Por Eric Silva
“Meu pai me deu este corpo que é efêmero; mas o meu
mestre me deu uma vida que é imortal”
(Alexandre, o Grande)

Alexandre Magno foi, na
História, um homem de batalhas e conquistas gloriosas. Um líder nato, um
guerreiro destemido. Filho do rei Filipe da Macedônia, foi educado pelas mentes
mais prodigiosas da Grécia Antiga, entre elas, Aristóteles, que lhe ensinara
muito do que um futuro rei necessitaria para governar e um general, para
conduzir seu exército a vitória.
Em 336 a.C., em decorrência
do assassinato de seu pai, Alexandre sobe ao poder da Macedônia e conduz a
expansão de seu império através de sucessivas campanhas de guerra que lhe
renderiam a conquista da Pérsia, da Síria e do Egito – onde fundou a cidade de
Alexandria –, além de estabelecer colônias na Índia[1].
Mediante estas batalhas não só ampliou os seus domínios, mas também construiu
um dos maiores impérios da antiguidade, lhe rendendo o título de o maior
conquistador da história sem ter perdido uma única batalha[2].
Porém, mesmo para um grande
guerreiro a morte é inadiável, e no ano de 323 a.C. Alexandre sucumbiu a uma
misteriosa febre que seus médicos não conseguiram tratar. Após sua morte, seu corpo, em um caixão
dourado, foi sepultado em Alexandria e seu império, dividido entre seus maiores
generais[3].
A partir dali, muitas coisas
aconteceriam à Alexandria, como o incêndio de sua biblioteca, no século VII, ou
o terremoto que, em 1375, destruiria o seu imponente farol[4].
E passados mais de 2.300 anos, o paradeiro do túmulo em que teria sido
sepultado o corpo de Alexandre ainda seria um mistério. Porém quem o
encontrasse não só estaria diante de riquezas incalculáveis, como diante da
descoberta arqueológica mais importante do século. É utilizando-se de um vasto conhecimento sobre a história deste notável
conquistador que o escritor britânico Will Adams – ainda pouco conhecido no
Brasil – tece a narrativa de O Enigma de
Alexandre o primeiro livro da série escrita pelo autor sobre o arqueólogo
Daniel Knox.
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Estátua de Alexandre, o Grande |
Sinopse
Daniel Knox era um arqueólogo
que havia caído em desgraça após ter enfrentado um dos homens mais ricos e
influentes dos Bálcãs[5], o separatista macedônio
Philip Dragoumis.
Os Dragoumis empreendiam
vários negócios – alguns bastante escusos – no mundo da arqueologia e financiavam
diversas escavações. Porém seus interesses estavam direcionados a promoção de
uma insurreição que levasse ao separatismo de parte da Grécia – a província da
Macedônia. Após se envolver em uma questão delicada contra eles, Knox é levado
a se refugiar no Egito, onde passou a trabalhar como instrutor de mergulho para
um dos mais sórdidos milionários do Egito, chamado Hassan al-Assyuti. Com o
dinheiro de seu trabalho o rapaz poderia financiar sua própria pesquisa junto
com o amigo Rick no litoral da cidade egípcia de Sharm.
Contudo, Knox também mete-se
em problemas com o patrão e após agredi-lo fisicamente foge para Alexandria.
Ali começam as aventuras de Knox. Ao mesmo tempo em que se vê em uma fuga
alucinante da perseguição dos homens de Hassan, Knox se vê envolvido novamente
com os Dragoumis e na escavação daquilo que pode ser a principal pista para a
localização da tumba de Alexandre, o grande. Sua corrida passa em tão a ser não
apenas uma corrida contra os seus maiores inimigos como também, pela maior das
descobertas arqueológicas de sua vida.
Resenha
No Brasil, Will Adams não é
muito conhecido e apenas duas de suas obras – pelo que pude pesquisar – foram
traduzidas, ambas pela editora Record. Os dois livros são O Enigma de Alexandre (The Alexander Cipher) e Êxodo (The Exodus quest), ambos pertencentes a tetralogia com o personagem
Daniel Knox. Contudo, Will é autor de outras obras ainda sem tradução no país
como The Lost Labyrinth e The Eden Legacy (continuação da série Knox) e ainda
os livros Newton's Fire e City of the Lost.
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Will Adams, o autor |
Fizemos, inclusive, uma enquete entre nossas queridas
comunidades do Google+ para saber quem conhecia o autor e sua
obra. Tivemos a adesão de 44 pessoas até o momento (agradecemos a participação de todos) e 84%
dos votantes afirmaram desconhecer quem é Will Adams ou seus livros.
Eu também até então não havia
ouvido falar do autor nem de seus livros. Cheguei a ele por indicação da
leitora assídua e bibliotecária da Filarmônica 30 de Junho, aqui na minha
cidade. A primeira coisa que me chamou a
atenção foi o nome Alexandre em alto-relevo e numa cor que lembrava as pedras
lavradas das estátuas egípcias. Mas foi ao ler a sinopse e ouvir a
bibliotecária que me decidir a trazer o livro para casa. Não me decepcionei.
Will consegue escrever uma narrativa tão fluida quanto um
rio. A leitura é muito rápida e transcorre sem muito esforço. Se isso não bastasse, a cada capítulo ou seção, o autor
deixa um elemento em suspense, nos instigando a curiosidade e convidando a
prolongar mais um pouquinho a leitura, e mais um pouco, até você ter lido uma
centena de páginas sem se perceber. Claro que, como todo livro, não engrenamos
a leitura já no começo, mas esse ritmo não demora a aparecer, assim que o nosso
arqueólogo se mete na sua primeira confusão.
É marcante na narrativa a
mistura de temáticas. Conspirações,
máfia e perseguições se mesclam a preocupação do autor, desde o começo, de nos
apresentar a história e os feitos de Alexandre entremeados aos vários conflitos
e disputas posteriores a sua morte. Assim conhecemos não apenas a história
de Alexandre como a de sua cidade e das dinastias que o sucederam.
Por criar esta atmosfera de corrida contra o tempo e a
busca por desvendar um segredo histórico que o livro de Will me lembrou o Código da Vinci de Dan Brown.
Ainda não tive tempo de ler o
livro de Dan, mas assistir ao filme e, por isso, conheço a trama. Contudo há
duas diferenças entras as histórias. A primeira é que não há uma instituição
que conheça o segredo e queira mantê-lo escondido para sempre, como é o caso em
o Código da Vinci onde a igreja
deseja manter escondido a história de Cristo. Apesar disso, os Dragoumis
desejarem encontrar a tumba de Alexandre e deixar isso em sigilo até o momento
de usá-la como um trunfo para suas próprias ambições separatistas.
A segunda diferença é que
Knox é mais simpático e carismático do que Tom Hanks, o ator que interpreta o
professor de iconografia religiosa e simbologia Robert Langdon.
Outro livro que, a princípio, O Enigma de Alexandre me lembrou foi O Andarilho das Sombras do autor brasileiro Eduardo Kasse.
Logo no primeiro capítulo a
narrativa começa em um momento na época da morte de Alexandre e nele somos
apresentados a Quelônimo, uma das pessoas próximas a Alexandre e que fugia de
seus algozes por uma passagem subterrânea em meio ao deserto. Depois somos
levados a época atual quando se desenrola a trama. Esse jogo de tempo me fez
pensar que assim como no livro de Kasse teríamos dois momentos históricos
paralelos ao longo da narrativa. Porém, Will opta por manter o restante da
história no momento histórico atual e o que acontece a Quelônimo é revelado a
partir das descobertas arqueológicas feitas pelos personagens. A respeito disso, acho que assim
ficou melhor. A simultaneidade de tempos distintos é uma das marcas mais
interessantes do livro de Kasse, mas não teria o mesmo efeito com O Enigma de Alexandre.
Como geógrafo, achei também
interessante o livro levantar uma questão que é muito pouco debatido nas
escolas. Movimentos separatista são
muito comuns na Europa devido a profusão de diversos grupos étnicos que vivem
ali, porém são secundarizados e muito pouco divulgados e discutidos no Brasil.
Tamanha é a negligência em tecer discussões sobre o tema que não conheço os
detalhes da existência de um movimento macedônico. Sei apenas que é uma questão
de irredentismo, termo que usamos
para definir as intenções de um povo de completar uma unidade nacional mediante
a anexação de territórios onde vivem sua população e que se encontram em poder
de Estados-nações estrangeiras.
Por fim, uma coisa negativa
que vi na narrativa foi algumas mortes que considerei desnecessárias na reta
final, mas que não discutirei aqui para não dar mais spoilers do que isso. Porém, a narrativa tem um desfecho surpreendente
e cheio de reviravoltas. Até o fim é recheado de manobras de pessoas poderosas envolvidas
no caso.
Indico como uma boa leitura e estou ansioso para
conseguir o segundo livro. Espero também que a editora Record traduza os demais
livros da série.
A edição lida é da editora Record, do ano de
2012 e com 378 páginas e está disponível na biblioteca da Filarmônica 30 de
Junho.
[1] http://educacao.uol.com.br/biografias/alexandre-o-grande.htm
[2]http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/qual-foi-maior-imperio-todos-tempos-434570.shtml
[3] http://escola.britannica.com.br/article/480564/Alexandre-o-Grande
[4] http://historiadomundo.uol.com.br/idade-antiga/alexandria.htm
[5] Região sudeste da Europa que engloba a Albânia, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Grécia, República da Macedónia
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