A mágica da arrumação, O segredo do talento e
Mudando o tom da conversa
Por Eric Silva
Nota: Impressões é uma tag que se diferencia
das Resenhas por ser mais sintética, objetiva e menos analítica com cada obra.
Ela é mais centrada na experiência que tive com cada obra e na opinião que
tenho delas. É sempre uma postagem coletiva que agrega várias obras, sejam elas
literárias, de artes plásticas ou cinematográficas, do mesmo autor ou de autores
diferentes. Resume-se a: quem é o autor, conteúdo da obra, minha experiência e
impressões.
Está sem tempo para ler? Ouça a nossa postagem, basta clicar no play.
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Uma das principais qualidades da espécie humana é o seu
desejo incessante de se aperfeiçoar, de estar sempre em movimento ascendente
para fazer o melhor, da forma mais eficiente e com qualidade.
Os livros de autoajuda por muito tempo foram vistos de
forma preconceituosa, mas o que muitos leitores ignoram é que de fato eles
podem contribuir para esse projeto humano de ascender e aperfeiçoar-se.
Trata-se de uma maneira de dividir experiências acumuladas e ideias
bem-sucedidas. No plano pessoal, é uma forma de melhorar as competências e
habilidades individuais, trazer soluções inteligentes para questões práticas do
nosso dia a dia, e no plano profissional contribuem para a difícil tarefa de
reunir, por exemplo, as sinergias necessárias para um trabalho em equipe coeso
e produtivo.
É claro que livros como este não são leituras constantes,
porque cumprem um objetivo específico e bem determinado que é sanar uma dificuldade
pessoal e despertar habilidades inatas ou melhorar as já existentes. Portanto,
sua leitura é determinada pela necessidade do leitor. Ainda assim, muitos
desses livros são interessantes a todo os públicos pela amplitude do tema que
trabalha ou da abordagem que faz do problema.
Hoje, no Impressões
selecionei três livros de autoajuda que são indispensáveis para mim, levando em
consideração meu perfil profissional como professor e, no plano pessoal, a
minha total incapacidade de manter meus papéis e livros arrumados por muito
tempo.
Coincidentemente, as três obras foram publicadas pela
editora Sextante, uma das maiores referências no país no que diz respeito a
publicação de livros do gênero.
A
mágica da arrumação
Autora de quatro livros,
Marie Kondo é uma consultora japonesa que ficou conhecida no mundo pelos seus
trabalhos na área de organização pessoal. Ainda criança já era obcecada por
organização e se interessava por qualquer publicação sobre o tema e a partir de
seus 15 anos, a se dedicar afundo ao tema.
Após muitas tentativas
frustradas de aplicar técnicas e métodos sugeridos pelas publicações a que
tinha acesso, Marie acabou por desenvolver seu próprio método de organização, o
KonMari, que hoje ela divulga através de seus livros, palestras e em seu
trabalho como consultora.
Uma de suas principais obras, A mágica da Arrumação ensina os
principais fundamentos e técnicas do KonMari. Simples, mas transformador, o
método de Kondo se resume a apenas duas etapas consecutivas: descarte e
organização. Contudo estes dois estágios são interpassados por alguns
princípios básicos que não só prometem pôr fim a bagunça como também melhorar a
qualidade de vida das pessoas que o aplicam.
O principal princípio do
KonMari é, por categoria, descartar tudo aquilo que não te faz feliz. Basta que
você primeiro espalhe pelo chão todos os objetos de sua casa que pertençam a
uma mesma categoria (roupas, livros, papéis, komono, recordações e itens de valor sentimental) e depois pegue
cada um deles e pense se ele te traz felicidade, alegria. Se o objeto não lhe
inspira estes sentimentos, descarte-o. Depois de fazer isso com todas as suas
coisas, passe para a organização dos objetos que foram conservados – etapa que
Marie explica passo a passo como fazer, sempre buscando simplicidade e economia
de espaço.
O método de Kondo pode soar
estranho, mas de fato funciona, por ser mais intuitivo do que técnico, por dar
a pessoa todo o poder de decisão sobre o que descartar e o que conservar porque
não é baseado em critérios numéricos ou de tempo. Funciona por não lhe exigir a
compra de nenhuma parafernália de organização, mas, principalmente, por te
conduzir a eliminar tudo o que não lhe é necessário, mas que você guardou por
que achou que um dia precisaria.
Sou a pessoa mais
desorganizada que conheço. Para todos os lados que você olhar verá bagunça,
livros e papéis aos montes. Até mesmo os meus arquivos digitais são um
amontoado de duplicatas e "objetos" espalhados por dois computadores
e dois HDs sem nenhuma forma de organização, catalogação ou coisa parecida.
Tenho coisas que não sei que tenho e de que não faço uso. Para completar minha
tragédia Shakespeariana pessoal, sou colecionador voraz, sobretudo de livros.
Mari está sendo para mim uma grande inspiração, apesar de estar conscientemente
ferindo uma de suas principais recomendações: não moldar ou modificar o método
a minha personalidade.
A mágica da Arrumação
é um livro objetivo, completo e realista. Um pouco mais extenso do que os
livros do gênero costumam ser, mas porque a autora não se limita apenas a dizer
o que você deve fazer, mas também divide com leitor algumas de suas
experiências com clientes.
Não nos pede coisas
irrealizáveis, mas que apenas eliminemos o que não nos é, de fato, necessário.
As recomendações são bem explicadas e exemplificadas. Passou-me a impressão de
um método simples e eficaz, ainda que radical, que irá de fato e objetivamente
cumprir o que promete. Em alguns momentos a autora aparenta um ar de ditadora,
principalmente quando afirma que para papeladas a sua Regra Geral é "jogue
tudo fora", mas essa impressão é afastada à medida que ela explica os
pormenores e reforçado quando ela afirma que jamais faz nenhum descarte dos
objetos de um cliente, que isso é algo que somente ele pode fazer, ela se
limita a indagá-lo se de fato aquilo lhe traz felicidade.
De resto, só tenho uma
mensagem para o leitor. Da minha parte acho que o termo descartar usado pela
autora não precisa significar jogar no lixo. Além de desperdício, seria
ecologicamente irresponsável e socialmente mesquinho, por tanto sugiro que este
descarte tão necessário de roupas, brinquedos e outros itens signifique doações
para obras de caridade, a exemplo do trabalho do Exército
de Salvação e das Obras Sociais Irmã Dulce, ou diretamente para pessoas carentes da comunidade. Espero que
descartar signifique doações para bibliotecas públicas, para escolas e coisas
do gênero.
A edição lida é da Editora
Sextante, do ano de 2015 e possui 160 páginas.
O segredo do talento
O estadunidense Daniel Coyle
é jornalista, editor da Outside Magazine e já foi duas vezes finalista do
National Magazine Award. É autor de O código do talento, que figurou a lista
dos mais vendidos do The New York Times. Vive com sua esposa Jen e seus quatro
filhos em Cleveland, Ohio, durante o período escolar, e, em Homer, no Alasca,
durante o verão.
Para escrever O segredo do talento: 52 estratégias para
desenvolver suas habilidades, Coyle se dedicou por cinco anos a pesquisas
sobre talento e visitou incubadoras de talentos em diversos países, inclusive o
Brasil. Com os resultados de suas pesquisas o jornalista formulou 52
estratégias simples e claras para ajudar qualquer pessoa a desenvolver de forma
satisfatória as habilidades que deseja.
As breves orientações que se
dispersam pelo livro foram divididas em três seções que funcionam como três
grandes etapas do desenvolvimento da habilidade.
A primeira seção é chamada de
primeiros passos. Nela Coyle através
de 12 dicas busca orientar o leitor a buscar sua motivação para o
desenvolvimento da habilidade e reconhecer o tipo de habilidade que ele
pretende desenvolver. Segundo o autor as habilidades se dividem em duas
categorias: as de alta precisão e as
de alta flexibilidade.
As habilidades de alta
precisão são aquelas que “devem ser
aplicadas de apenas uma forma, a mais correta e sistemática possível, para que
se chegue a um resultado ideal”, exemplo da tacada de um golfista, ou tocar
uma melodia no piano. Por sua vez, as habilidades de alta flexibilidade são
aquelas que “podem ser aplicadas de
diversas formas, e não apenas uma, para que um bom resultado seja alcançado”
em que a ideia não é “precisão, mas ser
ágil e interativo, reconhecendo de forma instantânea padrões no decorrer do
processo e tomando decisões inteligentes e oportunas”, a exemplo de
escrever uma trama complexa para um romance.
Dadas as orientações para
motivar e identificar o tipo de habilidade, a segunda seção se dedica a
instruir o “desenvolvimento das
habilidades” orientando como chegar à prática
intensiva e fugir da prática
superficial, enquanto que a terceira é direcionada ao “progresso contínuo”,
através da manutenção do foco, da prática e da garra.
Ao longo destas três seções
Coyle alia conhecimentos de neurociência – simplificadas para o leitor – com os
resultados de suas investigações nas incubadoras de talentos que visitou e das
entrevistas com instrutores competentes para orientar a preparação, a prática e o
progresso da empreitada, nem sempre
fácil, de desenvolver uma habilidade e, dessa forma, superar o mito do gênio,
que afirma ser o talento algo inato, que nasce com a pessoa.
Esse livro ganhei de um dos
meus alunos, mas demorei a lê-lo. Quando o fiz percebi que muitas daquelas
ideias de fato podiam me ajudar, tato no desenvolvimento de meu trabalho como
professor, mas principalmente na construção de meus blogs. Dicas como “é melhor
praticar cinco minutos por dia do que uma hora por semana”, “dê preferência a
simplicidade”, “abandone o relógio” ou “não fuja da luta” faz uma diferença
enorme no que você pretende fazer, para que faça de forma verdadeira, engajada
e com resultados. Para quem é INDISCIPLINADO como eu, é o livro certo porque
diz o que fazer para quê, através do esforço e da repetição, você crie hábitos
novos e que lhe levem ao lugar que pretende chegar. Por isso marquei as dicas
que achei mais valiosas e conservo o livro na cabeceira da cama para tê-lo
sempre à mão, junto com O Príncipe, de
Maquiavel.
O segredo do talento é um
livro de fácil consulta e de fácil entendimento. Segundo seu próprio conselho
para melhorar como mentor, o autor buscou evitar
discursos longos e transmitir a informação aos poucos e de forma clara. Por
isso, muitas das dicas são recheadas de exemplos práticos retirados de suas
investigações, e as teorias da neurociência que servem de suporte para suas
explicações foram simplificadas a fim de que o leitor não tenha dificuldade de
compreender exatamente aquilo de que necessita. Nada mais do que o essencial,
eu diria.
Todavia, achei que no
conjunto das dicas predominaram aquelas que são direcionadas as habilidades de
alta precisão, o que não é meu caso. Por outro lado, isso tornou o livro
matéria obrigatória para esportistas e musicistas, principalmente, mas também
para profissionais que trabalham com atividades de alta precisão como no caso
da dança, sobretudo clássica, e nas artes circenses. As demais dicas são
valiosas tanto para as habilidades de alta precisão quanto as de alta
flexibilidade, e que por si só já valem a leitura do livro.
De certo modo, o segredo do talento é um compêndio
sobre o esforço e a dedicação para evoluir e ser melhor no que se faz ou para
expandir e contemplar novos horizontes.
A edição lida é da Editora
Sextante, do ano de 2014 e possui 128 páginas.
Mudando o tom da conversa
Bailarina, coreografa e
professora, Dana Caspersen é também mediadora de conflitos de renome
internacional. Especialista em mediação que usa a linguagem corporal para
ensinar a mediação de conflitos em universidades, empresas e instituições na
Europa e nos Estados Unidos, Dana também orienta sobre como trabalhar o
conflito na família ou no local de trabalho até o diálogo com a comunidade
sobre questões societárias. Dana ainda concebeu e dirigiu, em colaboração com
comunidades, governos e fundações nos Estados Unidos, na Europa e no Reino
Unido, vários diálogos públicos coreográficos de grande escala sobre temas
desafiantes, desde a imigração até a violência.
Em Mudando o Tom da Conversa a autora estadunidense lista 17 princípios básicos para analisar e resolver
conflitos, através da identificação e diferenciação de necessidades, interesses
e estratégias, privilegiando a escuta em lugar do ataque e a mudança de
linguagem para a construção de um diálogo útil e que leve a soluções e acordos
possíveis.
Como docente o conflito é uma
situação presente em meu dia a dia. Insatisfações, desinteresse, hierarquia e
conflitos de interesses, de gerações, entre alunos e entre aluno e professor,
entre responsável e aluno, entre responsável e professor. São situações
delicadas que volta e meia o educador têm que lidar. Lidar com eles, porém é o
grande desafio, principalmente, quando se trabalha com pessoas bem diferentes,
com desejos e prioridades distintas, e, sobretudo, com um público que não
enxerga o mundo da mesma forma que você. Lidar com conflitos é certamente algo
que como professor tenho que estar em processo contínuo de reinvenção e
aperfeiçoamento.
Quando ganhei este livro em um
sorteio do Skoob percebi que era a chance de trabalhar minhas capacidades de
mediação de conflitos, percebi também que ele seria mais um livro para estar
sempre à mão, na cabeceira da cama, sobretudo, na mochila. Depois de fazer uma
leitura preliminar percebo que de fato ele pode me ajudar nesse sentido.
Mudando o Tom da Conversa é uma leitura bem rápida e clara, mas que não se limita
apenas a expor os 17 princípios elaborados pela autora. Mais do que isso, a
obra busca trabalhar exaustivamente com exemplos e também com treinos para que
o leitor tente pôr em prática a essência de cada princípio ensinado. Dessa
forma além de apreendermos o conceito podemos visualizá-lo na prática em
situações simuladas que contrapõem a reação indesejada que precisa ser mudada e
a reação de quem segue o princípio proposto.
Uma das primeiras coisas que
me chamou a atenção para esse livro foi seu projeto gráfico com páginas em
branco, vermelho e negro, com seções bem demarcadas e letras grandes para
destacar os princípios e os antiprincípios que são confrontados. Contudo achei
exagerado porque pelo seu conteúdo o livro de Dana poderia ser menor (menos
páginas) e num formato pocket. Penso assim porque esse é um livro que o leitor
deveria ter sempre à mão, para reestudar seus princípios, treinar e fixá-los
melhor, no entanto, o tamanho e o peso do livro não contribuem para isso. Em
formato de bolso seria melhor.
Ainda assim, Mudando o Tom da Conversa é um livro
objetivo, cuja proposta é, de fato, trabalhar a reeducação de nosso
posicionamento e reação frente aos conflitos do nosso dia a dia., tanto no
trabalho como em nossa vida doméstica. Um livro essencial para o trabalho em
grupo, com o público e para cargos de chefia e supervisão.
A edição lida é da Editora
Sextante, do ano de 2016 e possui 272 páginas.
Eu nunca li nenhum livro de auto-ajuda. Eu tenho uns dois em casa, mas ainda não rolou aquela vontade de ler. O da Marie Kondo eu tenho muita vontade de ler. Eu sou super organizada (virginiana que fala, né mores?), mas é sempre bom descobrirmos novas formas de guardar somente o necessário (um pouco acumuladora, culpada).
ResponderExcluirVidas em Preto e Branco
Olá, Lary. Obrigado pelo comentário. Entendo você perfeitamente. Sou bastante selecionista quanto aos livros de autoajuda que leio, porque se não há necessidade de aprender algo fica muito difícil de surgir uma vontade de ler. Eles tem um objetivo muito bem programado, por isso acho que todo mundo é assim só lê quando precisa.
ExcluirEric Silva