra complexa por um motivo
bastante peculiar. Em geral considero um livro complexo pela natureza de sua
narrativa, mas este não é o caso, porque que em geral os acontecimentos
narrados em O Retrato de Dorian Gray
se dá em espaços fechados como o ateliê de Basil, ou em teatros e óperas,
quando não nas salas de estar dos aristocratas Henry e Dorian. Não, em relação a enredo o livro é simples,
bem pouco dinâmico e pesado na quantidade de diálogos. O que faz essa narrativa complexa do meu ponto de vista é a complexidade
de dois de seus personagens principais. Falemos um pouco então deles:
Dorian e Lorde Henry.
Dorian
O rapaz Dorian é de longe o mais complexo dos personagens do
livro, porque o protagonista da trama foi pintado por Wilde com muitos matizes
de cores e sua personalidade vai se metamorfoseando com o desenvolvimento da
trama, tornando-o extremamente narcisista, imoral, insensível e até pérfido.
Segundo dá a entender o narrador, Dorian, antes mesmo de
conhecer Basil, era um garoto ingênuo, puro e bom. Sua beleza física, que se
encontrava na primavera da vida, se harmonizava com uma candura, talvez,
bucólica, campestre. Mas talvez ele não fosse isso tudo, e essa minha sensação
seja influência da atuação de Ben Barnes, que interpreta um Dorian bastante
tímido e um tantinho interiorano no filme de Oliver Parker (2009). Mas seja
como for, foram o culto recebido nos salões ingleses, mas principalmente a
devoção apaixonada de Basil, que levaram o rapaz a tomar consciência do quão
grande e fascinante era a sua beleza física, despertando nele a primeira
semente de sua derrocada: uma vaidade até então adormecida.
![]() |
Dorian, interpretado por Ben Barnes, ao chegar em Londres |
Henry incute em Dorian uma paixão doentia pelo que a vida e a
sua condição podiam lhe dar. Dentro dessa paixão ele acaba deturpando ou
afastando qualquer outro sentimento que possa prendê-lo ou afastá-lo de uma
realidade que ele criou em sua mente e considera como perfeita. [ALERTA DE SPOILER].
Por isso, ele se mostra capaz distorcer a realidade para que ela caiba no que
seu desejo lhe impõe, como convencer a si mesmo que Sibyl Vane, atriz sem
sucesso por quem ele pensou estar apaixonado e que depois ele ilude e abandona
por um motivo torpe e sem sentido, não cometeu suicídio por sua causa. Ele,
literalmente, convence a si mesmo que não tem culpa por aquela morte
desesperada, e passa a ver o caso com indiferença e a Sibyl como um sonho de um
passado mais longínquo do que recente.
Além disso, essa paixão pela vida leva Dorian a ter uma sede
insaciável por conhecer coisas novas, uma fome de conhecimento que poderia ser
construtiva, se em outros aspectos de seu caráter o rapaz não fosse danoso a si
e a todos os demais (na narrativa quase todo mundo que se relaciona com ele se
desvia, entra em declínio ou tem fim trágico).
Contudo, Dorian não é, em
nenhum sentido, um personagem plano, ou seja, previsível e constituído de
uma única ideia ou qualidade. Em muitos momentos, a mente de Dorian parece
enevoada e tentando resistir ao declínio rápido e acentuado de seu caráter. Ele
tem momentos breves de sensatez e humanidade, mas que logo depois são
espantados pela vaidade e degeneração a que estava submetido. Ainda assim,
Dorian vai ser, até o fim da trama, egoísta e egocêntricos. Incapaz de
arrepender-se de seus crimes e das consequências de seus atos. Até chega a
surgir um lampejo de uma vontade de ser bom novamente, talvez resultado do
cansaço promovido pelo peso de sua vida depravada, mas na minha opinião (a
mesma de Henry), ele só estava inclinando-se ao desejo de sentir uma nova
sensação, novamente agia por vaidade. Porque a imagem que construí de Dorian, é
que ele só tinha pena de si mesmo e tudo que fazia era pensando unicamente em
si, em sua vaidade e em alimentar sua fome de novidades, prazeres, de sentir
novas sensações e de afastar o tédio.
Todo esse egoísmo e depravação de Dorian se tornam evidentes na
pintura de Basil que passa a carregar em si o peso dos pecados e da consciência
que o próprio rapaz parecia perder.
Tanto que seu instinto de esconder o quadro não era apenas para ocultar
dos outros o seu segredo, era também ocultar de si a verdade de que ele se
transformava em um monstro desalmado, porque a pintura, como um espelho, era o
reflexo de sua alma corrupta. Por desejar nunca envelhecer e perder sua beleza,
colocando a beleza e a estética na frente de tudo, de todos e de todas as
coisas que ele teria “uma carga terrível
de carregar”. Essa seria a frase que melhor ilustra o futuro de Dorian na
trama.
Lorde Henry
Considero Lorde Henry
Wotton como um hedonista desprezível. Henry é uma pessoa inescrupulosa,
imoral e sob sua influência Dorian vai se tornando sórdido e desprezível. Um
dos personagens mais repulsivos que já tive o desprazer de conhecer na
literatura. A avó sadista dos Dollanganger
de O Jardim dos Esquecidos, não conseguiu provocar em mim tanta repulsa quanto o personagem do
aristocrata de O Retrato de
Dorian Gray.
![]() |
Lorde Henry, interpretado por Colin Firth |
Era profundo defensor da filosofia hedonista[2],
mas um completo hipócrita, uma vez que ele mesmo não pusesse em prática as suas
ideias. Em lugar disso, usava como experiências aqueles que, ao seu redor,
fossem impressionáveis o bastante para se envolver em suas preleções pomposas,
aparentemente muito profundas e reveladoras. Uma vez que os mergulhava em suas
ideias Henry se entretinha em observá-los, estudá-los e distorcer pensamentos e
sentimentos.
Dorian foi ingênuo e impressionável o bastante para se tornar um
experimento de Henry, e, enquanto Basil criou sua obra-prima a partir da imagem
de Dorian, impresso na tela, o aristocrata hedonista buscou tornar Dorian,
literalmente, em seu magnum opus[3]. Talvez, acredito
eu, que ele só o tenha conseguido porque faltou a Dorian orientação familiar. O
rapaz havia tido como única família um tio que o desprezava, maltratava e o
trancava, isolando-o do mundo. Dorian era novo demais e não foi preparado para
pensar por si mesmo ou para separar o joio do trigo. Basil, que era
profundamente moral, talvez pudesse tê-lo ajudado, se sua devoção, se sua
paixão por Dorian não o tivesse tornado fraco e complacente[4]
com os erros do rapaz.
Gosto de filosofia, mas o hedonismo e esteticismo apresentado
pelo personagem Henry, me enojou bastante, não me convenceu e foi insuportável
de ler.
Dramático e
absurdamente original
Mesmo tendo falado mais profundamente destes dois personagens,
porém, isso não é o suficiente para explicar porque eu acho O Retrato de Dorian Gray dramático,
absurdamente original e o tipo do livro que ou você ama ou odeia, havendo
muitos motivos para ambos.
![]() |
Corrupção: o retrato antes e depois. |
Histórias de maldições e de pactos com o demônio são comuns, mas
eu ainda não vi nada na literatura moderna que se assemelhe a proposta de
enredo de O Retrato de Dorian Gray e
que não tenha sido inspiração na própria obra de Wilde.
Em primeiro lugar, temos aqui uma maldição muito peculiar:
trocar de lugar com um retrato que envelhecerá em seu lugar e representará o
âmago de sua alma como se fosse um espelho. Faz lembrar o conto da Branca de Neve, onde o espelho seria o retrato, e a
vaidade o motor que move o seu usuário. Contudo, Dorian não é um bruxo. Ao
contrário do que ocorre no conto dos Irmãos Grimm, trata-se de uma maldição que dota o
personagem de uma personalidade muito singular e maquiavélica, sem, no entanto,
dotá-lo de nenhum poder sobrenatural em particular o qual ele possa fazer uso.
Mas se fossemos comparar esse texto a algum clássico antecessor, eu o compararia a uma releitura moderna do mito de Narciso.
Na trama, Basil talvez seria a versão masculina da ninfa Eco,
que cultua a imagem de Narciso (Dorian), enamora-se e fica preso a uma torrente
devocional que causa a desgraça dos dois. No caso, a Eco de Wilde confecciona a
pintura que será a destruição dos dois.
No mito, por conta de Eco, que em algumas versões morre
apaixonada, Narciso é levado por Nêmesis, deusa da vingança, a olhar para seu
reflexo n’água e apaixona-se por sua própria imagem refletida, ficando tão
fixado e incapaz de afastar-se da imagem, que morre ali mesmo à margem do
regato. Dorian, assim como Narciso, era belo, orgulhosos e arrogante, e ao
ver-se representado na tela de Basil, inveja a si mesmo, porque passa a amar a
si mesmo mais do que a tudo e a todos. Como Narciso, era incapaz de se
apaixonar, e por isso causou dor, não só a Basil, como a muitas outras pessoas
que por ele se enamoraram. [ALERTA DE SPOILER] E pela vaidade e egoísmo condena
a si e a Basil a um fim trágico.
“A própria agudeza do contraste costumava animar seu sentimento de
prazer. Ele se tornava cada vez mais enamorado de sua própria beleza e cada vez
mais interessado na corrupção de sua alma”.
Mas voltando a discussão.
Em segundo lugar, o livro de Wilde contém uma maldição nascida
de um desejo muito forte, mas quase inconsciente e sem que haja uma promessa,
um pacto demoníaco. E por fim, Wilde faz com que tudo isso se torne uma união
entre o fantástico sobrenatural, sem perder as
raízes na podridão muito real das relações humanas em uma sociedade hipócrita,
conservadora e corrupta. Por isso, achei O
Retrato de Dorian Gray original, sobretudo para a sua época.
Segundo afirma a introdução da edição lida, Wilde teria tido a
ideia após ser chamado ao estúdio do pintor Basil Ward. Na época, o pintor estava
finalizando uma pintura de um jovem modelo, e Wilde, após ter visto a obra
teria dito: “é uma pena que tal gloriosa
criatura um dia envelheça”, afirmação com a qual Basil Ward concordou e
acrescentou: “seria maravilhoso se ele
pudesse permanecer exatamente como ele é; a imagem do quadro é que deveria
ganhar as marcas do tempo”. Daí nasceria a inspiração para o livro.
Contudo, apesar dessa ideia básica do enredo ser estimulante,
instigante, a escrita de Wilde não ajudou muito. O Retrato de Dorian Gray é um livro pensado pelo autor para que
seja filosófico e defenda suas ideias esteticistas e, por isso, o autor carrega
a narrativa com diálogos pomposos e longuíssimos que logo entediam o leitor
mais acostumado ao dinamismo da literatura contemporânea, ou simplesmente
àqueles que não estão interessados na temática do hedonismo ou do esteticismo
wildiano (este último é meu caso em particular).
Além desse fator, o livro é extremamente dramático no sentido
dramatúrgico da palavra. Único romance do autor inglês que, no entanto,
escreveu dezenas de peças teatrais, é provável que por conta da veia dramaturga
de Wilde tudo nesse livro soa como uma grande peça de teatro, com longos
discursos do narrador e diálogos extensos quase sempre com duas ou três pessoas
no máximo.
Outro aspecto da narrativa a ser destacada é o seu conteúdo
filosófico proeminente, ligado ao hedonismo e ao esteticismo (falo mais sobre logo a seguir), e que torna
a leitura do livro um pouco irritante, bastante cansativa e me fez levar 105
dias para terminar de ler. Esses 105 dias é expressão do quanto muito pouco a
escrita wildiana me estimulou a terminar de ler.
Por isso,
afirmo que ele é um livro que ou você vai amar (pela originalidade e pela
narrativa de cunho fantástico) ou odiar (por todos os outros motivos).
Temas
que saltam à vista: esteticismo e homossexualidade
Como falei, O Retrato de Dorian Gray é um livro que
aborda com ênfase o esteticismo.
Segundo Alexandre Garcia
Peres[5],
o esteticismo foi um movimento tanto artístico quanto intelectual que se
desenvolveu ao longo do século XIX. Tinha por características o “[...] culto ao Belo na arte, em detrimento
da função ético-moral que ela pode ter [...]” e “[...] foi um dos vários movimentos que se valeram da ideia de se fazer
‘arte pela arte’”.
Por conta das ideias do
esteticismo, o livro traz muitas referências às artes, desde as artes menores
(joias e objetos decorativos), até as artes mais destacadas como às literaturas
clássica e moderna, à música, dentre outras formas de artes. O capítulo nove,
por exemplo, dedica várias páginas a falar dos hobbies de Dorian e as coisas que por algumas temporadas
chamavam-lhe a atenção, e as quais se dedicava com afinco até abandoná-las e
seguir para a atividade seguinte. Essas atividades, quase todas, estavam
ligadas ao mundo artístico. Além disso, o amor passageiro de Dorian por Sibyl Vane
estava mais ligado aos talentos artísticos da moça no teatro, do que de fato à
pessoa que ela era: uma jovem apaixonada e inexperiente.
As ideias esteticistas estão também nos discursos tediosos de
Lorde Henry e também nas observações do narrador. Por fazer essa defesa das
ideias do autor, o narrador é bastante opinativo, porque ele representa a
própria voz do autor, que como havia se referido uma vez, via nos personagens
algo de si:
“Basil
Hallward é o que penso que sou: Lorde Henry é o que o mundo pensa de mim:
Dorian Gray é o que eu gostaria de ser — em outras eras, talvez”.
Acredito que com isso ele queria firmar que era um apaixonado
como Basil, mas que era visto como um degenerado que desviava inocentes, como
Lorde Henry, e desejava ser tão encantador e fascinante quanto era Dorian.
Sou uma pessoa que gosta de
filosofia, sobretudo do ato de pensar filosoficamente, apesar de ser mais da
prática do que da teoria, mas esse autor me cansou verdadeiramente, não tive
muita paciência de ler as ideias filosóficas de Wilde, e o texto se tornou um
martírio para mim.
No entanto, algo que surpreende em O Retrato de Dorian Gray é a coragem de Wilde de, naquela época,
fazer referências tão óbvias ao homossexualismo, sobretudo com o personagem do
pintor Basil. Mas esta atitude corajosa
se voltou contra ele quando, em uma contenda judicial contra o pai de um de
seus amantes, passagens de O Retrato de
Dorian Gray foram usados como provas das inclinações homossexuais de Wilde.
Além de ter sido preso ele foi afastado de seus filhos e, depois, abandonou a
Inglaterra.
A era vitoriana foi marcada por
uma moral muito severa, marcada por valores que englobavam a “restrição sexual, pouca tolerância para o
crime e um código social de conduta pública rigoroso”[8]
e nesse período foram constantes os processos por sodomia ilegal. Na época, os
homossexuais eram tratados como sodomitas, uma referência a Sodoma, cidade
citada na bíblia sobre a qual eram relatados casos de relações sexuais entre
homens. A homossexualidade era considerada uma aberração e era alvo de estudos
médicos que tentavam entendê-la.
No plano legal, a Emenda Labouchere à Lei de Emenda da Lei Criminal de 1885, tornou todos os atos
homossexuais masculinos ilegais no Reino Unido. A punição para quem
desrespeitasse pública ou privadamente a norma era de dois anos de prisão, em
outras palavras, cometer ou ser parte em atos de homossexualidade era crime,
mesmo quando isso ocorria de forma privada. Oscar Wilde foi um dos condenados
por violar esta lei, em 1895, se tornando símbolo da repressão puritana inglesa[9].
O Retrato de Dorian Gray é um livro interessante e peculiar. Um romance gótico que
seria um dos meus favoritos se tivesse sido escrito em outra época e sem o
exagero de tantos diálogos longuíssimos e suntuosos, e sem tanto destaque para
o hedonismo e o esteticismo que foi exaustivamente descrito por Wilde.
Os personagens são complexos
e muito bem desenvolvidos e a trama fantástica (gótica) muito bem pensada e
executada. O texto traz muitas referências a cidade de Londres, aos costumes
ingleses em voga e também a obras da literatura clássica que tornam as notas de
tradução indispensáveis. O desfecho não se dá pelos motivos mais criativos, mas
não decepciona.
Atrevo-me a dizer, apesar de não ter gostado do livro,
que a obra de Wilde é uma expressão vívida e apaixonada do idealismo de uma
época e do íntimo de um grupo que era marginalizado, ainda que falar de
homossexualismo não fosse o objetivo do autor, mas, como era de sua natureza e
Wilde se coloca tão intensamente nesta obra, não foi possível a ele dissimular.
A edição lida é bilíngue
(português e inglês), da Editora Landmark, do ano de 2012 e possui 224 páginas.
Sobre o autor
Nascido em 16 de outubro de 1854, em Dublin, na Irlanda, e filho de uma poetisa nacionalista, Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde foi escritor, poeta e dramaturgo. Em quanto estudou em Oxford se aliou ao movimento artístico do Esteticismo. Casou-se em 1884 com Constance Lloyd, com quem teve dois filhos.Embora conhecido nos círculos sociais, recebeu pouco
reconhecimento por sua obra durante muitos anos.
Em 1895, o marquês de Queensberry, pai de Lorde Douglas amante
de Wilde, iniciou uma campanha pública contra o autor. Após perder um processo
judicial contra o Marquês, Wilde foi condenado a dois anos de trabalhos
forçados. Ao ser libertado, se autoexilou em França, onde morreu na completa
obscuridade em 30 de novembro de 1900.
[1]
https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A2ndi
[2]
Cada uma das doutrinas que concordam na determinação do prazer como o bem
supremo, finalidade e fundamento da vida moral, embora se afastem no momento de
explicitar o conteúdo e as características da plena fruição, assim como os
meios para obtê-la (HOUAISS, 2009).
[3]
Refere-se a melhor, mais popular ou renomada obra de um artista ou pensador.
[4]
Desejoso de agradar, de demonstrar cortesia, de servir
[5]
PERES, Alexandre Garcia. Esteticismo – O que é? Quando surgiu? O que defende?
Características e Artistas. Disponível em:
<https://www.gestaoeducacional.com.br/esteticismo-o-que-e/>. Acesso em:
19 de abril de 2020.
[6]
INTRODUÇÃO. In: WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. São Paulo: Landmark,
2014. 224 p.
[7]
INTRODUÇÃO. In: WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. São Paulo: Landmark,
2014. 224 p.
[8]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Moral_vitoriana
[9]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Moral_vitoriana
[10]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Castra%C3%A7%C3%A3o_qu%C3%ADmica#Europa
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