Por Eric Silva
Primeiro livro de fantasia inspirado na África que eu já
tenha ouvido falar na literatura brasileira, Império de Diamante, do escritor
de ficção científica e game designer brasileiro, João Marcelo Beraldo, foi mais
um livro da nova geração de escritores nacionais que tem me reaproximado da
literatura brasileira. Ambientado em um universo de guerras territoriais e
religiosas que se mesclam a seres mágicos e um imperador imortal que se impõe
como um deus entre os homens, Império de Diamante é um livro cheio de
aventuras, lutas e mistérios que em uma narrativa bem construída, intensa e
agitada pelo calor de muitas batalhas prende o seu leitor até o fim da leitura.
Sinopse
Myambe é um vasto continente
repleto de diferentes culturas e de onde se originou a maioria dos povos do
mundo. Porém há alguns milênios surgira ali um poderoso e imortal guerreiro,
que reconhecido pelo seu povo como o deus-vivo, empreendeu uma longa campanha
de guerra para subjugar os povos hereges e impor o seu próprio culto. Sob o
comando deste Deus sem nome, ergue-se um dos mais poderosos impérios do planeta
com um regente que é eterno e um exército de poderes sobrenaturais.
Contudo após milênios de
governo próspero o Império de Diamante se encontra em rápido processo de
decadência. A terra morre e com ele o seu povo, acometidos pela fome causada
pela seca terrível. Apenas na capital, Jimfara, ainda impera a prosperidade,
apesar de que após vinte longos anos, a ausência do imperador em reclusão pode
ser sentida. Aproveitando da fragilidade do império, grupos rebeldes se erguem para
derrubar o império monarca imortal e fazer ressurgir as culturas e religiões
que outrora foram subjugadas. Em meio a este cenário de caos, quatro homens com
vidas, crenças e interesses diferentes terão seus caminhos cruzados com o
próprio destino do Império e com o mistério da origem do deus-vivo e ajudarão a
decidir a sorte de toda a Myambe.
Resenha
Myambe é um continente
marcado por guerras religiosas e expansionistas, mas cujo reino mais poderoso
demonstra fortes sinais de desgaste. A população pobre, desesperada sucumbe à fome
devido a uma seca severa e o seu Imperador, visto como um Deus entre os mortais
e que subjugou dezenas de civilizações descrentes em relação a sua religião,
por duas décadas se mantem recluso após ser ferido em combate.
Na clara ausência do
Imperador seus sacerdotes de maior escalão assumem o governo da capital
buscando manter os palacianos ignorantes em relação a situação de caos que se
instalara além das fronteiras da capital, nas províncias mais distantes e
também nas fronteiras, abandonadas à própria sorte pelo poder central.
Neste cenário emergem os
quatro principais personagens da trama: Rais
Kasim, um miliciano de Myambe que tendo lutado na guerra dos povos do Vale
contra o Imperador de Diamante vai embora para terras estrangeiras e quando
retorna é chefe de um pequeno e heterogêneo grupo de milicianos estrangeiros; Adisa, um jovem sacerdote do Império,
com o talento de compreender toda e qualquer linga existente ou extinta, e que
imerso em uma fé profunda no deus-vivo desconhece todos os problemas que vem
enfrentando o povo de Myambe, mas que de repente se vê envolvido com os
mistérios de seu imperador; Zaim Adoud,
o general e governante da esquecida província fronteiriça de Abechét e que se
vê com grandes dificuldades de gerir os problemas da cidade, da falta de
compromisso e dos casos de heresia da elite local, bem como os problemas do
crescimento descontrolado da comunidade de migrantes nos limites de Abechét e da
escalada de violência de rebeldes contrários ao seu governo e ao do Império, sem
que para enfrentar tantos problemas tenha nenhum apoio do governo da capital; e,
por fim, Mukhtar Marid, líder das
forças rebeldes do povo do Vale e fiel da crença a Estrela da Manhã, que com
seus poucos soldados fieis, buscam uma maneira de pôr fim ao reinado do imperador
imortal. Quando os caminhos destes quatro homens se cruzam o Império parece
confluir para o seu destino em uma trama que envolve ação, aventura, magia e
lutas que parecem impossíveis.
O primeiro a quem somos
apresentados é a Rais Kasim ainda em
meio ao calor da batalha contra a campanha imperial de anexar as terras do Vale
ao império. Nesta batalha somos também apresentados ao formidável exército do
imperador e, sobretudo, aos primogênitos, guerreiros poderosos que cobriam seus
rostos com longas tiras de contas coloridas, donos de poderes sobre-humanos e
temidos pela sua pretensa imortalidade. É ai, logo no começo, que o autor nos
apresenta a grandiosidade do implacável exército imperial e a forma como o
próprio Imperador é gravemente ferido em uma cena agitada de uma batalha
desesperada entre o enfraquecido exército do Vale ante outro poderoso e
invencível.
Após aquela batalha o império
de Diamante já não seria o mesmo e a fome e a miséria arrasaria com todas as
terras além da capital. Também Rais deixaria o continente para voltar vinte
anos depois, sem ter conhecimento dos problemas em que Myambe fora mergulhada
depois daquela batalha. Ao longo dos demais capítulos vamos conhecendo os
demais personagens e suas histórias, até que elas se encontrem em caminhando a
narrativa para o seu desfecho.
O Autor |
Acho a África, com sua riqueza natural-paisagística e
também cultural, um lugar sublime, ainda que marcado por chagas sociais
profundas. Isso fez com que me
identificasse de imediato com a narrativa de Beraldo que busca naquele
continente a inspiração para criar Myambe e a complexa trama social e cultural
de seu território, impossíveis de abarcar toda em uma só resenha.
Quanto ao enredo, o Império
de Diamante é um daqueles livros que se devora rápido porque a todo o
momento algo está acontecendo. Não é nem
de longe uma trama parada, e o mistério de quem é de fato o imperador, se ele é
realmente imortal, se de fato é um deus, bem como de qual é sua origem, permeia
toda a narração como um fantasma que persegue os seus personagens. Além disso,
o autor consegue um desfecho inesperado, realmente surpreendente em que muitos
dos mistérios são revelados, mas algumas questões sobre o destino do continente
negro ficam em suspenso e à espera da continuação da série.
Além disso a narrativa é
fácil de compreender sem ser reducionista ou simplória e sem se descuidar com a
qualidade da escrita, das descrições e do desencadeamento das ideias, cenas e
acontecimentos. Cuidados que são essenciais para uma boa história e que junto
com a qualidade e criatividade da ideia nos faz ter vontade de ler a
continuação da narrativa.
Confesso que nunca tinha ouvido falar de Beraldo, mas a
Editora Draco tem se revelado para mim, assim como as cavernas dos quarenta ladrões
foi para Ali Babá, um recanto cheio de tesouros escondidos a espera de quem os
encontre. E eu encontrei Eduardo Kasse, Ana Lúcia Merege e, agora, J. M.
Beraldo. Três pérolas da literatura fantástica nacional que até então
desconhecia. Kasse com a melhor história de vampiros que já li: o Andarilho das Sombras; Ana Lúcia com sua
escrita gostosa, primorosamente bem feita e cheia de mágica que encontrei em O Castelo das Águias e em Anna e a Trilha Secreta; e agora Beraldo
com este livro diferente de qualquer coisa que já li na nossa literatura.
Autores antenados com os temas e os estilos que os brasileiros vão normalmente
busca na literatura estrangeira e que mostram que boa literatura fantástica é
feita aqui mesmo no Brasil.
A edição lida é digital, cedido pela Editora Draco, publicada no ano de 2015. A edição impressa possui 328 páginas e
a história tem continuidade com o livro ÚltimoRefúgio.
Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.
Abaixo você pode conferir uma prévia do livro disponível no Google Books.
Prévia do Google Books
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