Por
Eric Silva
26-08-2016
26-08-2016
“Sou hoje um caçador de achadouros da infância.
Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.”
Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.”
(Manoel
de Barros)
Todo bom leitor
tem em sua estante aqueles livros que são especiais e que ajudaram a definir a
pessoa que ele se tornou hoje. Personagens com o qual dividiu seu tempo, com os
quais se emocionou, passagens e frases que foram gravadas em sua memória. Bem, eu
cá também tenho os meus, o mais especial é sem dúvida os Miseráveis de Victor
Hugo que li pela primeira vez através de uma adaptação de Walcyr Carrasco e
depois na integra em uma edição antiga da Filarmônica 30 de Junho. Agora
adquiri uma edição mais recente do clássico francês da editora Martin Claret. E
você quais livros te encantaram e marcaram a sua formação como leitor?
#MeusLivros
Olá, pessoal.
Nos últimos tempos estava pensando em reler alguns
dos livros que marcaram a minha juventude e dividir com vocês minhas impressões
ao mesmo tempo em que vou falando um pouco de mim e de como se deu minha
formação como leitor. Para tanto selecionei alguns desses livros e vou
resenhá-los um a um aqui no blog ao longo deste ano e dos próximos. Entre estas
obras estão as minhas 4 obras prediletas e que melhor me definem como leitor e
como pessoa: em primeiro lugar Os Miseráveis e depois dele Capitães da Areia,
Admirável Mundo Novo e As Mil e Uma Noites, todo livros clássicos da literatura
nacional e mundial.
Pensei nesse post falar um pouco de mim e
apresentar em seguida a lista dos livros que pretendo dividir com vocês. Vai
ser um pouco difícil, porque não gosto de falar de mim, mas como amo falar do
que leio estou disposto a fazê-lo. Espero que gostem e dividam conosco também
as suas lembranças.
Eu, leitor
Todos
que me conhecem sabe como sou um colecionador feroz de livros. Tenho-os aos
montes, uma coleção de e-books imensa e também de livros físicos. Contudo nem
sempre foi assim.
Sou
de origem humilde e minha mãe, como mãe solteira que sempre foi, nos sustentava
com seu parco salário de empregada doméstica, além de ajudar as irmãs que
moravam no interior e levavam uma vida ainda mais regrada do que a nossa. Por
algum tempo moramos em nossa própria casa, em um bairro popular de Salvador. Um
lugar bem simples na época, mas que era nosso lar. Porém, com o passar do tempo
algumas coisas foram se complicando.
Mainha
trabalhava em outro bairro e por causa da escola eu ficava com minha madrinha.
Até certa altura tudo ia bem. Eu passava a manhã na escola, à tarde na
companhia dos filhos de minha madrinha e à noite retornava a nossa casa quando
mainha chegava do trabalho. Contudo, tanto eu quanto os meninos éramos danados
demais e certa vez passamos a tarde brincando de trenzinho na chuva, eu tinha
seis anos na época. A consequência clara foi uma tremenda de uma pneumonia e a doença
mudaria por definitivo minha vida.
Para
que pudesse, ao mesmo tempo, cuidar de minha pneumonia e de seu trabalho, os
patrões de minha mãe sugeriram que ela voltasse a morar na casa deles, como era
antes que eu nascesse. Dessa forma, ela poderia gerir as coisas como mais
facilidade e foi o que ela fez. Aos seis anos eu chegava ao bairro de Brotas e
ali viveria uma década de minha vida. Aquela década definiria meu caráter,
minha personalidade, meus gostos e manias também.
Antes
de nos mudarmos para Brotas eu não tinha livros além dos da escola e assim
seria por um bom tempo. Logo, minha formação como leitor não foi na primeira
infância, tão pouco foi de alguém que me contasse histórias em livros – ainda
que a vida de mainha já seja um livro impresso em páginas invisíveis e que eu
tenha crescido ouvindo suas histórias.
Minha
formação se iniciaria muito tempo mais tarde e com um caráter marcadamente
teórico, didático e escolar. Talvez por isso hoje, em meu universo acadêmico eu
me reconheça mais como teórico do que pragmático, no sentido mais rudimentar do
termo.
Os primeiros
livros
O
dia em que ganhei meus primeiros livros literários é na minha mente algo
distante e em alguns momentos nebulosos, mas tentarei descrever um pouco do que
lembro, esperando que minha mente não misture os fatos e lembranças.
Lembro
com toda a certeza que os ganhei de uma das moças que frequentavam a casa,
alguém que guardo hoje pouquíssimas lembranças, sobretudo de suas feições,
porque sou péssimo fisionomista.
Eu
deveria ter no máximo sete ou oito anos quando ela entrou em meu quarto um dia
trazendo nas mãos uma caixa. Lembro que sentado no chão eu brincava, provavelmente,
com pregadores de roupas, porque eram meu passatempo preferido e com eles
costumava montar soldados, robores, castelos e torres de vigilância que
completavam a brincadeira com os carrinhos e bonecos de verdade.
Ela
se aproximou de mim, agachou-se para ficar na minha altura e me apresentou o
que ela trazia dentro da caixa. Ali, todos misturados havia uma coleção de
chaveiros dos mais diversos tipos, formas e cores e também alguns livros
infantis.
A
princípio, o que mais havia me chamado a atenção foram os chaveiros que
poderiam completar minha brincadeira, o que era bastante coerente porque tinha
muito pouca familiaridade com os livros e nenhum acesso ao acervo que existia
na casa. Simplesmente não havia em mim um interesse por eles. Só depois que ela me deixou ali em meio aos
meus “novos brinquedos”, que, atraído pela força magnética das ilustrações, acabei
folheando-os, porém, sem lê-los. Isso eu o faria algum tempo depois, depois de
tê-los riscados, escrito neles meu nome e palavras, para mim hoje sem nexos,
integrando-os as minhas brincadeiras e jogos de imaginação.
Eram
todos livros infantis, alguns adequados a minha idade, mas que têm ainda hoje
bastante significado. Tenho-os até hoje, depois de quase duas décadas. São
eles: Lúcia Já-Vou-Indo, de Maria
Heloísa Penteado; Óculos para Luzia,
de Vassilissa; Rio tem Coração, de
Leila Rentroia Iannone; Uma Amiguinha
Muito Especial, de Lúcia Hiratuka; A
Vida Intima de Laura, de Clarice Lispector; Retalhinho Branco, de Maria Helena Portilho; A brisa e a flor, de Isa Ramos; Amor
de Cão, de Sura Berditchevsky e Lebrinha
de Neve, de Luis Gonzaga Fleury. Destes
os quaro primeiros foram os primeiros livros literário que li em minha vida.
São eles também os mais maltratados, desenhados e rabiscados, ações que hoje
abomino, mas que já fizeram parte de mim e do que eu era.
Passada
esta época eu levaria algum tempo até despertar em mim um interesse por
literatura, ainda que minha bibliomania e compulsão já despontasse em relação
aos volumes de livros didáticos que encontrava descartados pelas ruas da cidade
e que aos poucos se avolumavam em caixas espalhadas pelo meu quarto.
Durante
muito tempo, não me senti ligado a literatura ou tive acesso a ela, além
daqueles livros que ganhei. Preferia divagar e “me contar” história que eu
mesmo inventava e, às vezes, as colocava no papel.
Rato de
biblioteca
Meu
amor por literatura afloraria, de verdade, quando conheci pela primeira vez uma
biblioteca, no colégio em que fiz o ginásio. Ali, na biblioteca do Góes, já adolescente, se desenvolveria o meu eu
leitor, ampliando uma paixão latente e por muito tempo oculta pela literatura.
Uma paixão que existia a muito tempo, mas que se revelava apenas na minha
imaginação fértil demais e nas páginas de diversos cadernos onde eu escrevia as
histórias que fantasiava.
A
biblioteca do Góes Calmon era bastante variada e possuía um acervo literário
com um número satisfatório. Porém a biblioteca não permitia que os alunos
retirassem os volumes da sala de leitura. Podíamos lê-los, mas apenas na
própria biblioteca. Sempre achei ruim essa regra, mas reconhecia a necessidade
de preservar o acervo do mau uso de muitos estudantes. Contudo ela não deixava
de ser um entrave para a formação dos leitores na escola, uma vez que só despenhávamos
do intervalo e de aulas vagas para usar a biblioteca.
Ainda
assim, ali fiz amizade com a bibliotecária e li alguns dos meus primeiros
infantojuvenis, muitos deles da inesquecível coleção vaga-lume, como foi o caso
de A misteriosa vida de Jonas e Sozinha no Mundo, este último o meu
favorito depois da Serra dos dois Meninos.
Mas foi lá também que conheci O Gênio do
Crime que está listado aqui no post.
Na
biblioteca do Góes Calmon começou minha formação como leitor, ali se delineou
meu perfil literário, quando em pequenos intervalos eu abria alguns livros para
ler, enfrentando os murmúrios de conversas das mesas vizinhas. Foi um passo
para que me tornasse um ratinho de biblioteca.
Quando
me mudei para minha cidade atual, eu já era leitor, mas ainda muito dependente
de bibliotecas e por isso logo investiguei e encontrei as bibliotecas da
cidade. A primeira biblioteca que encontrei aqui foi a municipal, que assim
como no Góes não emprestava livros e que, pior ainda, é mal gestada e não
funciona direito. A outra biblioteca foi a pertencente a Filarmônica 30 de Junho,
a qual frequento ainda hoje. Igualmente importantes foram a pequena biblioteca
do colégio em que fiz o Ensino Médio, onde conheci alguns autores que me
acompanham como Pedro Bandeira e Domingos Pellegrini e onde tive a oportunidade
de ler pela primeira vez a coleção completa das Mil e Uma Noite. Por fim, a biblioteca da UNEB que tanto contribuiu
e ainda contribui para minha formação profissional como docente e onde fiz boas
amizades.
Nasce o Conhecer
Tudo
Foi
já adulto que tive meu primeiro computador, com ele conheci os livros digitais
e minha fome de leitura só fez aumentar graças a eles. Mas uma coisa me faltava: com quem dividir minhas experiências com os
livros, com quem dividir minhas opiniões sobre as leituras que fazia?
Nunca tive muitos amigos leitores,
mesmo na universidade conheci poucos, a exemplo da minha querida Jane Brandão. Por
isso faltava em mim o contato com outros amantes da literatura. Faltava
conhecer pessoas que amassem os livros tanto quanto eu. Encontrei vocês J!
Com a possibilidade de acesso à
internet me aventurei a conhecer o Blogger, montar um blog pessoal e assim, no
ano dia 05 de Janeiro de 2012, com a resenha do livro O Monte Cinco de Paulo
Coelho, nasce o Conhecer Tudo. Uma ideia que por muito tempo não levei adiante,
mas que dei novo ânimo em 2016. Por isso que este é um ano importante para mim,
porque ele marca o retorno deste blog e a ampliação de suas redes de contatos.
Estamos agora em todas as redes e
chegando a mais leitores E Isso me deixa bastante feliz. OBRIGADO!
A
lista
Bem, como afirmei separei alguns livros que são
importantes para mim e que marcaram todo esse processo de minha formação como
leitor. Aqui temos livros de todas as minhas fases, desde meus primeiros
livros, aos livros que marcaram minha pré-adolescência e a puberdade, até que enfim
conclui o ensino médio e adentrei outra fase de minha vida, já feito leitor,
agora acadêmico. Confiram a lista completa dos livros que inicialmente pretendo
dividir com vocês. A ordem aqui apresentada não é cronológica, não publicarei
as resenhas nesta ordem e nem com regularidade, mas aos poucos vou inserindo o
link das resenhas que ficarem prontas. As datas são referentes à publicação
original de cada livro.
Os Miseráveis, de Victor Hugo (1862)
Descrição
preliminar – Narra a história de
Jean Valjean que após roubar um pão é condenado a trabalhos forçados nas galés
e de lá só sai dezenove anos depois. Desprezado pelos moradores das cidades por
onde passa e sem notícias de sua família, o ex-condenado vaga de cidade em
cidade e volta a roubar para sobreviver. Em uma dessas ocasiões, Jean furta
alguns pertences de um bispo que em vez de denunciá-lo para polícia lhe dá uma
segunda chance de se redimir. Profundamente comovido com a ação altruísta e
humana do clérigo, Jean muda de identidade, enriquece e dedica sua vida a
ajudar os mais necessitados até que sua vida se cruze com outros três
personagens que mudaria novamente sua vida e o tornaria outra vez em um
foragido: o seu principal perseguidor o inspetor Javert, a miserável e desfortunada
Fantine e a doce, frágil e explorada menina Cosette.
Descrição
preliminar – Nesse livro da coleção
Vaga-lume, Fraga Lima, conta a história de Ricardo e Maneca, dois garotos
soteropolitanos que quando vão conhecer a fazenda do pai no interior da Bahia
acabam se envolvendo em uma grande aventura em que se perderem nas matas densas
de algumas serras próximas e habitadas por onças.
Resenha: http://bit.ly/2cCCOmr
Resenha: http://bit.ly/2cCCOmr
O
gênio do Crime, de João Carlos Marinho (1969)
Descrição
preliminar – Narra as aventuras dos
inteligentes e corajosos membros da turma do Gordo que apesar de crianças
ajudam a desvendar o complexo plano de um contrabandista falsificador que
estava levando uma fábrica de álbuns de figurinhas à falência.
Capitães
da Areia, de Jorge Amado (1937)
Descrição
preliminar – Clássico da
literatura nacional e baiana, traça uma denúncia social ao narrar a história de
um grupo de garotos moradores de rua e que por suas condições de abandono e também
da indiferença por parte da sociedade vivem de roubos, pequenos golpes e no
limiar entre o mundo adulto e a infância.
Descrição
preliminar – neste livro, Huxley
idealiza uma sociedade futura dominada por um Estado científico e totalitário e
na qual várias das relações e instituições humanas como a religião e a família
foram substituídas por uma cultura do consumo, do culto ao jovem e belo e de
extrema liberdade licenciosa. Ao mesmo tempo em que compõe uma sociedade
estratificada e onde os indivíduos são pré-condicionados a desempenharem papeis
pré-determinados, Huxley faz uma crítica a própria sociedade capitalista que
hoje caminha cada vez mais padronizada e consumista.
Resenha: https://bityli.com/cCzJt
A
Pomba, de Patrick Süskind (1987)
Descrição
preliminar – livro psicológico do
mesmo autor de O Perfume: a história de um assassino, A Pomba narra a crise emocional, indenitária e psicológica sofrida
por Jonathan Noel ao encontrar uma pomba no corredor do andar de seu
apartamento. O que poderia ser apenas um acontecimento banal e sem importância
na vida de qualquer um, acaba por desencadear todo um conflito interno em
Jonathan que se vê arrancado da comodidade de uma vida rotineira, regrada e
solitária, sem grandes conquistas ou desafios.
As
Mil e Uma Noites (século IX)
Descrição
preliminar – clássico da literatura
mundial, esse livro é a principal obra literária a dar ao ocidente
demonstrações da mitologia pré-islâmica e da cultura oral árabe da época dos
sultões (período islâmico), bem como das influências egípcias, persas, indianas
e chinesas sobre as histórias contadas pelos antigos mercadores e caravaneiros
árabes. Conta a história de Xerazade, que para aplacar a ira do sultão Xariar
contra as mulheres, casa-se com ele, mesmo sabendo que este costuma executar
suas esposas após a noite núpcias, e adia sua execução contando todas as noites
ao sultão histórias que se sucediam intermináveis e cujo enredo ela prometia
terminar apenas na noite seguinte se o sultão a mantivesse viva.
Meu
Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos (1968)
Descrição
preliminar – Meu pé de laranja lima
conta a comovente história de Zezé, um menino travesso de uma família muito
pobre, mas que, apesar da pouca paciência que os adultos costumavam demonstrar
para com ele, descobre em um pé de laranja lima e no senhor Portuga o
significado da amizade e também a dor da perda.
Sozinha
no Mundo, de Marcos Rey (1984)
Descrição
preliminar – livro integrante da
coleção Vaga-lume, Sozinha no Mundo conta a história de Pimpa, uma menina órfã
que depois de perder a mãe durante a viagem de Serra Azul para São Paulo, vive
uma série de aventuras enquanto procura por seu “tio” Leonel e foge de uma
implacável e misteriosa perseguidora.
A
Droga da Obediência, de Pedro Bandeira (1984)
Descrição
preliminar – Neste livro conhecemos
mais uma aventura de os Karas, um grupo de adolescentes que investigam
misteriosos desaparecimentos de jovens de alguns dos melhores colégios
particulares de São Paulo e se encontram envolvidos em uma perigosa trama
internacional comandada por uma das maiores mentes criminosas.
As
Batalhas do Castelo, de Domingos Pellegrini (1990)
Descrição
preliminar – Narra a história de um
bobo de corte que ganha como herança de seu falecido rei um castelo abandonado
e como súditos um pequeno grupo de velhos, doentes e aleijados, mas que juntos
lutam pela sobrevivência e transformam o que seria um castelo arruinado em um
verdadeiro lar. Nesse livro bastante tocante, Pellegrini dá aos seus leitores
algumas importantes lições de perdão, união, companheirismo, nobreza e do valor
do trabalho em conjunto na defesa da vida e da dignidade humana.
Descrição
preliminar – numa singela
história infantil, Iannone narra a aventura de Pacheco e Amélia duas pequenas
rochas que tentam viver o amor apesar de as adversidades trazidas pelo furor de
um rio caudaloso e indiferente aos seres a sua volta e principalmente daqueles
que em seu leito viviam.
Resenha: http://bit.ly/2nxfj3R
Resenha: http://bit.ly/2nxfj3R
Descrição
preliminar – Obra da autora
brasileira Clarice Lispector, a vida intima de Laura é um livro infantil que
conta a história da galinha Laura e das várias aventuras vividas por ela, ao
mesmo tempo que deixa uma lição de respeito as diferenças individuais.
Lebrinha de Neve, de Luis Gonzaga Fleury
Descrição
preliminar – recriando o universo
típico dos contos de fadas com príncipes, princesas e bruxos, porém usando
lebres como personagens, Lebrinha de Neve conta a história trágica da princesa
coelha que fora transformada em serpente por um poderoso bruxo e que dependerá
da força e da coragem de um jovem que busque quebrar o encanto maldito que
havia lhe imposto tal condição.
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