quarta-feira, 18 de abril de 2018

[Impressões] três livros de autoajuda indispensáveis para mim


A mágica da arrumação, O segredo do talento e Mudando o tom da conversa
Por Eric Silva

Nota: Impressões é uma tag que se diferencia das Resenhas por ser mais sintética, objetiva e menos analítica com cada obra. Ela é mais centrada na experiência que tive com cada obra e na opinião que tenho delas. É sempre uma postagem coletiva que agrega várias obras, sejam elas literárias, de artes plásticas ou cinematográficas, do mesmo autor ou de autores diferentes. Resume-se a: quem é o autor, conteúdo da obra, minha experiência e impressões.

Está sem tempo para ler? Ouça a nossa postagem, basta clicar no play.



Uma das principais qualidades da espécie humana é o seu desejo incessante de se aperfeiçoar, de estar sempre em movimento ascendente para fazer o melhor, da forma mais eficiente e com qualidade.

Os livros de autoajuda por muito tempo foram vistos de forma preconceituosa, mas o que muitos leitores ignoram é que de fato eles podem contribuir para esse projeto humano de ascender e aperfeiçoar-se. Trata-se de uma maneira de dividir experiências acumuladas e ideias bem-sucedidas. No plano pessoal, é uma forma de melhorar as competências e habilidades individuais, trazer soluções inteligentes para questões práticas do nosso dia a dia, e no plano profissional contribuem para a difícil tarefa de reunir, por exemplo, as sinergias necessárias para um trabalho em equipe coeso e produtivo.

É claro que livros como este não são leituras constantes, porque cumprem um objetivo específico e bem determinado que é sanar uma dificuldade pessoal e despertar habilidades inatas ou melhorar as já existentes. Portanto, sua leitura é determinada pela necessidade do leitor. Ainda assim, muitos desses livros são interessantes a todo os públicos pela amplitude do tema que trabalha ou da abordagem que faz do problema.

Hoje, no Impressões selecionei três livros de autoajuda que são indispensáveis para mim, levando em consideração meu perfil profissional como professor e, no plano pessoal, a minha total incapacidade de manter meus papéis e livros arrumados por muito tempo.

Coincidentemente, as três obras foram publicadas pela editora Sextante, uma das maiores referências no país no que diz respeito a publicação de livros do gênero.

A mágica da arrumação

Autora de quatro livros, Marie Kondo é uma consultora japonesa que ficou conhecida no mundo pelos seus trabalhos na área de organização pessoal. Ainda criança já era obcecada por organização e se interessava por qualquer publicação sobre o tema e a partir de seus 15 anos, a se dedicar afundo ao tema.

Após muitas tentativas frustradas de aplicar técnicas e métodos sugeridos pelas publicações a que tinha acesso, Marie acabou por desenvolver seu próprio método de organização, o KonMari, que hoje ela divulga através de seus livros, palestras e em seu trabalho como consultora.

Uma de suas principais obras, A mágica da Arrumação ensina os principais fundamentos e técnicas do KonMari. Simples, mas transformador, o método de Kondo se resume a apenas duas etapas consecutivas: descarte e organização. Contudo estes dois estágios são interpassados por alguns princípios básicos que não só prometem pôr fim a bagunça como também melhorar a qualidade de vida das pessoas que o aplicam.

O principal princípio do KonMari é, por categoria, descartar tudo aquilo que não te faz feliz. Basta que você primeiro espalhe pelo chão todos os objetos de sua casa que pertençam a uma mesma categoria (roupas, livros, papéis, komono, recordações e itens de valor sentimental) e depois pegue cada um deles e pense se ele te traz felicidade, alegria. Se o objeto não lhe inspira estes sentimentos, descarte-o. Depois de fazer isso com todas as suas coisas, passe para a organização dos objetos que foram conservados – etapa que Marie explica passo a passo como fazer, sempre buscando simplicidade e economia de espaço.

O método de Kondo pode soar estranho, mas de fato funciona, por ser mais intuitivo do que técnico, por dar a pessoa todo o poder de decisão sobre o que descartar e o que conservar porque não é baseado em critérios numéricos ou de tempo. Funciona por não lhe exigir a compra de nenhuma parafernália de organização, mas, principalmente, por te conduzir a eliminar tudo o que não lhe é necessário, mas que você guardou por que achou que um dia precisaria.

Sou a pessoa mais desorganizada que conheço. Para todos os lados que você olhar verá bagunça, livros e papéis aos montes. Até mesmo os meus arquivos digitais são um amontoado de duplicatas e "objetos" espalhados por dois computadores e dois HDs sem nenhuma forma de organização, catalogação ou coisa parecida. Tenho coisas que não sei que tenho e de que não faço uso. Para completar minha tragédia Shakespeariana pessoal, sou colecionador voraz, sobretudo de livros. Mari está sendo para mim uma grande inspiração, apesar de estar conscientemente ferindo uma de suas principais recomendações: não moldar ou modificar o método a minha personalidade.

A mágica da Arrumação é um livro objetivo, completo e realista. Um pouco mais extenso do que os livros do gênero costumam ser, mas porque a autora não se limita apenas a dizer o que você deve fazer, mas também divide com leitor algumas de suas experiências com clientes.

Não nos pede coisas irrealizáveis, mas que apenas eliminemos o que não nos é, de fato, necessário. As recomendações são bem explicadas e exemplificadas. Passou-me a impressão de um método simples e eficaz, ainda que radical, que irá de fato e objetivamente cumprir o que promete. Em alguns momentos a autora aparenta um ar de ditadora, principalmente quando afirma que para papeladas a sua Regra Geral é "jogue tudo fora", mas essa impressão é afastada à medida que ela explica os pormenores e reforçado quando ela afirma que jamais faz nenhum descarte dos objetos de um cliente, que isso é algo que somente ele pode fazer, ela se limita a indagá-lo se de fato aquilo lhe traz felicidade.

De resto, só tenho uma mensagem para o leitor. Da minha parte acho que o termo descartar usado pela autora não precisa significar jogar no lixo. Além de desperdício, seria ecologicamente irresponsável e socialmente mesquinho, por tanto sugiro que este descarte tão necessário de roupas, brinquedos e outros itens signifique doações para obras de caridade, a exemplo do trabalho do Exército de Salvação e das Obras Sociais Irmã Dulce, ou diretamente para pessoas carentes da comunidade. Espero que descartar signifique doações para bibliotecas públicas, para escolas e coisas do gênero.

A edição lida é da Editora Sextante, do ano de 2015 e possui 160 páginas.





O segredo do talento

O estadunidense Daniel Coyle é jornalista, editor da Outside Magazine e já foi duas vezes finalista do National Magazine Award. É autor de O código do talento, que figurou a lista dos mais vendidos do The New York Times. Vive com sua esposa Jen e seus quatro filhos em Cleveland, Ohio, durante o período escolar, e, em Homer, no Alasca, durante o verão.

Para escrever O segredo do talento: 52 estratégias para desenvolver suas habilidades, Coyle se dedicou por cinco anos a pesquisas sobre talento e visitou incubadoras de talentos em diversos países, inclusive o Brasil. Com os resultados de suas pesquisas o jornalista formulou 52 estratégias simples e claras para ajudar qualquer pessoa a desenvolver de forma satisfatória as habilidades que deseja.

As breves orientações que se dispersam pelo livro foram divididas em três seções que funcionam como três grandes etapas do desenvolvimento da habilidade.

A primeira seção é chamada de primeiros passos. Nela Coyle através de 12 dicas busca orientar o leitor a buscar sua motivação para o desenvolvimento da habilidade e reconhecer o tipo de habilidade que ele pretende desenvolver. Segundo o autor as habilidades se dividem em duas categorias: as de alta precisão e as de alta flexibilidade.

As habilidades de alta precisão são aquelas que “devem ser aplicadas de apenas uma forma, a mais correta e sistemática possível, para que se chegue a um resultado ideal”, exemplo da tacada de um golfista, ou tocar uma melodia no piano. Por sua vez, as habilidades de alta flexibilidade são aquelas que “podem ser aplicadas de diversas formas, e não apenas uma, para que um bom resultado seja alcançado” em que a ideia não é “precisão, mas ser ágil e interativo, reconhecendo de forma instantânea padrões no decorrer do processo e tomando decisões inteligentes e oportunas”, a exemplo de escrever uma trama complexa para um romance.

Dadas as orientações para motivar e identificar o tipo de habilidade, a segunda seção se dedica a instruir o “desenvolvimento das habilidades” orientando como chegar à prática intensiva e fugir da prática superficial, enquanto que a terceira é direcionada ao “progresso contínuo”, através da manutenção do foco, da prática e da garra.

Ao longo destas três seções Coyle alia conhecimentos de neurociência – simplificadas para o leitor – com os resultados de suas investigações nas incubadoras de talentos que visitou e das entrevistas com instrutores competentes para orientar a preparação, a prática e o progresso da empreitada, nem sempre fácil, de desenvolver uma habilidade e, dessa forma, superar o mito do gênio, que afirma ser o talento algo inato, que nasce com a pessoa.

Esse livro ganhei de um dos meus alunos, mas demorei a lê-lo. Quando o fiz percebi que muitas daquelas ideias de fato podiam me ajudar, tato no desenvolvimento de meu trabalho como professor, mas principalmente na construção de meus blogs. Dicas como “é melhor praticar cinco minutos por dia do que uma hora por semana”, “dê preferência a simplicidade”, “abandone o relógio” ou “não fuja da luta” faz uma diferença enorme no que você pretende fazer, para que faça de forma verdadeira, engajada e com resultados. Para quem é INDISCIPLINADO como eu, é o livro certo porque diz o que fazer para quê, através do esforço e da repetição, você crie hábitos novos e que lhe levem ao lugar que pretende chegar. Por isso marquei as dicas que achei mais valiosas e conservo o livro na cabeceira da cama para tê-lo sempre à mão, junto com O Príncipe, de Maquiavel.

O segredo do talento é um livro de fácil consulta e de fácil entendimento. Segundo seu próprio conselho para melhorar como mentor, o autor buscou evitar discursos longos e transmitir a informação aos poucos e de forma clara. Por isso, muitas das dicas são recheadas de exemplos práticos retirados de suas investigações, e as teorias da neurociência que servem de suporte para suas explicações foram simplificadas a fim de que o leitor não tenha dificuldade de compreender exatamente aquilo de que necessita. Nada mais do que o essencial, eu diria.

Todavia, achei que no conjunto das dicas predominaram aquelas que são direcionadas as habilidades de alta precisão, o que não é meu caso. Por outro lado, isso tornou o livro matéria obrigatória para esportistas e musicistas, principalmente, mas também para profissionais que trabalham com atividades de alta precisão como no caso da dança, sobretudo clássica, e nas artes circenses. As demais dicas são valiosas tanto para as habilidades de alta precisão quanto as de alta flexibilidade, e que por si só já valem a leitura do livro.

De certo modo, o segredo do talento é um compêndio sobre o esforço e a dedicação para evoluir e ser melhor no que se faz ou para expandir e contemplar novos horizontes.

A edição lida é da Editora Sextante, do ano de 2014 e possui 128 páginas.




Mudando o tom da conversa

Bailarina, coreografa e professora, Dana Caspersen é também mediadora de conflitos de renome internacional. Especialista em mediação que usa a linguagem corporal para ensinar a mediação de conflitos em universidades, empresas e instituições na Europa e nos Estados Unidos, Dana também orienta sobre como trabalhar o conflito na família ou no local de trabalho até o diálogo com a comunidade sobre questões societárias. Dana ainda concebeu e dirigiu, em colaboração com comunidades, governos e fundações nos Estados Unidos, na Europa e no Reino Unido, vários diálogos públicos coreográficos de grande escala sobre temas desafiantes, desde a imigração até a violência.

Em Mudando o Tom da Conversa a autora estadunidense lista 17 princípios básicos para analisar e resolver conflitos, através da identificação e diferenciação de necessidades, interesses e estratégias, privilegiando a escuta em lugar do ataque e a mudança de linguagem para a construção de um diálogo útil e que leve a soluções e acordos possíveis.

Como docente o conflito é uma situação presente em meu dia a dia. Insatisfações, desinteresse, hierarquia e conflitos de interesses, de gerações, entre alunos e entre aluno e professor, entre responsável e aluno, entre responsável e professor. São situações delicadas que volta e meia o educador têm que lidar. Lidar com eles, porém é o grande desafio, principalmente, quando se trabalha com pessoas bem diferentes, com desejos e prioridades distintas, e, sobretudo, com um público que não enxerga o mundo da mesma forma que você. Lidar com conflitos é certamente algo que como professor tenho que estar em processo contínuo de reinvenção e aperfeiçoamento.

Quando ganhei este livro em um sorteio do Skoob percebi que era a chance de trabalhar minhas capacidades de mediação de conflitos, percebi também que ele seria mais um livro para estar sempre à mão, na cabeceira da cama, sobretudo, na mochila. Depois de fazer uma leitura preliminar percebo que de fato ele pode me ajudar nesse sentido.

Mudando o Tom da Conversa é uma leitura bem rápida e clara, mas que não se limita apenas a expor os 17 princípios elaborados pela autora. Mais do que isso, a obra busca trabalhar exaustivamente com exemplos e também com treinos para que o leitor tente pôr em prática a essência de cada princípio ensinado. Dessa forma além de apreendermos o conceito podemos visualizá-lo na prática em situações simuladas que contrapõem a reação indesejada que precisa ser mudada e a reação de quem segue o princípio proposto.

Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção para esse livro foi seu projeto gráfico com páginas em branco, vermelho e negro, com seções bem demarcadas e letras grandes para destacar os princípios e os antiprincípios que são confrontados. Contudo achei exagerado porque pelo seu conteúdo o livro de Dana poderia ser menor (menos páginas) e num formato pocket. Penso assim porque esse é um livro que o leitor deveria ter sempre à mão, para reestudar seus princípios, treinar e fixá-los melhor, no entanto, o tamanho e o peso do livro não contribuem para isso. Em formato de bolso seria melhor.

Ainda assim, Mudando o Tom da Conversa é um livro objetivo, cuja proposta é, de fato, trabalhar a reeducação de nosso posicionamento e reação frente aos conflitos do nosso dia a dia., tanto no trabalho como em nossa vida doméstica. Um livro essencial para o trabalho em grupo, com o público e para cargos de chefia e supervisão.

A edição lida é da Editora Sextante, do ano de 2016 e possui 272 páginas.


2 comentários:

  1. Eu nunca li nenhum livro de auto-ajuda. Eu tenho uns dois em casa, mas ainda não rolou aquela vontade de ler. O da Marie Kondo eu tenho muita vontade de ler. Eu sou super organizada (virginiana que fala, né mores?), mas é sempre bom descobrirmos novas formas de guardar somente o necessário (um pouco acumuladora, culpada).

    Vidas em Preto e Branco

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    1. Olá, Lary. Obrigado pelo comentário. Entendo você perfeitamente. Sou bastante selecionista quanto aos livros de autoajuda que leio, porque se não há necessidade de aprender algo fica muito difícil de surgir uma vontade de ler. Eles tem um objetivo muito bem programado, por isso acho que todo mundo é assim só lê quando precisa.

      Eric Silva

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